Chapter thirty three
O dia estava uma merda desde que colocamos os pés em Nortfolk. A pressão e responsabilidade do que teria que resolver caíram em peso sobre as minhas costas, nem mesmo dei muita atenção para o quão estranha a sem noção estava. Ao que parecia, nós dois tínhamos problemas para resolver.
Nick, Apolo e eu pegamos o carro que deixamos no estacionamento no dia que voamos para Rússia, seguindo direto para casa. Tomamos um banho rápido, e corremos para a delegacia.
Quando chegamos, estava tão focado no que precisava resolver, que não reparei no que estava bem na minha cara. E no meu ramo de trabalho, eu já tinha aprendido uma coisa: não existem coincidências.
O nome do meu escritório estava correndo o risco de ir para o quinto dos infernos, e agora eu tinha certeza que ela estava envolvida.
- Pode não ser o que você está pensando. – Nick argumentou no banco do passageiro.
Estava tão irritado, que peguei a direção por mim mesmo, e estava seguindo a rata traiçoeira que invadiu meu escritório e fez o que não deveria bem debaixo dos meus olhos.
- Sei que está com raiva... – Não, eu não estava com raiva. Era muito mais que isso.
Virei na avenida que ela entrou, fazendo uma curva desleixada e perigosa. Temia que uma nova crise me atingisse, porém apesar de sentir o sangue fervendo em minhas veias, o sentimento que transbordava no meu peito, em nada se parecia com os de TEI.
- Pelo menos escute o que ela tem para falar. – Nick declarou por fim, soltando uma longa exalação, desistindo dos argumentos que não me dei ao trabalho de ouvir.
Tínhamos acabado de sair da delegacia, e agora eu não só sabia que Charles estava retido, como também fora acusado de ser cúmplice nos crimes do desgraçado do James. Seria só questão de tempo para todos descobrirem.
- Não tem nada para escutar. – Afirmei, mal-humorado, percebendo que estávamos a poucas quadras do nosso destino.
A culpa certamente era minha. Nunca deveria ter me deixado distrair por suas artimanhas e levá-la para cama. Nunca deveria ter acreditado, que tudo que ela fez por mim quando estava passando por aquela crise, foi por compaixão. Cath era uma ótima atriz, e deveria ter percebido isso em todas as vezes que ela se disfarçava com tanta facilidade. Mas não, eu fui presunçoso. Fui arrogante. Acreditei que ela realmente poderia ter visto algo em mim. Acreditei que ela poderia sentir algo por mim...
Estacionei de modo desleixado na entrada do prédio, não me dando ao trabalho de esperar por Nick ou mesmo Apolo. O pequeno traidor peludo, certamente seguiria a maldita que tinha acabado de descer da moto a poucos passos de mim.
- Rápido. – Ordenei com uma rispidez exagerada, que mesmo com ela que me irrita constantemente, eu nunca tinha falado assim.
Cath me olhou fixamente, e diferente do que já tinha percebido, ela não ficou excitada dessa vez. Talvez não precisasse fingir mais.
Entramos no elevador em silêncio, e pelo desespero que vi em Nick ao nos perseguir para dentro junto com Apolo — que estava mais do que desconfiado —, tive certeza de que ele nem ao menos se preocupou em cuidar do carro, mesmo sabendo que a chave ainda estava na ignição.
- Desembucha. – Esbravejei assim que entramos na minha sala, me xingando e me sentindo culpado logo em seguida por parecer tão abusivo, contudo desde o princípio eu soube que ela não despertava o melhor de mim.
Sem noção como sempre foi, Cath desfilou com tranquilidade pelo meu escritório, mais uma vez se jogando no meu sofá.
- Não tenho nada para falar. – Rebateu com calma, mas conseguia ver, algo se movimentava dentro dela. Ou talvez estivesse errado, como estive em todo esse tempo.
- Não sou idiota, Cath, eu sei que foi você que causou tudo isso. – Ela abriu um sorrisinho arrogante e despreocupado, mas seus olhos pareciam gritar preocupação e uma ansiedade, que julgava nunca ter visto antes vindo dela.
Andei de um lado para o outro, inquieto, e decidi pegar uma garrafa de água no frigobar ao lado da minha mesa.
Era estranho a sensação que sentia, meu interior brigava dizendo que o que via em seus olhos era real, ou o mais próximo disso. No entanto, minha mente confrontava meu interior, dizendo que esse era o trabalho dela, enganar. Era isso que via nos papéis que ela representava. Então quem me garantia que estar no meu escritório não era só mais um papel? Não foi isso que ela deixou nas entrelinhas logo quando nos conhecemos e em todas as vezes que eu questionei sobre seus passeios no escritório?
