Capítulo 12
- Eu nunca tinha visto uma fada na vida até tu apareceres.- assegurou Stiles, os olhos fixos no pai- E o meu pai não sabia da existência do Sobrenatural até Scott ser mordido e as coisas começarem... Bem, a acontecer.
Ella não compreendia. O rosto da irmã observava o rapaz com carinho, tendo sido aquela a última expressão que tivera quando o olhara pela última vez. Já a mãe observava Noah com desprezo, como se ele fosse apenas um fim para um meio. A fada sabia ler as expressões das outras, conhecia-as como a palma da sua mão mas não compreendia o objetivo daquela benção a meros humanos. Com uma mão, desfez a escuridão que os rodeava, trazendo de volta o quarto de hospital onde Noah descansava fazia semanas.
Um forte tremor chocalhou o chão debaixo dos seus pés, fazendo todos cambalear e agarrar-se a alguma coisa. O corpo de Ella ainda não tinha forças suficientes para se manter firme e por isso acabou por colidir com o chão, que em nenhum momento parava de tremer. Uma enorme racha surgiu no chão ao pé de Lydia, fazendo-a gritar. A fissura aumentava cada vez mais, começando a dividir o quarto. Mais fissuras surgiram por todo o lado, tão profundas que começaram a isolar Ella, Lydia e Noah dos restantes.
- LYDIA!- gritou Stiles, soltando a parede onde estava agarrado e esticando-se para alcançar a ruiva.
- STILES NÃO! PARA TRÁS!- gritou-lhe Ella, olhando com horror para o enorme fosso que as separava de tudo.
- ELLA CUIDADO!- gritou Isaac, os olhos azuis arregalados de medo.
Ella baixou-se a tempo de evitar que um bocado de teto lhe desabasse em cima. A situação era surreal; gritos lá fora confirmavam que o perigo era geral e que todo hospital estava a ser atacado, deixando Ella e Lydia no centro disso. O pedaço de chão onde elas se encontravam juntamente com a cama e equipamentos de Noah não passava de uma ilha isolada de tudo o resto, com um fosso sem fim a rodeá-las. A porta do quarto abriu-se e uma mulher entrou; tinha os cabelos cor de ferrugem sujos e sem vida
- Relicta...- sussurrou Ella, sentindo as Sombras saírem de si e inundando-lhe as mãos, prontas a atacar.
Outro homem surgiu ao lado da mulher, o corpo pálido e azulado como o dela. Ambos os corpos balançavam com os tremores mas não pareciam muito afetados. A mulher deu a mão ao homem, lançando um sorriso frio à fada, que se pusera de pé e pronta para atacar.
- A rainha requer os seus serviços, princesa. E dos seus Abençoados.
A mulher lambeu os beiços, os olhos fixos em Stiles. Ao seu lado, Scott rugiu, os olhos vermelhos brilhantes e as garras de fora, colocando o seu corpo entre os Abandonados e o seu melhor amigo. Do outro lado do fosso, Ella fez o mesmo com o Xerife, as Sombras preenchendo todo o quarto com alegria nas suas vozes sussurradas.
- A morgue.- disse Stiles, a voz trémula- Eles possuíram os corpos dos mortos que estavam na morgue do hospital.
- Há vários de nós espalhados pelo hospital. Esse...- apontou para Noah, com um sorriso macabro na cara- Era o isco.
Scott pensou na sua mãe e em todas as pessoas inocentes. Rugiu de novo. Ao seu lado, Isaac rugiu de volta, transformando-se pela primeira vez em meses, deixando os olhos dourados brilharem. Com impulso, os dois lobisomens atiraram-se aos mortos, que se desviaram a uma velocidade surpreendente, lançando os dois lobos para fora do quarto. A mulher sorria, os cabelos cor de ferrugem a ganharem cada vez mais vida, como se uma boa luta lhe desse mais energia. Os dois Relicta ergueram as mãos, chamando assim mais companheiros, que apareceram de imediato, todos com sorrisos hediondos na cara. Todos se atiraram aos lobisomens, que lutavam com afinco, lado a lado como há muito tempo não faziam.
Malia, que em nenhum momento abrira a boca, transformou-se, agarrando no pulso de Stiles e olhando fixamente para Ella.
- Temos de sair daqui.
Ella assentiu. Lydia agarrou na cama de Noah, puxando o Xerife enquanto Ella criava uma massa sólida com as Sombras, permitindo criar um caminho entre elas e Stiles, cujos olhos não deixavam a luta do lado de fora. O rapaz tremia da cabeça aos pés, como se aquela fosse a primeira vez que algo assim lhe acontecia.
Não era. Stiles já tinha lidado com muita coisa mas perceber que as pessoas que gostava estavam de novo em perigo por causa dele dava-lhe náuseas. Não entendia nada do que se estava a passar, não sabia o que queriam dele e ainda assim a responsabilidade era dele. Mais uma vez.
A mão no seu pulso puxou-o, fazendo-os correr. Num borrão, viu Scott e Isaac costas com costas, posicionados para atacar os mortos. Um pouco à frente, Derek e Peter protegiam os inocentes, as feições sérias sem demonstrar nada. Os olhos de ambos brilhavam com um azul forte, a inocência de ambos há muito desaparecida. Para sua surpresa, Deaton também ali estava, levando as pessoas que conseguia para fora do hospital, com a ajuda de Melissa e de Chris. O olhar do caçador era assustador, nunca hesitando quando puxava o gatilho. Se alguém lhe perguntasse, matar os mortos não fora a pior experiência da sua vida.
A mulher do cabelo cor de ferrugem barrou o seu caminho. Parecia bem mais viva do que da primeira vez que a vira, a bata branca que costumavam pôr nos corpos suja de sangue e de uma substância verde que não identificou. Ella pôs-se de imediato à frente dele, as mãos erguidas. As Sombras rodeavam-na, manchando-lhe a pele com a sua magia negra.
- O que a Rainha quer?!- gritou, atacando a mulher sem pensar duas vezes.
A Relicta desviou-se, erguendo as mãos ela própria. Stiles lembrou-se do que Ella lhes explicara: os Relicta eram adoradores da Magia Negra. Feiticeiros, antigas fadas, Druidas. Quando chamas negras surgiram nas mãos da mulher, Stiles percebeu o que a fada lhes quisera dizer. Antes que a Relicta lhes atirasse as chamas, Lydia soltou um grito, atingindo a mulher em cheio e atirando-a contra a parede mais perto, que quebrou com o impacto. A ruiva dobrou-se sobre si própria, uma dor percorrendo-a de cima a baixo.
- Lydia.- Ella chamou, segurando-a pelos ombros- Estás bem?
Os olhos de ambas encontraram-se e Lydia viu a sua dor refletida nos olhos de Ella.
- Tu estás a sentir não estás?- perguntou-lhe a ruiva, com assombro - As nossas dores! Acabaste de sentir a minha...
Ella não respondeu. Conseguia sentir os hematomas a surgirem no seu corpo, fruto de pancadas que não eram suas. Sabia que Scott acabara de levar um soco no maxilar e que Isaac tinha sido atirado contra uma parede, possivelmente tendo quebrado alguma costela. A dor de Isaac ainda era mais profunda que a de Scott ou a de Derek ou a de qualquer uma das pessoas que ela tinha falado; ela estava preocupada com ele. O pensamento assustou-a. Fazia muito tempo desde que se preocupara com alguém além da sua própria sobrevivência.
- Eu estou bem.- disse à ruiva, também abalada com a preocupação da mesma.
- Temos de ir.- disse Malia, apontando para a Relicta, que se punha de pé com dificuldade.
Ella assentiu. Naquele espaço de tempo, Deaton aproximara-se deles, as mãos a observarem o rosto inconsciente de Noah. Com gravidade, o veterinário retirou um pequeno livro do interior do casaco que vestia, estendendo-o à fada.
- Vai para o Nemetom e fecha as portas do Submundo. Isso vai tirar os Abandonados deste mundo, por enquanto. - os olhos castanhos do Druida focaram-se nos verdes de Ella, como se lhe lesse a alma- Não deixes mais ninguém tocar no livro.
Ella pegou no livro, sentindo a magia feérica presente a inundá-la como há muito não fazia. Antes que pudesse dizer o que quer que fosse, Deaton foi puxado e abruptamente afastado dela, embatendo na parede mais próxima. Ella gritou, encontrando o sorriso sádico da Relicta perto de si, o que a enfureceu.
- ELLA NÃO!- gritou-lhe Lydia, vendo o olhar gelado da fada.
As Sombras irromperam de si com um grito, inundando todo aquele corredor. O sorriso desapareceu da mulher morta, substituído por uma expressão de terror, como se todos os seus pesadelos tivessem renascido e ela não tivesse conhecimento de que aquilo poderia acontecer. Ella ergueu as mãos, ela mesma com um sorriso sádico no rosto.
Matem-na.
Antes que a Abandonada conseguisse sequer pensar, o seu corpo roubado deixara de existir, voltando ao original da vida: nada mais que pó.
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