Chapter thirteen
Acordei meio atordoado, e precisei de alguns segundos para entender o que estava acontecendo. Virei na cama ficando de barriga para cima com os olhos fechados, sentindo o mundo girar ao meu redor. – Mas que porra tinha acontecido?
Olhei assustado na direção do leve farfalhar oriundo no canto do cômodo, estranhando a possibilidade de ter mais alguém no meu quarto. Cazzo.
Tudo voltou em questão de segundos, do momento que a crise iniciou, até o momento que perdi a consciência quando estava batendo... Oh porra. Eu sou um merda. Que caralho de homem bate em mulher? Figlio di puttana, eu sou uma desgraça para essa sociedade mesmo.
Olhei para a sem noção mal educada, que neste momento estava com os pés depositados na minha maldita mesinha, e com comida espalhada por todo lado. Maledettamente infelice, nem eu trago a merda da comida para o quarto, e ela que ia trazer?
Senti o sangue fervilhando nas veias, e respirei fundo para não ter outra crise. O que seria comum, já que tive uma a menos de 24 horas, e levaria no mínimo uns três meses para conseguir uma rotina confiável novamente.
- Você não cansa de ser mal educada?. – Não era exatamente uma pergunta, mas serviu ao seu propósito. A folgada que antes estava focada no celular, agora me analisava atentamente.
- Como você está?
Ela queria mesmo saber isso? Porque seus olhos pareciam dizer que sim. Cath me encarava como se tentasse filtrar cada detalhe que eu expressava, e mesmo seus olhos parecendo estranhos para mim, conseguia enxergar a verdade e a preocupação ali. Só não entendia o porquê de estar preocupada, ou mesmo se dando ao trabalho de estar aqui por um completo estranho.
- Tira a porra dos pés da minha mesa. – Ordenei com rispidez, sabendo que estava sendo um babaca.
Porém, o que era ser um babaca, em comparação com um escroto que bate em mulheres, não é mesmo? Tudo que essa mulher deveria estar fazendo agora, era estar longe de mim. O mais longe possível.
Forcei o corpo para sair da cama, contudo mais uma vez senti o mundo girar. Não deveria me surpreender com isso, mesmo que a infeliz não tenha me dado a dose costumeira para meus momentos de crise, ainda tinha tomado mais dois comprimidos depois da dosagem oferecida direto na veia. Assim, era esperado que meus reflexos não estivessem os mesmos.
- Vejo que está um pouco melhor. Afinal, a grosseria voltou. – Cantarolou do canto do quarto, me fazendo fuzilá-la com o olhar, enquanto ela se remexeu inquieta na poltrona. Era uma maluca mesmo.
- Cai fora daqui. – Ordenei, massageando as têmporas. Minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento.
- Vai tomar banho? – Perguntou ainda se mexendo na poltrona, porém sem mover um dedo em direção ao que ordenei. Folgada maldita.
- Sim, mas não que isso seja da sua conta.
Não tinha intenção de responder, mas como seu olhar parecia mostrar uma atenção genuína a mim, acabei não conseguindo impedir que a resposta saísse. No entanto, isso não mudou a tonalidade grosseira em minha voz.
- Precisa de ajuda. – Indagou, e eu tinha que ter escutado errado, mas a prova de que meus ouvidos não me enganaram, veio quando ela se levantou fazendo menção de vir até mim.
- Nem fodendo que você vai entrar nesse banheiro comigo. – Rebati fechando a porta na sua cara.
- Palavra interessante que você usou, mas posso chamar o Garcia, caso esteja com medo de ficar em um lugar a sós comigo. – Podia ver o sorriso malicioso e debochado em seus lábios, mesmo com a porta nos separando.
- NÃO. – Ordenei em tom mais firme, abrindo a porta para olhá-la. Cath precisava entender que não era seguro para Nick. Não ainda.
- O que está sentindo? – Caralho, como ela conseguia ver a verdade em mim, sem que eu ao menos tivesse aberto a boca para pronunciar?
- Como um vulcão prestes a entrar em erupção. – Não tinha ideia do porquê estava sendo sincero, mas talvez o olhar verdadeiro e a postura atenciosa, tenham me incentivado a tal.
- Acho que para as pessoas normais, isso não é comum como é para mim. – Disse baixinho, como se estivesse com o pensamento longe, e não sabia como depois de tudo que aconteceu, ela ainda pudesse me considerar normal. Porém, o olhar distante coberto de escuridão, me alertavam que a vida dela poderia ser exponencialmente mais amarga e dolorosa, do que eu imaginava.
- Não é seguro para o Nick aqui ainda, mas estou bem para tomar meu próprio banho. – Tentei ser mais ameno, mas acho que isso era impossível para mim. Minha voz ainda saiu com algum nível de rispidez.
