#10「💌」
˚₊· ͟͟͞͞➳ Aquele em que Bose e Mika fogem.
Angela Estella Macklin era de uma família de mulheres fortes. Sua mãe, Estella Walnut – sim, ela tinha posto seu nome na filha – foi do exército, e tinha um jeito rígido por fora, mas compreensivo e gentil por dentro. Ela era muito amada por todas as filhas, de quem se orgulhava muito, era a razão de Didi ser da polícia e era a maior inspiração de Angela como mãe. Todos os dias, a Macklin se levantava e tentava passar um pouco mais do exemplo da matriarca Walnut para seus filhos, porém não era uma tarefa fácil, já que toda nova geração era uma caixinha de surpresas.
Era domingo quando Angela entrou no quarto da filha segurando uma bandeja de café da manhã. Seu plano era fazer a garota se sentir melhor por não ter ganhado um prêmio de ciências na escola, mas tudo foi logo por água abaixo – ou melhor, por café abaixo – com a cena que ela flagrou.
— Mika Macklin! — Gritou, e se aquilo não fosse suficiente para acordá-la, a bandeja indo ao chão com certeza era.
— Mãe! Espera! Não é o que parece! — Explicou a mais nova, saindo de sua cama como se estivesse pegando fogo.
— O que? O que houve? O que aconteceu?! — Exclamou Miles, chegando de meias,pijama e uma frigideira no quarto da irmã. — Bose?
— Oi! — O garoto acenou alegremente, alheio a situação. — Alguém vai comer esses biscoitos caídos? Eles estão com uma cara ótima.
— Querido, agora não. — Sussurrou Mika, entredentes, mudando assim que viu os olhos arregalados da mãe. — Eu disse amigo! Eu disse "amigo, agora não"!
— Não disse não. — Retrucou o outro gêmeo, sorrindo.
— Miles, teletransporte o senhor O'Brien para casa dele. Célia deve estar muito preocupada com o filho que passou a noite fora.
O sorriso de Bose se desmanchou.
— Oh-oh.
— Enquanto isso, eu e sua irmã vamos ter uma conversinha.
— Uuhh, alguém vai se dar mal. — Riu Awol.
— Miles, agora!
— Sim, senhora! — Obedeceu o garoto, segurando o ombro do amigo que agora estava preocupado com sua própria mãe.
A sala caiu em silêncio depois disso. Angela suspirou sem saber ao certo o que dizer, mas agradecendo pelo marido estar fora. Mika tinha se sentado novamente, e agora estava com a cabeça baixa encarando as mãos com apreensão. Sentia que tinha que dizer algo.
— Mãe, eu e Bose somos apenas amigos. — Começou. — Ele veio aqui para assistirmos Dog Bachelor porque eu estava triste e acabamos adormecendo. Mas foi só isso, eu juro.
Angela permaneceu em silêncio.
— É sério, mãe, nós-
— Eu acredito em você. — Interrompeu, porque de fato acreditava e queria que ela e sua filha tivessem confiança uma na outra. — Mas não é a primeira vez que encontro vocês dois em circunstâncias... Suspeitas, para dizer o mínimo.
— O que? Mas na outra vez estávamos fingindo por causa da... — Ela pigarreou, ainda era estranho que a mãe soubesse seu maior segredo. — A senhora sabe, da força danger.
— Não importa, Mika! Olha, vocês dois são adolescentes. Eu já fui adolescente! — Argumentou, erguendo as mãos para cima. — Uma hora você está apenas assistindo um programa legal sobre um cão encontrando o amor e bum! Quando você se dá conta, já está casada e grávida de gêmeos!
— E-eu não sei o que dizer...
— Ótimo! A minha intenção era assustar mesmo. — Pôs as mãos na cintura. — Você e Bose estão proibidos de ficarem a sós sem supervisão de agora em diante.
— Mas mãe!
— Sem mas, mocinha. Porta sempre aberta que ele estiver aqui. E nada de escalar janelas! Agora vou ligar para Célia.
Desde aquele dia, era praticamente impossível ver Bose sem que houvesse alguém (geralmente Miles) os vigiando de perto. Não que acontecesse muito antes, porém era irritante aguentar as provocações de seus amigos por conta da preocupação irracional das mães dos dois. Chapa era a principal adorando a situação, e quando ela começava, Ray logo se juntava nas piadas.
O pior, porém, ainda não tinha chegado. Só veio na segunda semana, quando Célia e Angela conversaram mais uma vez sobre seus filhos andando muito juntos. A mãe de Mika acabou falando da inteligência da filha e como ela seria uma boa influência para o O'Brien caso eles chegassem a ficar juntos, porém a esposa do vice-prefeito não encarou de forma positiva e ambas terminaram o dia trocando farpas uma com a outra. O que antes era apenas um cuidado maternal, virou proibição severa.
— Sua mãe me odeia. — Disse Mika, sentando ao lado do amigo no sofá do Man's Nest.
— Engraçado, a sua também me odeia. — Bose franziu o rosto, confuso. — O que não faz sentido, porque eu tenho certeza que antes ela me achava fofo.