Talvez a culpa fosse única e exclusivamente minha. Cath deixou claro o tempo todo que estava agindo debaixo dos tapetes.
- Você ao menos pensou na repercussão que isso teria para o escritório? Para o meu nome? O nome da minha família? De Nini? – Indaguei, e apesar da rispidez ainda se fazer presente acima do que é normal para mim, reconhecia que a culpa era minha em ter deixado que ela se aproximasse, mesmo quando meus instintos gritavam que era perigoso.
- Não sou culpada de nada do que está acontecendo, Andreeva. – Disse em um tom que nunca ouvi saindo dela, e foi impossível não perceber a fração de segundo que a decepção dançou em seus olhos. Mas era eu que deveria estar decepcionado, não era?
Tinha sido ela que havia destruído tudo, por mais que não tivéssemos nada além de sexo. Mas o sexo era bom... na verdade, era ótimo. Poderíamos facilmente manter, como mantive a parceria com Maia durante tantos anos. Cath certamente era tão ou mais profissional que ela.
- Não venha me dizer que não foi você a responsável pela prisão de James, da esposa dele, e de um dos meus advogados? – Contrapus com deboche, erguendo uma das sobrancelhas em sua direção, e a infeliz gargalhou com minha indagação, se reposicionando no sofá.
Sua postura de repente ficou firme como poucas vezes presenciei, seu olhar ficou cada vez mais distante, e o tom de voz... esse... quando saiu foi a prova de tudo.
- Não fui eu quem acobertou um estuprador, Luca. Assim, como não fui eu quem molestou criancinhas, ou assistiu ao marido fazendo tais atrocidades, enquanto me masturbava para deixá-lo mais excitado.
Poderia jurar que tinha visto uma lágrima nascer em seus olhos, mas se nascera, ela morreu antes mesmo de desabar.
Eu a fitei, agora estava de pé à minha frente, com a postura impositiva, exalando a dominância natural que imaginava ser de uma General, olhando-me fixamente. Era tanta coisa dita e ao mesmo tempo não dita ali, que uma pergunta sobressaltou em meus pensamentos e nas sensações conturbadas que sentia.
Cada acusação veio com propriedade demais. Certeza demais. Dece... decepção demais.
- Não me diga que ele... que ele abu... que ele encostou a mão na sua garota. Em Mia. – Perguntei incerto, gaguejando e vacilando nas palavras, com medo da resposta, porque eu sabia o que faria se fosse algo com Nina. Prisão não seria uma opção.
Cath soltou outra gargalhada, porém essa mais maléfica. Mais diabólica. Seus lábios se contorciam em uma promessa silenciosa. Seus olhos... por Deus... Seus olhos eram o que eu imaginava olhar para a morte. A pura e extremamente dolorosa morte.
- Ele não estaria na cadeia se tivesse encostado a mão nela. – Deu alguns passos em direção a porta após declarar o que eu já imaginava, e se virou para mim novamente. – Não se eu repetisse o mesmo que fiz com os outros que ousaram tentar.
Tinha minhas dúvidas se ela percebia que praticamente estava confessando um crime – ainda mais o que parecia ser um crime de guerra – para mim.
- Nada vai acontecer com seu escritório ou seu nome – seu tom não era bom. –, ou você não se perguntou o porquê dessa divulgação ainda não ter ido parar no jornal? – Sorriu com sarcasmo. – ou mesmo porquê a S.W.A.T não invadiu seu escritório e revirou tudo?
Eu tinha me perguntado. Para ser sincero, estava esperando que acontecesse a qualquer momento, e acho que tinha acabado de dizer isso para ela, mesmo sem dizer uma única palavra. Não seria a primeira vez que ela me lia assim.
- Eles não vão vir. – Garantiu. – Ninguém virá. – Se certificou de dizer as palavras certas. – Posso ser uma vadia traiçoeira, como sei que você imaginou... – Eu não tinha usado essa junção de palavras nos meus pensamentos, mas não poderia negar que pensei isso. – Mas nunca faria algo assim com Nina.
O nome de Nini ecoou friamente em meus pensamentos.
- No entanto, isso não a impediu, não foi?
Sei que ela acreditava estar me dando uma cortesia, mas cazzo... tinha tanta coisa que ela poderia ter feito diferente... e ela certamente não precisava ter envolvido a merda do meu escritório para conseguir. Além de que agora eu não acreditava em porcaria alguma que ela pudesse dizer. Nada me garantia com certeza de que a qualquer momento não pudessem invadir meu escritório. Não se ela dizia amar Nina, mas mesmo assim fazia algo desse nível.