- Ok, mas não tranque a porta. – Quem ela pensava que era mesmo?
Dei uma risada sarcástica, batendo a porta na sua cara novamente, girando a chave para trancar logo em seguida. Ela não mandava em merda nenhuma aqui.
- Destranque a porta, ou vou arrombá-la agora mesmo. – Escutei sua voz autoritária, e mesmo imaginando que ela era louca o suficiente para cumprir com a ameaça, não obedeceria a ordem alguma que viesse dela.
- Tire essa comida do meu quarto e pare de me encher. – Ordenei de volta.
- Porra, Andreeva. Cala a boca, caralho.
Acabei rindo da voz afetada, carregada de ansiedade. Espera... Parei de tirar minha roupa, ficando com o botão e zíper da calça abertos, já sem camisa. Voltei para a porta, precisava entender algo. Destranquei, e abri olhando para mulher que tinha voltado para a mesma poltrona de antes, ficando inquieta de novo.
- O que você está esperando? Tira essa merda daqui. – Testei.
- Hijo de puta, sai daqui. – Lançou um dos salgadinhos que estava a seu alcance, mas agora eu tinha entendido.
Voltei para o banheiro com o pensamento dividido se essa era uma boa descoberta ou não, mas assim que retirei a cueca, tive certeza que não. Piccola donna infelice.
Tomei um banho mais demorado que o comum, sentindo o merda dentro de mim borbulhando e ameaçando transbordar a qualquer minuto. Fechei os olhos deixando a água cair sobre minha cabeça e ombros, no entanto, tudo que conseguia enxergar era eu sendo um maldito desgraçado que batia em mulheres. Como pude fazer uma coisa dessas? Eu poderia tê-la matado, porra.
E por que diabos essa mulher ainda está aqui, mesmo depois de tudo? Os olhos dela na hora que insinuou ter o inferno dentro de si o tempo todo, estavam tão escuros, que pareciam gritar que o que tinha acontecido aqui não tinha sido nada... Cazzo, ela tinha vivido algo pior...
Parei de tentar controlar a respiração, e soquei a parede com toda a força que tinha. Não importava se ia me machucar. Soquei uma, duas, três, e até a porra do meu corpo não ter mais estabilidade depois de todo movimento rápido que fiz.
Cai de joelhos no chão, deixando a cascata de água morna batendo em minhas costas. Eu era uma das piores escórias dessa terra. Era um puto que batia em mulheres.
- Andreeva, está tudo bem?
Era a terceira vez que ela me chamava. Ignorei e fingi não ouvir, como nas outras duas vezes, mas dessa vez eu tinha certeza que ela não deixaria passar.
- Estou saindo. – Gritei de volta, me equilibrando para levantar e desligar o chuveiro.
Puxei uma toalha do aparador com toalhas limpas, sequei apenas o cabelo, depois enrolei a toalha na cintura indo para o closet. Uma das portas dele dava para o meu banheiro e a outra para o quarto.
Peguei uma boxer preta na gaveta, vesti, e sai com a toalha no pescoço, terminando de secar o cabelo.
- Merda, não está vendo que estou aqui? Vai vestir uma roupa, caralho. – Declarou batendo no peito e arranhando a garganta, procurando desengasgar.
- O quarto é meu, a casa é minha, então eu visto, ou fico sem nada que quiser. – Desdenhei com grosseria, me sentando à sua frente e pegando um salgadinho da bandeja. A última vez que comi foi no café da manhã.
- Tira a mão, idiota. – Franzi o cenho, com o tapa estalado que recebi na mão.
Ok, que não estávamos na empresa ou conversando sobre trabalho, mas ela já estava se superando nas ofensas. Quem essa sem noção pensava que era?
- Não divido comida.
- Essa comida é minha. – Apontei mostrando onde estávamos. Tudo aqui era meu, porra.
- Essa, é minha. A sua, está ali. – Afirmou como se estivesse falando com um macaco. Uma folgada mesmo.
Roubei mais três salgadinhos da bandeja, antes de me levantar para olhar o que ela afirmava ser meu. Escutei ela praguejando, dizendo que eu pagaria por isso, mas o certo era que eu já tinha pagado.
Abri o frigobar, encontrando dois sanduíches naturais enormes embalados em plástico filme, e uma jarra média de suco. Peguei tudo procurando um copo, que Cath rapidamente balançou chamando minha atenção, assim que notou o que procurava.
Voltei para mesa sentando na outra poltrona, começando a comer em silêncio.
- Nem pense. – Dei um tapa em sua mão, repetindo o mesmo gesto que fizera comigo minutos atrás.
- Ei, fui eu que fiz. – Reclamou. – E você me roubou. – Argumentou tentando pegar um pedaço novamente, porém bati em sua mão mais uma vez.
Ela me olhou feio, mas logo voltou para montanha de salgadinhos e doces que ainda tinha na bandeja. Comi o que agora descobri que fora ela que preparou para mim, tomei todo o suco da jarra, e de sobremesa, roubei cinco doces deixando-a furiosa.
Abri a boca bocejando, e decidi que já estava na hora de voltar para cama. Procurei meus remédios na gaveta de sempre, porém me surpreendi quando a folgada os balançou na minha direção, dizendo que não estava na hora de tomar outro.
Fiquei irritado e me sentindo tentado a enforcar aquele pescocinho, mas só de imaginar isso, o gosto amargo vinha na minha boca. Eu tinha que me controlar. Me deitei na cama, e deixei o sono chegar.
- Andreeva, acorde. – Escutei ao longe. – Andreeva, acorde. É apenas um pesadelo.
Não poderia ser só isso, poderia? Ela estava diante dos meus olhos... não despedaçada... não machucada... mas em pó... eu tinha destruído cada partícula de seu corpo.
Sentia o suor ensopando a minha roupa e escorrendo na minha pele. Sentia a fúria fervilhando em minhas veias, e o medo ameaçando sufocar o meu coração. Eu tinha destruído tudo.
- Docinho, acorde agora.
Aquele apelido idiota... a voz atrevida... o toque quente no meu rosto... tinha que ser verdade... ela tinha que estar viva.
Forcei os olhos a se abrirem, e assim que deparei com o par de olhos obstinados e teimosos, eu puxei-a para baixo de mim.
A surpresa fez com que Cath facilmente caísse em minha cama, e nos acomodei ficando com a cabeça apoiada no vão de seus seios.
Tum. Tum. Tum.
Ela estava mesmo viva, era ela ali. Eu não a tinha exterminado. – Envolvi meus braços ao redor de sua cintura mesmo estando deitados, e a apertei contra mim como se precisasse desesperadamente confirmar que aquilo era real. E cazzo, eu precisava.
As mãos de Cath, acredito que involuntariamente, envolveram meu pescoço, ficando com uma das mãos apoiada em meu ombro, e a outra em meus cabelos. A pressão em seu toque, era a garantia de que ela estava mesmo ali. Não sabia como tinha identificado que precisava daquilo, mas seu toque firme, unido ao som do coração batendo sob minha cabeça, foram me acalmando.
Em algum momento suas mãos começaram a trabalhar, e ao mesmo tempo que um afago era deixado entre os fios de cabelo, uma leve carícia espalhava pequenos choques em meu ombro.
- Me desculpe. – Sussurrei contra sua roupa, como uma criança quando agarra a mãe e não quer soltar.
- Não há o que desculpar. – Sua voz era a de sempre, dava para sentir os traços de sarcasmo e deboche, porém a suavidade me garantia que ela realmente não se importava.
Mas como ela poderia não se importar? Por mais que merdas piores já tivessem acontecido, como ela poderia não se importar com uma agressão?
Desviei os olhos para cima buscando os seus por alguns segundos, e senti o sangue fervendo em minhas veias pronto para transbordar e destruir quem quer que tenha dito, ou ao menos insinuado que ela não era importante. Porque era isso que eu via ali. Ou nesse caso, não via. A mulher atrevida e determinada, que teria destruído a todos por causa de sua garotinha e por Nina – isso não tinha passado despercebido – não ligava nem um pouco para o que poderia acontecer com ela.
Porra. Não tinha o que desculpar, porque não tinha o que destruir. – Seus olhos cintilavam como se dissessem, você descobriu a verdade. Apertei-a ainda mais em meus braços, deixando a cabeça como estava antes, com a orelha depositada bem acima de seu coração, onde eu poderia escutar perfeitamente.
- Um caralho que não tem. – Disse com firmeza na voz, e a grosseria costumeira.
Não interessava quem diabos tinha colocado isso em sua cabeça, contudo, ela importava. A vida dela era importante e insubstituível. Tinha certeza de que era assim que sua garotinha e Nina se sentiam.
Nenhum de nós falou mais nada. Não pretendia soltá-la, e a mesma não fez questão alguma de me obrigar a fazê-lo, então em algum momento caímos no sono.
- Bom dia. – Escutei quando me mexia sobre o corpo macio e quente, que ainda acariciava o meu cabelo.
Por um momento me assustei e quis perguntar se ela estava louca por ter aceitado, mas não me arrependi de ter sido egoísta na noite anterior. Depois de um sonho daquele eu deveria ter obrigando-a a ir embora, mas ela era a garantia de que tudo fora apenas um pesadelo. Então a mantive aqui, mesmo que parte da minha consciência gritasse o contrário.
- Conseguiu dormir alguma coisa, ou te atrapalhei?
A culpa por mais uma vez prejudicá-la de alguma forma, surgia com força, no entanto, ainda não podia dizer que me arrependia.
- Para ser sincera, acho que nunca dormi como essa noite. – Declarou com o olhar distante, e analisei aquele semblante e comportamento, buscando por uma resposta melhor. – Acho que nunca dormi tanto, não espontaneamente pelo menos.
Completou baixinho, como se discursasse consigo mesma, e me perguntei se ela também precisava de remédios para dormir? Mas seu olhar estava tão distante e confuso, que não tive coragem de requisitar uma resposta que talvez ela não estivesse pronta para conceder.
- O que costuma fazer quando acorda? – Perguntou após longos minutos de autorreflexão. – Sei que precisa manter uma rotina.
- É, isso é importante. – Sussurrei com o amargo da crise voltando aos meus lábios. – Nos próximos sete dias manterei a rotina...
- Com exceção ao trabalho. – Pontuou e eu confirmei.
- Acordar, tomar banho, preparar o café e comer...
- Você não deixará ninguém te ajudar por quanto tempo? – Indagou, meio hesitante, e não saberia dizer o porquê exatamente. Por isso a olhei com o cenho franzido.
- É que normalmente você deve ter pessoas trabalhando para você, fazendo o que precisa. – Olhou ao redor. – Estava tudo limpinho. – Analisou como se estivesse montando um quebra cabeça.
- Não. – Sorri de leve. – Apenas o cozinheiro que sempre trabalhou para minha família, vem uma vez na semana para fazer comida para deixar congelada, e supervisionar a equipe de limpeza que vem no mesmo dia. Nina ou meu pai costumam acompanhar o cozinheiro nesse dia, não gosto que mexam nas minhas coisas.
- Não pensei que o poderoso chefinho fazia sua própria comida, e organizava suas coisas, mas era de se esperar diante do seu perfil. – Esclareceu reflexiva, e pensei em perguntar que merda era essa de perfil e a porra do novo apelido. Porém, por ainda estar sobre ela – algo que até tinha me esquecido, e acho que ela também – escutei sua barriga roncar baixinho, e a minha não estava diferente.
- Vou tomar banho, depois falamos sobre o resto.
Não sei porque me expliquei, mas disse mesmo assim, enquanto rolava para o lado, afim de levantar.
- A próxima porta é um quarto de hóspedes. Um que ninguém nunca usou. Nini já deve tê-lo apresentado para você, pode usá-lo se desejar tomar banho ou fazer qualquer outra coisa.
Me senti um pouco mais culpado quando vi Cath se esticar preguiçosamente no colchão, flexionando o corpo. Ela deveria estar com o corpo todo dolorido, afinal, não sou tão leve assim.
- Pode pegar alguma roupa minha se desejar, ou de Nina, já que mesmo contra a minha vontade, ela insiste que deve deixar algumas roupas em seu "quarto".
Fiz aspas com os dedos, e entendi, talvez no fim, fosse por isso que ela e a sem noção dessem certo, as duas insistiam em me irritar. Contudo, Nina estava longe de ser tão atrevida e extrapolar os limites como a mulher na minha cama fazia.
- Os itens de higiene e toalhas, você encontrará no banheiro. – Ignorei o movimento estranho em meu peito. – Mas você já deve saber disso.
- Não vai ser preciso.
Parei o passo que estava dando, quase chegando ao banheiro, e olhei para ela novamente.
- Estranhamente, e sem que eu pedisse, seu pai deixou uma pequena bolsa com alguns objetos pessoais meus, afirmando que Mia tinha arrumado.
Franzi o cenho em sua direção. Primeiro, por que isso seria tão estranho para ela estar com aquela expressão? E segundo, porque inferno... Ah, quer saber, isso não era da minha conta. E certamente não ia
querer me envolver nisso.
- Faça o que achar melhor. – Dei de ombros. – Mas saiba que está aí se precisar.
Continuei meu trajeto, e de relance a vi levantar da cama. Sua camisa – ou melhor, a de Nick – tinha subido, e tive uma visão privilegiada daquelas pernas gostosas e a popa redondinha e perfeita da sua bunda. Por Raziel, essa mulher ia acabar com o resto de sanidade que ainda possuía.
Sai apressado quase correndo para o banheiro, almejando ao máximo esquecer o corpo que estava desfilando no meu quarto, e antes estava sob mim – Cazzo.
Notas do Autor
Boa noite amores, como estão?
As coisas aquentaram por aí?
Acho que ficou quente, não ficou?
Daqui para frente vai ser disso para pior haha.. Se acostumem 🤭..
Mil beijinhos, por favor não se esqueçam de votar 🌟 e comentar, ajuda muito.. Beijinhos 😘..
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