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25. O Labirinto do Fauno

          Diante da presença de Cello, Regina ficou boquiaberta, estando seus olhos arregalados de surpresa. O pensamento de que ele poderia ser o informante do Autor invadiu sua mente, preenchendo-a com uma mistura de desconfiança.

— Cello, não me diga que você está por trás disso tudo, está? — Ela perguntou, com certo receio de sua resposta.

          Com um sorriso leviano estampado no rosto, o Fauno Cello ergueu-se da mesa. Seus olhos fixaram-se intensamente em Regina, como se confirmasse seus pensamentos mais profundos. A expressão enigmática do Fauno deixava claro que ele possuía relação com os eventos que o Autor causava dentro do livro.

— Ele está te controlando, não é? — Regina deu alguns passos em sua direção, ainda confiando que existia bondade no delegado da cidade. — Com o poder da escrita, ele está te usando de fantoche para me capturar. Só pode ser isso.

          Com uma gargalhada estrondosa, que ecoou pela sala, Cello estufou o peito e balançou o dedo indicador negativamente, aprofundando ainda mais o temor de Regina. Em seguida, ele caminhou em direção a um armário situado no fundo da sala.

          Regina, intrigada e curiosa, recordou-se de quando, após ser solta daquela mesma delegacia, havia recebido um macacão dado pelo delegado no interior desse armário. No entanto, desta vez, ao abrir a porta, a loira foi surpreendida por uma visão muito mais deslumbrante e valiosa. O armário abrigava um tesouro inimaginável: incontáveis moedas de ouro reluzentes, cuidadosamente empilhadas dentro de um grande saco. O brilho das moedas era tão intenso que iluminava a sala, capturando a atenção e a cobiça de Regina.

          Após mostrar seus bens mais valiosos a garota, Cello se prontificou a explicar a presença daquele tesouro deslumbrante diante dos olhos da jovem.

— Há algumas semanas o Autor entrou em contato comigo. Me propôs um acordo inegável. Dois milhões de moedas de ouro, para que eu aceitasse servir ao seu lado. Ele tinha a opção de me controlar sim, mas não o quis fazer. Ele me deu o livre arbítrio de aceitar ou recusar sua proposta. O Autor queria saber o que eu estava disposto a fazer por tamanha quantia de ouro. Obviamente que aceitei, mesmo que isso custasse a segurança de uma menina idiota que caiu do céu.

          Com um olhar perplexo, Regina observou atentamente enquanto o Fauno retirava do armário um pequeno controle, tão compacto que poderia ser facilmente escondido na palma de sua mão fechada. Com um movimento, ele pressionou o único botão presente no dispositivo. Para surpresa de Regina, a porta da cela ao fundo da sala se fechou abruptamente. Em seguida, Cello clicou novamente no botão, e a porta se abriu imediatamente. Ele repetiu esse ato várias vezes, enfatizando cada vez mais a mensagem implícita.

— Acho que com isso já compreendeu, não é? Quando esteve aqui pela primeira vez, e a cela insistia em se abrir e fechar, na realidade não era obra do Autor. Era eu quem fiz aquilo, apenas seguindo as ordens que o Autor me impôs — Após se explicar, o homem-bode guardou o controle de volta no armário.

          Regina estava estupefata. O homem que deveria defender a justiça no reino de Fantasia, era na verdade uma criatura corrupta que foi facilmente comprado pelo Autor. A menina deu dois passos para trás ao vê-lo se aproximar, mas não foi ágil o suficiente para escapar de sua mão que agarrou seu antebraço com demasiada força, a impedindo de escapar.

— Agora não há mais ninguém para vim socorrê-la. Todos se foram. Você está sozinha. Seu fim chegou, Regina Monroe — Com o rosto bem próximo do dela, o Fauno lhe dirigia a palavra em uma entonação alucinada e, quase, doentia.

— O que você vai fazer comigo?!

— O que vai acontecer com você não me diz respeito. Você só precisa ser levada viva para um lugar.

— Onde você irá me levar?! — Regina tentava se soltar de suas mãos, mas seus esforços eram em vão.

— Eu? Na verdade, quem vai nos levar até lá é o Autor — O Fauno sorria, sem soltar o braço da garota.

