14. O Cavaleiro e os Sete Magos
Aqueles que ousarem se aventurar, e por ventura conseguirem cruzar o reino impenetrável da Romênia, não tardariam a se depararem com um simples vilarejo entre a fronteira daquele reino e a floresta Rubi. No céu azulado daquela manhã sete homens voavam sob o dito vilarejo montados em suas respectivas vassouras mágicas. Eles eram conhecidos como a força tarefa mais poderosa da maléfica Feiticeira: Os sete magos.
Cada um deles trajava uma roupa que fazia referência aos seus codinomes. Após selarem um pacto com a Feiticeira, a mesma achou os nomes dos sete ex-bruxos dificílimo de se recordar. De forma que os apelidou conforme a cor de seus cabelos: Verde Claro, Vermelho, Laranja, Violeta, Roxo, Amarelo e Azul.
— Báu, tchi-ca, báu-uau¹ — Verde Claro começou a cantar, enquanto se apoiava em sua vassoura. Estava sem sua camisa, onde seu peitoral estava à vista. Assim como os demais usava uma calça da mesma cor do seu cabelo.
— Falou o meu amor — Foi a vez de Laranja prosseguir a música.
— Báu, báu, báu — Roxo dava seguimento com a canção, enquanto fazia coreografias em cima da sua vassoura. — E o meu coração bateu.
— Tchi-ki, tchi-ki, tchú-uáp. Nunca mais parou — Vermelho era o que tinha a voz mais afinada entre o grupo.
— Isso quer dizer que você gamou... — Antes que Violeta pudesse completar foi interrompido por Azul que jogou uma pomba, que estava voando próximo a si, em sua cabeça.
— Chega dessa cantoria! — Azul esbravejou, após atacar seu parceiro em meio ao céu. O homem de barba e bigodes marrons era certamente o mais mal-humorado entre eles.
— Deixa de ser ranzinza, Azul. Você tem que levar a vida de forma mais leve e livre — o homem de óculos que fez o comentário levava suas palavras literalmente a sério. Afinal, Amarelo estava completamente nu em cima da vassoura.
Bem abaixo de onde estavam havia uma loja de antiguidades. Os sete magos ficaram em silêncio permanecendo parados em meio ao céu em suas vassouras no momento em que avistaram um homem trajado com uma armadura de metal adentrar a loja. Uma vez dentro do estabelecimento o cavaleiro retirou seu capacete, estando a mostra seus cabelos loiros em corte tigela — onde a franja atingia metade de sua testa, mantendo o mesmo comprimento em toda a volta da cabeça —, enquanto mantinha o capacete apoiado entre seu sovaco.
Do outro lado de um balcão de vidro se encontrava uma criatura pequena com seus pés apoiados em um banquinho de madeira para ficar à vista dos clientes que adentrassem sua loja. As orelhas pontudas do duende se levantaram na presença do líder da cavalaria de Fantasia.
— Com licença — Tristan, o cavaleiro, se aproximou do balcão ficando cara-a-cara com o duende. A criatura verde do outro lado lhe inspecionava milimetricamente com seus enormes olhos pretos. — Estou em busca do anel da invisibilidade. Soube que o senhor possui um em sua loja.
O duende abriu um sorriso de orelha á orelha ao perceber que faria um bom negócio com aquele cliente. Pegou de dentro do balcão de vidro um anel de prata com um brilhante, mostrando-o ao cavaleiro com a palma de sua mão estendida.
— Sério mesmo? Me parece um anel comum — Tristan demonstrou certa relutância, levando sua mão ao seu próprio queixo.
— Experimente, se ainda possui dúvidas.
Aceitando a proposta do duende Tristan pegou o anel e o colocou em seu dedo anelar. Seu corpo e seus pertences ficavam cada vez mais transparentes, até que se tornou completamente invisível.
— Uau! É verdade mesmo!
— Não falei? Agora será do senhor por apenas cinquenta mil moedas de ouro — O duende estendeu sua mão em direção ao seu cliente invisível com um sorriso satisfatório no rosto.
