11. E se eu quiser que você faça uma idiotice?
- Henry Prudence Hart! Se você não abrir a porcaria dessa janela agora eu juro que faço você se arrepender pelo resto da sua vida!
A ordem gritada veio seguida de socos contra o vidro, Henry retirou os fones em uma velocidade assustadora e encarou sua melhor amiga que batia contra a janela, completamente encharcada pela chuva e visivelmente furiosa. Enquanto corria para abrir a janela para ela, tentava repassar em sua mente o que havia feito de errado para fazer com que Charlotte saísse em um temporal daquele e principalmente não houvesse entrado pela porta da frente.
A observou adentrar seu quarto surpreso; água pingava das tranças em direção ao chão, a camisa social clara, coberta somente por um casaco grosso, se encontrava transparente e ele sentiu seu rosto esquentar ao observar o sutiã vinho que ela usava. Levantou o olhar para a encontrar o encarando com uma sobrancelha arqueada, conseguia perceber pela expressão dela que o culpado por ela estar naquela situação era ele, o problema era que o Hart realmente não lembrava de ter feito nada naquele dia.
- Então? - a Bolton perguntou, em um tom ríspido que o fez se encolher um pouco.
- Então o quê?
A viu fechar os olhos e provavelmente contar até dez antes de questiona-lo.
- Você me enviou uma mensagem dizendo que precisava de ajuda urgente, eu saí do aeroporto direto pra cá sem nem passar na casa dos meus pais. Agora chego aqui e você se faz de sonso depois de eu enfrentar esse aguaceiro e correr o risco de pegar uma pneumonia só porque fui idiota o bastante pra vim te ajudar em pelo visto nada?!
Esperou ela despejar tudo se mantendo em silêncio, anos de amizade o ensinaram que quando Charlotte explodia era melhor ficar quietinho até ela se acalmar. Mas o que ela estava fazendo naquele momento o surpreendeu. Depois de jogar o casaco verde militar aos pés da cama, a Bolton começou a puxar a camisa social, que inexplicavelmente servia de vestido, Henry arregalou os olhos e virou rapidamente de costas. Sentiu seu rosto esquentar e tentou não gaguejar quando perguntou à ela.
- Hum, o-o que você está fazendo?
- Me trocando, óbvio. - a resposta veio rápida e seca.
A escutou jogar a camisa social ao chão e os passos rápidos dela se dirigirem ao seu closet, olhava para os próprios pés tentando ignorar o fato de uma Charlotte parcialmente despida estar caminhando ao redor do seu quarto. Começou a cantarolar Baby shark acreditando que a letra irritante levaria seus pensamentos para outro lugar, um bem distante dos terrenos perigosos que sua mente o estava arrastando.
- Pode se virar.
A voz soou mais calma, a obedeceu e encontrou a Bolton sentada a beira da cama vestida com um antigo moletom dele, ironicamente o rosto sorridente de Kid Danger o encarava. Caminhou para sentar ao lado dela se sentindo desconfortável.
- Não tinha outra blusa não?
- Não.
O sorriso que ela o lançou dizia o contrário. Charlotte sabia muito bem que ele detestava aquela blusa por ter saído com o nariz torto, mas fora um presente de Jasper e ele não poderia jogar fora.
- Mas o que houve?
- Não foi você quem mandou a mensagem, foi? - negou rapidamente, o que a fez soltar um suspiro impaciente. - Eu estava vindo de surpresa e recebi sua mensagem assim que aterrissei, pensei que era algo realmente sério porque na mensagem você tinha dito código Cacto.
Franziu o cenho intrigado, somente ele e Charlotte sabiam o significado daquele código e era para a emergência da emergência. Talvez ele tenha contado para Jasper, que convenientemente havia levado seu celular para um técnico e até o momento não havia retornado com ele!
- Por que você subiu pela janela?
- Sério mesmo que essa é a sua primeira pergunta? - indagou descrente e ele não soube o que falar. Soltando um riso baixo, ela respondeu. - Não queria que seus pais soubessem que eu cheguei antes dos meus. Eles tem agora essa competição ridícula de quem eu gosto mais e por mais que seja engraçado, eu não estou com cabeça para isso.
Assentiu ainda tentando entender toda a situação, o som de um trovão assustou os dois e sentiram um leve tremor antes dele sumir. Olharam para a janela em silêncio, por fim, Charlotte se jogou de costas em sua cama, seu rosto esquentou novamente após ver que o moletom havia subido e uma considerável parte das coxas de sua amiga estavam a mostra. Pigarreou sem jeito e olhou para o outro lado do quarto, mas logo a sentiu puxar sua blusa o fazendo cair de costas ao seu lado.
- Você está estranho. - não era uma pergunta, ela o encarava preocupada, analisando seu rosto minuciosamente. - Nem eu que passei por tudo isso estou estranha, e olha que estou morrendo de raiva por ter deixado minha mala no aeroporto.
- Sinto muito. - pediu sincero, estava começando a desconfiar de que ele tinha uma parcela de culpa em toda aquela situação, mínima, mas ainda sim uma parcela. - O lado bom é que você veio me ver primeiro.
Charlotte soltou uma risada suave, sentia o hálito mentolado dela bater diretamente em seu rosto. Estavam muito próximos, próximos o suficiente para ele se perder no pequeno universo que eram os olhos castanhos de Charlotte Bolton.
- Sempre galanteador, Hart.
Um sorriso provocador surgiu em seu rosto, Henry tinha a certeza de que seu coração iria sair pela garganta a qualquer momento e pular ao redor de seu quarto. Então Charlotte riu e virou o rosto para cima, ele só conseguia olhar para o perfil de sua amiga sem saber como reagir. Ali ele teve a certeza de que ela o estava provocando, provavelmente ela pensava que ele não iria revidar, porém aquele era uma jogo de duas vias e Henry Hart não iria perder daquela vez.
- Char. - chamou, a vendo olhá-lo de relance. - Fico realmente feliz que você esteja aqui.
Afirmou, deitando de lado e aproximando seu rosto para mais perto dela. Parou a centímetros de seu pescoço, podia sentir o cheiro cítrico de flores do perfume que ela usava, sua respiração bateu diretamente na pele de Charlotte e a viu arrepiar.
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Charlotte engoliu em seco quando percebeu o que Henry estava fazendo, seu coração começou a bater acelerado. Não passou por sua cabeça que ele iria devolver a provocação, porém estava terrivelmente enganada. Forçou uma falsa calma e decidiu consigo mesma não dar nenhum passo para trás, ele iria ser o primeiro a recuar.
- E por quê? - indagou em um tom baixo e meio rouco, virando o rosto para o lado. Henry levantou um pouco a cabeça e os dois se encontraram cara a cara. - Preparou alguma surpresa para mim?
Em seus olhos se encontrava um sentimento que ela não conseguia identificar, porém ele logo desapareceu e o brilho da provocação ficou em seu lugar.
- Deveria fazer a mesma pergunta.
A mão quente do Hart envolveu sua bochecha, fazendo seu coração dar pulos e sua pele esquentar ao toque da mão macia. Abriu a boca levemente, as palavras se perdendo antes de se formarem. Não conseguia pensar direito quando a mão de Henry descia suavemente do seu rosto em direção à sua nuca. Subitamente teve conhecimento de que a provocação estava sendo levada para outro nível.
- Char, acho melhor assistirmos um filme.
Henry afirmou de repente, se afastando dela e a deixando subitamente ciente da falta de seu toque. Charlotte sentou na cama, olhando intrigada para o amigo. Ele sustentou seu olhar por apenas alguns segundos, logo negou com a cabeça e correu para a porta, porém Charlotte foi mais rápida e pulou pela cama até ficar entre ele e sua fuga.
- O que houve?
- Char.
Ele fechou os olhos fortemente e quando os abriu, desviou para um ponto acima de sua cabeça.
- Henry. - cruzou os braços, batendo um pé no chão e esperando uma reposta.
- Eu preciso sair daqui. - confessou, a voz em um quase sussurro.
- Você não vai sair até me contar porque está estranho. - insistiu, dando um passo a frente e notando o quanto ele ficou tenso.
- Charlotte, por favor, eu não quero fazer uma idiotice. - falou, levantando as duas mãos como uma barreira contra ela.
A Page o encarou confusa, inclinou a cabeça e levantou o dedo indicador como se fosse dizer algo, mas parou no meio do processo quando entendeu sobre o que Henry estava falando.
- E se eu quiser que você faça uma idiotice?
O Hart ficou sem reação, os olhos arregalados e a respiração escassa. Charlotte se aproximou um pouco mais, baixou as mãos de Henry e ficou na ponta dos pés para encará-lo melhor.
- Você tem certeza? - a pergunta foi feita com uma voz rouca.
Ela assentiu, um sorriso provocador brincando em seus lábios quando observou a pupila de Henry dilatar. O Hart rodeou os braços ao redor de sua cintura, colando seus corpos de uma maneira que a fez ofegar. Podia sentir o corpo firme de Henry, quando notou, suas mãos percorreram os músculos de seus braços causando arrepios no Hart.
- E agora? - Henry perguntou, engolindo em seco como se ainda esperasse que ela fosse embora.
Charlotte o encarou de coração aberto, ele deve ter reconhecido seu olhar e relaxou instantaneamente; ela não iria embora, eles sempre foram um do outro, só demoraram algum tempo para admitir.
- Acho que já falamos de mais.
Declarou, o beijando com todo a vontade que possuía há tempos, o fato de Henry estar sorrindo só a motivou ainda mais. Em questão de minutos se transformaram em um emaranhado de pernas, braços e sentimentos. A sensação de ter o outro envolvendo cada centímetro de seu corpo, da pele contra pele, ouvindo declarações ofegantes, gemidos e promessas os envolveu em um mundo novo, um mundo só deles.
A chuva caía forte do lado de fora, gotas grossas batiam contra o vidro da janela, o tempo passava e com ele qualquer preocupação com o futuro. Henry Hart e Charlotte Page por si só já eram uma força da natureza, juntos conseguiam mudar certezas e afirmações, afinal, um seria sempre o sonho do outro.
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