          Ela mal teve tempo de piscar quando o cenário ao seu redor se transformou por completo. O Autor os levou até aquele novo local. Eles não estavam mais na delegacia, mas sim em um lugar desconhecido e distante. A paisagem era surreal, com árvores retorcidas e uma névoa densa que pairava no ar. A lua minguante já se encontrava no céu noturno daquela noite estrelada.

          Mas o que realmente chamou a atenção de Regina foram as estupendas paredes atrás dela e do Fauno. Altas e imponentes, elas alcançavam quase a altura do céu, com suas estruturas de pedra maciça erguidas grandiosamente. O local parecia ser dominado por aquela única construção, uma fortaleza inexpugnável. As muralhas pareciam ser intransponíveis, com suas paredes impenetráveis e portões de ferro maciço, que guardavam o mistério do que se escondia em seu interior.

— Onde estamos? — A jovem perguntou enquanto ainda comtemplava a altura das paredes.

— Longe do reino de Fantasia. Longe o bastante dos seus tolos amigos congelados — O Fauno respondeu com rispidez, puxando o braço dela até a entrada da construção.

          Regina lutou contra o domínio do Fauno, mas seus esforços foram em vão. Ela foi arremessada à força para dentro do local, enquanto o Fauno rapidamente fechava a pesada porta atrás dela. A luz da lua, que antes iluminava seu rosto, diminuía gradualmente, mergulhando-a em uma penumbra sombria. O delegado, com um sorriso malicioso estampado em seu rosto, olhava triunfante para Regina enquanto a trancava sozinha no local. Ele havia cumprido sua missão de conduzi-la até aquele lugar e agora se preparava para desfrutar das riquezas que havia adquirido com sua traição.

          Assim que a pesada porta se fechou completamente atrás dela, Regina se viu imersa na escuridão do local desconhecido. Apenas o fraco brilho das tochas acesas nos corredores espalhados pela fortaleza iluminava seu caminho. Não tinha como escapar pela mesma porta que adentrou, afinal estava trancada e era extremamente reforçada. Já os estreitos corredores de pedra pareciam intermináveis, flanqueados por fabulosas paredes que se erguiam ao seu redor. Regina decidiu, então, avançar cautelosamente.

          A atmosfera sombria e o emaranhado de bifurcações confundiam seus sentidos, fazendo-a tomar decisões incertas sobre qual caminho seguir. A numeração pintada em tinta branca nas paredes tentava fornecer alguma orientação, mas parecia apenas aumentar a sensação de labirinto sem fim. Regina passou por corredores marcados com números aparentemente sequenciais, como "1", "2", "3", mas à medida que continuava a se perder, os números se tornavam cada vez mais confusos e distantes, como "5500" e "7326".

          A cada esquina, a esperança de encontrar uma saída se misturava à frustração de se deparar com corredores sem saída. Regina se viu repetindo o caminho várias vezes, voltando à mesma encruzilhada em que se encontrava anteriormente. A sensação de estar presa naquele labirinto parecia sufocante, e a angústia começava a se instalar em seu coração.

          Regina levou um susto repentino ao cruzar uma parede do labirinto, quando a luminosidade de uma tocha revelou a figura do Minotauro congelado à sua frente. A presença do primo do Centauro, agora aprisionado no mesmo congelamento que seus amigos, causou-lhe uma sensação de pesar. Com um olhar cheio de compaixão, Regina superou a sua inquietação e seguiu em frente, determinada a encontrar a saída daquele intrincado labirinto.

          Contudo, após horas de busca incessante, Regina sentiu-se mais uma vez sufocada ao retornar ao corredor de número "1", voltando à entrada do labirinto. O sentimento de fracasso e desespero invadiu seu ser, pois ela começava a perceber que talvez nunca encontrasse a saída.

          A realidade de estar sozinha, sem a companhia de seus entes queridos e amigos, pesava em seu coração, enchendo-o de uma angústia avassaladora. A lembrança de sua falecida mãe e do pai que ela não deu valor quando podia a assombravam, assim como a saudade de todos os amigos que fez em Fantasia. Era uma solidão profunda e insuportável. Regina, normalmente resiliente, encontrava-se em um ponto de rendição, onde as lágrimas começaram a fluir descontroladamente. Sentou-se no chão, com as costas apoiadas na parede, entregando-se à tristeza que a consumia.

