Capítulo 25
O buraco negro permanecia aberto, fazendo do Nemeton a forma física dos portões do inferno. Em volta da antiga árvore, o bando falava entre si, verificando se todos estavam bem.
Ella era a única que permanecia calada, a figura imponente face às suas vestes e à coroa de espinhos que lhe emoldurava a cabeça. Os cabelos negros tinham crescido por vontade das Sombras, os lábios pintados de vermelho crispados. A fada sabia o que tinha de fazer mas por alguma razão aquilo doía mais do que qualquer dor que já sentira, mesmo quando estava amaldiçoada.
- És minha irmã?- perguntou Stiles atrás de si, remexendo-se de forma inquieta - Eu estou completamente confuso com esta história, será que alguém me pode explicar?
Quando Ella se virou, o irmão estava debulhado em lágrimas. A familiaridade que o rosto de Ella lhe passara quando a vira pela primeira vez estava clara como a água, o rosto da mãe que perdera bem à sua frente. A única diferença eram os olhos, iguais aos do Xerife, que se aproximou dos dois filhos.
- Eu sempre pensei que fosse humano. - balbuciou Stiles, perdido - Como é que...
- Tu és humano, Stiles. A tua mãe tinha sangue mágico e Ella nasceu fada.
- É algo raro.- conseguiu dizer Ella, ignorando as lágrimas que lhe afloraram aos olhos ao ver a sua verdadeira família à sua frente - Nadika sabia que éramos parentes. Protegeu-te porque te amava e porque eras meu irmão. Lilith protegeu o teu pai para se certificar que chegavas à altura em que realizasse o ritual.
- Mas a tua irmã sabia que a...- Stiles fez uma pausa, esfregando as mãos no pescoço, um sinal de quão nervoso estava - Ela sabia que a rainha...
- Acho que nunca vou saber isso.- concluiu Ella com um suspiro.
A Rainha das Trevas aproximou-se da rainha das fadas, observando o olhar perdido que Lilith lhe lançava. A mãe de Nadika fitava-a com um pedido de misericórdia silencioso, algo que Ella não sabia se tinha dentro de si.
- Volta para o teu reino e não voltes. Cuida de Alya por mim e pensa nas tuas responsabilidades não só enquanto rainha mas enquanto mãe. Sê para Alya o que não foste para mim.- proferiu Ella, vendo a mais velha assentir.
- Prometo pela Mãe Natureza que serei, filha.
As duas trocaram um último olhar antes de Lilith virar as costas, as vestes rasgadas e a coroa caída no chão, uma rainha que perdera a honra e recebera uma segunda chance. Era por isso que a deusa permitia que Lilith fosse rainha; no final, a mulher sabia reconhecer quando perdera o jogo e que nada mais lhe restava do que uma vida inteira a tentar ser Boa.
Na floresta, Lorenzo esperava a fada mais velha que o seduzira e destruíra. Nenhum dos dois disse nada. Esgotada, Lilith estendeu-lhe a mão, procurando consolo na única pessoa que partilhava a dor de perder uma filha, uma dor que levava qualquer um à loucura. Lorenzo aceitou a mão estendida e juntos caminharam para dentro da floresta, atravessando juntos o portão para o reino das fadas, invisível para olhos curiosos.
Lydia aproximara-se de Stiles, que chorava silenciosamente. O rapaz estava abraçado ao pai, finalmente apreciando o facto do mais velho estar bem e fora da cama do hospital. Com alívio, o humano que não era bem humano virou-se para a ruiva, que lhe sorria com ar cansado.
- Muita informação para assimilar?- perguntou a Banshee.
Stiles assentiu. Os olhos brilharam de forma esperançosa mas depressa adotou o seu jeito nervoso e atrapalhado de ser, as bochechas adquirindo um leve tom rosado.
- Eu... Hm... T-t-tu...
- Sim?- perguntou Lydia, olhando-o de forma inocente.
Atrás de si, Ella sorriu, pegando na mão que esfregava o pescoço de forma nervosa. Quando Stiles abriu a mão, um anel prateado brilhava, com vestígios de uma pequena Sombra que terminava de polir o pequeno diamante.
- Aceitas casar comigo?- balbuciou o rapaz hiperativo, caindo de joelhos no chão.
O suspiro de surpresa coletivo fez Stiles corar ainda mais. Malia e Scott trocavam olhares entre si, felizes. Derek, que mais uma vez apoiava um Peter todo acabado, sorria de forma contida, vendo com desgosto o humano deixar cair o anel com os seus toques nervosos. Lydia, recuperada do choque, deu um gritinho, atirando-se ao pescoço do rapaz de quem tivera de se separar e que nunca deixara de amar.
- SIM!
