⋆ཻུ✧ THIRTY EIGHT་༘࿐
-Você tem certeza disso?- Kuroo perguntou pelo que pareceu ser a décima vez. Eu apenas funguei, abrindo o guarda roupa e pegando algumas camisetas que joguei dentro da mochila antes de fechar ela. Tudo bem, o que mais eu precisava? Será que não estava esquecendo de mais nada? -Asuna, já tá ficando de noite. Amanhã tem aula.
-Não me importo. - eu disse, esfregando meu rosto. -Só que eu não... Não posso mais ficar aqui. Quero ir embora.
-Pra casa?- ele perguntou, confuso. Eu balancei a cabeça em negação, mesmo sabendo que ele não iria ver.
-Nem sei mais onde é minha casa.- falei baixinho.
-Só porque brigou com Yeji? Não acha que tá se precipitando?- ele disse e eu sentei na cama, passando a mão pelo cabelo.
-Não, Kuroo! Não é só porque briguei com Yeji, é porque ela parece que não me conhece, e chega uma hora que isso cansa.- eu falei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. -É sempre eu, eu, eu! Durante todo esse tempo, mantive minha calma porque ela precisava da merda do meu apoio, mas eu não tenho o direito de me afundar e ficar triste que Yeji já surta comigo. Eu também tenho a merda de sentimentos, caralho! Eu também tô cansada. Entendo que ela esteja passando por um monte de merda, mas eu também tô! Porque as minhas crises de ansiedade não significam nada? Porque eu não significo nada? É como se eu fosse só uma grande idiota, todo mundo me trata como se eu fosse burra e não entendesse nada sobre nada! E eu tô cansada disso, cansada de...
Soltei um soluço, esfregando meus olhos com força. Sentia como se ninguém entendesse direito o como eu estava me sentindo mal por tudo o que Rin jogou na minha cara. Por tudo o que aconteceu com Lucky. Por tudo o que aconteceu comigo.
Tentei ser uma boa amiga, mas aparentemente eu não sirvo para nada. E eu tô tão, tão cansada de ser a Asuna boazinha e legal.
Puxei o caderno onde tinha anotado todas as novas músicas que escrevi e, lentamente, comecei a rasgar página por página. Eu não ia precisar mais disso; eu cansei da música.
Eu cansei de cantar.
Eu cansei de compor.
Eu cansei de tudo.
Eu desisto.
-Asuna, você sabe que isso não é verdade. - ele disse com um suspiro. -Você não é nada disso. E, se você vier mesmo pra Tokyo, sabe que vou te buscar onde quer que seja.
-Eu só... Eu falo com você depois, Kuroo. - murmurei antes de desligar e atirar o celular longe, me focando em terminar de picar todo aquele papel e jogar na latinha de lixo do lado da cama. Chega. Chega disso, chega de tudo.
Tremendo, eu analisei os remédios que tinha que tomar todos os dias para manter a ansiedade controlada. Ninguém além de meus pais sabia que eu tinha que tomar isso. E quer saber? Que se dane. Atirei os remédios no lixo também.
Terminei de colocar meu tênis, agarrei uma jaqueta e coloquei a mochila nas costas antes de pular a janela. Esse era o lado bom de dormir no andar de baixo: mais fácil de escapar.
Pisquei os olhos para tentar afastar as lágrimas que surgiram nos meus olhos enquanto caminhava meio sem rumo. Tinha acabado de anoitecer. Eu só precisava dar um jeito de chegar até a estação e lá eu decidiria o que fazer da minha vida.
Esse é o problema com as pessoas felizes; quando você fica triste de verdade, o mundo não te dá o direito de sentir sua dor. Você é sempre tão feliz! Tá sofrendo porque? Ah, é tudo drama, deixa disso, vai! Tava cansada de escutar coisas do tipo.
Tava cansada de meus sentimentos não importarem de nada.
Tava cansada de não ter o direito de me sentir pra baixo pelo menos uma vez na porra da vida.
Solucei, levando as mãos até meu rosto para limpar as lágrimas. Odiava tanto, tanto isso tudo e...
-Ei, cuidado!- eu conhecia aquela voz que estava gritando, e só tive tempo de desviar quando Hinata passou como um raio com a bicicleta, quase me atropelando. -Desculpa!
Eu olhei para ele e ele me encarou por um tempo antes de se dar conta que era eu.
-Asuna!- ele gritou de forma animada. -Uou! Seu cabelo tá diferente! Espera, você tá chorando?
Isso foi o suficiente para me fazer chorar ainda mais, e Hinata pareceu meio perdido por um segundo. Ele saiu da bicicleta e veio me abraçar e eu o apertei com força contra mim.
Por um tempo, não dissemos nada. Nem mesmo Hinata tentou melhorar a situação, como se soubesse que eu apenas precisava colocar tudo pra fora.
-Desculpa, Hinata.- eu disse, me afastando dele e limpando meu rosto. -Não queria que me visse assim.
-Tudo bem... Onde você tá indo? Posso ir junto? Quer companhia?- ele disse e o jeito dele falar me fez sorrir de leve.
-Eu não sei...- murmurei. -Não sei pra onde ir.
Hinata pareceu entender a situação. Ele voltou para bicicleta e acenou para que eu me aproximasse dele.
-Sobe aí. - ele disse e eu arqueei a sobrancelha.
Não questionei; apenas fiz o que ele falou.
A mãe de Hinata foi muito legal de me deixar ficar na casa deles aquela noite. Era uma senhora muito gentil, e a irmãzinha dele era muito fofa. Fiquei brincando com ela de casinha até Hinata mandar ela parar de roubar a amiga dele, o que me fez rir um pouco.
Depois do jantar, Hinata me fez dormir na cama dele enquanto ele dormia no colchão, mesmo eu dizendo que não precisava, que eu dormiria muito de boa no colchão. Mas eu sabia que quando ele enfiava algo na cabeça, ninguém tirava, então apenas aceitei.
Não consegui dormir aquela noite; sabia que tudo estava uma merda, e solucei baixinho para não acordar Hinata. Ele teve um dia puxado de treino, não precisava perder um sono precioso por minha causa e por causa dos meus problemas.
Apenas peguei meu celular e mandei uma única mensagem para Sugawara antes de desligar o aparelho.
Sinto muito por não ser quem você achou que eu era.
E foi isso.
Na manhã seguinte, quando Hinata fosse pra escola, eu voltaria para Tokyo. Porque, sendo sincera, se haters quiserem me matar depois de tudo... Talvez eu nem ligasse, afinal.
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