          Regina chorava copiosamente, encolhida em posição fetal. As lágrimas fluíam livremente, sem nenhum constrangimento por estar em um estado de vulnerabilidade. Afinal não havia ninguém ao seu redor para testemunhar suas lágrimas, ninguém para julgá-la ou mesmo para oferecer consolo.

— Que voz é essa? — Ela questionou, erguendo sua cabeça e buscando o dono da voz que escutou ao redor.

          Aparentemente Regina havia escutado uma voz vinda de algum lugar...

— Eu "não pareci" escutar uma voz. Eu escutei muito bem!

          Espera! Você está conseguindo me ouvir?!

— Você...! — Regina se ergueu enfurecida, com o rosto ainda banhado em lágrimas, olhando para o alto e buscando de onde vinha a voz. — Seu desgraçado! Você é o maldito Autor, não é?!

          Eu não sou o Autor! Francamente... Eu sou apenas o narrador. Além do mais, sou um narrador na terceira pessoa, não faço parte dessa história. Então, por favor, não interaja comigo.

          Regina examinava o ambiente com incredulidade, enquanto seus sentimentos de tristeza se transformavam em indignação diante da presença da voz do Narrador ecoando em sua mente.

— Pare de falar dos meus sentimentos, como se você estivesse dentro da minha cabeça! E pare de falar no passado. Eu estou aqui, no presente! — Regina reclamava para o alto, por mais que não visse ninguém além de si mesma naquele labirinto.

          Estou apenas cumprindo meu papel como narrador. Ninguém mandou ser a protagonista do livro. Além do mais, não tenho culpa dessa quebra da quarta parede. Reclame com o editor. A história sempre foi narrada no pretérito perfeito do indicativo, e assim continuará sendo. Obrigado, de nada.

— Ah claro, você fala como se eu tivesse escolhido ser a protagonista desse livro — Regina bufou, quase sentindo saudades dos minutos anteriores quando estava completamente sozinha.

          Regina desejava ter o pétaso mágico em sua cabeça nesse momento, iludida pela esperança de que sua mente estaria protegida do olhar do Narrador. No entanto, desconhecia que, mesmo assim, eu... quero dizer, o Narrador, ainda teria acesso a todos os seus pensamentos.

          De braços cruzados, Regina optou por ignorar a voz que ecoava em seus ouvidos, embora uma inquietação persistente permanecesse. A presença de alguém que nem mesmo existia na realidade trouxe à tona pensamentos nostálgicos. Sua mente foi transportada de volta à sua infância, quando costumava ler o livro de Fantasia com frequência.

          Naquela época, sendo uma criança de poucos amigos, ela quase considerava os personagens do livro como seus próprios amigos, muito antes de ter adentrado aquele mundo. Um sorriso se formou em seu rosto, enquanto ela recordava que os personagens de Fantasia foram seus primeiros amigos imaginários, aqueles que a acompanharam e a impediram de enfrentar a solidão em muitas adversidades de sua vida.

— Você é um idiota, não é mesmo? — Olhando para frente, Regina falava sozinha, mas com o intuito de passar a mensagem para alguém específico. Alguém invisível para ela. — Então diga, Narrador. Narre para eles qual a conclusão que acabei de tomar.

          Consciente de que seus pensamentos seriam narrados de qualquer forma, Regina concedeu permissão para que fossem expressos. Ela percebeu que, na verdade, nunca esteve verdadeiramente sozinha, como havia pensado há pouco. Mesmo sem a presença física, os personagens de Fantasia sempre fizeram parte de sua vida nos momentos mais difíceis. Quando perdeu sua mãe, quando se sentia deslocada entre seus colegas de classe, quando voltou envergonhada da montanha-russa com seu pai depois de ter gritado de medo, ou mesmo quando se afastou emocionalmente dele...

          Os livros sempre foram sua fuga da realidade. E embora Regina tenha aprendido ao longo de sua jornada que não deveria mais "fugir" do mundo real, que não deveria deixar de viver a vida e de passar tempo com aqueles que amava, ela também percebeu que não poderia abrir mão de seu vínculo e amor pelos livros. Ela não abriria mais mão da leitura e do mundo de Fantasia quando retornasse à sua realidade. Seus amigos imaginários e reais do livro agora faziam parte de quem ela era. Além disso, Regina percebeu que nunca esteve realmente sozinha, pois seus companheiros permaneciam em seu coração. Uma nova determinação e um brilho renovado em seus olhos indicavam que estava pronta para encontrar a saída do labirinto.