Tristan nada falou. A mão do duende permanecia estendida. Aos poucos o sorriso do duende foi se desmanchando. E então a porta da sua loja foi aberta. Ninguém havia entrado, porém o tilintar do sino da porta indicava que ela havia dado passagem para alguém passar, mesmo que ele não visse ninguém. Como por exemplo, um cavaleiro invisível que acabara de roubar seu anel da invisibilidade!
O duende saiu enfurecido de sua própria loja, gritando pelos sete ventos atrás do ladrão invisível. Mas, por mais que buscasse com o olhar, jamais seria capaz de localizar o meliante. Afinal, uma vez com o anel em posse o cavaleiro só se tornaria visível novamente a quem quer que seja ao retirá-lo de seu dedo. Que foi exatamente o que Tristan fez ao chegar em um local seguro da floresta Rubi, após ter se certificado de ter despistado sua vítima.
Com um sorriso de triunfo decidiu guardar o anel em um pequeno saco que carregava consigo, amarrando-o com um laço e então guardando-o dentro de sua armadura. Ao lado de Tristan haviam várias árvores de cor rubi, sendo esse o motivo do nome de tal floresta. Enquanto o cavaleiro ajeitava sua espada na fivela de sua cintura para prosseguir com sua jornada, ele conseguiu escutar o som de um galho se partindo vindo bem de trás dele.
— Que coisa feia você fez, mocinho — Em posse de sua vassoura em sua mão o mago Laranja caminhava em direção ao cavaleiro acompanhado dos seus outros seis companheiros.
— Não sei quem são vocês, tampouco faço ideia do porquê estarem fantasiados para o dia das bruxas em pleno mês de abril — Tristan claramente se espantou com as roupagens coloridas e chapéus chamativos dos magos ao se virar. Principalmente ao avistar Amarelo completamente pelado —, porém não irei abrir mão desse artefato. Não me sinto orgulhoso pelo furto, entretanto estou aqui única e exclusivamente a mando do meu rei.
O cavaleiro desembainhou a espada que mantinha em sua fivela. A lâmina afiada e reluzente da espada fez com que os olhos dos magos brilhassem. Com seu pomo dourado e cabo azul a espada Excalibur que Tristan apontava em direção a eles era o objeto que tanto buscavam. Afinal, haviam sido ordenados pela própria Feiticeira a conseguirem tal arma branca.
Apesar de odiarem a Feiticeira, os magos foram obrigados a serem fiéis a ela. Sem que soubessem a maquiavélica mulher assassinou o mestre deles, Merlin, e os enganou fazendo-os selarem um pacto de alma com ela. Quando descobriram toda a verdade já era tarde demais. De forma que caso desobedeçam a quaisquer ordens dela suas almas seriam entregues ao demônio e morreriam. A única forma de quebrarem esse contrato seria se a Feiticeira morresse.
Para a infelicidade deles a poderosa mulher era tida como o ser mais forte de Fantasia. Boatos diziam que a única forma de a derrotar seria utilizando da espada Excalibur, que possuí poderes mágicos, contra si. Temendo por sua própria vida ordenou que conseguissem a espada, antes que o objeto caísse em mãos inimigas. A contragosto tiveram que obedecer, estando eles naquele momento justamente buscando pela arma branca.
— Não nos importamos com o anel. Porém, preciso que nos entregue a espada — Azul falou, com seu tom de voz de seriedade, ao dar mais alguns passos em direção ao cavaleiro destemido.
— De jeito algum! O rei de Fantasia confiou a mim a tarefa de conseguir essa espada. Fui exilado há alguns meses e só tenho o direito de retornar ao meu reino após conseguir todos os artefatos mágicos que ele deseja — Com a espada apontada, dessa vez em direção ao Azul, Tristan não demonstrava temer o mago rechonchudo.
Tristan pôde notar um olhar de surpresa oriundo dos magos a sua frente, mediante sua fala. Era perceptível naquele momento para eles que o fiel escudeiro do rei de Fantasia ainda não sabia de tudo o que havia ocorrido recentemente devido ao seu longo exilio.
Vermelho estava pronto para travar uma batalha contra o cavaleiro, levando sua mão ao bolso de sua calça de moletom vermelha com intuito de retirar dela uma pequena pedra. Esse fragmento de rocha se tratava de uma runa mágica. Os magos podiam utilizar tanto runas quanto pergaminhos para conjurarem suas magias.