Ella trocou um sorriso feliz com Noah, que assentiu. O pai sabia o que a filha tinha de fazer, sabia no âmago dele a angustia que ela sentia. A fada tinha acabado de encontrar a sua verdadeira família e provara que era inocente no assassinato da irmã, algo que ansiara durante tantos anos. Agora, os portões do Inferno chamavam-na, precisando de ser fechados.
- Ella.
Isaac Lahey aproximou-se cautelosamente da morena, que não se conteve. Em lágrimas, a rapariga atirou-se para os braços dele, pedindo desculpas vezes sem conta e perdendo toda a sua compostura. A Rainha das Trevas não passava de uma jovem assustada que tinha de sacrificar a sua vida pelo bem comum, incluindo o rapaz que a ensinara a amar depois de anos sem amar ninguém.
- Ell, está tudo bem.- sussurrou o loiro com um sorriso traquina no rosto - Desta vez não me bateste. - retorquiu, piscando o olho.
Ella sorriu por entre as lágrimas. Os lábios de ambos encontraram-se e o gosto de Isaac era tão diferente do de Lúcifer. Era doce e amargo, viciante e apaixonante, era real. Ella não sabia se era paixão ou amor, não sabia se estava apaixonada ou se era aquela sensação agradável de estar viva que a puxava para Isaac mas não importava. Com pesar, a fada parou o beijo, afastando-se dele, os olhos fixos no seu rosto para memorizar cada traço dele.
- Obrigada por me teres amado quando eu própria não me amava.- disse Ella, afagando-lhe o rosto com adoração - Obrigada por te teres aproximado de mim, por teres confiado em mim e por todo o carinho que me deste.
- Não digas isso como se fosse uma despedida.- protestou Isaac, afastando-se dela - O que estás a fazer?
- O que tenho de fazer.- respondeu Ella, com o coração apertado.
Não havia frieza na fada nem dor pela primeira vez em anos. O seu coração palpitava de emoção e uma sensação quente preencheu-a ao olhar para ele. Ella suspirou, assumindo a verdade para si mesma.
- Amo-te.- sussurrou-lhe ao ouvido, dando um último beijo na sua bochecha antes de lhe virar as costas.
Isaac abraçou-a por trás sem a querer largar. O olhar angustiado de Ella pousou primeiro no pai, que compreendia, depois no irmão, que parecia querer assimilar que eram irmãos mas sem realmente encaixar aquilo na mente dele.
- Os portões precisam ser fechados.- disse Ella, analisando cada membro do bando, os braços de Isaac ainda a rodeá-la- Obrigada a todos pela vossa ajuds e confiança. - os olhos pousaram em Scott, que assentiu - Prometi que vos ajudava com os Abandonados e é isso que vou fazer. Vão ficar seguros para o resto da vida e isso será suficiente para mim.
A Rainha das Trevas afastou os braços do rapaz com delicadeza. A angustia de Isaac era palpável à medida que a observava ir na direção do Nemeton.
- Ell...- chamou Stiles, envergonhado - Acho que darias uma boa irmã. Tenho a certeza que Nadika diria que és uma excelente irmã se aqui tivesses.
Humano e fada fitaram-se com carinho, ambos pensando no que poderiam ter sido. Infelizmente para ambos, era tarde demais.
- Nós amamos-te. - disse Noah, sorrindo para a filha.
- Fica longe da Morte, Ella. Senão eu vou saber que andaste com ela.- disse Lydia num tom zombeteiro, embora estivesse a falar a sério.
- Sejam felizes os dois.- foi tudo o que Ella respondeu, dando-lhe as costas.
Estava na hora. Ella aproximou-se dos portões, sentindo uma brisa fresca vinda de dentro do buraco negro a puxá-la. Era uma nova aventura, pensou, lembrando-se de quando brincava com Nadika. "Vamos explorar mundos, maninha." dizia a irmã mais velha, contando histórias mirabolantes que mais tarde descobrira ser contos de fadas humanos.
Ella iria ficar bem, tinha a certeza disso. A Magia Negra pertencia-lhe agora e talvez pudesse usá-la para o bem. A jovem entrou no buraco negro, que se expandiu, cobrindo-lhe todo o corpo.
- ELLA!- gritou Isaac, em pânico - Não vás...
Os olhos de ambos cruzaram-se. Isaac sorriu por entre as lágrimas, também ele grato por aquela mulher lhe ter dado vida depois de tudo o que passara.
- Também te amo.- disse o lobisomem com os olhos brilhantes.
Ella sorriu, fechando os olhos. Os portões fecharam-se.
Em Beacon Hills, Isaac Lahey tombou com os joelhos no chão, sentido a mesma sensação de vazio agonizante que sentira quando Alisson Argent morrera à sua frente.
A Rainha desvanecera-se por completo na Escuridão da noite, levando consigo o amor da família que não conhecia, a amizade de desconhecidos e a paixão de um rapaz que parara de viver por causa do seu luto.
Ella desvanecera nas Trevas, nunca esquecendo da Luz que carregava em si própria.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro