Conto DOIS - Capítulo 1
Semelhante ao sol, que surge numa linda manhã, estava Kytzia. E isso condizia até com o significado de seu nome que era: luz da manhã. Risonha ela permanecia, dançando ao lado de seu esposo Chad, seu grande amor. Na verdade, era o seu mais novo grande amor, porquanto ela já havia se apaixonado antes e não apenas tinha enamorado como também sido casada, porém ele falecera. Agora, ela e seu novo companheiro, celebravam as bodas e se alegravam grandemente por aquele momento.
Por um instante, Kytzia olhou para ele, com um imenso sorriso esboçado no rosto, memorando toda a sua trajetória até chegar ali. Havia sido difícil em muitos momentos, e outros tão exuberantes que não se podiam contar.
Sua antiga sogra, de nome Tsehai, também se encontrava no imenso salão, felicitando seu casamento. Ela havia sido um fator primordial para tudo o que se sucedera, afinal se a viúva senhora não tivesse saído de suas terras com a sua família e seguissem para outro território, a fim de fugir da fome que assolava a região onde eles moravam, jamais ela o teria conhecido e é por isso que essa história começa a ser contada a partir dela.
Tsehai era uma mulher Etíope que tivera um esposo de nome Tedros, que traduzido é presente de Deus. Ela tinha dois filhos que se chamavam Zahur e Jima, rapazes de pulso firme e corajosos como o pai onde sempre disponibilizavam-se a ajudar o seu progenitor em tudo. Tsehai se orgulhava deles e os amava profundamente. Agradecia a Deus por ele lhe conceder a bênção de tê-los.
Quando a fome agravou-se em sua terra, partiram dali e atravessaram o Sudão em direção ao Egito. Para eles, essa era a melhor solução para o momento de crise que viviam, apesar que a região sempre tivera características aquém do esperado para uma sociedade desenvolvida em recursos básicos de saúde, e nem a economia era uma das melhores. No Egito, buscaram refazer a vida na cidade de Cairo e, mesmo começando num barraco, sentiam-se felizes, pois havia principalmente a comida.
Com o tempo, Tedros arranjou um emprego e continuou a sustentar a família. Em tudo eles davam graças a Deus, porquanto a infinita bondade e misericórdia divina os mantinham ali com vida. Contudo, os tempos passam e a vida também e foi então que Tedros adoeceu de uma enfermidade incurável. Os dias se passavam e pareciam momentos torturosos para Tsehai que via as forças de seu esposo se findando. Seus filhos apenas ponderavam e questionavam se "o papai iria morrer" e isso a deixava cada vez mais angustiada. Seu amado estava partindo desta vida para outra até que chegou o dia em que ele deu seu último suspiro. Nesse dia, ela estava de joelhos ao lado da cama em que ele se encontrava. Ele a mirava como alguém que dizia para que ela se consolasse. Sua mão segura a dela transmitia isso. Tsehai segurou as lágrimas até não suportar mais, e essas verteram e escorreram no antebraço de seu amado. Esse, também, permitiu uma última lágrima escorrer de sua face e disse:
— Cuide bem dos garotos. Eu amo vocês.
E expirou ali. O luto demorou-se a passar, pois os corações se encontravam mui entristecidos. Mas o tempo não retrocede e sim avança e, assim como o choro durou por noites, a alegria ressurgiu em cada amanhecer. De uma coisa ela tinha certeza: Deus havia lhe dado e o mesmo havia tirado. Só tinha a agradecer pela dádiva de estar junto a alguém tão especial como seu querido Tedros era.
E, com o passar do tempo, seus filhos, já próximos à juventude, conheceram duas moças, de idade semelhante a deles. Cada um afeiçoou-se por uma e uma das era ela, a Kytzia. A outra se chamava Zahra. Kytzia se enamorou de Zahur e Zahra de Jima e isso fora recíproco. Elas eram jovens meigas e prendadas, além de belas, e isso deixara os rapazes encantados. As moças pensavam o mesmo dos rapazes, acerca do quanto eram dedicados naquilo que faziam.
Tsehai se alegrara ao ver que, posteriormente, a família iria crescer; e amou-as como se fossem suas filhas, aindas que futuras noras. Ver o semblante de regozijo era motivo de deixar os mancebos mais contentes. Estavam progredindo diante da perda do ancião da casa e deram graças ao Criador por isso. Entretanto, as duas jovens não compartilhavam da mesma religião que eles. Elas eram islâmicas enquanto eles, cristãos protestantes, diferente da grande parcela de Etíopes ortodoxos que existia em sua terra natal; e ali, no Egito, o que predominava era o islamismo. Certo de que estavam num jugo desigual, mas isso não impediu que eles nutrissem sentimentos mútuo por elas, tanto que, em pouco tempo depois, mesmo com o desdém dos familiares das moças para com eles, casaram-se.
Tsehai se alegrava com a alegria dos filhos e ia a um dos poucos templos cristãos que havia na região, toda semana, a fim de orar por si e por eles. Retirava os sapatos toda vez que adentrava às portas do local, em sinal de respeito, e ainda dava a preferência ao xale e o véu sobre a cabeça como de costume em sua terra.
— Senhor, mui grata sou pelo que tens feito a nós. Nunca nos deixastes estar desamparados. — Assim orava, vertendo lágrimas de gratidão.
Voltava para casa e logo procurava saber sobre a situação dos casais. Eles residiam junto à sua residência e eram bastante unidos entres si. Tsehai amava as noras, em especial a Kytzia, que até o significado do nome se encaixava ao seu, que era raio de sol. Já Zahra era uma flor, como uma flor sensível que necessitava ser regada diariamente para não desfalecer nunca e nem murchar enquanto Kytzia fazia com que todos entrassem em regozijo. Iluminava o ambiente com sua positividade, firmeza e carisma; e isso era agradável aos olhos de Tsehai. Tudo, até então, era quase perfeito aos seus olhos.
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Este é o novo conto que inicio. Espero que estejam gostando. Se for o caso, deixa seu voto e/ou comentário.
Obs: O enredo não tem total compromisso com a realidade Egípcia ou Etíope no que se diz respeito ao sistema religioso e a forma como agem acerca do casamento.
Até o próximo capítulo! :)
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