UM | ELLE MORGAN

Existe uma pequena lista, na verdade uma lista considerável, de coisas que odeio em dividir apartamento. No topo está ter que vir ao supermercado e aguentar a lista de coisas que ela vai lembrando ao longo do dia. Desde que sai de casa já chegaram umas treze mensagens.

Ok, faz algumas semanas que não faço as compras, mas é para isso que deveria servir uma colega de quarto.

Saio da sessão dos congelados, o lugar mais fresco de Los Angeles hoje. Está um calor dos infernos e Daisy me fez vir ao mercado. Se eu não derreter no caminho, vou incomodá-la até se sentir mal.

Chego na sessão de limpeza e pego os dois produtos que Daisy me pediu via mensagem. Ainda preciso pegar mais alguns itens de higiene pessoal e acho que termino por hoje. Deixo meu carrinho do outro lado do corredor enquanto verifico os preços. Manter a casa limpa tá ficando caro, hein.

Coloco o produto de melhor preço no carrinho e preciso me apoiar nele para tomar um ar. Deus, esse calor tá me matando lentamente, eu sabia. Recupero o fôlego, deve ter sido apenas um susto.

Dou alguns passos para frente, mas sou obrigada a parar quando um garoto entra no corredor. Dou espaço para ele passar, mas ele acaba parando na prateleira a minha frente para ver algo. Ao dar mais um passo, minha visão escurece por um segundo e sinto meu corpo amolecer.

Droga, lá vamos nós de novo.

Olho para as minhas mãos, elas parecem mais brancas que o normal. Estou ficando cada vez mais tonta. Me apoiar no carrinho não está ajudando. Dou um alguns passos sem direção, sem querer acabo batendo no garoto. Minha visão escurece mais uma vez e não consigo ver seu rosto.

Meu corpo simplesmente desiste de mim.

🧸🌷🏹

Abro meus olhos devagar. Eu tô viva, caralho!

Acabo fechando meus olhos de novo por conta da luz e da tontura. Abro mais uma vez, minha visão está turva e tudo parece muito claro. Pisco com força tentando recuperar minha visão e dignidade.

Um par de olhos azuis me encara de ponta cabeça. Deus, eu morri e tô vendo um anjo.

Vejo os lábios do meu anjo se moverem, mas não consigo ouvir ou entender. Tento olhar ao redor para focar, porém acabo encontrando mais duas cópias do meu anjo ao redor me encarando. Levo a mão a cabeça que deveria estar doendo com a batida.

— Puta merda, devo ter batido a cabeça com força, tô vendo três gostosos iguais — digo e tento me levantar, mas o garoto me segura.

Ouço três pessoas rirem ao redor. Balanço a cabeça. Não era loucura, existem três deles. Três garotos bonitos iguais, o multiplica senhor é real.

Me sinto ainda mais tonta com essa informação. Demoro a perceber que estou semi-deitada no colo do primeiro garoto que vi.

Ele me segurou quando cai.

— Você tá legal? — ele pergunta devagar para eu entender.

Concordo com a cabeça. Minha cabeça que estava encostada no seu peito a alguns segundos atrás.

Ótima maneira de conhecer um garoto, caia nos seus braços em uma queda de pressão.

— Sabe o seu nome? — ele pergunta e um dos outros bate no seu braço em reprovação. — Só quero ter certeza que ela tá bem.

— Meu nome... — repito as palavras baixinho chamando a atenção do meu anjo, seus olhos azuis me fitam — é Estelle, mas meu interesse está no seu número.

Escuto os outros dois garotos rirem alto. Me viro para ter certeza que ambos são reais e não invenções da minha cabeça diante da beleza do primeiro. Noto que um deles tem o cabelo mais comprido e o outro está de óculos. Deus, realmente são três. Volto meu olhar para o meu anjo cujo as bochechas ganharam um tom avermelhado.

Que droga, ele é fofo.

Tento me levantar mais uma vez devagar. Dessa vez, meu anjo me ajuda e segura minha mão até eu conseguir me manter em pé.

— Bem, parece que você está bem — ele diz e os outros dois apenas observam a cena.

— Eu ainda estou vendo três de vocês, isso é normal? Ou é só a minha cabeça não assimilando a sua beleza? — pergunto.

O garoto de cabelos mais longo explode em uma risada alta meio esquisita e acaba empurrando o de óculos, que também está rindo - se nada der certo já posso fazer o teste para palhaça de circo.

— Chris! — o de óculos grita ao ser empurrado até próximo das prateleiras.

— Somos trigêmeos — meu anjo responde meio envergonhado, ele me lança um sorriso nervoso.

Deus, cancela. Três serem iguais e um fofo desse jeito. Assim, tu me quebra.

— Sou Matthew, Matt — meu anjo que agora possui um nome balança a cabeça desajeitado e estende a mão para mim. — Aquele que tá rindo é o Chris e que tá xingando ele é o Nick, meus irmãos.

— Que delícia, quero dizer que prazer — aperto sua mão e a piadinha o faz soltar um pequeno riso. — Obrigada por me segurar.

— Ah, você tá bem? Precisa que eu chame uma ambulância? Isso foi...

— Minha pressão indo de arrasta pra baixo? Pois é, acontece no calor — digo para tentar deixar meu anjo menos preocupado.

— Se precisar, podemos te dar carona para casa — Matt diz e os irmãos concordam com a cabeça.

— Já fez muito por mim, Matt — testo seu nome na minha boca, eu gostei. Os lábios dele também devem ser muito bons. — Mas o seu número me deixaria muito melhor.

Matt sorri olhando para baixo envergonhado. Agora que eu preciso mesmo do numero, endereço, cpf até sinal de fumaça para entrar em contato com ele.

— Me empresta seu celular — ele diz com um sorriso no rosto.

Escuto um dos seus irmãos gritar um "boa, Matthew" e acabo rindo. Matt coloca seu número e me devolve. Pegando o pouco de dignidade que tenho, me despedi e peguei meu carrinho. Ao virar o corredor, ouvi a comemoração dos irmãos por Matt ter passado o número para uma garota.