Bufei de raiva, e não liguei quando ela saiu da minha sala de uma forma que duvidei se voltaria outra vez mesmo ainda tendo um trabalho em andamento juntos.
- Não deveria deixá-la ir assim, não é isso que você pensa sobre ela. – Estreitei os olhos na direção de Nick, encarando-o com escárnio. – Não pode ser...
Ignorei o que ele pretendia dizer, caminhando em direção a porta. Era exatamente isso que eu pensava e sentia. Cath tinha me traído. Me traiu bem debaixo dos meus olhos, e dos meus lençóis. Não acreditei que tivesse outra expressão melhor para defini-la, vadia traiçoeira estava ótimo.
Nick e Apolo me seguiram, porém o cachorro não fez questão alguma de andar perto de mim como costumava fazer quando a sem noção não estava por perto. Ele estava dividido, e mesmo sendo um animal, conseguia perceber a dúvida pairando sobre seus instintos. Apolo estava desconfiado, e ele tinha toda razão de ficar. Cath não era o que tinha mostrado para nós, no entanto eu também não era o cara que disse que o protegeria. Eu falhei nisso.
- Luca, você não pode estar falando sério. – Nick tentou mais uma vez, assim que nos direcionamos para o carro, e já estávamos mais afastados dos demais que transitavam por ali.
Muitos funcionários me olhavam com desconfiança, outros com preocupação, e outros como Scarlet que era mais próxima e me conhecia mais, não passou despercebido o olhar de incredulidade.
Não era só Apolo que estava desconfiado e não sabia ao certo em quem confiar, graças a infeliz da Cath, agora meus próprios funcionários desconfiavam de mim, do meu caráter, e da minha capacidade em liberá-los.
Não importava se a acusação e as suspeitas fossem feitas ou não diretamente na mídia, em algum momento meus clientes mais fortes entrariam em contato para saber nossa posição e determinar se vão continuar conosco. E aqueles clientes que não são tão leais assim, provavelmente nesse momento, já estão rastejando até a concorrente e pedindo refúgio.
Estava irado, e cada vez que me deixava pensar sobre o assunto, me sentia mais traído ainda. Cath poderia acreditar que estava nos ajudando ao não deixar a mídia ou os policiais se aproximarem – seja lá como ela tenha conseguido isso, talvez, e meu cérebro prefere não acreditar nisso, não tenha sido o único com quem ela tenha ido para cama para distrair – mas ela não era burra ao ponto de acreditar que os clientes não se rebelariam.
As acusações não eram simples, e qualquer menção de estar envolvido com elas, não era nada bom. Além de que passamos anos com o desgraçado do James como cliente, não seria fácil convencer de que não tínhamos conhecimento de suas ações. E seria menos fácil ainda, quando descobrissem a prisão do filho da puta do Charles. Estávamos atolados até o pescoço nessa merda. E tudo graças a ela.
- Apenas dirija Nick, e faça o seu trabalho. Não é como se você tivesse feito algo até agora.
Sim, eu fui arrogante, prepotente, grosso, mas eu estava com raiva. E em parte, mesmo não o culpado por cair nessa armadilha, ainda me sentia satisfeito de descontar um pouco do meu mau humor nele. Afinal, ele estava ali para me proteger. Para me livrar de problemas. Mas o que ele fez? Nada. Absolutamente e indubitavelmente nada.
Mesmo falando que a sem noção e eu juntos não era uma boa ideia, ninguém deu ouvidos. Acredito que ninguém esperava que daria no que deu também, mas não importa, esse era um dos trabalhos dele. Porém outra vez Nick não fez nada. Quase fui hipnotizado por uma desgraçada egocêntrica que só pensava em se mostrar como terapeuta, e por um momento ele também não fez nada. Só o fez quando Cath disse para fazê-lo. Nick também era um traidor, e me perguntava se ele também estaria nessa junto com a infeliz com aquele pescocinho que hoje mais do que qualquer outro dia, eu queria apertar com violência. Queria puxar aqueles cabelos, e me afundar com tanta força, que a assadura que ela teve depois dos dias seguidos que passamos transando, não seriam nada.
Estava furioso, mas ainda assim estava de pênis duro, querendo comê-la como nunca. Certamente a maior traição de todas, foi me fazer sentir confortável com ela, quando nunca me senti confortável com ninguém.
- Me desculpa, senhor.