— Quanto drama. — Ray resmungou entediado. Ele também estava assistindo os dois nas horas vagas, apenas porque suas mães tinham pedido, e ele nunca recusaria o pedido de uma mãe, claro.
— Você acha que gostamos disso? — Questionou Mika, irritada. — Somos só amigos há anos e agora nossas mães acham que vamos nos apaixonar. E pior, que não seríamos bons um pro outro.
— E nós seríamos ótimos. — Acrescentou Bose, apontando um dedo indignado para o chefe.
— Não é esse o ponto, querido. — Disse Mika, dando um tapinha no braço do garoto, que deu de ombros.
— Mas nós seríamos.
— É, bom-
— Chega! — Interrompeu Ray. — Vocês estão entrando demais no assunto proibido.
A Macklin revirou os olhos. — Isso é tão injusto! Miles está com a Chapa agora mesmo e os dois estão sozinhos!
— É! E eles com certeza estão juntos. — Adicionou Bose. — Como, vocês sabem, um casal.
— Olha só, eu não dou a mínima pra isso. — O Manchester brincou com o balde de pipoca que tinha em mãos, jogando uma na boca. — Tudo que eu sei é que duas mães lindas me pediram para ficar de olho em vocês, então isso é tudo que eu tenho que fazer, captaram?
Mika revirou os olhos e Bose fez uma careta,
rejeitando as palavras do mais velho, que continuou:
— Além disso, se vocês quisessem mesmo resolver isso, focariam no problema de verdade.
A Macklin arqueou uma sobrancelha.
— Que seria?
— Suas belíssimas mães brigando, né? Dã! — Ele bateu o punho fechado na testa, como se fosse óbvio.
— Não acredito que vou dizer isso, mas ele tem razão. — A garota virou para o amigo. — Se fizermos nossas mães se entenderem, elas voltam a nos deixar em paz.
— Legal! Vamos poder assistir Dog Bachelor de novo! Qual é o plano?
Mika sorriu, com uma faísca de esperança crescendo dentro dela. Se ela fizesse tudo certo, as coisas finalmente poderiam voltar ao normal. Então, foi isso que fez. No dia seguinte, tanto ela quanto Bose estavam disfarçados numa mesa distante em uma cafeteria de Swellview, assistindo o encontro armado das mães. Ambas acreditavam ter ganhado um dia para pedirem o que quisessem por conta da casa, cortesia do Capitão Man, embora ele não tivesse conhecimento disso.
O começo foi difícil e elas mal olharam no rosto uma da outra, mas isso já era esperado, e dava início a segunda parte do plano: revelar o segredo de Miles e Chapa para Célia – não foi uma coisa muito legal de se fazer, mas eles estavam merecendo, pelas provocações sem fim.
Obviamente, a mãe de Bose se solidarizou com a ex-amiga e contou tudo. Não havia segredos entre elas quando se tratava de seus filhos, e logo a mãe de Chapa foi chamada.
Bose e Mika comemoraram com um brinde com xícaras de chocolate quente marshmallows, e esperaram pelos resultados.
— Eu não acredito! — Exclamou a garota, no dia após ao plano. — Continuamos sem poder sair juntos sem supervisão.
Bose, esticado no sofá do Man's Nest enquanto brincava distraidamente com uma maçã, suspirou.
— Sinto falta de ver Dog Bachelor.
— Querido, você sabe que ainda pode ver o programa, não sabe?
— Não é a mesma coisa ver sem você! — Explicou, fazendo a Macklin corar com um sorriso tímido.
— Vocês são tão enjoativos! — Ray revirou os olhos. — Só vejam o maldito programa de uma vez, credo.
— Veríamos se você não atrapalhasse a cada minuto pra falar alguma coisa. — Retrucou Mika.
— Eu tive uma ideia! — Exclamou Bose, de repente. Os outros dois olharam para ele com interrogações nos rostos, mas o garoto pareceu ver algo que o fez voltar atrás. — N-na verdade, acho que esqueci.
Mika descobriu a ideia dois dias depois.
Era sábado a noite quando ela recebeu uma mensagem de Brainstorm pedindo para que se encontrassem na rodoviária de Swellview às oito e meia da manhã do dia seguinte.
Foi um pouco difícil sair tão cedo, mas ela conseguiu convencer a mãe – que estava muito focada em Miles no momento.
Pela primeira vez, Bose não se sentiu mal pela mãe não ser tão atenta a ele, porque só por isso tinha sido possível comprar duas passagens para Rivalton sem que ninguém fizesse muitas perguntas. Mika adorou a ideia, e ficou tão animada que quase esqueceu da desculpa que teria que dar a Angela. Felizmente, Maddie, a garota com quem ela tinha feito amizade durante a guerra das mil pegadinhas, aceitou ser seu álibi. A Macklin, então, apresentou Bose a ela e a Clarence, seu outro amigo, e os quatro passaram a manhã juntos, de forma que a mentira de Mika não faltava tanto assim com a verdade. Eles jogaram paintball e almoçaram, momento no quão se despediram, porque Maddie tinha algum tipo de consulta médica.
