⋆ཻུ✧ TWELVE་༘࿐
"Se eu fingir que está tudo bem, vai ficar tudo bem". Foi nisso que me apeguei durante todo esse tempo, tentando provar para todos e para mim mesma que não me importava com as críticas que estavam fazendo sobre mim e Yeji, que tudo tinha seu lado bom. Eu sorri até minhas bochechas doerem, dizendo para mim mesma que eu estava feliz, que eu conseguiria sim superar aquilo e que nada importava. Acho que fingi tanto, mas tanto, que todos acabaram acreditando nisso no fim das contas.
A verdade é que sou uma farsa. Uma das maiores. Disse que não podia cair num baraco e que lutaria não só por mim, mas por Yeji também. Mas como eu me impediria de cair nesse tal buraco se na verdade eu já estava nele?
Ouvir duas garotas da minha sala falando sobre "Lucky, a sem sorte" não fez eu sentir indiferença. Muito pelo contrário, foi como receber um soco no estômago, ainda mais graças ao tópico infeliz que elas escolheram.
"Soube que o namorado largou a Lucky depois daquele fracasso no show. Acho que foi muita pressão pro coitado"
Tive que me segurar pra não chorar ali mesmo com todas aquelas memórias me atingindo com tanta força que toda aquela muralha feita de ferro que eu tinha construído ao meu redor para fingir que estava tudo bem foi aos poucos rachando.
Eu não tinha arrependimentos, mas... Eu só tinha dezoito anos. E às vezes, as coisas se tornam demais. Eu sei que não fiz nada de errado, e ainda assim...
Namorada.
Era namorada, e ela me deu um pé na bunda quando minha carreira foi parar no buraco, porque aquela coisa de "eu vou te amar até se você for uma desconhecida" no fim das contas, nunca foi verdade.
Eu era só Asuna Mori agora. Sem sorte, sem brilho, sem aquela aura indestrutível. Eu era apenas Asuna, aquela que era alegre demais, e tava sempre enchendo o saco da melhor amiga tentando fazer ela se sentir melhor, mas na verdade apenas acabava afastando ela mais e mais.
E eu estava cansada de só falhar, falhar e falhar.
Eu não queria cair no buraco, mas, aparentemente, fui empurrada dentro dele.
Parei de ouvir aquela conversa quando o sinal bateu e corri pra fora. Yeji que me perdoe, mas eu realmente não consigo olhar pra ela agora. Pelo menos, não assim.
Eu não quero que ela saiba a verdade: que, no fundo, nada tá bem. Se eu não posso ser forte por nós duas, então, o que me resta?
Me enfiei em um lugar escondido do lado de fora, me sentando no chão e me encolhendo o máximo que consegui para não ser vista por ninguém, sentindo as lágrimas em meus olhos.
Não fui completamente sincera com Sugawara e Daichi, nem mesmo com Yeji. Porque, sim, posso até não conhecer nada sobre vôlei, mas...
Eu conhecia bem os integrantes do clube de vôlei de Nekoma. Já que tinha passado a infância inteira com dois idiotas que jogavam lá.
Dois idiotas que me mandavam e-mails todos os dias. Bom, um deles mandava todos os dias, o outro só de vez em quando, mas nada fora do normal. Me enchiam de mensagens e mensagens e eu nunca lia nenhuma, sequer respondia. Há mais de um mês, eu estava fugindo do meu passado.
Porque a verdade é que não queria ser rejeitada por eles. E achei que a única forma de conseguir recomeçar aqui fosse deixar tudo pra trás, mas...
No fim das contas, tem coisas que não da pra gente apagar.
Esfreguei meu rosto com força, sentindo as lágrimas caírem. Eu odiava me sentir desse jeito, tão na merda. Eu tinha escolhido a felicidade, mesmo quando ela sendo falsa, porque achei que fosse o melhor caminho. Yeji já estava mal demais, se eu ficasse mal também, ia apenas piorar tudo. Mas não dá pra guardar tudo sozinha e...
Peguei meu celular, apenas olhando para todos aqueles e-mails que não respondi, que não li.
Por isso me assustou um pouco saber que a equipe de vôlei de Nekoma ia vir pra cá. Não sabia se estava pronta pra ser rejeitada por pessoas que eu me importava pra caramba. Ser rejeitada por quem você não conhece é uma coisa; é fácil não se importar com comentários imbecis de gente na internet, mas...
Só de pensar nisso tudo minha ansiedade já começa a atacar. Meu coração bate acelerado, e tudo o que eu sinto é vontade de sumir, e eu odeio me sentir assim.
Odeio todas as lembranças e odeio quando essa parte de mim vem a tona. Faz eu me sentir fraca. E eu não sei como colocar tudo pra fora e também não sei como arrumar tudo que tá quebrado, então...
O que me resta é fingir que tudo está bem. Pelo menos na frente de Yeji. Porque se ela sequer soubesse como me sinto de verdade...