Entretanto Vermelho não teve a chance de atacá-lo, pois uma outra pessoa surgiu diante de todos em meio as árvores rubis chamando a atenção dos presentes. O jovem que surgiu trajava duas peças de roupa: Um Quíton (sendo esse uma túnica, feita basicamente de um retângulo de tecidos com um cinto dourado em sua cintura) e um Himation — Que se tratava de um manto do qual mantinha sobre o Quíton.
Em sua mão o adolescente carregava um caduceu — Um bastão com o símbolo de duas serpentes entrelaçadas e com um chapéu alado em sua parte superior. Chapéu esse que muito se assemelhava ao pétaso de couro em sua cabeça, afinal tal acessório possuía abas largas semelhantes a asas além de ter uma copa baixa.
O cidadão do reino da Grécia sorriu ao reencontrar seu arqui-inimigo diante de si.
— Olá, Hermes — Saudou seu rival, ignorando a presença dos magos e embainhando sua espada de volta na fivela de sua cintura. — Vejo que continua me perseguindo como sempre.
— Que coincidência o encontrar aqui, Tristan — Hermes começou a assobiar, se fazendo de sonso e fingindo que se tratava de fato de uma coincidência.
— Estou ocupado, não está vendo?
— Sei disso. Ouvi rumores de que está atrás de alguns artefatos mágicos. A espada Excalibur, o anel da invisibilidade, o meu pétaso mágico em minha cabeça e veja só! — Hermes levantou sua perna direita estando a mostra que estava calçando sandálias com duas asas na parte de trás delas. — Eu consegui encontrar as sandálias da velocidade! Nesse caso, parece que cada um de nós possui metade dos itens mágicos que você busca. Um empate!
— O que planeja com isso? Não vejo que utilidade esses itens podem ter para você.
— Nenhum mesmo — Hermes levou ambas as mãos até sua nuca entrelaçando seus dedos. — Sabe que meu passatempo favorito é te desafiar e te derrotar. Como você está sempre tão ocupado trabalhando para o seu reino e blablabla, essa foi a forma que encontrei de você aceitar o meu desafio.
"O que me diz, Tristan? Uma corrida daqui até o desfiladeiro ao fim da floresta Rubi. Aquele que vencer fica com os itens mágicos do outro. Sua oportunidade de conseguir tudo o que precisa para retornar ao seu reino como um herói que cumpriu a missão incumbida a si. Isso, é claro, se for capaz de me vencer".
— Você é mesmo um idiota — O cavaleiro sorriu enquanto retirava sua armadura, ficando apenas com uma leve roupa de malha e mantendo sua espada em sua cintura. — Pois bem, mas saiba que você não tem a menor chance de me ven...
Antes que Tristan pudesse completar sua frase uma enorme fumaça surgiu de onde Hermes estava até então. O filho dos deuses da Grécia agora era apenas um vulto distante no horizonte. O cavaleiro claramente subestimou os poderes das sandálias mágicas de seu rival, afinal elas concediam uma enorme velocidade ao seu portador.
Em clara desvantagem Tristan começou a correr sem se dar por vencido. Se esquecendo completamente que atrás de si sete magos observavam toda a rivalidade entre os dois rapazes, e não desistiriam até terem posse de sua espada mágica.
-----------------
Hermes parou de correr no meio do percurso. Correu tão rápido que ao se virar para trás não viu ninguém em sua proximidade. Estava em ampla vantagem na corrida contra seu inimigo. Como a floresta Rubi era igual coração de mãe e sempre cabia mais gente não tardou para que fosse a vez de Hermes se surpreender com a chegada de novas criaturas saindo em meio as árvores rubis.
— Cuidado com a Cuca que a Cuca te pega. E pega daqui e pega de lá¹ — Tal música era cantada por uma mulher tão velha quanto o tempo. Suas escamas verdes por todo seu corpo e seu rosto de jacaré (que se assemelhava em muito com o rosto de Regina Monroe no capítulo anterior) não restavam dúvidas a ninguém de que se tratava da perversa Cuca!
