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Capítulo 3

Em quatro horas de relógio, cada meia hora com uma jovem diferente, e Demetrian já estava nervoso. Ansiava por esticar as pernas, levantar-se e ir para casa. Todas eram fúteis, ao seu ver, e algumas ainda usavam de métodos sedutores para tentar conquistá-lo. Agradaram-se de ter que conhecê-lo, mas elas já pensavam em levá-lo para um quarto e passar o dia junto a ele ou seria que achavam que ele faria isso a elas? De fato, todas eram atraentes aos seus olhos, mas de beleza ele já estava farto. Se era para conhecer alguém, que fosse uma mulher que o instigasse à curiosidade por sua inteligência e, principalmente, moral.

Oito horas da noite e ele queria dar um tempo. Como a próxima convidada não havia chegado, ainda, ele foi ao banheiro. Lá, passou as mãos no cabelo de nervosismo e se olhou no espelho, suspirando. Aproveitou então para esvaziar a bexiga, afinal ficar sentado, bebendo tanto líquido, não era costumeiro. Quando retornou e seguiu para a sua mesa, viu que uma jovem estava sentada como quem não quisesse nada. Logo, ele se achegou e assentou-se de frente para ela.

— Oi.

— Oi — respondeu, séria.

— Você é a próxima?

— Próxima? Tinha outras antes de mim? — questionou, perplexa.

Em sua mente, ele era um pervertido.

— Sim, mas apenas a fim de me conhecer, eu acho. Admito que já estou exausto. — Sorriu, passando a mão sobre os cabelos, bagunçando-os novamente.

Ela tinha que admitir o quanto ele era formoso à vista, mais ainda pessoalmente.

— Exausta estou eu de ter vindo até aqui — disse, chamando o garçom e pedindo um copo com água e o cardápio.

Demetrian só observava o que ela fazia, franzindo o cenho.

— Não queria me conhecer?

— Eu é que pergunto. Sua companhia me enviou uma carta um tanto suspeita. Poderia chamar a polícia se eu quisesse. — Demetrian percebia que a conversa com a mesma seria diferente das outras e se sentiu encabulado por um instante.

— Desculpe. Eu nem sei o que puseram na carta — riu.

— Como assim? Pensei que também quisesse está aqui?

— Na verdade, relutei a estar e já estava quase desistindo disso até você aparecer.

Naquele momento, ela ruborizou e o garçom chegou com seu pedido. Ela, então, aproveitou e abriu o cardápio. Questionou se Demetrian iria comer alguma coisa e ele recusou. Já estava empanzinado de comida. Ela deu de ombros e fez seu segundo pedido, agradecendo ao moço.

— Qual o seu nome? — perguntou, Demetrian.

— Nao.

— Belo nome e bem... estrangeiro — proferiu, olhando-a nos olhos, e mais uma vez ela sentiu sua face corar; eabaixou a cabeça.

— Pois é. Sim, senhor Demetrian... — E ele a interrompeu.

— Chame-me de Demetrian apenas.

— Ah, Demetrian... Qual o propósito desse encontro? Entrevista de emprego é o que tenho certeza que não é. — Encarou-o, seriamente, a fim de intimidá-lo. — Direto ao ponto. — Demetrian riu e, por um breve instante, ela admirou seu sorriso.

— Querem que eu encontre uma nova pessoa porque acham que ando muito solitário desde que me separei.

— E você se sente solitário? — Ficou curiosa.

— Talvez um pouco, mas na verdade é que estou decepcionado com o amor. Acho que ele talvez fuja de mim quando tento encontrá-lo.

— Ou talvez não seja a decepção com o amor, mas a decepção com quem dizia te amar. — Seu dito o fez arregalar os olhos, surpreso com suas palavras.  — Sabe, o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Se você diz que ama e não sabe sofrer pelo outro, nem sabe confiar no outro, nem sabe ser paciente com o outro e nem sabe suportar o outro, como dizer que ama? Você não reconhece o verdadeiro amor nos momentos fáceis da vida ou de um relacionamento, mas sim nos momentos difíceis.

— Sábias palavras, senhorita Nao. Diga-me, você já amou alguém antes?

— Não. Espero o momento certo para amar a pessoa certa.

E quanto mais ela falava, mais ele sorria com suas palavras. Eram admiráveis e lhe tocavam profundamente, assim como ela que tinha algo especial que ele não sabia discernir o que era. Mas conteve-se em questionar.

— Bom, moço sonhador. Deixe de me encarar enquanto eu como. — Só então ele se deu conta do quanto seu olhar estava fixo em sua pessoa.

— Desculpe e bem, se, após terminar de comer, você quiser ir embora, tudo bem.

— Estás me expulsando? — questionou de boca cheia.

— Não senhorita, apenas estou realizando o seu desejo de quando chegastes aqui sem nenhuma vontade de vir.

— Mas isso foi antes. Agora estou curiosa para saber mais sobre o tão charmoso Demetrian,  presidente de uma das maiores empresas da região, ex-casado e com esse olhar deprimido na face, mas que não para de sorrir ao me ver.