          Foi então que Regina avistou novamente o número "1" pintado na parede. Diante de toda aquela situação peculiar da quebra da quarta parede, uma ideia brilhante surgiu em sua mente. Com determinação, ela seguiu pelo segundo corredor, virando à esquerda onde encontrou o corredor de número "3". Ao chegar no quarto corredor, porém, uma nova decepção a aguardava: era um beco sem saída.

          No entanto, algo era diferente naquele número quatro. Em vez de apenas estar escrito na parede sua numeração, ele estava grafado como "". Consciente da quebra da quarta parede, ouvindo o Narrador contar sua própria jornada, Regina caminhou decididamente até o final do corredor. Tocando sua mão na parede ao fundo do corredor sem saída, ela se revelou uma porta falsa de correr, escondida ali. Com um sorriso radiante no rosto, Regina empurrou a porta falsa para o lado, abrindo caminho para o lado externo do labirinto.

          No lado de fora, Regina levou um susto ao deparar-se com uma estátua de gelo ao lado da porta falsa. Cello havia sido transformado em gelo, igual seus amigos, após cumprir seu papel como informante do Autor. Apesar de ter revelado sua verdadeira natureza de vilão, a jovem não pôde deixar de sentir certa compaixão pela criatura naquela situação, que fora descartado pelo Autor após ser usado.

          Contudo, ao observá-lo novamente, um detalhe que havia passado despercebido chamou sua atenção. O Fauno não poderia ser o único informante do Autor. Durante sua estadia nas Páginas em Branco, quando estava prestes a retornar para casa e foi impedida pelo Autor, o Fauno não estava presente. Surgiu, então, a suspeita de que haveria um segundo traidor envolvido nessa trama.

— Espero que não — Regina disse, temendo se decepcionar mais uma vez com algum de seus aliados.

          Em meio à noite estrelada, Regina fixou o olhar adiante. Uma longa estrada de terra batida se estendia até um nevoeiro raso no meio de um bosque escuro. Árvores sombrias erguiam seus galhos retorcidos ao longo do caminho.

          Muito além do bosque assustador, algo voava no céu. O som de sinos pesados era ouvido, mesmo distantes, vindos do local. Entre as nuvens no céu escuro, um imenso arranha-céu branco pairava no horizonte na cidade da Luz. Era o mesmo edifício que Regina avistara pela primeira vez quando fugia do castelo Alvarez e novamente quando viajou acidentalmente para o futuro. Agora, diante dela pela terceira vez, sentia uma inexplicável urgência de alcançá-lo. Ela sabia que, para pôr fim a tudo aquilo e encontrar as respostas para suas perguntas, precisaria subir até as nuvens e adentrar aquele imponente edifício branco.

— Na verdade eu não tinha certeza, mas agora que você narrou que preciso ir para lá, agora sei o que preciso fazer. Obrigada, Narrador — Com um sorriso genuíno no rosto, Regina agradeceu ao Narrador, acreditando que ele estava a ajudando.

          Antes, porém, que ela pudesse começar sua jornada em direção ao céu, o Autor decidiu intervir mais uma vez. Num instante, a maquiagem de catrina desapareceu de seu rosto e o vestido florido foi substituído por um pijama fofo com estampas de girafas. Regina olhou para si mesma e percebeu que suas vestimentas não foram as únicas mudanças. Ela havia voltado a ter o corpo de uma criança de oito anos de idade!

          Embora seu raciocínio continuasse intacto, seu corpo adolescente havia se transformado em uma versão mais jovem de si mesma. Porém, a atual criança...

— Criança? — Com uma voz infantil, e de sobrancelha franzida, Regina interrompeu a narração em tom afrontoso.

          Digo, a adolescente atualmente em corpo de criança, não se deixou abalar. Atualmente, nada que o Autor pudesse fazer iria diminuir sua resiliência. Regina passou a fazer o que sabia fazer de melhor: correr em direção ao bosque, enquanto usava pantufas macias.

https://youtu.be/lmc21V-zBq0

Corra, garoto, corra¹

Este mundo não foi feito para você 🎶

— Aí, mais um capítulo musical... — Regina falou enquanto permanecia a correr ao escutar, além da voz do Narrador, o som da música Run Boy Run da banda Woodkid. — Se vai cantar, ao menos modifique a música para "garota".

