Yachi era um ser humano adorável demais pra estar andando com um bando de macho surtado. Tenho plena certeza que às vezes ela se pergunta porque está ali, principalmente vendo as brigas de Hinata e Kageyama durante os treinos. Mas pelo menos ela estava se dispondo a ajudar as duas antas a estudarem já que Tsukishima tinha oficialmente desistido. E se eles quisessem ir treinar para o torneio de primavera, precisavam passar nas provas.

As últimas semanas foram um verdadeiro inferno. Os meninos estavam treinando tanto que eu nem vi eles direito nos dias que se passaram. E também, eu tinha passado tempo demais estudando para recuperar toda a matéria que perdi graças aos shows de Lucky. Então, depois que a aula acabava, eu não ficava pra ver eles treinando ou sei lá, apenas corria pra casa e me enfiava dentro do quarto. Acho que Yeji até tava ficando preocupada, ela veio perguntar se isso tinha algo haver com Sugawara, mas era mais uma questão de sobrevivência mesmo!

Não é como se eu estivesse evitando Sugawara por medo de ser rejeitada de novo, claro que não! Ou estar com medo que ele percebesse que eu era só a Asuna e não quisesse mais nada comigo porque eu não era nem de perto tão brilhante quanto Lucky e...

Suspirei, apoiando a cabeça no vidro da máquina de refrigerante. Acho que preferia ter Hinata gritando no meu ouvido do que estar sozinha com meus pensamentos, mas graças aos estudos, ele e Kageyama estavam focados demais em passar nos testes. E eu também, até porque, queria ir para Tokyo com eles e queria ver meus pais. Acho que nem preciso dizer que quero ver Kuroo e Kenma, isso é óbvio pra qualquer ser humano.

Meu celular apitou dentro do bolso, me trazendo de volta a realidade. O puxei e li a mensagem de Kenma.

Era bem direta, como sempre:

Você tá sempre fugindo.

Pisquei os olhos.

Desgraçado! Eu abro meu coração pra ele, e é assim que Kenma me trata! Que ódio, insensível maldito. Sei que tô sempre fugindo, mas ele podia, sei lá, me mandar parar de ficar lembrando do que Rin fez comigo e seguir em frente, sei lá!

Não pensei muito antes de ligar para Kenma e, por incrível que pareça, ele atendeu no segundo toque.

-O que você quis dizer com isso?- foi a primeira coisa que soltei, e mesmo sem poder ver Kenma, sabia que estava fazendo uma careta.

-Que você foge de tudo.- ele disse e eu bufei.

-Esclareceu demais, hein, nossa, agora tudo faz sentido.- zombei. Kenma suspirou.

-Asuna, você tá surtando por uma coisa que não tem como mudar, sabia? - ele reclamou comigo e eu fiz uma careta. -Para de enfiar essas coisas na cabeça. Agora, tchau, eu tava jogando.

-Vôlei? No intervalo?- perguntei confusa.

-Não, videogame. - ele respondeu e, sem mais ou menos, desligou. Eu ia dar um chute em Kenma quando o visse de novo, ia mesmo!

Tava preparada para chutar a parede quando Sugawara apareceu na minha frente, franzindo o cenho pra mim. Dei um gritinho por causa do susto e da surpresa e quase caí, mas ele agarrou minha cintura, me mantendo firme no chão.

-Você tá bem?- ele perguntou preocupado e eu assenti freneticamente.

-Sim, perfeitamente bem, tudo ótimo!- eu disse e só por isso ele já percebeu logo de cara que eu tava mentindo descaradamente. Merda!

Sugawara me soltou e cruzou os braços, arqueando a sobrancelha pra mim. Ele ficava ainda mais bonito com essa cara de sério, droga!

-Entendi... E você pretende me evitar pra sempre? - ele perguntou, os olhos cravados nos meus.

Engasguei com minha própria saliva, tossindo pateticamente enquanto tentava me recuperar. Sugawara foi direto demais para o meu gosto, agora eu que morra!

-Mas eu não tô te evitando!- gaguejei, sentindo minhas bochechas pegarem fogo. Minto tão mal que ficou na cara que eu estava sim evitando Sugawara. Ele suspirou, perdendo toda aquela pose de "vou descobrir seus mais obscuros segredos". -É que ando estudando demais, só isso.

Sugawara não disse nada, mas ficou me analisando por um tempo. E eu sabia que essa desculpa não tinha colado com ele, Sugawara era inteligente demais pra cair em uma papinho meia boca desses.

-Asuna, você não precisa me evitar, se você não quer que o que aconteceu aconteça de novo, é só falar...- ele começou, me fazendo arregalar os olhos. Aí meu Deus, foi isso que fiz ele pensar? Como eu era burra!

-Não, não é isso não!- falei, segurando ele pelos ombros meio desesperada. Sugawara parou de falar, piscando os olhos e franzindo a sobrancelha pra mim. -Não é isso, Sugawara. Eu... Gosto de você. Até demais, se quer saber.

Sugawara deu um passo na minha direção, esticando a mão para segurar a minha e entrelaçar os dedos nos meus. Eu suspirei. A mão dele encaixava perfeitamente na minha, isso é sinal do destino!

-Você sabe que eu também gosto de você. - ele falou e, sim, eu sorri que nem uma grande idiota. -Mas qual o problema, então?

Fiquei tensa. Poucas pessoas sabiam o que tinha acontecido de verdade entre eu e Rin e o quanto isso acabou comigo naquela época. E o como isso tudo deixou uma ferida dentro de mim. Às vezes, ainda consigo escutar as palavras dela, o jeito que ela me descartou facilmente depois que voltei a ser apenas Asuna. Ela se apaixonou por Lucky; Asuna não bastava para ela.

Pisquei os olhos com força para afastar as lágrimas que surgiram ali. Não importa que meses tenham se passado, ainda machuca pra caramba saber que uma pessoa namorou com você não por quem você é, mas sim pela imagem que ela tinha de você. Só pra dizer que namorou uma pessoa famosa. Isso... Era uma merda.

-O problema não é você. - eu murmurei. Sugawara apenas me olhou atentamente. -É que...

Não sabia se conseguiria falar sobre isso de novo. No fim das contas, não precisei, Sugawara pareceu entender perfeitamente.

-É sobre seu ex namorado? - ele perguntou. Torci o nariz e ele coçou a nuca, sem graça. -Eu escutei a história.

-É, a história é mais ou menos isso, mas não é namorado. Era namorada. - eu disse com um suspiro, tombando a cabeça para trás. -Até isso aquela empresa de merda quis apagar em mim, minha bissexualidade.

Por um tempo, ele não disse nada, e fiquei com medo do que Sugawara estaria pensando sobre mim agora. Arrisquei olhar para ele e, antes que eu pudesse perguntar algo, Sugawara me beijou.

Não foi um beijo como daquela primeira vez, foi só um selinho, mas... Ainda assim, era o suficiente para fazer meu coração dar um salto.

Sugawara se afastou, tocando meu cabelo de leve e analisando meu rosto antes de sorrir daquele jeito que sempre fazia meu cérebro derreter.

-Eu não ligo pra quem você é. E posso te dizer com certeza que prefiro muito mais a Asuna.- ele disse com sinceridade e eu ri.

-Porque um garoto que nem você tá solteiro, Suga?- eu disse e ele riu, me cutucando de leve.

-Tô esperando a garota que eu gosto me notar. - ele falou e eu me aproximei mais, abraçando a cintura dele.

-Ela teria que ser idiota pra não te notar. - eu murmurei, me inclinando na direção dele. Sugawara segurou meu rosto, e, sim, eu estava bem perto de beijar ele quando o sinal tocou. Maldito sinal!

Sugawara riu da careta que eu fiz e beijou minha bochecha antes de se afastar de mim.

-Te vejo mais tarde. - ele disse e apontou o dedo de forma acusatória pra mim. -E para de fugir de mim! Não vai ter sucesso com isso.

Eu ri antes de me afastar pra ir para sala.

Aí, droga. Eu tava mesmo apaixonada por ele.