— Ei! Sua convencida. — E ela gargalhou. Ele fingiu ser insultado.

— Estou mentindo? — E ele balançou a cabeça em negação, ainda risonho, levantando-se de onde estava, seguindo a assentar-se ao seu lado da mesa. — O que estás fazendo? — Naara  questionou, assustada.

— Sentando perto de você e tomando um pedaço desse camarão — disse, levando à boca, enquanto ela permanecia boquiaberta pela sua ousadia.

— Seu atrevido! Pensei que estivesse sem fome. — Agiu com tamanha intimidade que quem os visse pensaria que eles eram amigos de longa data.

— Sou mesmo e estou sem fome, mas é assim que fala com uma pessoa mais velha que você?

— E daí? Não retiro nenhuma palavra — proferiu, concurvando a sobrancelha, e, por um instante, a face de ambos estavam tão próximas que dava para um sentir a respiração do outro. Ambos ruborizaram e se afastaram desconcertados. Naara sentia seu coração bater acelerado; talvez o nervosismo a deixara assim. Mas admitia em seu interior que gostara de sua pessoa, apesar de tê-lo julgado outrora, mas que não queria se relacionar com alguém como ele que nem professava a mesma fé.

— Bem, não desejo que fique muito tarde para você. Queres que eu te leve em casa?

— Não! — bradou, apressadamente. Seu tio ainda a esperava lá fora. — Não precisa. Eu sei me cuidar, senh... quero dizer, Demetrian.

— Tem certeza? — Encarou-a, tentando convencê-la do contrário. Claramente ele se encontrava interessado nela.

— Tenho.

— Tudo bem, você venceu. Ao menos me dê seu número para, quem sabe, a gente marcar para se encontrar e conversar mais. Quero dizer, apenas conversar mesmo e nada mais, como amigos. — E ela, sorrindo, aceitou dando seu número telefônico.

Logo, ele saiu do assento e deu passagem para ela se levantar.  Naara quis pagar a conta e quase entrou numa discussão porque Demetrian não queria que ela pagasse. No fim, ela aceitou contragosto.

— Sabes que eu podia pagar minha refeição.

— Não seja assim. Você é minha convidada e eu...

— Tudo bem, SENHOR DEMETRIAN — enfatizou. Se encontrava zangada, afinal.

— Menos Nao. Não precisa se aborrecer por causa disso. Eu posso pagar e não me faz falta o valor, mas e quanto a você?

— Estás me chamando de pobre?

— Eu não quis dizer isso e você sabe.

— Pois pareceu.

Por um instante, ele se lembrou das discussões com Emile. Claro que não eram iguais, mas isso o entristeceu e ela percebeu seu semblante murchar, arrependendo-se de suas palavras, pedindo perdão por sua arrogância. Ele apenas assentiu e ficou parado a olhá-la, ou seria apreciar a vista da mulher simples e tão bela que estava à sua frente. Naara, percebendo como ele a encarava, sorriu e se achegou a ele dando-lhe um abraço que, de imediato, não foi correspondido, porém ele acabou por ceder e ameigou-a em seus braços como se tanto necessitasse daquele aconchego. Em seu coração, Naara orava por ele pedindo que Deus o visitasse e consolasse o seu pobre coração ferido. Quando ela ia se desfazer do abraço, ele apertou-a um pouco mais pedindo para que ela ficasse mais um pouco e então ela regressou a consolá-lo, cantarolando um trecho de uma de suas canções criadas. Enquanto isso, Michael permanecia escondido, boquiaberto com o que presenciava.

"É difícil encontrar uma solução;
É difícil receber tantos nãos;
É difícil deixar uma lágrima rolar, quando as circunstâncias te querem sufocar.
Mas é essa a hora de se quebrantar e permitir esvair
O que te aperta o coração
E que te traz tanta aflição
É difícil, mas é preciso deixar ir..."

E então, Demetrian não quis segurar mais as lágrimas que vinham em seus olhos e chorou em seus braços. Naara logo o ameigou ainda mais e acariciou seus cabelos lisos. No fundo, ela sabia que a alma dele precisava ser preenchida por algo maior e não apenas deixar-se tirar a amargura, pois sem Jesus ainda permaneceria vazio. E Demetrian amou-a por suas atitudes e em seu coração estava decidido a conquistá-la. Queria retribuir o carinho que ela estava dando-lhe, amando-a e anseiando para que ela o amasse também. Ele queria dar uma chance a si mesmo de encontrar alguém especial e, na verdade, já havia achado. De todas, ela era a mais graciosa, sincera, e com um brilho diferente em sua face. Sua voz, aos seus ouvidos, era tão leve quanto a brisa que passava entre eles, tão suave quanto um bocado de algodão. Seu toque deixava-o leve como se estivesse em casa. Talvez ela seria o seu porto seguro ou, porventura, seria o que ela carregava consigo? Desta parte ele não tinha conhecimento ainda.

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Espero que estejam gostando.
Não se esquecam de deixar seu voto e/ou comentário. Vale muito!

Desculpem-me a demora!

Obs: A canção entoada pela personagem é de minha autoria então, por favor, sem plágios!

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