          Perdão, Regina.

Corra, garota, corra

Eles estão tentando te pegar 🎶

— Melhorou — Regina sorriu, enquanto corria com seu corpo diminuto.

          Porém, para sua desgraça imediata, um tremor sinistro sacudiu o chão logo atrás dela. Como se fossem flores desabrochando criaturas colossais começaram a emergir do solo. golems de pedras maciças, com corpos pesados, romperam o solo com estrondos assustadores. Regina virou-se rapidamente e ficou paralisada de terror ao se deparar com a presença ameaçadora dos golems, que despertavam de sua hibernação e avançavam em sua direção. Seus passos retumbantes e sua aparência monumental deixavam claro que representavam um perigo iminente.

Estar correndo é uma vitória

Corra, Forrest, corra²

A beleza se esconde atrás das colinas 🎶

          Um som que se assemelhava ao trote de cavalo correndo de forma apressada, cada vez mais próximo, atingiu os ouvidos de Regina como um alarme. Ela percebeu que algo se aproximava em alta velocidade além dos golems, mas decidiu manter o foco à frente. Mesmo com seu corpo infantil, não iria permitir ser capturada por nenhum de seus perseguidores. Com determinação pulsando em suas veias, ela acelerou seus passos, correndo com todas as suas forças.

Corra, garota, corra

O sol estará te guiando 🎶

          Enquanto Regina corria desesperadamente, o terreno sob seus pés se tornava cada vez mais instável. Crateras surgiam de forma abrupta, lançando pedras e terra pelos ares, revelando a chegada de mais golems na planície. Com agilidade, a jovem desviava habilidosamente para os lados, saltando de uma cratera para outra, evitando os monstros de pedra que avançavam em sua direção.

Corra, garota, corra

Eles estão dando a vida para te deter

Corra, garota, corra 🎶

          À medida que Regina avançava em direção à entrada do bosque, as árvores ganhavam um aspecto ainda mais sombrio e assustador. Seus galhos retorcidos pareciam estender-se em direção ao solo, como mãos esqueléticas prontas para agarrar qualquer intruso. Corvos e morcegos voavam em círculos ao redor delas, soltando agudos guinchos e grasnados que ecoavam pela floresta, intensificando a sensação de tensão. Além disso, o som distante de cavalgada apressada, que Regina havia ouvido anteriormente, se tornava cada vez mais nítido e próximo.

— O que é, Narrador?! O que está atrás de mim?!

Esta corrida é uma profecia

Corra, garota, corra

Liberte-se da sociedade 🎶

          Antes que pudesse obter uma resposta verbal, a criatura se aproximou de Regina, inclinando a cabeça para perto da pequena criança e a erguendo contra sua vontade com uma cabeçada, fazendo com que a loira fosse arremessada sobre suas costas. Apesar dos esforços da garota para se soltar, a criatura continuou avançando em uma caminhada veloz, movendo-se sobre suas quatro patas em direção ao bosque sombrio.

— Me solta! Me deixe descer! — A criança batia sob a pelagem branca do ser, mas, ao se dar conta de sua coloração e ao olhar de forma melhor, se deu conta de quem realmente se tratava.

Amanhã será um novo dia

E você não terá que se esconder

Você será uma mulher, garota!

Mas por enquanto é hora de correr

É hora de correr 🎶

          Enquanto Regina era carregada nas costas do imponente Urso Polar, ela percebeu que o som que havia acreditado ser de cavalgadas que havia escutado mais cedo na verdade vinha dos passos apressados do próprio urso. A garota recordou-se de que aquele animal especial do reino do Himalaia possuía habilidades mágicas capazes de congelar as coisas. Portanto, a maldição lançada pelo Autor, que transformava todos em estátuas de gelo, não surtiu efeito nele, deixando-o livre de seu terrível ato.

          Ainda olhando para trás, permanecendo montada nas costas do Urso Polar, ela notou a aproximação do Abominável Homem das Neves, um membro da família do Urso Polar. Sua pelagem áspera e espessa o protegeu do congelamento causado pela maldição do Autor. O Iéti corria velozmente sobre suas quatro patas em direção a Regina e ao Urso Polar, onde um sorriso se formou em seu rosto ao reencontrá-la.

