Tudo o que eu mais queria era ir embora depois da vergonha que Rin me fez passar na frente dos meus amigos. Não sei nem como ia conseguir encarar eles de novo depois de toda aquela maldita humilhação. Mas pelo jeito, não conseguiria isso tão cedo já que Yeji tinha ido conversar com Takeda-sensei e nós voltaríamos no ônibus com eles ao invés de voltar com a tia dela. O que só me fazia querer me encolher e desaparecer mais ainda.

Sim, desapareci de novo no momento em que Yeji se distraiu, mas dessa vez porque estava com vergonha demais para encarar todos aqueles garotos que tinham presenciado o show de Rin. Suspirei, apoiando os cotovelos na minha coxa e o rosto nas mãos. Que droga, queria desaparecer dali. Queria desaparecer e esquecer tudo isso, o como ela mudava de opinião e sentimentos tão rápido quando não tinha o que queria. Me sentia uma trouxa por um dia ter gostado dela.

Tomei um susto quando Kenma se sentou do meu lado, fixando aqueles olhos de gato em mim. Torci o nariz para ele e Kenma continuou me olhando, esperando que eu começasse a falar. Mas eu não sabia, exatamente, o que falar. Nem se queria.

-Rin sempre foi problemática. - Kenma murmurou do meu lado. -Quem deveria estar com vergonha agora é ela, não você.

-Ela me humilhou na frente de todos os meus amigos e na frente de pessoas que eu não conheço. Me sinto um nada agora. - eu disse, piscando os olhos com força. Kenma me empurrou, o que me fez olhar ele com indignação.

-Ela que saiu como a humilhada da história. Todo mundo sabe que o que ela disse não é verdade, e se quer saber, todo mundo tá preocupado com você. Enquanto os outros... Sinceramente, já esqueceram isso depois de passar a tarde inteira jogando. - Kenma disse arqueando a sobrancelha.

-Kenma.- falei e ele me olhou, esperando. Abri um sorriso para ele. -Isso foi a coisa mais longa que você já disse na sua vida!

Ele me olhou daquele jeito inexpressivo, mas sabia que queria mesmo era me dar um chute, por isso eu dei risada e o abracei com força.

-Obrigada. - murmurei antes de me afastar. Sorri de novo pra ele. -Não achei que fosse te ver puto da vida como ficou hoje.

-Não fiquei puto.- ele disse e eu ri.

-Ficou sim.

-Não fiquei.

-Ficou.

-Não fiquei.- ele disse e eu semicerrei os olhos para ele. Teimoso que nem uma porta, que que custa admitir, hein?

Percebi que meu esconderijo foi uma bela de uma merda quando vi o restante dos garotos de Nekoma se aproximando, até mesmo aquele tal de Lev. Kenma fez a tipica cara de "puta que pariu". Só duas pessoas no mundo sabiam diferenciar as expressões de Kenma, e essas pessoas eram Kuroo e eu.

-Asuna, desculpa, eu juro que... - Tora começou, mas fiz sinal de tanto faz.

-Não é sua culpa, é culpa dela. - eu suspirei. Tora estava prestes a dizer mais alguma coisa, mas todas as atenções foram para Yaku xingando e dando um chute naquele mesmo garoto de antes, o Lev. Começei a rir. -Yaku, você só tem cara de anjo, né? Porque tá agredindo o garoto?

-Porque ele é sem noção!- Yaku retrucou, o que fez Kuroo e Nobuyuki rirem.

-Todo mundo quer agredir o Lev. Fique cinco minutos com ele e você já vai descobrir isso. - Tora disse e Lev fez um som de indignação.

-Isso é pura inveja porque vou ser o ace de Nekoma!- ele disse confiante. Kenma riu. Ele riu da cara de Lev, o que só fez o coitado murchar. -Kenma-san, você riu de mim?

-É vergonha alheia.- Kuroo disse com uma risada e Lev pareceu bem perto de desmaiar. -Além de tudo, ele é seu fã, Asuna, o fundo do poço.

-Eu te odeio tanto, Kuroo, sabia?- falei esticando a perna pra chutar ele, mas Kuroo desviou e riu. Me virei para Lev, que me olhava como se tivesse acabado de ganhar um milhão de dólares. Arqueei a sobrancelha, sorrindo com divertimento. -Fã, é?

Ele assentiu frequentemente e Yaku começou a zombar dele, mas Lev estava mais ocupado me olhando com expectativa. Eu conhecia esse tipo de olhar.

-Eu tô com cara de choro, mas se você quiser, a gente pode...- comecei, mas nem terminei de falar antes dele estar do meu lado com o celular na mão, o que me fez rir antes de tirar uma foto com esse surtado.

-Eu não sabia que você tinha estudado em Nekoma, isso é demais!- ele disse de forma animada. -Kenma-san, você é melhor amigo de uma celebridade!

-Não sou não. - Kenma resmungou e eu empurrei ele. Kuroo riu.

-Ele tá assim só porque nunca escrevi música pra ele.- zombei. Kenma ignorou.

-Escreveu sim.- Kuroo disse e eu me virei, franzindo o cenho. -Aquela coisa horrorosa que você inventou quando tinhamos oito anos.

Torci o nariz.

-Me erra, vai!- falei me levantando pra dar um tapa nele, mas Kuroo me segurou e me abraçou com força, o que me fez rir e tentar me afastar.

Foi bom ficar ali conversando com eles. Eu realmente tinha sentido falta desse bando de idiota e das caras que Kenma fazia perto deles. Sem contar que também me fez esquecer, por um tempo, tudo o que tinha acontecido.

Quando foi começando a anoitecer, todo mundo se juntou para se despedir e ir embora. Fiz isso em tempo recorde só pra me enfiar de uma vez por todas dentro do ônibus antes de ter que encarar os meninos. Que ódio.

Enfiei o capuz da minha blusa na cabeça para esconder meu rosto e deitei a cabeça contra o vidro, dando um suspiro. Depois desse dia catastrófico, tudo o que eu queria era me enfiar na cama e fingir que não existo.

Porém acho que nada ia ser tão simples assim, percebi isso quando Sugawara sentou do meu lado e segurou minha mão. Só isso já me dava uma imensa vontade de chorar.

-Você não precisa falar nada se não quiser, mas vou continuar do seu lado.- ele disse, se inclinando e beijando minha bochecha. Pisquei os olhos com força e me virei na direção dele, não pensando muito antes de passar os braços ao redor da cintura dele e o abraçar com força.

Sugawara não disse nada, apenas tirou lentamente o meu capuz e levou a mão até meu cabelo, acariciando com calma. Eu suspirei e fechei os olhos. Não disse nada, e sabia que não precisava. E continuei assim, em silêncio, abraçando Sugawara, o caminho todo.