Olhei para Nick por um instante, e ele não estava debochando como eu esperava e sempre fazia. Ele estava realmente chateado, contudo, não poderia dizer que estava arrependido. Porque eu certamente não estava. Não enquanto ainda estou com tanta raiva.
- Vou procurar alguém para me substituir.
Conseguia sentir a mágoa em sua voz, porém não poderia discordar. Talvez essa fosse a melhor opção. Nick e eu não estávamos dando certo já tinha um tempo. E com a chegada de Cath, tudo só ganhou uma proporção maior de desequilíbrio e distância.
Eu não conseguia mais confiar nele. E sempre que ela estava por perto, tudo que conseguia imaginar, era que ele seguiria as ordens que ela desse e não as minhas. Só conseguia me lembrar que ele obedeceu ao que ela mandou, e me deixou viver com o peso de tê-la agredido.
Ele poderia não ter condições físicas ou estratégicas de enfrentar a sem noção, mas eu esperava... iludidamente acreditava... que ele conhecendo a minha história, ficaria do meu lado... mas não foi assim que aconteceu.
- Agradeço por isso.
Nick suspirou de modo pesado, no entanto eu não recuaria agora. Mesmo com a raiva, ainda me matava estar fazendo isso com ele. Porém, essa era apenas uma resposta ao que ele tinha feito antes. As escolhas que ele fizera.
- E de preferência, não seja alguém que esteja sob a influência daquela mulher.
Acabei dizendo as palavras com nojo, e foi mais do que perceptível a careta que Nick fez. Ele claramente se sentia ofendido com minha acusação, mas nem ele, nem ninguém poderiam dizer que era falsa.
- Você ficaria surpreso com o alcance e a influência que ela tem. – Contrapôs com amargura, mas sabia que era destinado a sem noção. Mesmo diante do que acontecia, ele ainda estava do lado dela.
- Não. Eu não ficaria. Sei exatamente o alcance que ela tem.
Não queria que minha voz saísse com a decepção de uma mulher traída, contudo fora exatamente o que aconteceu e era exatamente o que eu pensava. Se Cath conseguiu me alcançar, mesmo com todas as barreiras que estabeleci, não duvidava que conseguisse alcançar qualquer outro. Ela era boa no que fazia, isso eu ainda tinha certeza sobre ela.
- Não percebi que as coisas estavam nesse nível...
- Você não percebeu muitas coisas.
O interrompi, e ele desviou os olhos da estrada por alguns segundos, me analisando sem nem ao menos tentar disfarçar. Mas era verdade, ele parecia ter ignorado muitas coisas sobre mim. Principalmente o quanto era difícil para mim lidar com o fato de ter ferido minha mãe em um dos meus momentos de crise na infância.
Nós ainda não nos conhecíamos na época, mas contei para ele tudo exatamente como tinha me sentido. Contudo, acho que não coloquei intensidade ou terror o suficiente ao ponto de fazê-lo querer lembrar. No entanto, para mim, tinha sido realmente aterrorizante.
- Mas não se preocupe, não estávamos apaixonados. – Declarei com sinceridade, olhando para a quantidade de carros ao redor. Ainda estávamos longe de chegar em casa. – Só tinha me acostumado a ideia de poder confiar em alguém e não precisar de ter tanto medo do que poderia fazer com ela.
Isso era em partes verdade. Realmente não tinha me apaixonado, verdadeiramente apenas tinha me acostumado e gostado da ideia de poder ter alguém ao meu lado sem tantas reservas como tinha Maia. Porém a parte do medo...ah, essa ainda me corroía. Porque eu sabia que ela não me deixaria machucá-la muito, mas também tinha convicção de que ela não me imobilizaria logo de cara, sem me dar uma chance de voltar a mim mesmo sem que fosse necessária uma intervenção mais agressiva. De algum modo, meus instintos me asseguravam que essa parte da história era verdade. Mas talvez fosse apenas outra pegadinha da minha vida. Certamente não tinha muitas certezas agora... e odiava o fato de ter mais uma coisa fora do meu controle.
Nota do Autor
E aí bebês, o que acharam do capítulo?
Sentiram a dor do Luca, ou acharam que ele está fazendo drama?
O que fariam se estivessem no lugar dele?
Também acreditam que Cath deveria ter conversado com a Docinho antes?
Ou vocês acreditam que se ela tivesse contado, poderia ter levantado alguma suspeita?
Me conte tudo meus amores, será que esse é realmente o fim para o nosso casal? Eu particularmente não sou do tipo que esquece 😢..
Enfim, vou indo.. Uma ótima semana, até o próximo, e por favor não esqueçam de votar 🌟 e comentar 😘..
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