✧5✧
Um arrepio me percorre. Minhas mãos gelam. A parede é enorme, de um tom tão escuro que parece deixar o ambiente mais pesado. Diversos tipos de armas brancas estão dispostas presas a ela. Grande parte dos instrumentos confesso nem saber para o que servem. Zara está com os olhos arregalados. O garoto nerd, Azra, parece a ponto de ter um colapso, seu resto branco como folhas de papel. Um silencio se estende pelos segundos seguintes, parecendo horas intermináveis. Erion parece animado, esperando qualquer resquício de empolgação do grupo.
―Não é maneiro? ― Diz, a gíria estranha em sua voz. Ele realmente se sente descolado fazendo esse tipo de comentário.
Rosie arqueia as sobrancelhas, franzindo seu semblante, olhando-o com desdém. Erion ignora a ausência de qualquer resposta. Michael com certeza parece empolgado, aproximando-se da parede e pegando uma espada curva, com lâminas projetadas em um dos lados. Ele analisa a arma, mas indaga à Erion:
―Essas são legais, mas onde estão as armas de verdade? São definitivamente melhores ―ele analisa o peso da espada, fazendo uma força considerável para segura-la. Parece pesada. ― E mais fáceis de usar― Ele a devolve a seu apoio, os olhos levemente arregalados. Erion suspira, como se a resposta fosse óbvia.
―Você realmente quer carregar uma arma cheia de pólvora, cercado por Fogariuns? ―Ele olha para o negro, que nega levemente com a cabeça, reconhecendo o equívoco. ― Foi o que eu pensei.
Não consigo deixar de admitir o quanto essas pessoas podem ser máquinas mortais. O quanto nós podemos ser.
O ginásio é grande, dividido em vários níveis diferentes, cada um assemelhado ao formato de um ringue. Todo o tipo de equipamento cerca o ambiente, desde bonecos parecidos com pessoas, até alvos dos mais diferentes tamanhos. Não consigo pensar em mim usando tudo isso de alguma forma. Eu não sou um soldado. Erion retoma:
― Como nosso amigo Michael observou― Todos olham para ele, sem graça ainda pelo raciocínio falho. ―Armas de fogo não são uma boa opção no que diz respeito a um combate entre elementaristas. Portanto, cada um de vocês deve escolher uma dessas― Aponta com a cabeça em direção ao mostruário― para ser a especialidade de vocês. Seu treinamento será direcionado a partir da arma que escolherem. ―Conclui, passando os olhos por todos, como se analisando qual dos modelos seria ideal a cada um.
Pelo menos ainda temos o poder de escolhe. Por enquanto. Todos nos entreolhamos. Zara ainda está próxima de mim, tremula e ofegante. Azra parece mais próximo ainda de desmaiar. Já Rosie e Michael parecem os menos assustados, analisando os modelos expostos. Não consigo executar nenhum tipo de raciocínio relacionado a qual arma escolher. Nunca estive perto de qualquer tipo de arma ou instrumento de combate. Grande parte dos objetos não fazem o mínimo de sentido para mim. Correntes penduradas, lâminas de 10 pontas, lanças maiores que uma pessoa. O choque de realidade me atinge novamente, como se lembrando cada pedaço do meu corpo da minha nova vida. Só consigo pensar em fugir. Em correr pelos bosques na busca de qualquer indício de pessoas e clamar por ajuda. Não posso ficar aqui, não com tantas armas. Não com tanta iminência de morte.
Engulo em seco, esperando que alguém tome qualquer tipo de atitude antes de mim. Não consigo pensar. Erion, cansado de esperar reações espontâneas, pergunta:
― Então, quem vai ser o primeiro? ― Ele olha para o grupo, todos próximos um dos outros.
Depois de alguns segundos de silencio, uma voz feminina alta e arrogante ecoa, vinda da porta do ginásio.
―Eu vou.
