14. Muitas vezes só o que precisamos é de alguém que não desista
Primeira one do ano, feliz ano novo meus amores e que ele seja repleto de amor em todas as suas formas possíveis!
......
Henry trancou a porta do apartamento de Piper, havia acabado de guardar seus pertences e se preparava para encontrar uma ex namorada em uma cafeteria próxima. Sua irmã iria matá-lo se soubesse que ele estava a um passo de encontrar Lizzy, porém o Hart acreditava realmente na mudança da ex e não via mal algum em dar um voto de confiança a mesma. Apalpou os bolsos conferindo se não tinha esquecido de nada e virou-se em direção ao elevador que ficava no fim do corredor, porém as portas de metal se abriram o proporcionando uma visão diferente.
Uma mulher arrastava algo para fora do elevador, nao conseguia identificar o que era, porém parecia ser algo bem pesado. Quando ela terminou de retirar o objeto de dentro da caixa metálica, esticou as costas e se encostou na parede, sua atual posição o permitiu ver a enorme barriga que ela possuía. Caminhou inconscientemente em direção à ela, seus passos ecoaram pelo corredor vazio atraindo a atenção da grávida. Ela levantou o olhar, o encarando meio supresa e esticando o pescoço para além dele como se assim pudesse descobrir de onde ele havia vindo.
- Oi, bom dia.
Ela saudou educada, Henry porém conseguia somente alternar o olhar entre ela, a lata de tinta e a enorme barriga. A mulher piscou um tanto confusa e inclinou a cabeça como se ao mudar de ângulo pudesse compreender o Hart. Alguns cachos se soltaram do coque dela, caindo leves em torno do rosto a dando um ar adorável.
- Você vai pintar algo? - Henry indagou, torcendo para ela dizer que não.
- Ah, sim, o quarto do meu bebê. Acredita que tive que rodar metade da cidade pra encontrar a cor que queria?
Ela claramente esperava uma resposta, porém o Hart sentiu que não iria mais sair para lugar algum. Se ela estivesse sozinha, ele definitivamente não poderia deixá-la se esforçar daquela maneira, ainda mais se aquela que estava a sua frente fosse a Charlotte de quem Piper tanto falava.
- Você vai pintar o quarto sozinha?
- Sim?
A possível Charlotte o fitava sem saber muito bem como reagir. Henry esfregou os olhos com a ponta dos dedos e tombou a cabeça para trás, sua mente a mil por hora. A grávida aproveitou esse momento de distração e retornou ao que fazia, o som da lata sendo arrastada tirou o Hart de seus pensamentos.
- Não. - abaixou-se rapidamente, puxando a lata para perto de si e para longe das mãos dela.
- Como assim "não"? - as mãos foram direto para a sua cintura, o olhar duro e a boca aberta em descrença.
- Você já se olhou? - perguntou um tanto sarcástico, o que a fez franzir o cenho em impaciência. - Como você vai pintar algo sendo que parece que engoliu um planeta? - o olhar dela se intensificou, Henry sentiu um leve calafrio de medo. - Um planeta pequeno, tipo plutão, que no caso nem é mais planeta oficialmente, mas vai ser sempre um pra mim.
- Quem é você?
- Irmão da Piper, a que mora no fim do corredor. - informou, não gostando do sorriso debochado que ela abriu.
- Ah, Henry Hart, o desempregado que veio morar com ela.
Henry bufou em indignação, com uma mão apoiada na cintura, apontou com a outra livre para ela ao falar:
- Primeiro, quem disse isso? - o leve arquear de sobrancelhas dela foi o necessário para ele ter sua resposta. - Aquela peste. - murmurou irritado, teria que ter uma séria conversa com Piper. - Segundo, estou fazendo uma transição de carreira.
- Saindo de assalariado para morar com a irmã mais nova? - debochou, claramente adorando a forma como ele se empertigou irritado.
- Como você ousa?
- Como você ousa me dizer o que fazer? - rebateu, cruzando os braços e dando um passo em direção à ele.
- Você está grávida e está querendo fazer um esforço absurdo! - as mãos se ergueram no ar enfatizando sua impaciência - Não tem ninguém pra te ajudar, não?
O rosto dela se contraiu minimamente, como se estivesse sentindo uma dor desconhecida, porém ela logo recobrou o ar desinteressado e afirmou decidida:
- Não, não tem. Agora, se me der licença, eu tenho um quarto para pintar.
Charlotte, ele acreditava que era ela, se abaixou novamente e começou a empurrar a lata em direção ao fim do corredor. Henry a observou por alguns segundos, ela lutava para mover a lata pesada, ele então desistiu de deixá-la só e resmungou antes de ir ajudá-la. A grávida não fez imposição quando ele puxou a lata para si, somente saiu na frente em direção ao seu apartamento.
- Obrigada. - agradeceu sincera quando abriu a porta, permitindo a passagem de Henry e depois o guiando por um corredor. - Por aqui, por favor.
O Hart colocou a lata dentro de um cômodo vazio, as paredes estavam pintadas de branco e somente uma cortina bege dava alguma cor para o local. Charlotte estava apoiada no portal de madeira da porta, os olhos vagando por todo o ambiente.
- Você precisa de tudo pronto para quando?
- Para daqui a. - ela parou, contando em seguida nos dedos antes de dar uma reposta. - Uns dois meses e meio.
Henry disfarçou a risada com uma tosse e comentou admirado:
- Você está enorme.
Charlotte riu abertamente, falando ao caminhar para dentro do quarto:
- Tudo o que uma mulher quer escutar.
- Na, na, não. - a impediu quando ela fez menção de pegar um rolo para pintar. - Não vou deixar você ter esse bebê antes do tempo.
- Você vai pintar tudo? - indagou rindo, porém viu que ele falava sério e logo o riso deu lugar a confusão. - Por quê?
- Já falei, não vou deixar você ter esse bebê antes do tempo. - repetiu, retirando o rolo da mão dela e a empurrando gentilmente para fora. - Muito peso na consciência que não preciso nesse momento.
- Você só vai fazer por que é o certo? - ela ainda não conseguia assimilar.
- Sim. Algum problema?
Charlotte mordeu o lábio inferior como se pensasse em um grande dilema, por fim soltou um leve suspiro e deu de ombros.
- Não, só que não estou acostumada. Mas também não vou negar uma boa ação. - declarou, visivelmente mais animada, porém logo o fitou séria. - Já pintou um quarto antes?
- Na verdade não, mas não pode ser tão difícil assim. - assegurou, notando a falta de crença dela.
Henry então pegou o rolo, o examinando, rodando o cabo na mão e acertando em seguida o próprio rosto. Charlotte suspirou já prevendo o quê viria.
¤ ¤ ¤ ¤ ¤
- Então, você não vai terminar isso hoje, vai?
Charlotte parou à porta, observando com um sorriso discreto a bagunça em que se encontrava o futuro quarto de seu bebê. Henry segurava um pincel tentando decidir por qual parede começar, o chão já estava protegido e os interruptores já haviam sido contornados com fita, o problema era a tinta verde menta já espalhada pelo chão que também se encontrava em riscos nas paredes.
- Não se apressa a arte, Charlotte. - declarou confiante.
Ela resolveu que seria melhor nem comentar nada.
- O que você quer jantar? Vou pedir comida mexicana.
- Você nem me deu tempo de responder. - reclamou, arrancando uma leve risada dela.
- Comida mexicana. - reafirmou. - Você possui um ótimo gosto, Henry.
O Hart somente soltou uma gargalhada a escutando sair para a sala.
¤ ¤ ¤ ¤ ¤
- Oi. - Charlotte abriu a porta para que Henry passasse, esfregava os olhos por conta do sono que a dominava.
- Oi. - o Hart entregou a ela um copo com chocolate quente que foi alegremente aceito. - De volta ao trabalho.
- Eu posso pelo menos pintar o rodapé? - pediu, caminhando atrás dele enquanto tomava goles longos do chocolate.
- Não precisa, já falei que dou conta. - abriu a cortina, a suave luz do sol inundando o local. Estava um dia nublado e frio, era um dos climas preferidos de Henry. - Não se incomode, Charlotte.
- É claro que eu me incomodo. - soltou um som de descrença, apertando o cardigã grosso ao redor do corpo quando uma brisa fria a atingiu. - Nós nunca tínhamos nos visto na vida e agora você está pintando o quarto do meu bebê há dois dias.
- Pensa que esse é o meu presente.
- Piper tem razão, parece o prelúdio de uma comédia romântica aleatória. - murmurou insatisfeita.
Henry parou o que fazia, a encarando sério como se ela tivesse dito algo que nunca poderia ser pronunciado.
- Nunca, nunca mesmo dê ouvidos a minha irmã.
- Ela é uma boa pessoa. - sentiu que deveria defender a amiga, mesmo que ela estivesse acabando com sua paciência no momento.
- Com uma mente perigosa.
Revirou os olhos dramaticamente para o exagero que ele estava fazendo, então virou as costas, avisando enquanto seguia para a cozinha:
- Vou fazer um sanduíche, você quer?
Nem esperou por uma resposta, iria fazer sanduíches a mais de qualquer maneira.
¤ ¤ ¤ ¤ ¤
- E agora?
- Acho que temos que dobrar?
- Não tem como. Talvez se fosse, não, não dá certo.
Charlotte largou o mobile frustrada, nenhuma peça se encaixava e até aquele momento não haviam conseguindo montar uma parte sequer dos animais que pertenciam à ele. Henry a observou com um certo divertimento, a grávida se encontrava ainda mais irritada depois que começaram a montar a decoração. A tinta ainda estava secando, então o Hart tinha decidido que iria ajudá-la a concluir o quarto já que podia notar que ela não recebia muitas visitas e nem possuía uma ajuda diária com a casa. Como estava desempregado até o momento, via naquela tarefa uma distração bem-vinda.
- Por que você comprou isso mesmo? - perguntou, erguendo algumas peças contra a luz.
- Eu achei fofo. - respondeu simples, dando de ombro e em seguida bufando impaciente ao tentar conectar pequenas peças novamente.
- Coalas também são fofos e você não os traz pra casa.
- Essa foi uma péssima comparação. - afirmou, largando as peças sobre a mesa e se voltando para ele. - Se eu pudesse, com toda a certeza teria um coala.
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- Ele simplesmente saiu e não voltou mais?
Charlotte se encontrava sentada na cadeira de sua pequena cozinha, com as pernas apoiadas em outra à sua frente. Henry preparava algo para os dois comerem já que Piper tinha ido a uma festa e não fizera nem questão de convidá-lo. A Bolton contava sobre seu ex que sumiu do mapa quando conheceu uma ruiva encantadora em um bar com alto potencial de ilegalidade no centro. Iria fazer três meses de sua evaporação do mundo de Charlotte Bolton e a cada dia ficava mais fácil para ela contar o que acontecera sem sentir um ódio descomunal.
- Não me olhe assim, já recebo esse olhar toda vez que conto essa história. - pediu, voltando a redigir um relatório que deveria entregar até o dia seguinte. - Não tem problema nenhum em ser mãe solo, estou muito bem assim sem aquele cretino.
- Você já é uma mãe incrível. - Henry se sentiu na obrigação de afirmar, rindo quando a escutou bufar baixo. - Teimosa, mas incrível.
Charlotte parou com os dedos sobre a tecla, o encarando com um sorriso irônico.
- Por que te aceitei na minha vida mesmo?
- Porque sou indispensável.
- Insuportável, isso sim. - murmurou, um sorriso crescendo em seu rosto quando escutou a risada do Hart tomar conta do ambiente.
¤ ¤ ¤ ¤ ¤
Henry mal teve tempo de sair do elevador quando foi abordado por uma grávida completamente animada.
- Como foi lá?
- Estou com um bom pressentimento. - respondeu, começando a caminhar ao lado dela. - Um muito bom.
- Fico feliz. Tenho certeza de que irão te aceitar, você é teimoso de mais e às vezes as crianças precisam disso.
Declarou, as mãos unidas em suas costas enquanto balançava levemente o corpo, se encontrava muito feliz por Henry estar finalmente encontrando um caminho.
- De um professor teimoso? - indagou divertido, a vendo fazer uma careta em sua direção antes de abrir a porta de seu apartamento.
- Não, de alguém que não desista. - assegurou. - Muitas vezes só o que precisamos é de alguém que não desista.
Trocaram um leve sorriso antes de se despedirem. Henry ainda não sabia, mas aquela simples declaração de Charlotte ainda iria refletir por muito tempo em suas ações.
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- Tenho que admitir que você fez um ótimo trabalho.
O quarto finalmente estava pronto, com todas as decorações, acabamentos e pinturas que Charlotte tanto planejara. Henry estava parado no meio do cômodo, olhando ao redor orgulhoso pelo o que havia ajudado a fazer.
- Eu sei. - olhou por sobre o ombro para ela, um sorriso convencido estampado em seu rosto. - Sou incrivelmente bom em tudo que faço.
- E voltamos a programação normal. - declarou rindo, dando alguns passos para olhar pela janela.
A rua estava parcialmente movimentada, tanto por pedestres quanto por veículos, o sol a muito tempo se fora e a luz da lua era ofuscada pela luz forte vinda dos postes ao longo dos dois lados da rua. A Bolton apoiou as mãos na base da janela, inclinando o corpo para tentar olhar as estrelas que praticamente sumiam por conta da iluminação artificial.
- E agora?
Henry estava ao lado dela. Charlotte encarou o novo amigo, em seus olhos um brilho recente que aparecia toda vez que se encontrava com o Hart. Ele abriu um sorriso que sempre vinha naturalmente quando fitava os olhos escuros de Charlotte.
- Agora vamos comer algo.
- Vai me deixar escolher dessa vez? - perguntou, fingindo uma irritação enquanto a seguia para fora do quarto.
- Hum, o quê? Não consegui ouvir você. - se fez de desentendida, inclinando a cabeça para baixo e colocando a mão aberta atrás da orelha. - Meu bebê está dizendo que quer pizza.
- Nada saudável, Charlotte. - a repreendeu, não obtendo nenhuma vitória.
- O quê, meu amor? - continuou a falar com a barriga, arrancando uma risada a contra gosto do Hart. - De peperone? - arregalou os olhos dramaticamente quando se voltou para ele.
Henry desistiu, sabia que aquela era uma luta perdida e foi atrás de um menu de alguma pizzaria boa sob o costante olhar vitorioso de Charlotte.
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