Não, ela não precisa saber. Posso fazer esse sacrifício por ela.
-Você tá bem?- tomei um susto, arragalando os olhos e dando um pulo quando Sugawara apareceu do além do meu lado. Até tentei esconder, mas era meio difícil já que eu tava chorando. Ele estava me olhando atentamente e com preocupaçã. -Na verdade acho que é uma pergunta idiota.
Eu ri, ou pelo menos tentei, porque só me fez chorar mais ainda. Sugawara pareceu meio em pânico por um instante, mas ele não hesitou antes de sentar do meu lado e meio que me abraçar. E acho que talvez eu estivesse precisando daquilo sem nem saber.
Por um tempo, apenas chorei no ombro dele e Sugawara passou a mão de leve pelo meu cabelo. Meu Deus, me sinto patético e, ao mesmo tempo, é meio que um alívio poder colocar isso pra fora.
-Desculpa.- murmurei me afastando dele e limpando meu rosto. -Sério mesmo, não queria que me visse assim.
-Tá tudo bem, Asuna.- ele disse e franziu o cenho. -Alguém te falou alguma coisa? Alguém fez alguma coisa com você?
-Não...- eu disse com um suspiro e coloquei o rosto entre as mãos. -É que às vezes cansa fingir que tá tudo bem, mesmo quando não está.
Por um tempo, ele ficou em silêncio, e eu até cheguei a pensar que talvez ele tivesse ido embora. Mas ele continuou ali, me olhando, como se estivesse escolhendo as palavras certas pra usar.
-Acho que cada um lida com a dor de formas diferentes. - ele disse. -O importante é você saber seus limites e... Colocar tudo pra fora quando for preciso.
Pisquei os olhos. Principalmente ficando surpresa por ter me sentindo melhor com essas palavras dele.
-Obrigada.- disse baixinho e ele apenas sorriu. Suspirei. Por um tempo, ficamos em silêncio, Sugawara parecia estar esperando eu me acalmar pra falar alguma coisa a mais, mas... -Eu não fui muito sincera com você no outro dia.
Sugawara apenas franziu o cenho pra mim, esperando que eu continuasse a falar.
-Sobre Nekoma. Eu... Conheço o clube de vôlei. - falei com um suspiro e esfreguei a bochecha. -Desculpa. É que eu... Não queria lembrar sobre isso naquela hora.
-Ei, você não deve nenhuma explicação pra mim, Asuna.- ele garantiu e eu assenti.
-Eu sei, eu só... É que não falo disso com ninguém. Quer dizer, nem Yeji sabe.- falei meio sem graça e Sugawara pareceu surpreso por eu estar falando algo pra ele que não contei nem pra Yeji. Mas eu precisava falar com alguém. Na verdade, acho que precisava do conselho de alguém. -Quando falei pra vocês darem um chute no capitão do Nekoma, não é porque eu odeio ele, mas sim porque ele é meu melhor amigo.
Sugawara não disse nada, apenas piscou os olhos, sua única demonstração de surpresa. Não esperei ele falar nada antes de continuar.
-Eu não respondo as mensagens dele desde que vim pra cá. Nem li, na verdade. Eu fiz merda, Sugawara. Minha carreira e reputação já eram. E não sei se consigo enfrentar as consequências disso. Pelo menos, não acho que consigo ter meu amigo me odiando completamente. - falei com um suspiro. Sugawara apenas me olhou e olhou.
-Acho que se ele te odiasse, não ia continuar tentando falar com você, né?- ele falou e eu abri a boca, mas Sugawara continuou a falar. -Você tá tentando superar as coisas da forma errada. Tentar resolver tudo de uma vez não vai dar certo. Tem coisas que precisam de tempo pra melhorarem e... Bom, você meio que tá...
-Metendo os pés pelas mãos?- falei arqueando a sobrancelha e ele riu.
-Sim. E você não precisa fingir o tempo todo que está tudo bem quando não estiver, Asuna. Pode ter certeza que vão ter pessoas pra te apoiarem.- ele disse sorrindo e eu pisquei os olhos de novo pra afastar as lágrimas. Sugawara segurou minha mão com calma e apertou de leve, me olhando nos olhos antes de sorrir. -Leia os e-mails, Asuna.
-Acho que não consigo fazer isso. - eu murmurei.
-Bom...- ele falou, se levantando e eu fiz o mesmo. -A gente vai jogar contra Nekoma no fim da Golden Week. A gente pode dar um jeito de você e Yeji irem com a gente e...
-Sugawara, tá doido?- eu quase dei um gritinho. -Se eles me verem, vão me esfolar!
-Você nem sabe disso! E vai me dizer que você não quer ver eles?- Sugawara disse arqueando a sobrancelha. Eu suspirei.
O pior é que, sim. Eu realmente queria ir nesse jogo. Mesmo sabendo que tudo podia dar terrivelmente errado.
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