Todos olhamos imediatamente na direção do som. Três pessoas estão paradas na porta. À frente, uma garota, a dona da voz, tem os cabelos ruivos compridos caindo pelos ombros. Os lábios grossos e a expressão soberba. Os olhos grandes, e para minha surpresa, e de todos, olhos vermelhos como rubis. Ela segue parada com uma das mãos na cintura, olhando cada um presente. Seu olhar para em Adack, recostado em um obstáculo alto no meio do ginásio. Ela arqueia as sobrancelhas, levemente satisfeita. E então, ela olha para mim. Seus olhos fitam meus sapatos, subindo o olhar avaliativo e cínico. Ela encara meus olhos, soltando um murmúrio quase surpreso, como se confirmando alguma suspeita. Ao seu lado, dois garotos estão em pé, as expressões de desdém igualmente intimidadoras como a da ruiva. Um deles é loiro, incrivelmente bonito. O corpo malhado e definido, olhos claros como o céu de verão. O mais alto do grupo, percebo, e mais ameaçador também. O outro garoto é magro e alto, tem o pescoço alongado e o nariz fino e arrebitado, o que enfatiza seu olhar esnobe. Seus cabelos têm um tom branco platinado, tornando sua aparência sobre-humana ainda mais assustadora. Mas o que chama mais atenção são os olhos, cinzas como uma tempestade. Me lembro das 3 pedras coloridas no primeiro dia, na sala de reuniões. Minhas mãos soam frio. Erion parece surpreso igualmente. A garota ruiva caminha em direção às armas, em uma caminhada graciosa e imponente. Ela se aproxima de mim, e automaticamente me afasto, ela me olha de cima em baixo, quase rindo, a expressão é de deboche. Continua seu caminho passando pelo grupo, que abre passagem, claramente intimidado. Adack é o mais afastado, ainda recostado ao obstáculo, seu olhar indecifrável. Ele não se mostra abalado. Os braços cruzados na altura do peito realçam seus músculos, justos ao uniforme escamado. Ela lança um olhar penetrante na direção dele, devorando-o com os olhos. Me remexo no lugar, sentindo desconforto. Ele não retribui o olhar selvagem, mas a analisa. Ela mantém o olhar fixo por cima dos ombros, até finalmente virar o rosto em direção ao arsenal, pousando diante do mesmo. Erion se mantem calado, como que se também intimidado pela figura da garota e dos demais companheiros. Ela pondera, dramaticamente:
―Qual dessas deve matar alguém mais devagar? ― Leva as unhas compridas aos lábios, fingindo pensar. ― Acredito que essa seja perfeita.
Ela alcança um soco inglês, com duas lâminas em suas extremidades, formando um arco, definitivamente mortal. Ela vira-se para o resto de nós, com um sorriso no canto dos lábios. De onde essas pessoas vieram? Com certeza não do mesmo mundo que nós. Erion pigarreia, intimidado, e diz com a voz mais baixa que o normal, como se temeroso em irritar os recém-chegados.
―Er.... Esses são Marvissa, Cohen e Alliot― Diz se referindo a ruiva, o loiro, e ao garoto magro respectivamente. Como se não pudessem tornar-se mais assustadores, ouvir seus nomes me faz estremecer mais ainda. Zara está quase escondida atrás de mim, e até Rosie parece desconcertada.
―Acho que agora é a vez de vocês. ― Marvissa diz, e prontamente Michael se move em direção a parede, parecendo já ter tomado uma decisão. Ela o interrompe, colocando o braço em seu caminho, seus olhos ardentes. Michael congela. ― Eu não estava falando com você― Diz em tom afiado.
Ela olha na direção dos companheiros, e os dois andam até a parede. O loiro possui uma caminhada pesada e soberba, e ao passar por Azra, que tem os olhos arregalados descaradamente, faz um movimento brusco na direção do nerd, fazendo com que o mesmo de um pulo assustado para traz. Ele ri, continuando seu caminho. Os dois nem hesitam ao chegar aos modelos, escolhendo rapidamente o respectivo armamento. Cohen escolhe um nunchaku, com correntes grossas. Já Alliot pega firmemente um tridente, com as pontas afiadas como uma navalha, a outra extremidade também afiada. A ruiva revira os olhos.
―Sério Alliot? Um tridente? Não poderia ser um pouquinho menos óbvio?
