15. Então você se preocupa com ele...
- Eu não vou voltar com ela.
O tom de voz de Henry era firme e um tanto entediado. Ele caminhava apressado, desviando das pessoas que se encontravam no shopping pelo mesmo motivo que o seu, todos estavam em busca de um perfeito presente de Natal, porém escolheram deixar para a última hora provocando uma grande massa de pessoas um tanto desesperadas. Piper, que tentava acompanhar seu ritmo, bufou irritada e cruzou os braços para enfatizar sua raiva.
- Essa é a festa do ano e poderíamos estar nela se você não fosse tão cabeça dura e aceitasse reatar com a Janine!
- Ela terminou comigo pra ficar com uma subcelebridade e, como eu avisei, ela a traiu. Você quer mesmo que eu volte com alguém que claramente só me quer pra não ficar sozinha em um feriado?
Indagou à irmã, parando no meio de um corredor e a encarando em busca de uma resposta. A mais nova sustentou seu olhar, com as sobrancelhas franzidas e a boca formando um bico infantil. Ela então bateu o pé no chão e afirmou decidida:
- Só por uma noite.
Henry riu descrente e voltou a caminhar.
- Você é literalmente a pior irmã do mundo.
- Como você ousa?! - Piper correu apressada para se colocar a frente dele, o dedo indicador cutucando o peito do irmão. - Nunca mais diga isso. Eu sou a melhor pessoa do mundo pra você ter como irmã.
- Concordamos em discordar. - um sorriso divertido crescia em seu rosto a medida que via o rosto da Hart se tornar avermelhado.
As bochechas inflaram, os olhos pareciam soltar faíscas e ao abrir a boca para proferir qualquer monólogo que estivesse preparando, um borrão verde se jogou contra ela, a fazendo cair de lado em cima de um Papai Noel inflável.
- Mas que. - Piper não conseguiu falar, sua boca sendo tomada por neve falsa.
- Ah, meu. Desculpa, desculpa, desculpa.
Um elfo pedia apressado, ou era um elfa?, Henry não saberia dizer já que a pessoa estava de costas e ele não conseguia enxergar direito pelas lágrimas de riso que o impedia. Piper levantou-se de maneira desequilibrada, tentava ficar em pé e em seguida escorregava na neve falsa, a elfa pelo visto tentava ajudá-la, porém as duas não conseguiam recuperar o equilíbrio. Um pequeno círculo de pessoas começava a se formar, o Hart logo retirou seu celular e iria iniciar uma filmagem, mas se sentiu culpado e voltou a guardar o aparelho.
Henry se aproximou, segurando a irmã pelo braço e a puxando de lado. A elfa pelo que pôde constatar, estava de cabeça baixa e enrolou a mão em volta do pulso de Piper para conseguir sair sem deslizar na neve falsa. Quando as pessoas ao redor viram que elas estavam bem, começaram a se dispersar voltando a seus afazeres anteriores. Quando os três se encontraram firmes e afastados do mundinho do papai Noel gigante, Henry conseguiu ver finamente o rosto da ajudante do velhinho.
- Char? - sua voz saiu um tanto descrente, até porque era para a garota estar do outro lado do país naquele dia.
- Oi, Henry. - ela praticamente resmungou seu nome, tentando arrumar a touca verde em seus cachos bagunçados e as falsas orelhas pontudas que queriam desgrudar de sua pele. - Não pareça tão surpreso, só estou fazendo um favor ao meu tio.
- Sabe, nunca imaginei que você pudesse ser uma pessoa solidária.
A Page estreitou os olhos escuros em sua direção, franzindo o nariz em desagrado ao seu tom sarcástico. Piper observava a interação com uma animação que só aparecia quando via duas pessoas se provocarem, além do mais, eles eram Henry Hart e Charlotte Page, uma discussão sempre surgia quando se encontravam.
- Se o seu nível de percepção é tão baixo assim, sinto muito pelo resto da sua vida.
- Tem uma sujeirinha bem aqui. - apontou para um ponto na própria bochecha esquerda e a observou tentar limpar algo que não existia. - Ah, deve ser só um pouco de veneno.
- Ele só está brincando. - Piper avisou enquanto puxava um espelho redondo da bolsa e o segurou a frente da Page. - Aqui, assim vai ser melhor.
- Obrigada, bom saber que seu sobrenome ainda tem salvação.
- Nenhum de nós tem salvação desde que você nasceu.
- Me chamar de anticristo não é mais original, Hart. - afirmou, conseguindo colocar as orelhas pontudas em seus lugares novamente.
- Mas ainda não duvido que você vai causar o apocalipse de alguma forma.
- No dia eu te entrego como oferenda, pode ser que ela se contente com a sua carne magra.
Henry prensou os lábios para impedir o riso, não conseguia mentir para si mesmo, havia sentido falta de Charlotte. Os olhos de Piper brilhavam enquanto alternava o olhar discretamente entre os dois, uma ideia surgindo em sua mente a uma velocidade assustadora.
- Charlotte. - a Hart chamou seu nome em um sussurro audível somente para ela. Henry olhava ao redor observando as vitrines enfeitadas.
- Hum?
- Será que você poderia me fazer um favor. - recebeu um olhar cuidadoso da parte da outra. - O Henry é bastante teimoso, muito mesmo, e não quer ligar pra Janine e nos colocar na festa que ela vai dar amanhã.
- E? - não estava entendo onde Piper queria chegar.
- Ele faz tudo ao contrário do que você diz, então se você falar que ele não pode ir a festa porque é um nerd estranho ou algo assim, com toda a certeza ele vai querer ir.
- Piper, eu não vou me meter na vida amorosa do seu irmão. - declarou, resolvendo retirar o gorro para prender seus cachos em um coque baixo. - Além do mais, ele tem que agradecer por ter se livrado da Janine. Ela não fazia bem a ele.
- Ele vivia feliz com ela. - afirmou, não lembrando de momento algum em que vira algo de diferente no irmão.
- Se esqueceu que eu sou vizinha de vocês? Eu escutava todas as discussões e ameaças do meu quarto, que fica irritantemente com a janela perto da dele.
- Ela não era tão ruim.
- Ela o manipulava, Pips, eu não vou fazer isso com ele também.
Charlotte conseguiu parecer até mais arrumada do que antes, segurou o braço da Hart para que ela não afastasse o espelho enquanto puxava um batom do bolso do casaco verde vivo que vestia.
- Então você se preocupa com ele...
- Não comece. - mandou entredentes, não gostando nada do tom sugestivo da mais nova. - Só não acho justo que ela se aproveite da falta de raciocínio do Hart.
- Que falta de raciocínio?
Charlotte revirou os olhos, obviamente ele escolheria aquele momento para ouvir. Com a atenção ainda no retoque de sua maquiagem, falou de maneira despreocupada.
- Não precisa pensar muito para entender o que eu falei, Henry.
- O Natal te torna mais amarga, sabia?
- Não diga. - o encarou entediada, guardando novamente o batom e o delineador no bolso escondido, então bateu palmas animadas e abriu um enorme sorriso forçado. - Pareço feliz?
- Olhando de um certo ângulo. - Piper inclinou a cabeça ao analisa-la.
- Estranho, você fica parecendo o coringa antes do surto.
- Idiota. - o acertou no braço com um soco, um sorriso sincero tentando tomar seu rosto. - Agora preciso voltar pro trabalho.
- E o que eu pedi? - Piper reclamou, a seguindo e fazendo seu irmão resmungar enquanto as acompanhava.
- Pede pro velhinho mágico de barba branca, ele costuma ouvir as crianças. - deu leves tapinhas na cabeça da Hart, que afastou sua mão irritada. - Não vou fazer isso, Piper.
- Fazer o quê? - Henry perguntou temeroso, apressando o passo para ficar do outro lado de Charlotte.
- Te manipular. - respondeu, entrando no elevador com os dois Hart e mais outras três pessoas.
- Do que, oi? - olhou confuso para as duas, Piper virou o rosto emburrado para o outro lado e Charlotte o encarou com uma sobrancelha arqueada.
- Até que seria fácil, mas não vou fazer isso com você. - garantiu, não conseguindo conter a risada ao ver a expressão de desespero no rosto dele.
O elevador parou no térreo e todos saíram. Piper ainda estava irritada com os dois e seguiu direto para uma loja de roupas, Henry continuou caminhando ao lado de Charlotte, seus passos sincronizados enquanto ela seguia para a casa do Noel.
- Isso tem a ver com a Janine?
- Sim. - decidiu ser sincera, pararam em uma parte mais calma. - Você está melhor sem ela, acredite.
Henry levou uma mão ao cabelo, bagunçando os fios antes perfeitamente arrumados. Ele então olhou ao redor, sua atenção perdida em um mundo só dele.
- Nosso relacionamento não era o dos melhores, consigo perceber agora.
Confessou, a voz baixa e com uma nota de tristeza que fez Charlotte querer abraça-lo. Ela logo retirou esse pensamento de sua cabeça, o simples fato de sentir aquilo já era uma loucura e concretiza-lo seria o seu fim. Alternava o peso de uma perna para a outra, por fim decidiu que deveria dizer algo, nem que fosse uma simples frase para fazer com que Henry se sentisse melhor.
- Não me peça para repetir e se você contar pra alguém que eu disse isso, vai acordar com uma surpresinha embaixo da sua cama. - ameaçou, tendo novamente a atenção dele e seu ligeiro receio. - Você é uma boa pessoa, Henry, irritantemente bom. Nunca se esqueça de que você merece alguém que te aceite com todas as falhas e principalmente valorize todas as qualidades.
O Hart piscou atônito, a boca ligeiramente aberta sem conseguir formular uma frase. Não conseguia acreditar que havia escutado algo tão doce vindo de Charlotte Page, ela se remexia impaciente diante de seu olhar. As mãos fechadas em punhos, o pé batendo sutilmente no chão e os olhos brilhando com algo que ele não conseguia identificar.
- Sabe, quando você quer consegue ser uma pessoa muito meiga. - afirmou, sorrindo quando a escutou bufar. A Page então franziu o nariz em desagrado e mordeu o lábio inferior como se estivesse se impedindo de falar algo. - Não faça essa cara. Aliás, até que você fica fofa quando faz isso. - provocou, inclinando o corpo para frente e aproximando seus rostos.
- Pare. Estou avisando.
- Não gosta de receber elogios, Page?
- Todo mundo gosta de receber elogios, Hart. - defendeu-se, sem recuar a crescente aproximação dele. - E eu sei que sou extremamente fofa.
Henry riu, se aproximando um pouco mais, a escutou prender a respiração quando a beijou carinhosamente na bochecha.
- Feliz Natal, Char. - desejou, afastando-se rapidamente antes que ela o socasse de novo.
- Você perdeu completamente a noção.
Ela falou em um fio de voz que o fez gargalhar enquanto se afastava. Henry sumia no meio da multidão, o toque de seus lábios ainda queimavam sobre a pele de Charlotte e ela mal sabia que o coração do Hart naquele momento batia em um compasso totalmente novo e inesperado.
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P.s. esse se tornou um dos meus favoritos até agora kkkkk
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