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Capítulo 7

- Chamam-se Relicta ou Abandonados. Almas que se renderam de livre vontade ao domínio da Escuridão. Bruxos, feiticeiros, fadas...- Ella fez uma pausa, sentindo as sombras agitarem-se dentro de si- Entregaram-se completamente à Escuridão e à Magia Negra, tornando-se parte dela. Há milhares de anos que a primeira rainha das fadas, Morgana, fez um pacto com a Mãe Natureza, pedindo a sua ajuda para restringir o domínio da Escuridão, o qual se designou por Submundo. Esse domínio permanece fechado e os Abandonados ficam lá presos. Quando saem, o seu objetivo é voltar a possuir um corpo, usando o Medo como uma ferramenta poderosa para expulsar a Alma dona desse corpo.- a fada fez uma pausa, perturbada pelas conclusões que chegava- Quando a minha mãe invocou a Escuridão para... para me levar para o seu domínio...- Ella arrepiou-se, recordando a dor da Magia Negra tomar conta do seu corpo- Ela abriu o portão. Foi por breves momentos mas... É possível que um Abandonado tenha escapado do Submundo.

    A fada calou-se, sentindo-se exausta. As lendas dos Abandonados estavam em vários manuscritos no Reino das Fadas e havia imensos escudos protetores que impediam a sua passagem, mesmo que não houvesse nenhum ataque há séculos. No entanto, havia algo que não batia certo. Lilith sabia bem o perigo que era abrir a porta da Escuridão. Porque o fizera? Porque não matara Ella por traição, como acontecia a todas as outras fadas?

- Então aquele homem que morreu, o bêbado, morreu por causa de um ataque dos Abandonados?- questionou Derek, associando o pavor que sentira à descrição daqueles demónios.

    Ella assentiu.

- No entanto, o processo não foi concluído. O velho não aguentou o terror que os Abandonados carregam consigo e morreu antes de ser possuído. Estas almas não conseguem possuir qualquer um, só os mais fortes.

    A fada calou-se ao ver o humano cambalear para a frente, sendo amparado por Scott. As suas mãos tremiam e suor escorria-lhe pela cara, embora isso não o incomodasse.
- O meu pai...- a voz de Stiles não passava de um sussurro, percorrendo o silêncio que se instalara- Ele foi atacado por uma coisa dessas? Ele... Ele vai morrer?
- Ele ainda não morreu?- questionou Ella, pensativa- Preciso de o ver para saber. Ou ele conseguiu sobreviver ao ataque dos Relicta ou...
- Ou foi possuído por um deles.- concluiu Chris, com pesar.

    Como líquido a preencher-lhe as veias, Ella sentiu a dor emocional do rapaz, que era abraçado de lado por Scott. A fada olhou para todas aquelas pessoas que não conhecia e o pesar deles inundou-a, invasora dos seus próprios sentimentos. Ella suspirou dolorosamente, apanhando o olhar de Lydia posto em si.

- Tu estás a sentir a dor dele.- constatou, apontando para Stiles, ao que a fada assentiu- Vais sentir a dor de todos nós? Física e emocional?

    Ella voltou a assentir e viu a pena inundar os olhos da outra. Revirou os olhos. Detestava pena, principalmente porque não a merecia.

- A verdade é que não sei como combater os Abandonados.- todos os presentes olharam para ela, espantados- Sim, a culpa é do nosso povo e eu disse que vos ajudava mas esse tipo de informações nunca passava para a princesa mais nova, somente para a herdeira. Se não tivesse lido quase toda a Biblioteca Real, seria uma completa ignorante.- explicou, lembrando-se de como a mãe sempre insistira em mantê-la às escuras no que tocava a assuntos do reino- Não sei como mas vou descobrir.- voltou-se para o Druida, que a encarava pacificamente- Onde fica a Biblioteca dos Druidas? Lá com certeza tem a informação que precisamos.

    Todos os olhares se voltaram para Deaton, que não respondeu. Stiles ergueu as sobrancelhas.

- Existe uma Biblioteca de Druidas?- perguntou, vendo Deaton assentir- E só agora é que o senhor se lembra disso?

- A Biblioteca existe sim mas eu não sei onde ela fica. Ninguém sabe.

    Ella franziu o sobrolho, desconcertada.

- Só os Druidas sabem, vocês nunca partilharam essa informação com as fadas.

    Deaton suspirou.

- Há uma pessoa que sabe mas ela só falará na tua presença, Ella. Se me puderes acompanhar.- o Druida esperou uma resposta, ao qual Ella limitou-se a assentir- Iremos amanhã, de madrugada. Nenhum de vocês nos pode acompanhar.- o veterinário fitou Scott, que assentiu.

- Ella.- Lydia chamou, a voz serena- Disseste que precisavas da nossa ajuda mas em nenhum momentos disseste porque.

    A fada observou o bando. Chris tinha contado a sua história por isso não se sentiu incomodada quando falou:

- Eu não matei a minha irmã. Na noite em que ela morreu, eu estava lá mas não me lembro. Não me lembro onde fomos, o que fizemos, nada. Algo ou alguém roubou-me as minhas memórias e não sei como as resgatar. Só me lembro de acordar com o corpo de Nissa junto de mim, coberta de sangue e manchas negras a cobrirem-me o corpo.- mostrou os seus braços, canalisadores de magia negra- As manchas são a marca de quem usa magia negra. Eu nunca tinha usado magia negra antes de ter sido entregue à Escuridão. Não o faria, por mais que me ameaçassem, sempre conheci bem as consequências de quem o faz.- a moça focou o olhar em Scott, que a ouvia atentamente, provavelmente a verificar a verdade e a mentira no batimento do seu coração- Fui condenada por um crime que não cometi e, embora saiba que nunca mais volte para a Luz, preciso descobrir o que aconteceu com a minha irmã. Preciso saber o que aconteceu naquela noite.

    Ella fez uma pausa, respirando fundo.

- Nyssa deixou-me uma carta naquela noite. Foi-me entregue hoje mesmo.- Ella retirou a carta do bolso, entregando-a a Scott, que a pegou sem ler- Nela, Nyssa não me explica nada, a única coisa que me pede é para proteger alguém. Um humano. Diz que é o seu protegido, embora eu não faça ideia o que isso significa. Foi a última coisa que ela me pediu e estava à espera que vocês me ajudassem a encontrá-lo. É a única pista que tenho, a última coisa que me resta da minha irmã.

    A sua voz tremeu e Ella sentiu lágrimas quentes acumularem-se nos seus olhos. Em todos os anos que estivera nas masmorras, Ella recusara-se a chorar. Não daria essa satisfação aos seus carrascos. Agora dava-se conta que isso impedira-a de fazer o luto da irmã como deve ser e a vontade de se enrolar numa bola e chorar pela pessoa que mais amava no mundo era avassaladora. No entanto, enquanto Scott desenrolava a carta, Ella prendeu a respiração, evitando chorar. Ainda não era altura para o fazer. Ainda não.

    A mão que segurava a carta tremeu. Scott levantou a cabeça, em choque. Os seus olhos castanhos passaram por Ella mas rapidamente se desviaram, focando-se em Stiles. O humano olhou-o sem entender, pegando na carta que o outro estendera. O nome no fim da carta destacou-se de imediato, familiar. Olhou para a fada à sua frente, os olhos curiosos.

- Sou eu.- ele disse- Este é o meu nome e posso te dizer com certeza que nunca na vida tinha visto uma fada antes de ti. E sinceramente? Não estou a gostar muito da experiência.

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