Me pergunto porque parece que esse tipo de merda só acontece comigo. Quer dizer, primeiro dia que volto para Tokyo e já acontece isso. Só pode ser algum tipo de piada com minha cara! Sim, acredito que Taketora não tenha falado para Rin por maldade, a maldade foi dela de aparecer aqui, tentar me fazer de trouxa mais uma vez. Esse deveria ser um dia bom, um dia legal, mas claro que Rin tinha que aparecer aqui pra estragar a porra da minha vida mais uma vez. Minha vontade era de chorar; era como se tivesse algo preso na minha garganta, e eu não conseguia fazer nada que não olhar Yeji a beira de bater em Rin, Kuroo perdendo a paciência e Kenma cogitando a ideia de atirar o celular na testa dela.

-Que porra é essa?- a voz de Tanaka foi o que me trouxe de volta a realidade daquela situação toda. Aquela simples frase fez todo mundo olhar para ele, que estava claramente perdido e esperando uma explicação do porquê três pessoas pareciam prestes a bater em uma garota que ele nunca tinha visto antes.

-Asuna, para com isso, vai. - Rin disse, dando um passo na minha direção, ignorando o como meus amigos parecerem prestes a chutar ela do alto de um prédio. Ela apenas fixou os olhos verdes nos meus. -Vamos conversar. Fala alguma coisa, Asuna!

Yeji abriu a boca para falar, mas quem acabou falando fui eu.

-O que você quer que eu fale? - eu queria gritar; queria gritar e queria chorar e queria sumir dali. -Agora você quer me escutar, é sério? É sério?

Rin ficou calada por um segundo, apenas me analisando. Por fim, ela suspirou, enfiando a mão no cabelo preto e o bagunçando, algo que fazia muito quando estava nervosa.

-Olha, a gente brigou. Foi só uma briga, isso não significa que nosso relacionamento acabou.- ela soltou. Por um instante, foi como se ninguém ao nosso redor respirasse, principalmente os meninos do Karasuno. Sugawara que o diga e... Caramba, Rin tinha mesmo que armar esse circo do caralho na frente dele?

-Você tá tirando com minha cara? - Kuroo soltou, parecendo bem perto de dar um chute nela. -Você esqueceu do que falou pra Asuna? É sério?

-Foi uma briga! Todo casal briga!- Rin disse irritada.

-Não foi uma briga, você disse com todas as letras que não queria afundar na merda junto com Asuna quando ela fez o que fez no show. - Kenma disse calmamente, mas não estava nem de perto calmo. -Todo mundo escutou isso. A escola inteira riu da Asuna. Você esqueceu disso também?

A boca dela tremeu de irritação, mas ela continuou me olhando.

-Eu falei merda, eu tava errada! Por favor, dá pra você me perdoar e voltar a ser a minha namorada? Por favor?- ela disse tentando se aproximar de mim, mas Yeji a impediu quando a derrubou no chão.

-Eu deveria te matar por uma merda dessas!- Yeji gritou. Acho que Yeji teria dado um soco em Rin se um garoto que parecia uma coruja não tivesse a puxado de cima da minha ex namorada.

E eu estava tremendo. De raiva, do como aquilo tudo fazia minha ansiedade piorar, de como eu estava a beira de surtar ali na frente de todo mundo.

Sugawara percebeu isso, porque se aproximou de mim, puxando minha mão. Eu não pensei muito antes de me virar na direção dele, agarrando sua camiseta e afundando o rosto no seu peito, respirando fundo várias vezes para tentar me acalmar enquanto ele passava a mão pelo meu cabelo.

-Você deveria ir embora, sabia?- Sugawara disse para Rin.

-Olha, eu nem te conheço, e nem quero. Então, não se mete, eu vim aqui pra resolver as coisas com minha namorada.- Rin disse. Me virei, com tanta raiva que poderia facilmente dar um murro nela.

-Ex namorada!- eu gritei. -Ex, porque você me chutou! Porque você gostava da imagem que tinha de mim, e não de mim! Então, vai embora, Rin, e nunca mais aparece na minha frente.

Rin ignorou completamente minhas palavras. Como sempre fazia, sempre ignorando quem eu era e o que eu sentia de verdade.

-Tudo bem, eu entendo que você está com raiva, mas já se passaram meses, Asuna, não acha que devemos superar isso já? Voltar a ser o que éramos?- ela disse.

-Vocês nunca mais vão voltar a ser o que eram, sabe porque? - Yeji disse e Rin a olhou com irritação. -Porque você fodeu com tu...

Yeji nem terminou de falar, porque Hinata já tava gritando.

-Porque a Asuna namora com o Sugawara!

Às vezes eu tenho muita vontade de chutar Hinata.

Rin apenas arqueou a sobrancelha para Hinata antes de se virar para mim. E me enxergar de verdade agora. Ela me olhou da cabeça aos pés antes de se virar para Sugawara. E ela riu. Bem na minha cara.

-Ai, Asuna, você só pode estar brincando comigo. Agora você resolveu que é hétero?- ela zombou e dessa vez quem atirou uma bola nela foi Yaku.

-Vai embora, Rin!- ele gritou de longe e ela chiou com irritação.

Me afastei de Sugawara, me aproximando de Rin e agarrando ela pela camiseta.

-O que foi que você disse?- eu falei, a voz rasgando minha garganta. Ela arqueou a sobrancelha pra mim.

-Gatinha, você nem sabe o que quer. - ela suspirou.

-Não ignore metade do que eu sou só porque você quer me rotular. - rosnei, largando ela e me afastando.

-Você é uma escrota.- Yeji disse fervilhando de raiva.

-É, é, você já disse isso, Jinx, e ninguém liga pra sua opinião. Se isso fosse verdade, então porque Asuna fez uma música pra mim?

-Porque fui burra nesse nível por sua causa, mas quer saber, Rin? Gostar de você foi o maior erro da minha humilde existência, e se eu pudesse apagar você e essa música maldita da existência, já tinha feito. Você não tem o menor direito de aparecer aqui e agir como se eu fosse maluca e estivesse de birra. Na frente dos meus amigos, porra! Você terminou comigo. Então aceita que eu quero mais é que você se exploda.- eu disse e Rin riu, arqueando a sobrancelha.

-É mesmo? Eu duvido que você não goste mais de mim. - Rin disse e se virou para Sugawara. -Você acha que vai aguentar, hein? Os humores dela, o como Asuna é emocionada demais, grudenta demais, animadinha demais? Acha que vai suportar ela quando estiver de mau humor e ela ficar enchendo seu saco até você não aguentar mais? Acha que vai suportar as crises de identidade dela? Ou as de ansiedade, onde vai ter que passar a porra do dia inteiro tentando acalmar os surtos de celebridade dela? Ou aguentar toda vez que ela quer criar a porra de uma música nova mas ninguém aguenta mais essa porra de carreira afundada dela ou essa voz que nem é tão boa assim?

Ouvir isso foi como levar um chute bem no meio do estômago. Pisquei os olhos. Eu... Nem tinha me dado conta que eu era assim...

A porra de um peso.

Mas é isso que eu era, não é? Porque eu nunca deixava meus amigos em paz quando eles estavam tristes, insistia em tentar animar e...

Eu era insuportável.

-Falou a garota que não sabe matemática básica. - Kenma soltou e Rin rosnou pra ele. -Você é ridícula, sabia? Se está com ciúmes, o problema é todo seu. Se acha que vai conseguir humilhar Asuna na frente das pessoas que amam ela, está enganada.

-A única trouxa aqui passando vergonha é você. - Kuroo disse, dando um passo na direção dela e agarrando o braço de Rin. -E agora, você vai embora, ou a gente vai te arrastar.

Pisquei os olhos com ainda mais força. Não conseguia nem falar, não conseguia respirar, não conseguia...

Animada demais.

Feliz demais.

Não sabe cantar.

Não serve nem pra compor uma música que presta.

Apaixonada demais.

Fácil demais.

-Acho que tenho que te agradecer, sabe? - Sugawara disse, fazendo Rin o encarar. Ele sorriu para ela. -Por ter sido burra o suficiente de terminar com a Asuna. Mas fica tranquila, porque eu vou aguentar os humores dela, vou aguentar ela enchendo meu saco, vou aguentar ouvir ela cantar, vou aguentar ouvir ela falar, o que seja. Porque a diferença entre eu e você é que eu não sou estúpido, e eu sei exatamente quem a Asuna é. E se você fosse um pouquinho mais inteligente, ia saber que Asuna é a melhor pessoa pra se ter por perto.

Rin fez a maior cara de cú pra Sugawara antes de me olhar feio, dar as costas, e ir embora, batendo os pés com força.

Ainda assim...

-Asuna...- alguém me chamou, mas não prestei atenção.

Inútil, inútil, inútil.

Ninguém vai amar a Asuna. As pessoas vão amar apenas a Lucky.

-Porque vocês tão fazendo reunião aqui fora? Todo mundo pra dentro, agora!- alguém estava gritando com eles, mas não prestei atenção para ver quem era. Apenas aproveitei que eles desviaram a atenção de mim por um instante. E fui procurar um lugar para me enfiar.

Você não é quem eu achei que era, Asuna. Não quero mais nada com você.

Ah, então você é não é a Lucky de verdade, né? Fora do palco você é tão sem graça.

Me encostei contra uma parede e fechei os olhos com força. E ali, sozinha, sem ninguém pra me julgar ou sentir pena de mim, eu chorei.