Aran Ojiro havia sido seu primeiro namorado. Durante anos de sua vida, Ameiko Suzuki desejou que fosse seu primeiro e único, aquele o qual ela passaria o restante de sua vida. Desde que se apaixonara por ele, MeiMei foi capaz de imaginar um futuro incrível para os dois, que terminaria com três crianças lindas, uma casa em um lugar tranquilo, talvez um cachorro e quem sabe um gato. Desde que ganhara o anel de noivado e o pedido finalmente veio, aquele sonho começou a deixar de ser sonho e se tornar uma verdade, até que isso lhe fosse arrancado as forças com a notícia de que Aran não queria mais nada com ela e que eles não dariam certo juntos.

Foi como tomar um soco no estômago. MeiMei sequer tinha visto aquilo chegando, pois estivera ocupada demais imersa em seu conto de fadas para perceber que havia se tornado uma história de terror, e que durante os últimos meses, ela quem estava sonhando com um futuro feliz completamente sozinha. Ele não a amava mais, e isso era tão claro quanto a luz do sol, pois caso contrário, porque é que Aran a pediria em casamento para acabar com tudo alguns meses depois com uma desculpa tola de que queria que ela seguisse a vida sem ficar presa a ele? Era apenas uma desculpa, pois distância nunca havia sido um problema no relacionamento deles. Era uma desculpa, sim, ela sabia, mas vendo a mulher loira incrivelmente bonita ao lado de Aran, MeiMei teve ainda mais certeza disso.

Era uma droga e doía como o inferno, mas MeiMei engoliu o nó que se formou na garganta, vendo os olhos de Aran se arregalarem ao caírem sobre ela, visivelmente desconfortável com a presença de Ameiko. Bem, ela até entendia, não era exatamente legal estar no mesmo ambiente que uma pessoa que havia namorado por tanto tempo, e supunha que era particularmente chato estar no mesmo ambiente que a exx noiva com a noiva atual. Se Aran achava que MeiMei diria algo sobre isso, ele de fato não a conhecia nem um pouco.

Ela forçou um sorriso, mesmo que a situação fosse péssima. Queria estar em qualquer lugar no mundo, menos ali, e de repente se tornou uma escolha horrível ter deixado Roma para voltar ao Japão. Em seu primeiro dia, ela já logo se deparava com aquilo, o quão justo era? Pior era perceber que MeiMei havia colocado seu sofrimento tão no fundo da alma que não havia se libertado daquele sentimento, não por completo. Estar diante de Aran e sua noiva deixava isso incrivelmente claro.

MeiMei quem deveria estar no lugar dela naquele momento, era MeiMei quem deveria estar planejando aquele casamento, levando convites, aceitando passar o resto de sua vida ao lado de alguém. O quão justo era, afinal? O quão justo Aran tinha sido ao pedi-la em casamento, ao fazer MeiMei sonhar com um final feliz ao lado dele, apenas para decidir pouco depois que ela já não era mais o suficiente, que aquele relacionamento era fracassado? Uma parte de MeiMei o odiava por isso, odiava Aran por ter feito com que ela deixasse de acreditar no amor e no romance. Por ter feito seu coração sangrar tanto que, agora, MeiMei não se imaginava mais tentando ter um relacionamento com alguém.

-MeiMei! - a felicidade de Osamu era genuína quando ele se aproximou dela e a puxou para um abraço apertado, quebrando o clima tenso entre Aran e Ameiko. Com um meio sorriso, ela não hesitou em abraçar Osamu com força, se sentindo um pouco melhor pelo afeto de seu amigo. -Finalmente, já estava achando que você tinha desistido de voltar. Fiz almoço pra você.

-Como sempre você nunca decepciona, Samu, diferente do seu irmão gêmeo insuportável. - MeiMei brincou e Osamu riu enquanto Atsumu começava a reclamar.

-Eu não sabia que ele viria aqui. - Osamu sussurrou no ouvido de MeiMei, mas ela apenas assentiu.

-Está tudo bem, Samu. - ela tentou lhe assegurar, mas soou completamente falso, principalmente quando se afastou dele e precisou fitar Aran mais uma vez. O sorrisinho de Ameiko já dizia o suficiente o quanto ela queria desesperadamente sair daquela situação. A única coisa que a impedia de desabar completamente, era o peso reconfortante do braço de Osamu ao redor de sua cintura, a dando uma espécie de apoio que sabia que MeiMei precisava. -Oi Aran.

A mulher bonita ao lado dele pareceu confusa. Era claro que ela parecia conhecer os demais presentes, mas não fazia a menor ideia de quem MeiMei era, e ela não sabia dizer se aquilo era bom ou simplesmente péssimo. Aran, no entanto, estava visivelmente incomodado

-Oi Mei. Não sabia que tinha voltado da Roma. - ele disse e MeiMei apenas arqueou a sobrancelha, reprimindo a vontade de rir sarcasticamente. Como é que ele sequer sabia que Ameiko estava morando em Roma, afinal? Bem, ela pouco se importava, só sabia que queria fugir daquela péssima interação e péssima situação.

-É. Voltei. - foi tudo o que ela disse, cruzando os braços de uma forma que deixava claro seu desconforto.

O clima ficou pior. Era claro que nem Aran e nem Ameiko queriam estar naquela situação, nenhum deles querendo estar perto um do outro. Tinham terminado por um motivo, e mesmo que MeiMei não soubesse exatamente qual era, tomar um pé na bunda não era exatamente a melhor sensação de todas. Ela não era uma idiota, sabia? Claro que tinha noção que relacionamentos a distância eram complicados, mas eles tinham passado por tanto juntos! Apenas para MeiMei ser claramente trocada por outra mulher, talvez uma que de fato atendesse todas as expectativas de Aran Ojiro, uma pessoa que viveria por ele, algo que MeiMei jamais tinha feito já que escolhera construir sua carreira, mudando de país para iniciar seu sonho.

Era ridículo. Era ridículo ter que estar ali na presença de Aran e ela odiava o sentimento mesquinho que invadia seu peito todas às vezes que olhava para a mulher bonita incrivelmente confusa ao lado de Aran, querendo gritar em plenos pulmões que ela quem deveria estar ali, era MeiMei quem deveria estar vivendo aquele sonho, não aquela mulher.

Mas será mesmo?

A verdade é que ela não teve sequer tempo de concluir seus pensamentos autodepreciativos, pois Atsumu Miya, como um grande idiota, vendo o silêncio constrangedor entre eles, decidiu que era um ótimo momento para abrir a boca e soltar suas imensar pérolas.  Geralmente MeiMei se perguntava o como Emma ainda o aguentava, o como conseguia estar com alguém tão sem noção quanto Atsumu era. Ele nem pareceu pensar que palavras tem poder antes de olhar para eles e dizer:

-Engraçado, não sabia que era encontro de ex namorados, só ficou faltando a Alaina.

Silêncio; todos ficaram em profundo silêncio, apenas o som de Osamu dando um tapa na nuca de Atsumu ecoando conforme caíam na real. Os olhos da mulher se arregalaram enquanto olhavam de MeiMei para Aran, notando que, sim, Ameiko era a outra mulher, a ex namorada.

Porém MeiMei nem estava pensando mais nisso. Não quando seus olhos estavam muito ocupados percorrendo de Annabeth incrivelmente irritada para Rintarou.

Ah, sim, MeiMei conhecia Rin extremamente bem. Conhecia cada nuance sua, cada pensamento e cada movimento muito bem articulado. Por isso que, apesar da expressão neutra em seu rosto, ela sabia se tratar de uma grande fachada. Sabia que não era real, ainda mais quando ele tentava arduamente não olhar na direção de Annabeth.

Eles não tinham apenas brigado, Ameiko se deu conta. Annabeth estava estranha porque Rintarou e ela tinham terminado. Se dar conta disso foi como receber um soco bem no meio do estômago e ela precisou manter todo seu autocontrole para não ter a mesma reação que a noiva de Aran diante daquela revelação incrivelmente péssima. Agora fazia sentido as reação de Annabeth, deveria ser algo recente. Mas MeiMei não disse nada, afinal, o que sequer diria?

-Poderia parar de ser sem noção?! - Emma sibilou, dando um forte beliscão em Atsumu que o fez resmungar. -Sinto muito por ele, Aran, é um grande idiota!

