Um pequeno bônus
25. Mesmo assim, é fofo
Charlotte cortava o queijo provolone em pedacinhos, sua atenção dividida entre o jantar que começava a preparar e o último plano de encontro às cegas que Piper tentava arranjar para ela.
- Eu prometo, Char, esse cara é incrível.
- Você disse isso da última vez. - declarou, jogando os pedaços cortados junto com os outros pedacinhos do queijo gorgonzola que já se encontrava na panela. - E no fim ele era casado.
- Foi um erro de percurso! - se defendeu indignada.
- E o outro antes dele era incrivelmente incrível. - balançou as mãos em uma falsa animação. - E incrivelmente chato.
- Ele só possuía uma boa auto-estima.
- E um ego do tamanho de um universo em expansão.
- Charlotteee.
- Piper.
- Olha, eu prometo que dessa vez vai dar certo. - bateu as mãos no campo de granito que separava a cozinha da sala, olhando para as costas da amiga e não a vendo revirar os olhos. - Ele é médico...
- Bom pra ele.
- Tem quase trinta anos...
- Uhum.
- É solteiro de verdade...
- Sei.
- Ama cachorros...
- Sou mais gatos.
- E... bônus. - pulou da banqueta, saltitando para ficar ao lado dela. - Ele possui um pequeno negócio a duas horas da cidade, adivinha o que é?
- Ele é dono de uma loja de aviamentos?
A voz de Henry interrompeu a conversa, Charlotte olhou por cima do ombro, sorrindo quando seu olhar encontrou o do Hart. Ele pressionou os lábios para impedir um riso quando Piper o encarou com raiva, a Bolton balançou a cabeça contendo a sua própria risada quando retornou sua atenção para o molho que preparava.
- Quem chamou você na conversa? - Piper o impediu de falar, levantando a palma da mão aberta em sua direção. - Na verdade, o que diabos você está fazendo aqui? Pensei que você ia passar a noite na casa do Jasper.
- Ele conseguiu um encontro de última hora e me expulsou do apartamento. - respondeu, guardando o casaco no cabide antes de caminhar em direção à elas. - Como eu estava sem nada pra fazer, resolvi vim visitar minha linda melhor amiga. - declarou, piscando um olho na direção de Charlotte, que sorriu de seu flerte exagerado.
- Sinto muito não sentindo, mas você vai sair daqui agora. - Piper o puxou pelo braço para longe do balcão.
- Por quê? - indagou confuso, se recusando a se mover, o que a fez apertar as unhas na carne do seu braço.
- Não é da sua conta.
- Por quê? - a pergunta agora vinha com uma dose de dor em seu tom de voz.
Charlotte desligou o fogo, colocando o molho de lado após terminado. Cruzou os braços sobre o balcão observando a interação dos dois irmãos.
- Já falei e repito, não é da sua conta.
- É a partir do momento que você começa a me agredir!
- Por favor, Prudence, isso não foi nada perto do que eu posso fazer se você não sair daqui agora!
Henry correu para o outro lado da pequena sala, colocando o sofá como obstáculo de proteção contra a sua irmã.
- Você não pode me expulsar daqui, esse apartamento é da Char.
Charlotte apoiou o cotovelo na bancada e o queixo no punho fechado, Piper a encarou em um claro pedido para expulsar Henry enquanto ele fazia uma cara pedinte para que ela não fizesse aquilo. Fingiu pensar, tamborilando as unhas na pedra fria, por fim, abriu um pequeno sorriso para o Hart mais velho que soltou a respiração em uma exagerada expressão de alívio.
- Isso não é justo! - Piper bateu o pé no chão em indignação. - Seu encontro está vindo daqui a vinte minutos e...
- Meu o quê? - a Bolton estreitou os olhos para a amiga que se encontrava com a mão sobre a boca.
Os olhos arregalados de Piper eram a prova clara de que ela havia deixado escapar uma grande informação. Henry riu de seu deslize, desviando de uma almofada que sua irmã jogou.
- Por favor, não me diga que você chamou um estranho para vim jantar aqui.
- Claro que não, Charlotte. - declarou em um sotaque britânico, tentando amenizar a situação. - Chamei um amigo de um amigo da Clair.
- A assaltante?
- Não fale dela assim. - ergueu outra almofada em direção ao irmão.
- Me desculpe. - pediu, colocando a mão no coração antes de continuar. - A sua pseudonamorada que comete pequenos furtos em uma área nada segura da cidade?
- Idiota!
Charlotte respirou fundo quando viu mais duas almofadas suas serem jogadas na direção de Henry. Bateu na bancada para chamar a atenção dos dois. Encarou Piper ao praticamente ordenar:
- Ligue já para ele e desmarque.
- Não. - discordou petulante. - E antes que você venha com um discurso de que está melhor sozinha, eu só quero que você se divirta, não estou pedindo para você se casar com ele, só saia desse carma ruim que te faz atrair caras que não prestam.
- Ding, ding, seu dedo podre está ligando e dizendo que a culpa não é minha.
- A Char tem razão, maninha. Você tem uma seleção péssima. - Henry se jogou no sofá, cruzando a perna enquanto sorria divertido ao ver a irritação no rosto da mais nova.
- Tem coisas que eu não tenho como adivinhar. - se defendeu emburrada, cruzando os braços. - Como eu ia saber que aquele cara que trabalha na agência de publicidade era procurado pela polícia?
- Checagem de antecedentes. - Henry opinou.
- Ou que o homem do mercado de frutas era na verdade um piromaníaco?
- 5 minutos de conversa.
- Certo, Henry, porque podemos muito bem saber que um professor do ensino fundamental era casado há mais de três anos.
- Ah, mas essa era fácil de descobrir.
- Então por que você não descobriu?
- Porque não fui eu quem arranjei o encontro. - declarou suavemente, se encolhendo para se proteger do tapa de Piper.
- Se você não vai ajudar então sai logo daqui.
- Crianças. - Charlotte falou em meio a um suspiro, os deixando se estapear no sofá enquanto se virava para tirar a quiche de frango do forno.
Enquanto ela terminava o jantar, os Hart pararam as provocações, Henry levantando-se para arrumar a mesa estreita perto da parede enquanto Piper o encarava emburrada antes de ser puxada por Charlotte para ajudá-la.
Os minutos passavam, os três se movendo no apartamento em uma naturalidade já exercida há tempos. Quando por fim a mesa foi posta, quatro pratos posicionados detalhadamente e um lindo prato de nhoque com molho de queijo ao meio. Piper praticamente pulava no lugar de ansiedade enquanto Henry observava atento às comidas postas sobre a mesa.
- Ele está chegando.
Charlotte revirou os olhos para a amiga, predendo seus cachos com uma liga sem se importar com a careta que a Hart fez por conta de seu óbvio desinteresse.
- Ele não é muito pontual. - Henry observou, esticando a mão para pegar uma batatinha que acompanhava a quiche, mas recuando quando sentiu o tapa de Charlotte. - Ai! - exclamou alto, estreitando os olhos para o sorriso despreocupado dela. - E menos um ponto para o senhor perfeito, irmãzinha.
- Para de azarar.
- Ai! - gritou após o beliscão da irmã, se colocando atrás da Bolton em busca de proteção. - Mas o que vocês têm hoje?
- Última chance, Henry, saia já daqui.
- E perder toda a diversão?
- Mas que inferno, garoto!
- Ei, ei, ei! - Charlotte impediu a amiga de atacar Henry, levantando as duas mãos em um pedido de calma. - Vamos respirar e lembrar da única pessoa que não deveria estar vindo para este apartamento?
Piper inspirou fundo, mas suas futuras palavras foram impedidas pelo som da campainha. Charlotte estreitou os olhos para ela, não dando um passo sequer em direção à porta. Henry sorriu e puxou uma cadeira para se sentar. A campainha tocou novamente, a sequência de três toques consecutivos revelando a impaciência de quem estava do outro lado.
- Tá legal, eu atendo essa porcaria. - a mais nova resmungou se direcionando ao convidado.
Ao abrir a porta, um homem alto e forte se encontrava do outro lado com um buquê pequeno de rosas vermelhas em uma mão e uma ecobag grande na outra.
- Boa noite, Piper. - a saudou com um sorriso animado acompanhado por suaves covinhas.
- Boa noite, Greg. - deu um passo para o lado o permitindo a passagem.
O convidado entrou e parou em frente à Charlotte, a oferecendo o buquê e abrindo ainda mais o sorriso quando ela aceitou.
- Obrigada. - ela agradeceu com um sorriso educado ao passo que empurrava a cabeça de Henry, que tentava ver o homem, para longe.
- Oi, cara. - o Hart acenou por trás de Charlotte.