          Enquanto Regina lançava um último olhar para trás, ela percebeu a verdade por trás da aparente despreocupação do Urso Polar e do Iéti em relação a perseguição. Os golems de pedra não estavam perseguindo-os como uma ameaça como havia pensado, mas sim seguindo-os de perto, oferecendo apoio moral e solidariedade à jovem em sua jornada. Essas criaturas ancestrais, que despertavam apenas quando o mal iminente assolava o mundo de Fantasia, agora se alinhavam ao lado de Regina, unindo forças para combater o mal que se espalhava pelas páginas do livro.

Corra, garota, corra

Esta corrida é uma jornada para

Corra, garota, corra

O segredo dentro de você 🎶

          Enquanto Regina estava nas costas do Urso Polar, o Autor mais uma vez interveio em sua aparência. Dessa vez, ele a transformou em uma criança de onze anos de idade. Vestindo um suéter macio e uma calça de moletom confortável, Regina sentiu uma mistura de emoções. O suéter, embora quente e aconchegante, trazia lembranças difíceis de uma época em que ela havia perdido sua mãe. Era durante esse período que Regina havia cortado o cabelo curto como um sinal de luto. Desculpe, Regina, por trazer à tona essas memórias dolorosas.

— Não tem problema, Narrador — Regina disse, com um sorriso bondoso no rosto. O Urso Polar e o Iéti olharam para ela intrigados, sem compreender com quem a garota falava.

          Conforme o grupo se aproximava do bosque sombrio, os morcegos e os corvos que pairavam entre as árvores levantaram voo, erguendo suas asas negras no céu noturno. Os galhos retorcidos das árvores pareciam ganhar vida própria, erguendo-se em direção ao alto como se estivessem se levantando perante a chegada do grupo. Os caminhos se abriam à medida que os galhos se afastavam, revelando uma passagem livre para adentrar o bosque.

          Assim que avançavam pelo bosque, a neblina se dissipava e revelava um cenário mágico aos olhos de Regina. Seu olhar se iluminava ao avistar uma variedade de objetos mágicos de Fantasia espalhados pelo chão do local, muitos dos quais Bárbara Zaira havia dedicado sua vida para encontrá-los. O Pêssego da Imortalidade, o Santo Graal, a Maçã Dourada e a Pedra Filosofal eram apenas alguns dos artefatos mágicos espalhados pelos recantos do bosque.

Corra, garota, corra

Esta corrida é uma profecia 🎶

— Escute Regina, não poderemos ir com você o caminho todo — O Urso Polar finalmente quebrou o silêncio, fazendo a garota olhar para baixo. — A partir de determinado ponto, você terá que ir sozinha.

— O mundo de Fantasia está em perigo, minha jovem. Nós e os golems achamos que você é a única capaz de nos salvar. A única capaz de enfrentar esse mal — O Iéti, bem ao lado dos dois, permanecia correndo junto a todos.

          Com um firme aceno de cabeça, Regina transmitiu sua determinação em silêncio. Ela estava decidida a enfrentar o Autor e qualquer outra ameaça que ousasse assolar Fantasia. Por eles, e também movida pela responsabilidade de libertar seus amigos congelados e proteger o mundo que a acolheu calorosamente, Regina não permitiria que a desgraça prevalecesse.

          Pouco antes de encontrarem a saída do bosque, Regina se deu a liberdade de olhar aos arredores uma última vez. Tantos objetos mágicos e marcantes que viu em Fantasia durante sua jornada se encontravam espalhados pelo local de forma intrigante: A espada Excalibur, a fonte da juventude, o pétaso mágico, o anel da invisibilidade, as botas da velocidade, a espada de Edward Lemoy, a varinha mágica de Bridge, a foice da Morte, o grimório do mago Vermelho, o cajado temporal de Chronos e o tridente da sereia Iara.

Corra, garota, corra

E desaparecerá entre as árvores 🎶

          À medida que se aproximavam do fim do bosque, deixando para trás as árvores de galhos retorcidos, Regina vivenciou mais uma transformação. Voltando a aparência dos dezesseis anos, agora ela vestia um conjunto esportivo composto por uma regata branca, enquanto uma bermuda legging proporcionava conforto e liberdade de movimento. Para completar o visual, uma faixa branca surgiu em sua cabeça, evocando memórias do começo do ano anterior, quando ela se destacou como vice-campeã em uma maratona desafiadora.

          Um pouco mais adiante, em meio a planície, surgiu uma imensa elevação do solo, como se a própria terra estivesse se erguendo em um espetáculo impressionante. Uma estrutura colossal emergia majestosamente, ultrapassando em tamanho e imponência todos os golems que seguiam Regina. Enquanto os gigantes de pedra permaneciam em sua retaguarda, o Urso Polar e o Iéti continuavam correndo, sem perder o ritmo, enquanto a elevação criava uma inclinação extremamente acentuada no terreno que pisavam.

          Regina apertou a faixa em sua cabeça com ambas as mãos, sentindo a determinação pulsar em suas veias. Ela sabia que havia chegado o momento de deixar para trás as costas do Urso Polar e enfrentar o desafio com suas próprias pernas. Sua postura se tornou firme e determinada, como uma atleta na linha de largada, aguardando ansiosamente o disparo que marcaria o início da corrida.

— Salve o mundo de Fantasia, Regina!! — O Urso Polar gritou, parando subitamente junto ao Iéti acima da inclinação conforme ela saltava, e a elevação abaixo deles se revelava ser um golem de proporções estupendas.

Amanhã será um novo dia

E você não terá que se esconder

Você será uma mulher, garota!

Mas por enquanto é hora de correr

É hora de correr 🎶

          Conforme saltava daquela impressionante altitude, Regina sentiu uma sensação indescritível de elevação, quase como se estivesse alcançando as alturas das nuvens. Um lampejo de memória passou por sua mente, lembrando-se de quando adquiriu asas angelicais adornando suas costas na mansão da Feiticeira. No céu noturno estrelado, o tempo parecia congelar e a gravidade parecia ter esquecido de sua existência, permitindo que ela flutuasse lentamente pelo ar. Enquanto seu corpo começava a descer gradualmente, ela jurava ter vislumbrado, à distância, a figura de um garoto em uma bicicleta voadora, com um pequeno alienígena acomodado em sua cestinha³.

          Quando a gravidade finalmente se lembrou da existência de Regina, ela voltou a tocar o terreno plano com uma leveza indescritível. Nesse instante, o Autor decidiu mais uma vez agir, restaurando a idade atual de Regina e vestindo-a com um vestido branco de delicados bordados. Era o mesmo vestido que ela usava quando adentrara pela primeira vez o mundo mágico de Fantasia.

          Enquanto Regina corria incansavelmente, seus olhos se fixaram no céu, onde uma sombra densa encobriu a lua minguante. Para sua surpresa, ela reconheceu imediatamente o navio que voava lá no alto — o imenso galeão inglês do pirata Edward Lemoy, deslizando pelos céus sem nenhuma tripulação aparente.

          Ao se recordar de algo, não pôde deixar de olhar para trás. A uma longa distância, viu a figura do próprio pirata Lemoy e a versão viajante do tempo de si mesma, ambos em pé diante de um portal temporal. Regina encarou sua versão viajante do tempo, ambos os olhares se cruzando. Com um sorriso determinado, Regina voltou para frente e retomou sua corrida, sentindo a presença reconfortante do Abominável Homem das Neves, do Urso Polar e dos golems seguindo-a de perto.

Amanhã será um novo dia

E você não terá que se esconder

Você será uma mulher, garota!

Mas por enquanto é hora de correr

É hora de correr 🎶

          Regina parou no limite de um penhasco, seus olhos fixos no horizonte distante onde o arranha-céu emergia das nuvens na desconhecida cidade da Luz. Enquanto contemplava a visão do seu destino final, o Autor uma última vez alterou suas vestimentas para um conjunto impressionante. Uma jaqueta vermelha, feita de um tecido resistente e adornada com detalhes dourados, abraçou seu corpo, trazendo consigo uma estrela amarela brilhante no bolso. Complementando o visual, uma calça de tom vermelho intenso surgiu, envolvendo suas pernas com elegância.

          Regina virou-se para trás, encontrando os golems e as criaturas do reino do Himalaia parados em uma posição de respeito. Era como se eles entendessem que aquele era o momento em que ela teria que seguir adiante sozinha. Com um olhar cheio de gratidão e determinação, Regina assentiu para suas leais companhias, reconhecendo a coragem e o apoio que recebera deles ao longo de sua jornada.

          No entanto, antes que pudesse retomar seu foco à sua frente e pensar em como alcançar as nuvens, o Autor interferiu mais uma vez, teletransportando Regina para um novo local.

          Regina sentiu um susto percorrer seu corpo quando percebeu que estava em cima de um pedregulho. Ela olhou ao seu redor e ficou maravilhada com a visão que se revelava diante de seus olhos. Nuvens graciosas envolviam o local, criando uma atmosfera mágica e etérea. Próxima a si, vislumbrou a entrada majestosa do imenso arranha-céu, erguendo-se além das nuvens. O Autor a teletransportou para o céu.

— Narrador? — Regina perguntou, mas não ouviu nada em resposta. Ela não conseguia mais ouvir a música, tampouco escutar esse que vos narra.

          Ela respirou fundo e, com determinação, ergueu o primeiro pé do pedregulho e o colocou sobre as nuvens de cumulus nimbus. Para sua surpresa e alívio, as nuvens se revelaram macias como algodão doce, mas surpreendentemente resistentes o suficiente para sustentar o seu peso.

          Regina saltitava com leveza pelas nuvens, sentindo uma alegria contagiante ao imaginar como seria divertido passar uma tarde inteira brincando com Larry e Ossudo naquele local mágico. As nuvens macias e fofas davam uma sensação de flutuação, como se estivesse pulando em um enorme trampolim celestial.

          No entanto, mesmo com a tentação de prolongar aquele momento de descontração, Regina sabia que a urgência da situação exigia que ela seguisse em frente. Com um último salto gracioso, ela chegou à estrondosa entrada do arranha-céu, que se erguia diante dela.

          Dentro do local, a penumbra reinava, sendo apenas quebrada pela luz que adentrava pela porta aberta e pelas pequenas frestas espalhadas pelo ambiente. O hall, embora imponente em sua grandiosidade, era dominado por uma avassaladora escadaria em espiral, uma estrutura gigantesca e imensa que se elevava vertiginosamente para cima. Regina, mesmo com dificuldade para enxergar seu fim, decidiu avançar, firmando sua mão no corrimão de ferro e começando a subir os degraus, determinada a levar o tempo que fosse para alcançar o topo.

          Enquanto Regina ascendia pela imensa escadaria em espiral, nem teve tempo de capturar fugazes vislumbres dos hieróglifos intrincados desenhados nas paredes beges ao seu redor. Os símbolos misteriosos pareciam contar histórias antigas, como a representação de uma figura enigmática entregando a outra um livro mágico, simbolizando a transmissão de conhecimento ancestral e mágico. A jovem aventureira também não se deu conta de inscrições gravadas nas paredes do edifício. Entre elas, em letras delicadas, estava a palavra "Monroe".

          Durante sua subida, o Autor, com um simples gesto, materializava garrafas de água cristalina em meio aos degraus. O líquido fresco e revitalizante era um alívio bem-vindo para a sede que a acompanhava durante a exaustiva subida. Ela aceitava as garrafas e tomava longos goles, sentindo o líquido refrescante revigorar seu corpo.

          Regina ficou surpresa ao deparar-se com centenas de gárgulas nas paredes do local. Todavia, ao contrário das que ela havia visto na mansão da Feiticeira, essas estavam imóveis, como se fossem meras decorações.

          Não soube dizer quantos minutos, horas, ou mesmo dias se passaram, mas ela enfim chegou ao último degrau. Não sabia nem mesmo dizer a qual altura se encontrava. Só sabia que ao fim daquele estreito e pequeno corredor havia uma porta de madeira encostada.

          O estreito corredor revelava uma iluminação intensa, destacando-se do restante do prédio. Através das frestas inferiores da porta, Regina vislumbrou uma sombra em um súbito movimento dentro da sala indo de um lado ao outro. Com um suspiro profundo, ela colocou a mão na maçaneta redonda e então abriu a porta...

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¹ Run Boy Run: Assim como mencionado no capítulo, se trata de uma música da banda Wookid. Boa parte do capítulo foi inspirada no clipe dessa música, por conta disso recomendo assistirem.

² Corra, Forrest, Corra: Referência a frase dita no filme Forrest Gump.

³ Alien em uma bicicleta: Referência a cena clássica do filme E.T. O Extraterrestre. 

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