Ele dá de ombros, inabalado com a crítica. Eron os observa, como todos nós. Incrédulos com o show de arrogância e prepotência. Rosie parece impaciente, irritada com todo o drama, revira os olhos e vai até a parede, sua postura indiferente incomodando a garota. Adack parece impassível também, mas continua parado assistindo ao nosso pequeno show de brilhantismo de egos inflados e feridos. Enquanto Rosie pondera entre alguns arcos dispostos, avaliando peso, tamanho e tração, me lembro de Erion dizendo que aquelas pedras representavam o poder de seu correspondente, as Pedras Primordiais. Fogo, água e ar. A identificação de cada um com o respectivo elemento é fácil de ser feita, todos dramaticamente representados nos novatos, ou, pelo jeito, veteranos. Depois que Rosielly escolhe o arco que considera ideal, preto com tiras de couro entrelaçadas, os outros começam a ir até a parede, um de cada vez. Todos assistimos calados, ao som apenas de cochichadas e risadas debochadas dos recém-chegados. Michael é o próximo, e escolhe uma lança quase de seu tamanho, com as duas pontas afiadas. O Nerd vai em seguida, ajustando os óculos desconfortavelmente, encolhendo o corpo à medida que o grupinho ri baixo do mesmo. Ele escolhe um arco também, porém maior que o de Rosie, os detalhes em branco. Olho para Zara, encolhida atrás de mim, e a encorajo:
―Você consegue―Seus olhos estão arregalados― É só escolher, não precisa ter medo. Não se deixe intimidar, você controla a arma, e não ela a você.
Ela me fita por alguns instantes, como se buscando a coragem em mim. Se soubesse a quão aterrorizada estou por dentro, Zara nunca sairia do lugar. Ela caminha devagar, todos os olhares a cercando. Marvissa tenta fazer alguma piada maldosa com a garota, mas seus companheiros não riem. Pelo menos um pouco de humanidade resta dentro dos corações poderosos. Ela avalia com cautela, e depois de alguns minutos sem tocar em nada, retira duas adagas menores de um suporte. As facas gêmeas têm os cabos pretos de couro, e encaixam perfeitamente em suas mãos, parecendo leves e fáceis de manusear. É entranho ver uma garota tão delicada segurando algo tão assustador quanto as lâminas afiadas. Ela se afasta da parede, agora menos tremula. Parece que o feito de segurar tais objetos fez com que se sentisse mais forte. Olho ao redor, e restam apenas a mim e a Adack. Trocamos olhares apreensivos. Ainda não havia trocado olhares com ele de forma tão intensa desde meu susto vergonhoso no trem. Procurei evita-los o dia inteiro, me intrigam de maneiras que não sou capaz de entender. Ele acena com a cabeça sutilmente, me danado permissão para seguir. Caminho lentamente, sem interromper o contato visual, sentindo meu corpo formigar. Acredito que quem precisa de coragem sou eu, explorando seu rosto em busca de força. Aproximo-me das armas, agora mais assustadoras de perto. Meu coração acelera, e varro os olhos pelos modelos. Algumas chegam a ser sádicas, e me pergunto quem seria capaz de empunha-las. Sinto o olhar furtivo da garota ruiva, e acho que isso é suficiente para que encontre minha resposta. Aproximo-me das espadas, de diversos tamanhos. Finas, compridas, grossas, algumas com tantos dentes afiados que não sou capaz de contar. Entretanto, duas um pouco menores me chamam a atenção. Espadas gêmeas. Toco suas lâminas, geladas ao meu toque, e sinto o peito formigar. São elas. Retiro as duas do suporte, sentindo seu peso equilibrado em minhas mãos. Perco alguns minutos fitando o reflexo da luz em seu corpo, os cabos feito de tranças rígidas de couro. Levanto o olhar e vejo Eron sorrindo levemente, os olhos curiosos. Sinto o olhar de Adack mais uma vez, mas não o retribuo. Quando ele começa a tomar impulso para desencostar de seu confortável apoio, a porta do ginásio se abre novamente. Um criado aparece, as bochechas rosadas com a atenção. Ela segura uma caixa preta, consideravelmente grande, de uma madeira tão escura que furta qualquer raio de luz que se dirija a ela. Eron parece um pouco surpreso, e pisca algumas vezes. Em silêncio, caminha até a porta, retirando cuidadosamente a caixa das mãos do funcionário, que deixa o recinto. Eron caminha até Adack, os olhos impassíveis e os ombros tensionados. Adack está ansioso, mas mantem a expressão o mais neutra possível. Os olhos o entregam. Erion diz, a voz instável e desequilibrada:
―Adack, acredito que isso seja para o você.
E então ele abre a caixa. O ambiente parece estremecer, cessando a respiração de todos por um breve segundo. Sinto meu peito apertando-se, inconscientemente. O ambiente pesado e silencioso como uma floresta na madrugada. O conteúdo inunda meus olhos, e pela primeira fez, encontro o que tenho mais temido até agora: Escuridão.
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