Pisquei os olhos, eu me sentia nervosa, mas tinha exatamente um motivo para estar nervosa. Era só chegar e entregar a sacola com a jaqueta, não era como se Daichi fosse um monstro de sete cabeças, na verdade, acho que ele poderia muito bem ser um com os garotos do vôlei, e eu estou começando a fugir do assunto principal agora! 

Mordi os lábios, lançando um olhar para a janela mais próxima, podia ver Hinata brincando com a bola. Meu Deus, esse garoto não parecia viver sem tá perto de alguma ligada ao vôlei. Fiz careta para o garoto, sabendo que ele com certeza não ia me ver mas a forma que o vi parar o que estava fazendo e olhar ao redor como se estivesse procurando por algo me faz pensar que Hinata é uma laranjinha saltitante e sensitiva.

Um pouco hesitante, voltei a olhar para frente. Fiquei muito tentada a voltar pra minha sala mas Asahi ia encher meu saco por ter saído para entregar a jaqueta de Daichi e simplesmente voltar da mesma forma que fui, com a jaqueta.
Mas, por outro lado, Daichi tava falando com uma garota e parecia tá flertando com ela. Eu não podia chegar e atrapalhar eles.

Encolhi os ombros, apertando ainda mais a sacola contra meu peito. Eu deveria ter entregado aquela porcaria ontem, mas tinha que esquecer aquela merda e passar um dia fugindo do Daichi, só para não ter que explicar que ele ia passar mais um dia sem a jaqueta dele porque a idiota aqui é muito esquecida.

Pisquei os olhos, assustada com o som que soou pelo corredor. É impressão minha ou aquela garota acabou de dá um socão no Daichi.

Tudo bem, acho que posso me esconder na sala do Kageyama, como fiz ontem! Me virei, começando a andar pelo corredor, do jeito mais apressado que conseguia. Só esperava que o Kageyama não tivesse ido pegar o leite dele, ele costuma demorar uma década na frente daquela máquina. Chamam ele de gênio, mas mais idiota nunca conheci.

─ Yeji!─ Alguém gritou.

Franzi o cenho, me virando lentamente para trás e... Ah, ah, era o Daichi. Ele tava correndo na minha direção... Aí meu Deus, ele tava correndo na minha direção! Olhei ao redor, procurando um jeito de fugir, mas é tarde demais. Só um piscar de olhos e ele já estava na minha frente, as mãos nos joelhos e respirando um pouco ofegante.

Ele é um atleta, não deveria ficar assim só com uma corridinha. E se ele estiver doente? Eu me sentiria péssima por fazer alguém doente correr atrás mim... Meu Deus, é pior! Até onde sei, as competições estão muito perto, se o capitão ficar doente, vai acabar com o time! Hinata e Kageyama estão tão animados para jogar, seria uma droga se não passassem das primeiras partidas...

─ Ei!─ Ele exclamou, animado. Não demorou muito para se endireitar, colocando as mãos na cintura e sorrindo.─ Você corre muito rápido para quem é pequena.

Pisquei os olhos, abrindo a boca e erguendo levemente uma sobrancelha.

─ Como assim? Você só é um pouquinho mais alto do que eu, seu exibido!─ Falei, claramente revoltada. O sorriso de Daichi não desapareceu, na verdade apenas cresceu.

─ Fico feliz em saber que você está melhor.─ Ele falou, inclinando levemente a cabeça para o lado. Ah...

Encolhi os ombros, recuando um passo, abraçando ainda mais a sacola.

─ Sobre isso...─ Me forcei a sorrir.─ Eu já tô acostumada, então não é grande coisa mais.

Tudo bem, palavras erradas, notei isso pela forma que o rosto de Daichi se tornou em uma carranca, uma bem parecida com aquela que ele usava para reclamar com os garotos.

─ Não fale isso, não deveria se acostumar com esse tipo de coisa, o que fizeram com você foi algo terrível, aquelas pessoas deveriam estar na cadeia e não andando por aí, machucando pessoas boas como você.

Encolhi ainda meu corpo. Ele estava falando alto demais, estavam olhando para a gente e não paravam, eles julgavam e...

Empurrei a sacola contra o peito de Daichi, conseguindo fazer com que ele parasse. Respirei fundo, erguendo a cabeça e o fitando nos olhos.

─ Sua jaqueta, obrigada por ela.─ Ajustei minha coluna, piscando os olhos e fechando as mãos com tanta força que senti minhas unhas adentrarem na minha pele. Não me importei com a dor, estava acostumada com ela.

Em silêncio, Daichi pegou a sacola e analisou sua jaqueta. Seus olhos estavam suaves, até demais. Ele esboçou um sorriso adorável, esticando uma mão e apertando meu ombro com carinho.

─ Sei que não somos muito próximos, mas sempre vou estar aqui, então pode contar comigo, sempre!

Surpresa, eu apenas fiquei olhando, o olhando com a boca entreaberta, sem saber muito bem o que responder. Isso foi... Meio inesperado.

─ Hey! Hey! Hey! Como está a escola?

Franzi o cenho, erguendo levemente a cabeça para fitar os olhos de uma coloração dourado meio esquisita que não sabia muito bem decidir seu tom já que ficava transitando entre dourado-ouro e aquele dourado escuro.

─ Por que você tá falando que nem meu avô?

─ Que? Eu não posso tá preocupado com minha melhor amiga?─ Exclamou o garoto, escandaloso como sempre. Torci o nariz e considerei desligar a vídeo chamada com a desculpa que teria que dormir, mesmo só sendo sete da noite ainda.─ Só quero saber se meu bebê anti-social está sendo bem cuidado!

─ Você só quer saber se tenho amigos pra fazer aquele drama ridículo de tá sendo trocado!─ Apontei um dedo de forma acusatória na direção da tela do computador que exibia o garoto que tinha uma cara revoltada.

─ O quê? Não?─ Ele gritou.─ Hey! Você é tão má comigo! Como sou seu amigo, ein?

─ Foi você que ficou enchendo o saco para ser meu amigo, babaca!─ Retruquei. Ergui uma sobrancelha, cruzando os braços, o vendo abrir a boca e a fechar repetidas vezes, sem argumentos.

De forma lenta, abri um sorriso satisfatório. Era tão bom estar longe naqueles momentos que Bokuto costumava não saber o que falar então simplesmente me empurrava e passava uma hora sem falar comigo. Uma criança birrenta, não sei como ele se tornou o quinto ace no pódio.

Batidas na minha porta fez com que eu lançasse um olhar para o relógio. Ah, não...

─ Você vai ter que desligar, não é?─ Perguntou Bokuto quando viu meu rosto, sua voz quase fez que eu chorasse. Ia fazer mais ou menos um mês que a gente não se via, estava começando a ficar com muitas saudades do meu idiota favorito e seus dramas.

─ Amanhã no mesmo horário?─ Ele sorriu.

─ Pode apostar! Hey! Hey! Hey! Boa noite, Ye!─ Soltei uma risada por causa do apelido ridículo enquanto ele desligava a chamada. Não demorei para correr até a porta, abrindo-a com rapidez.

Asuna estava no outro lado e não me importei quando ela me puxou para perto, começando a me levar até o primeiro andar, reclamando sobre algo que não prestei atenção mas ainda assim, balancei a cabeça, concordando com tudo que ela dizia.

Às vezes, era bom estar rodeada por pessoas tão agitadas...