— Então, quer ir ao cinema? — Perguntou Bose.
— Cinema? Pensei que fossemos ver Dog Bachelor.
— Podemos fazer as duas coisas. — O garoto deu de ombros.
— Como? Você vai convencer alguém a passar Dog Bachelor no telão pra gente? — A cacheada riu.
— Eu tava pensando em ver o filme e depois assistir a série no caminho de volta, mas a sua ideia é muito melhor, vem! — Sorriu, agarrando a mão dela.
Mika se deixou levar, tentando muito não pensar no frio da barriga que estava sentindo. Não sabia se Bose percebeu que, mesmo depois de já terem entrado na sala, ele não soltou sua mão.
— Essa foi a melhor temporada de todas. — Exclamou Bose, entusiasmado.
— Sim! E eu ainda não acredito que convenceu aquele cara. — A garota se virou para o amigo enquanto os créditos rolavam no telão. — Se fôssemos semideuses, você daria um filho de Afrodite incrível.
— E você seria uma ótima filha de Atena. — Respondeu ele, como se o comentário não fosse chocar a garota.
— Você viu Percy Jackson! — Comemorou ela, quase derrubando sua pipoca.
Bose sorriu de leve.
— Você disse que gostava.
Lá estava.
As borboletas novamente.
— Você viu porque eu disse que gostava? — Perguntou timidamente, como se não pudesse acreditar.
As luzes se acenderam antes que ele pudesse responder e os dois tiveram que sair para que a sala voltasse a passar o filme em cartaz, então eles não voltaram no assunto, mas Mika ainda sentia o coração batendo rápido. Depois dali, o trajeto de casa foi calmo. Eles falaram sobre o dia e sobre o que queriam ver na próxima temporada de Dog Bachelor, e Bose se ofereceu para caminhar com ela até em casa.
— É melhor você voltar daqui pra ninguém te ver. — Avisou Mika, parando os dois uma rua antes da sua e olhando para os lados. — Estamos parecendo uma versão maluca de Romeu e Julieta.
— Sim, é verdade. — Ele riu por um momento, mas depois fez uma expressão meio preocupada. — Espera, você não tem ficado perto de nenhum veneno, né?
Mika revirou os olhos, mas não conseguia apagar o sorriso leve dos lábios.
— Eu me diverti muito hoje, Bose. Obrigada.
O rosto do mais alto se iluminou, orgulhoso.
— Obrigado por fugir comigo. — Respondeu, piscando para ela com um sorriso que marcava suas covinhas.
Mika corou, apesar do esforço para não demonstrar a timidez. Era impressionante como às vezes Bose era o charme em pessoa, sem nem mesmo se esforçar.
— B-bem, obrigada por sempre estar atravessando guerras pra me ver.
— É sempre um prazer, milady. — Brincou, fazendo uma reverência exagerada para a garota.
— Que sorte a minha ter um cavalheiro assim. — Riu de volta, puxando a saia do vestido como se fosse uma princesa. — Será que posso fugir com você de novo qualquer dia desses?
Houve uma pausa. Bose olhou para ela com um olhar que ela nunca tinha visto antes e Mika registrou a conotação de suas palavras, se arrependendo imediatamente. Sabia que não demoraria até que ela dissesse algo que estragasse tudo – não que ela soubesse o que era aquilo, de qualquer forma – mas, Deus, ela foi bem rápida.
Ou foi o que ela achou, até Bose sorrir e o mundo voltar a girar.
— Eu ia gostar muito. — Confessou, mergulhado nos olhos dela. Ele nunca tinha percebido, mas simplesmente perdia a noção do tempo quando a olhava.
Mika deu um passo mais perto, o coração do O'Brien pulou no peito.
— Sou só eu, ou nós estamos tendo um momento genuíno aqui?
A Macklin sorriu suavemente, pondo suas mãos nos ombros do maior.
— Querido?
— Sim?
Ela o puxou para baixo e de alguma forma o cérebro de Bose sabia exatamente o que fazer, porque seus olhos se fecharam, ele a beijou de volta e foi a melhor coisa que já tinha feito na vida. Suas mãos timidamente seguraram a cintura dela, como se envolvesse a coisa mais incrível do mundo e tivesse medo de arruiná-la. Ela se afastou, olhando para ele com um sorriso antes de ficar na ponta dos pés para beijá-lo novamente.
Bose definitivamente tinha perdido a noção do tempo agora, mas não dava a mínima se era dia ou noite. Mika sabia que muita gente ao redor dos dois viu isso acontecendo aos poucos, mas ela estava convicta de que estavam todos loucos até este domingo. Até perceber que todos tinham razão. O que podia fazer? Ela era teimosa!
— Mika Mackliiiin!
Os dois adolescentes se separaram imediatamente, virando na direção do grito.
— Meu Deus, é a sua...
A cacheada engoliu em seco, empurrando o garoto para trás de si com um sorriso tenso. Aquela era pior que sua mãe. Aquela era a...
— Vovó!
Bose e Mika precisariam de fugas mais elaboradas agora.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro