15. A Cidade dos Vampiros
Dois homens de sobretudo conversavam entre si, cada um de dentro de sua própria guarita de segurança com uma distância de 15 metros entre elas. Ambas as guaritas ficavam na divisa da entrada do Reino da Romênia. Enormes muros feitos de chocolate impediam que quaisquer bruxas adentrassem sobrevoando o Reino dos vampiros. Por sinal, sendo justamente essa a raça dos dois seguranças de dentes pontiagudos.
— Aí a perua falou "tá a fim?". E eu disse: "Agora não" ¹ — Um dos vampiros gritou do outro lado para que o seu companheiro pudesse o ouvir, enquanto gesticulava com as mãos como se fosse um rapper.
— Com licença — Regina Monroe tentou interrompê-los, se aproximando da entrada do Reino.
— Agora não — Repetiu o vampiro, dessa vez respondendo diretamente a loira.
Moria tomou frente em relação ao seu grupo, forçando uma tosse para despertar a atenção dos seguranças. Eles então olharam em sua direção, se dando só então conta que o vampiro de cabelo lilás estava acompanhado de outras seis criaturas, todos algemados.
— Os capturei na redondeza e trouxe de sacrifício para o nosso amo — Moria tentou se mostrar convicto de sua fala, por mais que por dentro estivesse morrendo de medo. Sequer sabia quem era o atual líder dos vampiros desde que foi exilado.
Ambos os vampiros saíram de suas guaritas sobre a proteção de guarda-sóis. Inspecionaram milimetricamente cada uma das seis criaturas trazidas pelo vampiro, se controlando o máximo que consigam afinal seus corações batiam aceleradamente em relação aos dois humanos em suas frentes. Regina Monroe e Edward Lemoy pareciam extremamente apetitosos aos seus olhos.
Entretanto tinham pleno conhecimento de que não lhes era dada a permissão de provarem o sangue de quaisquer humanos sem a autorização do líder deles. Foi então que os olhares dos vampiros foram de encontro aos olhos amarelos de Moria, mudando logo em seguida para olhos laranjas, verdes, esmeraldas... Os olhos do herdeiro do trono mudavam de cor tão rápido que mal conseguiam acompanhar. Isso tudo devido ao medo de ser reconhecido pelos chupadores de sangue, afinal Moria era procurado vivo ou morto em sua cidade natal.
Antes que fossem capazes de o reconhecer uma mulher com uma manta na cabeça cruzou o portão da fortaleza do Reino se posicionando diante do grupo.
— O que está havendo aqui? — Questionou com sua voz de autoridade e tirania, porém sem levantar sua cabeça. O manto violeta a protegia dos raios do sol, da mesma forma que os guarda-sóis dos vampiros-seguranças os protegiam.
— Esse vampiro disse que trouxe prisioneiros. Estamos apenas nos certificando de quê...
— Deixe que eu cuido deles — A vampira por trás do capuz falou mais uma vez com sua voz firme os interrompendo.
Regina não conseguiu ver nada além do que sua boca se movimentar por entre as vestes. Moria engoliu em seco, seguindo logo atrás da vampira líder das forças especiais do líder dos vampiros. Os falsos prisioneiros de Moria o seguiram, ainda algemados, enquanto os seguranças salivavam ao olharem para as costas dos dois humanos, se controlando ao máximo para não abocanharem aqueles seres...
Para Regina seu plano estava indo ladeira abaixo. O planejado era que fingissem ser prisioneiros de Moria sendo levados para dentro do reino sãos e salvos. De fato estavam entrando dentro do reino, mas sendo agora levados para o castelo de Drácula pela vampira de patente mais alta do reinado fazia soar em sua cabeça como se fossem de fato prisioneiros. E pior, se alguém reconhecesse Moria como herdeiro do trono certamente seria sentenciado a morte.
Bridge se sentia enfraquecida após caminharem bem ao lado das paredes feitas de chocolate da fortaleza. Suas algemas não eram exatamente um impedimento para lutarem contra a vampira encapuzada a frente deles, mas será mesmo que seria a melhor decisão a se tomar ao chamarem tanto a atenção dos cidadãos antes mesmo de chegarem à cidade da Transilvânia?
Caminhando em uma feira daquela entrada da Romênia, uma multidão de pessoas se encontrava em volta de barracas de frutas, no qual os prisioneiros e os dois vampiros passavam por entre eles. Moria, que também estava encapuzado, sussurrou para a vampira:
— É bom te rever, Katherine.
— Digo o mesmo, Moria — A vampira mostrou suas presas com um sorriso contido, ficando levemente avermelhada como a maçã que segurava em sua mão da qual havia surrupiado de uma das tendas de frutas.
— Querem me explicar o que está ocorrendo? — Regina surgiu repentinamente entre os dois ao se dar conta de que ambos já se conheciam, virando a cabeça hora para um, hora para outro.
— Katherine é uma amiga de infância. Quantos séculos já fazem? — Moria se virou para sua amiga que deu uma risada sem que soubesse responder precisamente. Para Regina era evidente que por "séculos" ele estava sendo bem literal. — Como andam as coisas por aqui?
— De mal a pior. Oh, Moria, você não faz ideia de quem assumiu o trono após você ser exilado...
O grupo nesse momento passava por debaixo de uma abóbada de tijolos após terem cruzado a feira de frutas. A construção feita de tijolos formava um arco em meio a rua, apoiado sobre colunas extensas.
Bridge caminhava mais atrás fuzilando as costas dos dois vampiros. Gloria e Larry — Em sua forma de rato, estavam respectivamente em cada um dos ombros do pirata Edward Lemoy. Mesmo a fada estando algemada, se precisasse fugir ela teria usado suas asas para cair no mundo. Como Regina não se tocou que não eram realmente prisioneiros da vampira? Tal fato não passaria despercebido pela regente do exército vampírico.
— Drake V Axelbgs — A vampira respondeu, retirando por fim sua manta da cabeça.
Nesse momento três coisas chamaram a atenção de Regina Monroe ao mesmo instante. A primeira delas era a aparência de vampira. Katherine tinha a pele de coloração rósea, que só não se destacavam mais do que o seu cabelo platinado. Suas presas estavam contidas dentro de sua boca fina e avermelhada devido ao batom que utilizava.
A segunda coisa que chamou a atenção de Regina foi o fato de a luz do sol reincidir nos rostos tanto de Katherine quanto de Moria, no momento em que passaram pela abóbada. O sol não estava tão intenso, muito pelo contrário, estava uma tarde refrescante. Mas ainda assim o Astro solar iluminava claramente o rosto daqueles dois fazendo-os brilhar como se fossem purpurina, e se mais algum dos habitantes da região que passavam por entre eles fosse um vampiro certamente sua luminosidade os atingiria e causaria o mesmo efeito. Será que Regina estava enganada quanto ao fato de vampiros não poderem estar diante da luz solar?
Mas ela não tinha tempo para fazer esses questionamentos. Isso pois o que mais chamou sua atenção foi o nome citado pela criatura imortal. Nem tanto pelo nome de Drake em si, pois não fazia ideia de quem ele era, mas sim pela reação de Moria ao ouvir sobre ele. O vampiro de cabelo lilás diante dela sempre foi tão afetuoso com tudo e com todos, até mesmo com inimigos, então por que ele direcionava ao além um olhar mortal como se fosse capaz de matar Drake se estivesse diante dele naquele momento?
— Esperava até mesmo que o meu maldito tio-avô, Temer, utilizasse do golpe de estado que sofri para tomar posse do Reino, mas Drake?! A situação não poderia ser pior — Moria se lamentou. Katherine balançou a cabeça em negativa.
— O Conde Temer morreu de intoxicação alimentar um tempo depois de você partir. Oh, Moria, a situação está terrível. Estamos vivendo feito burros a pão de ló. Somos forçados a levar todo o tipo de criatura para o castelo dele como sacrifício, e nenhum de nós pode beber uma gota de sangue sequer sem sua permissão. Só após se saciar ele nos devolve as sobras para ser repartida com todos os vampiros do Reino.
— Isso é horrível! — Exclamou Ossudo, surgindo repentinamente entre os vampiros e Regina. Katherine quase caiu no chão devido ao susto repentino de ver um esqueleto vivo. Nem havia se dado conta de sua presença quando os trouxe para dentro da muralha do Reino.
— D-De toda forma — A vampira tentou se recompor, ajeitando o longo laço vermelho que mantinha em seu manto —, trabalho diretamente para ele pois nós servos de Drake temos regalias que a maioria não possui. Não chegamos a estar ao mesmo ponto de passar sede de sangue, quanto a maioria do Reino. Você, entretanto, não deveria estar aqui, Moria. Sabe que Drake te odeia mais do que a qualquer um. Ele seria capaz de matá-lo, se fosse possível. Dito isso, assim que possível deem meia volta e vão embora. Darei um jeito de encobertar sua fuga.
— Nada disso, Katherine. Já fui embora uma vez. Dessa vez, voltei para pegar o trono de volta!
— Está maluco, Moria? Se os demais vampiros hoje odeiam a tirania de Drake, odeiam no mínimo cem vezes mais você e sua ideologia barata de veganismo! Afinal, melhor pouco sangue do que nenhum. Eles ainda preferem Drake do que você. Oh Moria, eu daria tudo para estar no seu lugar e cair fora daqui. Diferente de você, que não está preso a ninguém nesse Reino, eu estou a minha família. Sou eu quem os sustento com o sangue que ganho de salário. Não posso simplesmente fugir, mas você pode...
— Tem alguém que me prende aqui, e esse alguém é você — Mesmo com timidez Moria pegou nas mãos gélidas da vampira, que ficou tão vermelho que qualquer um acharia que havia comido a pimenta mais ardida do mundo.
Ossudo e Regina olhavam de forma apaixonada para o provável casal, como se corações saíssem de seus olhos. Bridge, todavia, se afastou dos demais e se sentou em um grande pedregulho, quase passando mal com esse vírus chamado amor que estava impregnado no ar.
— Oh, Moria — Katherine olhava fundo nos olhos do vampiro.
— O sol pode acabar com nossos corpos, mas nem ele nem nada é capaz de acabar com meu amor por você. Desculpe ter demorado tanto tempo para perceber isso... — O vampiro proferiu, olhando encantado para ela.
— Não é por nada não, mas o sol ta bem ali em cima da cabeça de vocês e nada ocorreu — Lemoy surgiu diante deles, cortando de vez o clima. Regina deu um chute na canela do pirata, que exclamou de dor sem entender o porquê daquilo.
— Na realidade é apenas uma ilusão de ótica e sensações — Explicou Katherine, após se afastar do seu "amigo". — Uma redoma de vidro cobrindo a atmosfera foi colocada por todo o Reino para que os vampiros possam transitar pela cidade. Sendo invisível a olho nu, é impossível notar que ele está ali, mas está. É capaz de impedir que qualquer raio ultravioleta nos atinja e nos transforme em pó.
"Mas há um lugar em todo o Reino da Romênia que essa redoma não é necessária. Vejam por si só" — Apontou para o norte. Mesmo distante, a cidade de Transilvânia era bem perceptível. Nuvens negras cobriam toda aquela região, impedindo que qualquer brecha de luz solar a afetasse. Bem longe era perceptível as enormes torres do castelo de Drácula. Cadeias de montanhas, muito semelhantes com as quais Regina se deparou na ilha de Comodo, impediriam que os raios de sol atingissem a região mesmo com a ausência das nuvens.
Em cima do castelo Regina ainda conseguiu avistar um grande farol oval com um símbolo de uma vassoura, que estava apontando em direção ao céu. Mas o mesmo se encontrava apagado no momento.
— Era o nosso "bat-sinal" quando meu tatatatataravô Drácula era vivo. Utilizávamos para chamar as bruxas para lutarem ao nosso lado, sempre que travávamos alguma batalha contra os lobisomens. Mas isso já não tem mais serventia hoje — Moria explicou, dando de ombros. — Desde que fui embora, soube que a aliança das bruxas e vampiros foi rompida. Não é à toa as muralhas de chocolate em torno do Reino. Agora que sei que Drake está por de trás disso, não me admira que tenham quebrado o elo entre as duas raças. As bruxas são santas se comparadas aquele maldito.
Katherine pôde sentir os olhares de outros vampiros direcionados a si, conforme caminhavam por aquela estrada. Era nítido que nessa altura do campeonato não teria escolha. Teria que confiar em Moria e em seu grupo, de forma que acabou concordando em levá-los para o castelo comandado por Drake V Axelbgs, da quinta geração da família Axelbgs.
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Já era bem tarde quando Katherine cruzou os portões do castelo ao sopé dos montes Cárpatos. Trazia todos os sete algemados como prisioneiros, incluindo o próprio Moria. Assim que cruzou a grande porta de madeira do saguão do castelo, Regina se deu conta dos diversos itens de ar vitoriano espelhados pelo ambiente, desde lustres até lamparinas no teto de pé-direito alto. Na outra extremidade da parede em relação a porta havia dois caixões roxos, um ao lado do outro, em pé.
Subitamente ambos os caixões se abriram com suas tampas para o lado. Os dois vampiros de pele púrpura haviam acabado de despertar, de forma que caminharam formalmente de seus caixões em direção aos prisioneiros, no mesmo instante em que o som de um órgão de tubos era ouvido por todos, oriundo do andar de cima, em uma melodia aterrorizante. Regina levantou a cabeça e pôde notar que no mezanino uma criança vampiro estava aprendendo a tocar o instrumento, com seu instrutor ao seu lado.
— Olha só quem temos aqui — O vampiro de topete quem proferiu tal fala com tom de contentamento. Katherine mantinha sua postura firme, com sua expressão corporal totalmente centrada e nariz empinado. O vampiro claramente se referia a Moria.
— Finalmente consegui capturar o arqui-inimigo do nosso mestre. Estou levando-o nesse momento para o aposento de Drake — Katherine tentava soar como se fosse a superior entre seus semelhantes, tentando passar entre eles, porém ambos os vampiros interditaram seu caminho.
— Nada disso, mocinha — Foi a vez do outro vampiro falar, balançando seu dedo indicador em sinal de negativa. — Sabe muito bem que das portas desse castelo para fora você é a líder do exército vampírico. Mas a partir do momento que você ou qualquer outro cruzem essas portas, todo e qualquer sacrifício deve ser inspecionado por nós antes de serem encaminhados para o mestre.
— Dito isso — O vampiro de topete se esgueirou atrás do seu grupo, apoiando ambas as mãos nos ombros de Regina e Lemoy. Seu olhar alucinado evidenciava o quanto o maior interesse deles era pelos dois humanos cheios de sangue correndo em suas veias. —, nos encarregamos a partir daqui. Aliás, vejo que não foi cuidadosa o suficiente. Tantos prisioneiros excêntricos, e acha mesmo que apenas algemas vão os conter?
A primeira coisa que ele fez foi retirar de dentro do seu manto uma pequena salamandra vermelha. Assim que o anfíbio foi colocado no chão, labaredas de fogo começaram a girar em torno dela. Tais labaredas giravam em aspirais, crescendo cada vez mais. Até que das chamas uma bela mulher de cabelo ruivo, vestido escarlate e um sorriso de travessia surgiu.
— Como vai o cabelo, querida? — A mulher, que até então era uma simples salamandra minúscula, se dirigiu a Regina.
Foi então que caiu a ficha da garota. Essa mulher era aquela salamandra que Regina se deparou quando chegou em Fantasia pela primeira vez, a mesma que queimou as pontas de seu cabelo ao cuspir fogo em si. Chegou à conclusão também que, assim como Larry, a mulher escarlate era uma metamorfa, capaz de se transformar naquele animal assim como em uma humana.
A mulher-salamandra sabia muito bem o que devia fazer. Chegou por trás de Bridge puxando seu cabelo para trás, fazendo com que a bruxa, que estava algemada, a lançasse um olhar de fúria. A dor era muito maior do que um simples puxão de cabelo. As bruxas de Fantasia temiam o fogo tanto quanto temem o cacau e chocolate. Aquela mulher de vestido vermelho com uma mão na cintura era no mínimo cem vezes mais poderosa do que ela, justamente por ser sua inimiga natural.
O outro vampiro no recinto assobiou. Não passou mais do que dez segundos até que um terceiro aliado se juntasse a eles, puxando duas coleiras consigo. Em uma corrente que puxava com sua mão direita havia um simples gato listrado. Já na mão esquerda havia um feroz pit bull. O cachorro começou a latir ferozmente em direção a Ossudo. Aquele amontoado de ossos em pé fez o cachorro se exaltar ao ponto de quase escapar da mão de seu cuidador.
Ossudo se tremeu todo de medo ao imaginar seus ossos sendo roídos por aquele cachorro. Engolindo em seco quando o pit bull ficou bem ao seu lado, prestes a destrui-lo se ousasse cogitar escapar. O mesmo ocorreu a Larry, que mesmo em sua forma humana estava tremendo com o vampiro atrás dele usando da coleira de sua outra mão para posicionar o felino, que claramente sentia o cheiro de rato vindo do jovem garoto.
Por fim, o vampiro de topete retirou de dentro de seu manto um inseticida, usando-o contra a pequena fada que voava algemada próxima aos seus companheiros. Aquele spray repentino sobre suas asas fez com que Glória inclinasse seu corpo para trás, ainda no ar, e fechasse os olhos em instinto natural. Foi tempo o suficiente dele retirar um pote de sua manta e prende-la dentro dele, tampando-o na mesma velocidade em que o abriu.
— Me solta daqui, seu narigudo! — Glória gritava de dentro do pote, batendo com forças nele. Mas isso só fez com que os vampiros rissem.
— Façam o que bem entender — Katherine deu de ombros, como se não se importasse com aqueles prisioneiros, apesar de não ser o que se passava de fato em sua cabeça. Mas então aproximou-se de Moria e o puxou pelo braço em sua direção. — Mas o Moria não. Eu mesma o levarei. Não deixarei que vocês levem os créditos pela captura dele.
Pelo olhar dos vampiros, Katherine se deu conta que não estavam realmente se importante com o descendente de Drácula. Eles estavam muito mais interessados nos humanos. A vampira olhou brevemente nos olhos de Moria, e com a simples mudança de seus olhos para cinza ela entendeu o que ele quis dizer. Katherine era a única capaz de compreender os sentimentos de Moria apenas vislumbrando a mudança de cor deles.
— Os dois humanos também vêm comigo — Ela empurrou as costas de Lemoy e Regina, que obviamente não demonstraram resistência. — Não confio em vocês. Se provassem uma gota de sangue deles, sabem muito bem que Drake não os perdoaria. Além do mais, sua ira poderia se recair até mesmo a mim que teria permitido isso.
Antes que tivessem a oportunidade de retrucar, Katherine apressou os passos sem olhar para trás, empurrando os únicos três prisioneiros que conseguiu levar consigo em meio aos corredores do castelo. Regina, por outro lado, virou sua cabeça para trás com um olhar de impotência. Ossudo e Larry estavam temerosos com aqueles cachorro e gato, respectivamente, próximos a eles. Glória estava desolada dentro do pequeno pote. Enquanto Bridge mordia seus próprios lábios para não gritar de dor devido a presença da mulher-salamandra. Regina não podia fazer nada naquele momento para resgatar seus amigos, a deixando frustrada com a situação.
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Depois de caminharem por vários e vários corredores, o quarteto se encontrou em frente a uma grande porta de dois puxadores. Katherine tratou de empurrá-los para dentro, se certificando de que não havia ninguém nas proximidades. Após entrarem na sala, fechou a porta atrás deles.
Regina estava deslumbrada. Eles estavam em uma enorme biblioteca daquele castelo. Olhou para cima e avistou diversas escadas em formato de aspirais que davam acesso aos quatro andares daquela sala. Repleta de milhares de estantes, todas preenchidas pelos mais diversos tipos de livros. Quase chegou a acreditar, inclusive, que havia morrido e estava no paraíso.
— Sinto muito. Devia ter me lembrado que a segurança no castelo está mais rígida que o comum — Katherine, apoiada na porta, se direcionou a Moria. — Há alguns dias dois invasores conseguiram passar pela nossa fortaleza impenetrável. Um era um ser tão veloz que entrou tão rápido que mal conseguimos o ver. Já o outro se fingiu de mercador, mas na realidade era um cavaleiro da Côrte de Fantasia. Quando descobrimos sua identidade já era tarde, ele já havia deixado o Reino da Romênia.
"Além disso, como mencionei, seu tio-avô morreu de intoxicação alimentar. Mas ele não foi o único. Vários vampiros vem passando um grande mal-estar incomum, como se fosse uma epidemia. Tememos que alguém esteja querendo nos envenenar. Oh, Moria...".
— Sei o que vai dizer, e me recuso. Não vou voltar atrás, Katherine. Podem ter prendido os nossos, mas pensaremos em algo. Nem que eu tenha que lutar diretamente contra Drake com minhas próprias mãos.
— E não está com medo?
— Estou quase borrando minhas calças de tanto medo — Respondeu o vampiro de cabelo lilás com sinceridade. — Mas há momentos em que temos que encarar nossos medos.
Regina comtemplava cada estante de livros pelas quais passava, as analisando com um sorriso no rosto. Já Lemoy olhava para ela sem entender o porquê de tanta alegria.
— O que tem demais nesse monte de velharia? Livros foram feitos apenas para serem usados para apoiar o pé da mesa quando ela está bamba — O pirata disse com a maior inocência do mundo. Regina, porém, se sentiu ofendida diretamente, abrindo sua boca em forma de ovo.
— Vocês velhotes são sempre assim! Parece até mesmo meu pai falando.
— Velhote? Escuta aqui garota, não sou tão mais velho que você não — Edward estava nesse momento bem próximo de Regina. Um encarando ferozmente o outro. — Se você fosse apenas um pouco mais velha, eu poderia agorinha até mesmo... Até mesmo te beijar!
Quando Lemoy se deu conta do que havia acabado de dizer, ele levou a mão ao próprio cabelo de forma desajeitada, se afastando da menina apressadamente. Regina Monroe não poderia estar mais grata por ele ter se afastado após isso, pois assim ele não notaria que seu rosto havia enrubescido.
— Vejo que gostou da biblioteca do meu tatata...
— Já entendi, Moria — Regina tentou interrompe-lo.
— ...Tataravô — O TOC não permitiu que Moria não completasse todos os "tatara...". — Drácula era um leitor ávido. Há aqui inclusive pergaminhos que ele conseguiu da biblioteca de Alexandria antes dela ser incinerada. Essa biblioteca aqui poderia ser até mesmo uma das sete maravilhas de Fantasia. Porém, agora, veja só no que ela se tornou.
Moria apontou para uma prateleira com centenas de livros de um mesmo exemplar. O vampiro puxou um deles, mostrando para Regina a capa do livro autobiográfico: "Drake por Drake: As Várias Faces de Mim" ¹.
— É isso o que ocorre quando se da pérolas aos porcos. Nunca vi um vampiro ser tão narcisista!
Regina pegou um dos exemplares e começou a folhear o livro, acreditando que nele poderia haver algo que pudesse usar contra Drake. Para sua infelicidade, porém, Edward Lemoy fez o mesmo. Mas o intuito dele em pegar o livro era outro...
— Uau, livros são mesmo tão úteis. Saber que o número sete é o favorito do atual líder dos vampiros é uma informação super valiosa — Lemoy lia, no maior tom de ironia, fazendo Regina ficar irritada. — Ou que tal o fato dele ser um grande fã de Júlio César? "A mulher é feia ou bela, dependendo dos olhos que a veem". Bom, no caso de Bridge ela é feia independente de quem a vir — Debochou Lemoy, após ler uma citação de Júlio César no livro biográfico de Drake.
— Olha só, estou surpresa, né que o pirata que só sabe beber rum e saquear consegue ler — Regina devolveu a provocação, de braços cruzados e de costas para ele.
— "O que está fora de vista perturba mais a mente dos homens do que aquilo que pode ser visto" — Regina se virou irritada, acreditando ser mais uma citação vinda de Lemoy. Mas não. Aquele o qual a recitara era outro.
Tendo entrado sorrateiramente sem que ninguém o visse pela porta dos fundos da biblioteca, sua presença fez com que Moria e Katherine tremessem de medo. Aquele homem possuía o cabelo esbranquiçado penteado para trás, mesma cor de sua curta barbicha. Em seu rosto usava um óculos de meia lua e carregava um cajado em sua mão direita. Suas vestimentas formais o faziam se parecer com um aristocrata, por mais que não fosse um de fato. Aquele homem era um vampiro, em que todos acreditavam ser também o quinto da geração de sua família. Drake V Axelbgs estava pessoalmente na biblioteca, próximo aos dois vampiros e aos dois humanos.
— Drake, meu amo, estava agora mesmo encaminhando Moria até o seu aposento — Katherine tratou de se explicar, se curvando em sua direção.
Com um olhar de desprezo o vampiro líder golpeou o rosto dela com seu cajado, fazendo com que Katherine caísse no assoalho de madeira.
— "Não basta que a mulher de César seja honrada, é preciso que sequer seja suspeita" — Com mais uma citação, Drake evidenciou que estava suspeitando da traição de sua, até então, maior serva.
Moria deixou todo o seu medo de lado. Ao ver sua amada ser golpeada por um homem retirou seu manto e correu com toda sua fúria para cima de seu rival. Drake, entretanto, não se abateu. Retirou de suas vestimentas um embrulho, e assim que Moria surgiu diante dele o embrulho foi aberto. Com aquele pequeno dente de alho em suas mãos, o vampiro de cabelo lilás se enfraqueceu só em estar perto da presença do alimento, caindo no chão. O mesmo efeito, entretanto, não parecia surtir naquele que o segurava.
A porta da frente da biblioteca se abriu e mais quatro vampiros surgiram, onde cada um segurava uma lança. Drake apontou seu cajado para os dois vampiros no chão e os dois humanos em pé.
— Levem-nos ao meu aposento. Me livrarei de todos eles de uma vez por todas — Os vampiros puxaram Regina e Lemoy pelos braços, enquanto Moria e Katherine eram levados enfraquecidos por outros vampiros. — "Vim, vi, venci".
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¹ Ambas as citações são falas do personagem Fred no filme Live Action do Scooby-Doo de 2002.
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