-Fica tranquila, Emma. Nós já estamos de saída mesmo, né, amor? - ele disse, segurando a mão da mulher com um pouco de força demais e MeiMei sabia que ele queria desesperadamente fugir daquele lugar. Será que aquela mulher ao seu lado sabia que Aran não mentia nada bem? Que sempre arqueava a sobrancelha esquerda quando o fazia? Que gostava de comer morango com chocolate e que costumava amar quando MeiMei dava risada?

Do último, com toda certeza, ela não sabia. Não, claro que não. Como poderia? Aran havia deixado Ameiko de lado, havia a apagado de sua vida e tentado fazer o mesmo com o passado. Será que havia sido assim tão ruim para ele que Aran sequer era capaz de falar sobre MeiMei? Que sequer era capaz de admitir que mesmo que não tivessem dado certo, tiveram anos felizes juntos como namorados? Doía mais do que qualquer outra coisa a forma repleta de indiferença que Aran a tratava, como se MeiMei não tivesse passado de alguém qualquer em sua vida. Ela havia dado tudo de si mesma a ela e recebido nada em troca; o quão justo isso era?

Ela queria chorar. Queria chorar como uma criança, se encolher nos braços de suas melhores amigas e deixar todas as lágrimas que guardou durante anos finalmente saírem, mas não fez nada disso. Não valia a pena, Ameiko precisava dizer isso a si mesma constantemente enquanto observava Aran se despedir de todos eles, parando diante dela de forma incrivelmente desconfortável, sem saber o como agir. Mas MeiMei apenas recuou um passo para trás, se recusando a abraçá-lo, se recusando a estar respirando o mesmo ar que Aran.

-Te desejo uma vida feliz, Aran. - MeiMei disse, os braços ainda cruzados, as unhas afundando com tanta força contra a pele que ela teve medo de ficarem marcas ali. Era sincero; não era porque MeiMei tinha uma vida incrivelmente solitária, apesar de ser feliz, que desejava o mesmo a Aran. Todos deveriam ter chance de ter alguém para amar e ser amado, mas MeiMei supunha que as chances dela já haviam se esgotado. Supunha que só se podia amar tanto alguém assim uma vez na vida.

Aran pareceu completamente desconcertado com a frase de MeiMei, mas apenas assentiu antes de sair, não dando chances a sua noiva de olhar mais uma vez para MeiMei ou dizer uma palavra antes de puxá-la consigo. Quando a porta se fechou atrás deles, o silêncio se tornou insuportável, e as lágrimas nos olhos de MeiMei ameaçaram cair. Que diferença faria? Estava com os amigos.

-Parece até piada, né? - MeiMei disse, uma risada sem nenhum humor. -Em um ano, Aran terminou comigo, arranjou outra e agora vai casar com ela. Caramba, acho que fui mesmo uma experiência traumatizante na vida dele.

-MeiMei... - Osamu começou, incrivelmente calmo, a única pessoa ali que sabia de fato como escutar alguém e dar conselhos válidos. Mas ele jamais chegou a fazer isso, pois Kiki se aproximou de Ameiko rápida como um raio, dando um tapa tão forte no braço de MeiMei que fez a garota chiar.

-Não diga isso, jamais! - Kimiko disse, irritada. -Pare de se culpar por coisas que não pode controlar, Mei! Aran te deixou, sim, e dai? Você não precisa dele para nada, nunca precisou. E me poupe disso, você fez a ele um favor sendo namorada dele por tanto tempo! Ele nem tem nada de especial e é tão sem sal, coitado.

Por um instante, todos ficaram quietos. Como sequer responder a isso? Mas a reação exagerada de Kiki fez Ameiko começar a rir. Ela riu tanto que seu estômago doeu, e por mais que a risada quase tenha se transformado em lágrimas, MeiMei se controlou. Sim, seu coração ainda estava dolorido e talvez quebrado, mas isso não importava. O que importava era o que ela tinha bem ali, com seus amigos. E era por eles que ela tinha voltado ao Japão.

MeiMei se agarrou a aquilo. E colocou Aran e tudo o que viveram juntos em uma caixa que esqueceria para sempre no fundo de sua alma.

Data: 26/01/25