Greg lançou um olhar confuso para Piper, mas ela somente deu de ombros como se estivesse desistindo de algo.
- Oi. - acenou de volta ainda hesitante.
- Então, vamos jantar antes de conversar um pouco. - a Bolton resolveu que ele merecia pelo menos um bom jantar antes dela o mandar embora. - Vou procurar um vaso para as flores. Obrigada novamente. - teve seu sorriso espelhado por ele. "Onw, ele tem covinhas fofas." Antes de sair encarou Henry com um claro aviso em seu olhar. - Se comporte.
A ordem sussurrada fez o Hart sorrir enquanto a via ir em direção à cozinha.
- Fala aí, Greg. Qual foi a coisa mais estranha que você já tirou de dentro de um paciente?
Charlotte bufou alto, rindo em seguida quando escutou um gemido de dor vindo do Hart. Piper havia acabar de chutá-lo por baixo da mesa e sorria vitoriosa.
● ● ●
O jantar se iniciou regado por conversas educadas e superficiais. Charlotte somente queria que tudo acabasse rápido e Greg fosse embora e Henry estava amando fazer perguntas para o médico, principalmente em relação à casos que assistiu em uma série médica. Piper, entretanto, estava a um passo de esganar o irmão com as próprias mãos e chutar Greg para longe, era para ele estar sendo um ótimo pretendente para Charlotte e não para Henry!
- Um dia cheguei na área de trauma do hospital e havia uma mulher com um pedaço de cano de metal atravessado na coxa. - contava o médico para um Hart muito animado. - Foi uma mobilização enorme para que ela ficasse quieta e permitisse que eu ao menos chegasse perto.
- A cirurgia durou quanto tempo?
Piper bufou para a pergunta ansiosa do irmão ao passo que Charlotte sorriu da animação quase infantil dele.
- Ninguém quer saber sobre o seu trabalho estúpido, Greg! - Piper explodiu quando ele começou a contar como realizou a cirurgia.
- Eu quero. - Henry declarou ofendido pelo novo amigo.
- Meu trabalho não é estúpido. Eu salvo vidas.
- Grande coisa. O dono do parque de diversões salva infâncias e não fica se gabando disso. - rebateu, cruzando os braços após empurrar o prato de comida para longe.
- Na verdade, ele fica sim. - Charlotte informou, bebericando a taça com suco. - Não faça essa cara, Pips, foi você quem convidou ele.
- Mas eu não sabia que ele era tão chaaato. - gemeu inconformada. - E nem que ele ia te trocar pelo meu irmão.
- Eu estou bem aqui. - Greg levantou a mão descrente, mas não impediu que as duas continuassem a conversa.
- Então seja um pouco educada e espere ele terminar o jantar.
- Eu posso muito bem não ser educada e mandar ele ir embora.
- Aí vai encontrar magicamente outro encontro fracassado para mim?
- Sim.
- Novamente. Eu estou aqui. - Greg se manifestou incrédulo, recebendo um tapinha no ombro consolador por parte de Henry.
- Mas, hum, tem um pequeno detalhe. - Charlotte apontou o garfo em direção à Piper. - Eu não quero encontrar alguém.
- Você não tem o que querer, Charlotte.
- Tente de novo.
- Faz mais de dois meses que você não sai com alguém. - resmungou de maneira birrenta. - Não estou dizendo que você não pode ser feliz estando solteira. Você sempre será sua melhor companhia. - pegou a mão dela entre as suas. - Mas foi você mesma quem quis que eu te arrumasse alguém!
- Caramba, Piper. - puxou sua mão quando o aperto se tornou doloroso. - Falei isso brincando. Não entende mais ironia não?
- Que seja. - revirou os olhos sem ligar para o esclarecimento. - Só quis ajudar. Mas se você realmente quiser encontrar alguém, vai ter que se livrar desse aqui. - apontou para Henry, que arqueou as sobrancelhas enquanto mastigava um pedaço de quiche.
- Não vamos começar com essa história novamente. - a Bolton pediu, massageando as têmporas com as pontas dos dedos.
- Que conversa?
- Engole antes de falar, Henry. E nem mais uma palavra, Piper. - apontou para a loira que prensou os lábios.
Charlotte se levantou e começou a recolher os pratos com a pronta ajuda de Henry, era claro que ninguém iria comer mais. Greg bebia o suco devagar, sua atenção desviando de Charlotte para uma Piper quase vermelha.
- Olha, Char, estou fazendo isso pelo seu próprio bem. - a Hart começou, fazendo sua amiga inspirar fundo já prevendo desastre. - Esse lesado do meu irmão não vai perceber se alguém não contar.
- Perceber o quê?
A Bolton trocou um olhar com o amigo confuso, o deixando ainda mais perdido. Piper se debruçou sobre a mesa, beliscando o braço do irmão ao falar:
- Ela tem um crush em você, seu idiota lesado.
Henry arregalou os olhos de dor e surpresa, um sorriso bobo começando a nascer em seu rosto e se alargando quando olhou para Charlotte.
- Onw, você tem um crush em mim.
- Estamos namorando, Hart.
- Mesmo assim, é fofo.
Charlotte sorriu divertida e inclinou-se para beijá-lo levemente. Piper observou a cena com a boca aberta em descrença, Greg deu de ombros e puxou a ecobag que havia trago para cima da mesa.
- Já que não tenho chance que tal eu apresentar à vocês uma chance de ficarem ricos?
- Como assim? - Henry prontamente se interessou, virando-se na direção do homem que começou a tirar tampas de plástico coloridas de dentro da sacola.
- Oi? - Piper ainda estava tentando assimilar tudo, piscou aturdida enquanto observava Greg abrir um sorriso enorme.
- Possuo uma loja de tampas de tupperware.
- Hum?
- Possuo uma loja de tampas de tupperware - repetiu brilhantemente após a confusão do Hart.
- Espera um pouco. - Piper pediu, rindo incrédula. - De vocês eu cuido mais tarde. - prometeu ao recente casal que estremeceu levemente. - Agora você. Você está me dizendo que vende tampas?
- Isso. - Greg espalhou algumas sobre a mesa.
- Somente tampas?
- Exatamente. O mercado é bem maior do que você pensa.
- Pra tampas?! - Piper balançou a cabeça como se aquilo não fizesse sentido. - Que ridículo. - soltou exasperada, levantando-se rapidamente e ignorando completamente o olhar irritado que Greg a lançou. - Eu vou pra casa. Essa noite está muito, sei lá. Eu só vou pra casa.
- Te ligo amanhã. - Charlotte informou enquanto a via se afastar em direção à porta.
- É bom mesmo. - Piper murmurou irritada.
- Tchau, maninha. - Henry recebeu somente um grunhido em reconhecimento antes da porta ser fechada.
Greg se voltou para os dois com um sorriso brilhante no rosto.
- Quantas vocês vão querer?
Henry o encarou curioso, Charlotte somente suspirou alto por ele ainda estar ali.
- Você é médico, por que está vendendo... tampas?
- É a minha vocação.
A resposta dada à Henry foi o suficiente para a Bolton.
- Olha, Greg, vou passar o número do meu melhor amigo e ele vai adorar conversar com você. - garantiu, ele iria se dar muito bem com Jasper. - Mas agora está na sua hora também. - gesticulou para a porta enquanto se levantava.
- Qual o nome dele? - Greg indagou enquanto guardava a mercadoria e a acompanhava até a porta.
- Eu passo o número para você depois.
- Mas como você vai me encontrar?
Charlotte simplesmente sorriu carinhosamente e bateu a porta na cara do seu não-convidado. Henry riu baixinho, levantando-se para levar os pratos sujos para a cozinha. A Bolton trocou um olhar exasperado com o namorado antes de começar a arrumar a mesa. Após tudo estar limpo e arrumado, os dois se jogaram no sofá que ficava de frente para uma enorme janela, a vista da cidade iluminada à frente fora um dos motivos que levaram Charlotte a escolher aquele apartamento.
- Hoje foi... interessante. - Henry passou um braço sobre o ombro dela, a puxando contra si enquanto a sentia se aconchegar satisfeita.
- Você acha? - perguntou levemente incrédula em meio a uma risada.
Henry deu de ombros, sorrindo enquanto a observava.
- Mas essa com certeza é a melhor parte da noite. - garantiu, a abraçando mais forte e beijando sua testa.
Charlotte puxou as pernas para cima do sofá, envolvendo os braços ao redor da cintura de Henry enquanto apoiava a cabeça em seu ombro. Um silêncio confortável rodeou os dois enquanto a cidade à frente piscava por conta das luzes. A Bolton concordava, aquela era mesmo a melhor parte da noite.
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