O ser mitológico de cabelo loiro oxigenado se tratava da única bruxa a ser banida pelo conselho mágico por crocodilofobia por parte das demais bruxas — Por mais que ela fosse um jacaré, e não um crocodilo. No momento habitava a floresta Rubi, sendo a líder de um grupo de dez Orcs que a acompanhavam nesse instante.
— Veja só que rosto bonito temos aqui — A criatura de dentes podres passou suas garras no rosto esbelto de Hermes, do qual deu dois passos para trás em repulsa de tal gesto. — O que me diz, querido? Bora para minha caverna para a Cuca aqui te pegar dali e te pegar de lá. Você parece um Deus grego — Falando na terceira pessoa a Cuca piscou de forma sedutora para o, literalmente, filho dos deuses gregos.
Por estar bem próxima Hermes pôde sentir o mau hálito vindo de sua boca de jacaré. Tampou o seu nariz com parte de seu manto e se afastou mais dois passos para trás.
— Sinto muito, mas prefiro passar a eternidade levando a alma dos mortos para o submundo do que beijar sua boca.
Tendo acabado de levar um fora a Cuca ficou cabisbaixa se virando para trás em sinal de desolação. Estando frente a frente com os enormes Orcs que buscavam entender com o olhar o porquê de sua líder estar sendo tão compreensível com o homem que a rejeitou. Hermes ficou se sentindo mal pela forma como falou com a ex-bruxa, afinal ela claramente estava magoada por ter sido rejeitada.
— Escuta, eu não quis dizer isso... Quer dizer, eu quis. Mas, bem...
Ainda de costas a Cuca pegou um cutelo das mãos de um dos Orcs e se virou de volta, ficando frente a frente com o filho dos deuses do Olimpo. Foi então que ele viu o olhar maligno da "jacaroa" que no mesmo instante desferiu um pesado golpe com a arma em sua barriga. Tamanho foi o impacto do golpe que fez com que Hermes caísse inconsciente no chão, ensanguentado.
— Cuidado com a Cuca que a Cuca te pega. E pega daqui e pega de lá — Voltou a cantar, com o cutelo ensanguentado em suas garras enquanto gargalhava junto aos Orcs.
-----------------
Sem saber que mais a frente seu arqui-inimigo estava mortalmente ferido Tristan continuava a correr o máximo que podia entre as árvores de cor rubi. Bem ao seu lado direito, montado em cima de sua vassoura mágica, Verde Claro sobrevoava em baixa altitude acompanhando o ritmo do cavaleiro.
— Tem um minuto para ouvir a palavra de Merlin?
— Quê? — Tristan questionou, porém sem parar com sua correria.
— Escuta garoto tem algo que você não sabe — Do lado esquerdo de Tristan o mago Violeta surgiu da mesma forma que Verde Claro. — Muita coisa mudou desde de que você deixou o reino de Fantasia. As Ninfas da floresta Esmeralda nos contaram há alguns dias. O rei e a rainha de Fantasia foram colocados em um sono profundo por alguma bruxa. O príncipe Charles foi transformado em sapo e está desaparecido desde então. Os cidadãos de Fantasia decidiriam, nessa situação, abolir o sistema de monarquia do reino.
Conforme ia escutando tais informações Tristan foi diminuindo seu ritmo, até que parasse completamente. Ele estava desacreditado ao receber todas aquelas notícias.
— Está entendendo, garoto? — Vermelho quem surgiu dessa vez, montado em sua vassoura bem na frente do cavaleiro. — Uma vez que não há um reino para retornar sua missão está cancelada. Como não precisará mais da Excalibur aceitamos ficar com ela...
Vermelho estendeu sua mão com intuito de receber a espada, mas Tristan não mexeu um músculo. Estava cabisbaixo, refletindo sobre tudo o que acabara de descobrir.
Mesmo sendo razoavelmente jovem, Tristan se tornou o líder da cavalaria de Fantasia assim que Bárbara Zaira se aposentou. A atual idosa era tida como um ícone para as mais variadas gerações. Tristan sempre carregava o peso das comparações em suas costas. De forma que seu objetivo de vida era superar a lendária ex-cavaleira e se tornar mais do que uma simples sombra de alguém que o antecedeu.
Mas e agora que não havia mais um reino? E agora que ele não possuía mais um grupo de cavaleiros para batalharem sob suas ordens? Se tornaria Tristan apenas um mero figurante nas páginas da história? O que seria de sua vida agora que não tinha mais um objetivo? Não saberia dizer nem mesmo quem ele era... Nenhum feito em sua vida que pudesse se orgulhar...
Tristan entrou em um estado de negação. Se recusou a acreditar nos magos. Com toda a certeza estavam mentindo para que pudessem pegar a Excalibur dele sem resistência. Ao notar que os outros quatro magos estavam bem atrás deles, se aproximando do grupo em suas vassouras, Tristan pegou sorrateiramente de seu bolso o pequeno saco que carregava consigo colocando o anel da invisibilidade em seu dedo anelar. Assim que o objeto se encaixou em seu dedo o cavaleiro desapareceu da vista dos magos.
Percebendo o que havia ocorrido Roxo usou um pergaminho mágico que carregava consigo. Após ler as inscrições do pergaminho o objeto pegou fogo, surgindo labaredas de fogo que giravam em círculo em volta do corpo do mago. Diferente do fogo comum esse não queimaria seu adversário, mas revelaria qualquer pessoa que por algum motivo não estivesse visível a olho nu.
E foi exatamente o que ocorreu quando as chamas pegaram de raspão no pé de Tristan. Logo após revelar o pé dele, ele tornou a desaparecer pois o cavaleiro continuou sua corrida se distanciando dos sete magos que o perseguiam.
O cavaleiro decidiu olhar para trás para ver onde seus perseguidores estavam, mas sem que parasse de correr. Tal ato súbito fez com que ele não enxergasse a repentina aparição da Cuca acompanhada dos Orcs. Devido ao impacto ao se esbarrar com a jacaré o cavaleiro caiu no chão e o anel da invisibilidade consequentemente se soltou de seu dedo. Dessa forma o cavaleiro agora estava caído no chão completamente visível.
Após se recompor da trombada a Cuca olhou em direção ao jovem loiro que ousou cruzar seu caminho. Mais uma vez a criatura mitológica descontou sua fúria utilizando o cutelo golpeando seu adversário indefeso de forma brutal.
Ao chegarem no local os sete magos ficaram horrorizados com a forma como a Cuca usava o cutelo incontáveis vezes para golpear o cavaleiro no chão, enquanto os Orcs atrás dela riam da situação. Amarelo tomou frente em relação ao seu grupo saltando de sua vassoura e utilizando de runas que haviam em seu chapéu para conjurar uma magia de terremoto.
Com ambas as mãos apoiadas no solo o homem pelado fez com que uma fenda na terra surgisse no exato local onde a Cuca e os Orcs pisavam, dividindo a floresta em dois lados. Os seus inimigos caíram no enorme precipício que surgiu, impedindo que fizessem mais mal a quaisquer pessoas.
Os demais magos saltaram de suas vassouras e correram em direção ao homem ensanguentado. Azul apoiou sua cabeça em seu colo.
— Droga! Tem mais um ferido aqui — Laranja constatou, ao notar que há apenas vinte metros de distância de onde estavam Hermes também se encontrava ferido no chão.
— Quantas runas de cura ainda temos?
— Só mais uma. Se o Verde Claro não tivesse gastado uma atoa para tirar uma farpa de seu dedo... — Azul resmungou, conforme pensavam em como fariam para salvar a vida dos dois rapazes.
Os feridos não aguentariam até que os magos retornassem a mansão da Feiticeira e, com apenas uma runa mágica capaz de curar os ferimentos de alguém, teriam que escolher quem sobreviveria e quem morreria... Com a visão turva Tristan olhou em direção ao seu rival caído.
Hermes ainda estava inconsciente. Foi então que Tristan sorriu. Há muitos anos ambos se desafiavam e travavam batalhas entre si. Hermes e ele tinham uma grande rivalidade, porém tal inimizade motivou o cavaleiro a sempre melhorar e se tornar mais forte. Foi nesse instante que descobriu seu propósito se vida.
— S-Salvem ele — Tristan falou com dificuldade, cuspindo sangue em seguida.
— Tem certeza disso? — Violeta questionou, persuadindo o cavaleiro a mudar de ideia. — Ele está inconsciente, se morrer é capaz que nem vai se dar conta...
— Vivi a vida toda querendo superar alguém que dedicou sua vida para proteger as pessoas do reino. Bárbara Zaira nunca quis ser melhor do que ninguém, ela apenas deu tudo de si para que vidas não fossem desperdiçadas em vão. Nunca superarei minha antecessora, e hoje vejo que não preciso disso. Meu objetivo de vida será cumprido ao saber que dei minha vida para que um inocente não morra em meu lugar. Então não tenham dúvidas em usarem a runa nele e não em...
— Quando você falou que podia, eu já usei nele — Verde Claro interrompeu o discurso de Tristan, apontando para Hermes.
Aos poucos os ferimentos mortais de Hermes foram desaparecendo. Suas cicatrizes e machucados sumiram, como se nunca tivessem existido. Seus olhos se abriram aos poucos, como se apenas estivesse despertando de um longo sono de fim de tarde. Tristan, com um sorriso no rosto, olhou de soslaio seu arqui-inimigo despertar. Uma lágrima caiu de seu olho no exato momento em que seu coração parou de bater. Com seus grandes poderes mágicos capazes de enxergarem muito além do que meros humanos veriam, os magos notaram a presença de Dog se aproximando para levar a alma de Tristan para o reino dos mortos.
-----------------
Hermes foi informado pelos magos o que havia ocorrido. O filho dos deuses do Olimpo se sentiu devastado com a partida de Tristan, seu maior rival cedeu sua vida para que ele vivesse em seu lugar. Os oito enterraram o corpo do cavaleiro na floresta abaixo de uma árvore rubi de grande copa e fizeram um memorial para ele naquele local.
— O que fará agora? — Vermelho questionou ao garoto grego, após o enterro.
— Retornarei ao meu reino. Vou encontrar um propósito de vida da mesma forma como Tristan encontrou um. Não desperdiçarei a vida que ele me deu.
— Muito profundo, mas receio que esteja ciente que por todo o transtorno causado ficaremos com isso — Amarelo retirou o chapéu da cabeça do garoto. — Isso também — Pegando suas sandálias de seus pés sem se importar em derrubá-lo no processo.
Azul mantinha em sua posse o anel da invisibilidade e a espada Excalibur que retirou do corpo de Tristan. Hermes não se mostrou relutante quanto aos itens mágicos retirados de si. Uma vez que não houvesse mais um rival não teriam mais serventia para si.
Após se despedirem do filho dos deuses do Olimpo, os sete magos passaram a voarem com suas vassouras mágicas céu à fora.
— O que esse pétaso mágico faz? — Vermelho questionou ao voar ao lado de seu colega. Amarelo analisava o chapéu inusitado de um lado para o outro.
— O garoto me disse que ele apenas impede que os pensamentos do seu usuário e de pessoas próximas a quem o estiver portando possam ser lidos. Que coisa mais inútil, não é como se lutássemos contra telepatas todo dia — Amarelo bufou, arremessando o chapéu lá do céu. O pétaso caiu em meio ao desfiladeiro bem abaixo deles.
— Estou surpreso que aquele esqueleto não é mais a morte — Laranja observou, se recordando que foi Dog quem fez a travessia da alma de Tristan.
— Sinto saudades dele. Éramos bons amigos. Uma pena que ele deva nos odiar atualmente depois daquela batalha que tivemos... — Azul constatou.
— Báu, tchi-ca, báu-uau. Falou o meu amor — Repentinamente Verde Claro voltou a cantar.
— Não começa, desgraçado! — O mal-humorado Azul tacou uma bota velha na cabeça de seu colega.
Conforme voavam em suas vassouras, ultrapassando o grande desfiladeiro pelo céu, a enorme mansão da Feiticeira onde eles habitavam se tornava visível bem no topo da colina.
*************************
¹ Palavras destacadas: Os magos estão cantando a música Guitchi Guitchi Gú do desenho animado Phineas e Ferb.
² A Cuca Te Pega: Música tema da personagem Cuca da série do Sitio do Pica-Pau Amarelo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro