⋆ཻུ✧ TWO་༘࿐
Não via motivos para me importar com as críticas pesadas que estavam lançando em mim e em Yeji. Porque sabia que se me permitisse sentir a dor daquilo, acabaria entrando em um buraco que provavelmente não conseguiria sair. Yeji já estava mal o suficiente; uma de nós precisava ser forte, e eu não me importava em fazer esse papel. Eu sabia que não tínhamos feito nada de errado, mesmo que a mídia quisesse nos colocar como as vilãs da história para apagar o quão zoada a indústria musical consegue ser. Às vezes, na calada da noite, me pegava pensando se não teria sido melhor continuar como uma garota de 17 anos qualquer, que não era conhecida por ninguém. Porque quando explodimos em sucesso, tudo mudou drasticamente em nossas vidas.
Talvez eu estivesse aliviada por sair dos holofotes por um tempo. Talvez eu estivesse aliviada por não ter que usar roupas justas e extremamente curtas, por não ter que me matar ensaiando coreografias até meus pés estarem completamente machucados, talvez eu estivesse aliviada por não ter que parar de comer coisas que gosto só pra ser um padrão de garota. Talvez eu estivesse aliviada por não ter que cantar até minha voz morrer, talvez estivesse aliviada por não ter que fazer coisas das quais não gosto, cantar músicas que não são minhas.
Sentia falta do começo, quando eu e Yeji estávamos felizes de verdade com tudo aquilo, com aquela novidade. Quando podíamos cantar as nossas próprias músicas sem ninguém pra dizer "ah, você deveria cantar a canção que fulano de tal compôs, bem melhor. Apenas cante, querida, pare de tentar ser compositora". Mas quando escrevia minhas próprias músicas, tinha verdade ali. Tinha verdade, sentimento, e tudo isso era transmitido quando eu cantava. E qual era o sentido de cantar uma música que outra pessoa tinha criado e não eu?
Eu tinha passado a odiar a música por causa dessa indústria cruel. E isso estava me consumindo. Tinha sido o limite, tanto para mim quanto pra Yeji. E não, eu realmente não me arrependia de ter atirado tudo para o alto e pelo menos ter tentado expor o como as coisas não era um mar de rosas.
Claro que as pessoas enxergam só o que querem. As especulações foram ridículas, umas pior que a outra. Ao invés de verem a verdade, chamaram nós de "Lucky e Jinx, a dupla miserável", disseram que estávamos com inveja, que a fama já não era tanta e queríamos chamar a atenção.
Ignoraram completamente o resto. Porque, no fim das contas, estão pouco se fudendo para o bem estar dos artistas. Se você não é um padrão de pura perfeição no Japão, você está fora.
Yeji parecia ainda bem magoada com todo o hate, mas ela estava apenas enxergando o ódio absurdo das pessoas. Ela não estava vendo o como o nosso depoimento fez outros artistas como nós começarem a se agitar também. Não estava vendo o como algumas pessoas estavam discutindo e lutando por nós.
No fim, isso talvez não fizesse diferença pra mim e pra ela, porque nossa carreira tinha despencado. Mas se pudesse fazer diferença para que futuros artistas não sofram o que nós duas sofremos e estamos sofrendo, bem, pra mim é o que importa.
E não é como se a música fosse acabar de vez na minha vida. Por incrível que pareça, pela primeira vez no que parece ser um século, eu tinha voltado a compor. Eu não conseguia ver um lado completamente ruim nessa história toda, também via o lado bom. Talvez isso que me fizesse tão diferente de Yeji: parecia que tinham apunhalado ela nas costas e ela estava morrendo lentamente e sangrando no asfalto.
Eu apenas esperava que termos nos mudado para casa da tia dela, que é um amor de pessoa, resolva de alguma coisa.
E eu até estava gostando do interior! Certamente era menos agitado que Tokyo, talvez eu estivesse mesmo precisando dessa calma toda. Ainda mais depois de quase ter sido esmagada pelas pessoas da minha antiga escola que ficaram indignadas comigo e com Yeji.
Apenas posso rezar para que os alunos do tal colégio Karasuno não façam a menor ideia de quem eu seja. Tudo o que menos preciso é ter meu terceiro ano afundado na merda por eu ser a famosa "Lucky", que de sorte não anda tendo nada.
-Asuna, para de enrolar!- Yeji gritou de algum canto da casa e me dei conta que tinha viajado legal na maionese. Meeeerda! Íamos chegar atrasadas logo no primeiro dia se eu ficasse enrolando tanto assim.
Pulei da cama, tentando não cair de boca no chão enquanto me trocava, colocando o uniforme escolar. O lado bom de não ser mais Lucky é que eu não precisava estar sempre linda e perfeita. Acho que foi a primeira vez em muito tempo que não enchi a cara de maquiagem só pra ir pra escola. E talvez eu não devesse estar tão feliz com o declínio da minha carreira, mas a verdade é que lembrar que eu podia sim ser uma garota normal estava, de fato, me deixando bem feliz.
Eu devia ter pintado o cabelo de outra cor pra deixar de ser menos Lucky, mas agora já era tarde. Apenas prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto. Yeji dizia que prender o cabelo só fazia as pessoas me reconhecerem logo de cara, mas eu discordava completamente. Afinal, Lucky não usava cabelo preso, ele estava sempre esvoçando na cara!
Lucky e Asuna não eram, nem de perto, a mesma pessoa. E o pior disso tudo é que as duas eram eu.
-Asuna, eu vou ir ai te bater!- Yeji gritou e isso me fez dar risada. Sempre tão emocionada! Senhor. Apenas espero que ela não acabe matando alguém no nosso primeiro dia no Karasuno, sinceramente.
-Calma, doida.- eu disse saindo do quarto e ajeitando a saia. Dei risada da cara emburrada de Yeji, cutucando a bochecha dela com o indicador. -Não precisa ficar brava, Yeji. Afinal, o dia tá lindo, é primeiro dia de aula, lugar novo e vida nova!
Estendi os braços pra cima, animada, mas aquilo não pareceu deixar Yeji nem um pouco animada.
-Como você consegue sempre ser tão...- ela começou, gesticulando na minha direção, e eu franzi o cenho.
-O que, gente boa?- eu disse com um sorriso. Yeji riu.
-Não, enérgica. - ela disse e eu torci o nariz. Dei de ombros para ela.
-Só não vejo sentido em ficar só vendo o lado ruim da vida. Agora, vamos, vamos. Tô doida pra conhecer esse colégio.
-Você não deveria ficar tão animada, meu anjo.- ela disse com sarcasmo. -Se alguém reconhecer a gente, sabe que estamos lascadas.
-Ai, para de ser uma Jinx. Ninguém vai reconhecer a gente.- eu ri e ela fez cara feia.
-Come primeiro.- ela disse. Fiz gesto de tanto faz.
-Não preciso de comida, preciso de respostas, animação! Vamos emboraaaaaa!- eu disse, agarrando o braço de Yeji e saltitando para a porta.
O colégio não era longe. E até que era grande. Percebi logo de cara que deveríamos ter ido no dia que marcaram para apresentar o lugar pra gente, porque eu estava completamente e totalmente perdida. Yeji já estava com uma caranona enquanto observava os corredores, seu nariz torcido.
-Okaaaay, precisamos ir pra sala do vice diretor primeiro!- eu disse entrelaçando o braço no dela e a puxando pelo corredor. -Até agora, tudo sobre controle!
-Até parece!- Yeji grunhiu. -Não faz a menor ideia do que devemos fazer ou onde é a sala.
-Shiiiu, são apenas detalhes, boba! Nada demais, nós damos conta!- falei com um sorriso. Yeji revirou os olhos e resmungou alguma coisa.
-Ei, aquela ali não parece a Lucky?- alguém sussurrou, não tão baixo assim já que eu e Yeji escutamos, porque ficamos tensas na hora. -E a outra parece a Jinx!
-Para de ser maluca, as duas moram em Tokyo. Nunca que iriam vir parar num buraco desses!- alguém retrucou.
-Mas ela tem cabelo rosa igual a Lucky!
-Eu te falei pra dar um jeito nesse cabelo. - Yeji resmungou. Fiz careta.
-Mas acho que tem razão, olha a pele da garota, tá acabada. Nunca que Lucky ia ter uma pele dessas.
Ah, mas só pode ser sacanagem uma coisa dessas! Yeji começou a rir e eu me segurei pra não dar uma cotovelada nela. Isso fazia a desgraçada ficar feliz, né? Inferno!
Agarrei a mão dela, marchando pelos corredores, sem nem mesmo olhar para onde ia. Talvez tenha sido por isso que trombei com tudo contra alguém.
-Aí meu Deus, aí meu Deus, desculpa, desculpa, desculpa!- eu disse exasperada, tentando, sei lá, ajeitar o garoto com quem eu tinha trombado? Senti minhas bochechas ficando roxas de tanta vergonha e não ajudava muito com Yeji rachando o bico atrás de mim.
O garoto na minha frente era até que alto e magro, o cabelo cinza completamente bagunçado. Era fofo. E tinha um sorriso bonitinho. Aí, merda.
-Relaxa.- ele disse, rindo. Eu fiquei ainda mais vermelha. -Não esquenta com isso.
-Já que você é a Miss simpatia, podia pedir pra ele falar onde é a sala do vice diretor. - Yeji resmungou. Fiz outra careta.
-Eu estava um pouco distraída. - falei, ignorando o que Yeji falou. -Infelizmente isso acontece mais do que eu gostaria de admitir.
O garoto bonitinho deu risada e sorriu de forma simpática.
-Acontece. Você é nova aqui, né? - ele perguntou e eu assenti, talvez um pouco animada demais.
-Sim, primeiro dia. A gente tava procurando a sala do vice diretor, mas assim... Meio que nos perdemos, sabe? - eu disse e Yeji riu atrás de mim.
-Meio? Estamos completamente perdidas.- ela disse e eu fiz outra careta. Garoto bonitinho deu outro sorriso.
-Eu levo vocês lá.
-Ah, não precisa! Não queremos incomodar nem nada. - eu falei, ainda mais sem graça. Yeji me chutou.
-Precisa sim! Muito obrigada, se depender dessa idiota aqui, a gente vai achar essa sala sabe quando? Nunca!- ela resmungou e eu fiz uma cara feia pra ela. Já me difama logo no primeiro dia, que horror!
O garoto bonitinho não pareceu ligar para as palavras de Yeji, e, sinceramente, ele parecia ser mais gente boa do que eu esperava.
-Aliás, meu nome é Asuna. Sei que você não perguntou nada, mas acho muito importante deixar claro.- eu disse com um sorrisinho. Bem, agora me sinto uma idiota, porém, faz parte. E o garoto bonitinho continuava sorrindo pra mim, então era o que importava! Se ele tava achando graça da minha cara ou só sendo legal, eu não sabia, mas também não tava ligando muito.
-Me chamo Sugawara. - ele respondeu. No momento, era tudo o que eu precisava saber!
E foi assim que começou meu primeiro dia de aula.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro