A mulher desviou-se com agilidade do ataque da mais nova, batendo-lhe com a lança nas costas, fazendo-a cair no chão. Ella ergueu-se de um pulo, sentindo a Magia Negra envolve-la. Com um grito, apontou os braços na direção da outra, atirando as sombras contra ela. De forma graciosa, a fada mais velha girou sobre si mesma e agachou-se, desviando-se da magia como se não fosse nada. Com um sorriso cínico, apontou-lhe a lança ao rosto, a ponta roçando perigosamente o nariz delicado de Ella, que rosnou em resposta.

- Continuas fraquinha, doce Ella.- provocou Alliara, baixando a lança- Não estou aqui para lutar.

- Vieste terminar o serviço?- questionou Ella, os olhos verdes cheios de ódio- Vieste finalmente me matar? Sempre soube que as vezes que quase me mataste não iriam ser suficientes. Sádica.- cuspiu para o chão, furiosa.

- Não vim para te matar Ella. Tudo o que fiz faz parte do meu trabalho, sou o braço direito da rainha.

- Tu torturaste-me durante anos. ANOS! QUANTAS VEZES ME EMBALASTE QUANDO EU ACORDAVA COM PESADELOS, ALLIARA?! QUANTAS VEZES TE CHAMEI DE IRMÃ?! EU AMAVA-TE! AMAVA-TE TANTO COMO AMAVA NISSA!- prendeu a respiração por momentos, impedindo-se de chorar perante a mulher que a quebrara- Nem tu ficaste do meu lado. Nem tu.- olhou-a nos olhos, vendo a feição da guerreira vacilar- E agora odeio-te tanto como odeio a minha própria mãe.

    Alliara suspirou. Jurara a si mesma nunca revelar a Ella o quanto lamentava tudo o que fizera. Nunca lhe diria o ódio que ela sentia de si mesma todas as vezes que a chicoteava, que a queimava e que a maltratava verbalmente. Aquele era o seu trabalho e, embora não tivesse a certeza do que acontecera com a sua melhor amiga e estivesse na dúvida em relação à inocência da moça à sua frente, não sentira prazer nenhum em cumprir as suas ordens. Ella era demasiado jovem para as atrocidades a que fora sujeita. Demasiado pura e por isso a implacável rainha ordenara que a quebrasse.

    E Alliara fizera-o. O resultado estava ali, uma menina desfeita, toda ela pele, ossos e magia negra.

- Não estou aqui para te matar.- repetiu, mantendo a voz firme e o rosto sem expressão.- Estou aqui para cumprir uma promessa.

    Ella franziu o sobrolho, ainda com as sombras nas suas mãos.

- Que promessa? Que jogo sádico estás a jogar Alliara?

- No dia em que a tua irmã morreu, ela esteve comigo uns momentos antes de sair contigo. Não me disse onde iam nem o que iam fazer.- observou a expressão confusa da mais nova, lembrando-se da raiva dela toda a vez que dizia não se lembrar do que acontecera- Na noite da Lua de Sangue, tu e Nissa saíram sem dizer a ninguém onde iam e o que iam fazer.- fez uma pausa, a dor da memória latejando no seu peito- Além de ti, eu fui a última pessoa a ver Nissa viva. Tínhamos ido treinar. Ela não falava, parecia pensativa. Havia meses que estava assim, calada e reservada. Tentei saber o que se passava inúmeras vezes mas ela nunca me disse. Naquele dia, voltei a insistir enquanto lutavamos, esperando apanha-la distraída o suficiente para que me contasse sem querer, não seria a primeira vez. E consegui alguma coisa. Apenas não o que esperava.- fez uma pausa, encarando Ella com seriedade- Tudo o que ela me disse foi para que lhe prometesse que quando a altura chegasse, independentemente de tudo o que acontecesse, te entregasse uma mensagem.

    Ella arregalou os olhos. O seu coração disparou e a magia desapareceu, as sombras abandonando-a.

- Que mensagem?- perguntou, a voz embargada.

    Alliara meteu a mão no bolso, retirando de lá um pequeno pedaço de papel dobrado de forma perfeita. Com cautela, estendeu-o a Ella, que o agarrou de imediato. Preparou-se para abri-lo mas o restolhar de folhas secas fê-la parar e erguer os olhos, vendo Alliara se afastar. A mulher mais velha olhou para trás uma última vez, o olhar de ambas preso um no outro.

- Não sei o que contém essa mensagem mas era importante o suficiente para Nissa me fazer jurar em nome da rainha que to dava. No entanto, tenho um conselho para te dar Ella: afasta-te desta floresta. Este é o ponto mais próximo do Reino das Fadas e ainda existem muitas que querem a tua morte. Faças o que fizeres, não voltes aqui.

- Não sou mais uma rapariga indefesa, Alliara.- as sombras rodearam o corpo da princesa, os olhos verdes possuídos por um brilho maléfico- Matarei quem quer que se atravesse no meu caminho. Tu incluída.

    A Escuridão ronronou com as suas palavras, vendo a sua princesa ceder cada vez mais ao seu apelo. E Ella sentiu-a, sabendo que quanto mais fundo fosse, mais difícil seria voltar à luz.

    Alliara abanou a cabeça, sentindo destruída por dentro. Aquela na sua frente já não era Ella e tinha muitas dúvidas se alguma vez voltaria a ser.

- Segue o meu conselho, Ella. Não voltes aqui.- fez uma pausa, pesando as palavras que diria, medindo quão traidora seria à sua rainha por dizê-las- A Rainha ainda não terminou o que começou.

    Ella sorriu.

- Ela que venha.

    A fada mais velha virou-lhe as costas, a sua figura misturando-se com as árvores. Ella suspirou, forçando as sombras a voltarem para dentro de si. As vozes na sua cabeça sussurravam coisas desconexas mas rapidamente cessaram quando desdobrou o papel na sua mão. A letra familiar da irmã fê-la sorrir mas depressa o sorriso esmoreceu, dando lugar a uma forte vontade de chorar.

    "Ella, há muita coisa que gostava de te explicar mas não há tempo. Apenas perdoa-me. Perdoa tudo o que fiz e peço-te que me dês ouvidos mais uma vez.

     Cometi um erro e preciso repara-lo mas temo não ter tempo. Preciso que tu o faças por mim.

     Na cidade de Beacon Hills, há um menino muito especial que precisa que o protejas de forças malignas que querem o seu coração. Encontra-o. Esconde-o. Faz o que precisas fazer mas não deixes que o apanhem. Se o seu sangue for derramado na noite de Lua de Sangue sobre o centro do mundo, as portas da Escuridão irão abrir-se, como temo que poderá acontecer hoje. Não vou permitir que isso aconteça mas nada poderei fazer se tentarem de novo. Só tu podes.

    Confio em ti Ella. Não sei que consequências terás de enfrentar pelos meus erros e por isso peço o teu perdão mas vais ter de confiar em mim também. Confia em mim mais uma vez, minha irmã.

    Nunca mostres isto à nossa mãe. Nunca lhe digas o que vai acontecer esta noite. Nunca lhe digas o que eu fiz.

    Protege o meu menino, Ella. O nome dele é Mieczyslaw Stilinski".

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    Lydia Martin abriu os olhos. "Stiles" pensou. Precisava encontrar Stiles. Olhou em redor, encontrando o corpo de Malia jogado no chão do seu velho quarto, agarrada a um urso de peluche que a sua mãe se recusara a deitar fora. A banshee sentou-se, dando um pequeno chute na coiote, que rosnou.

- Malia, quanto tempo estive desacordada? E quem é que me trouxe a casa?

- Eu.- Scott entrou no quarto, sorrindo docemente ao ver a namorada estirada no chão- A tua mãe estava muito preocupada contigo e o Deaton disse que não teria problema em trazer-te para casa, os teus sinais vitais estavam normais então...

- A única coisa errada na tua pessoa é mesmo a frase assustadora que disseste antes dos teus sentidos de Banshee entrarem em ação.- completou Malia, esfregando os olhos e bocejando.

    Um arrepio percorreu o corpo de Lydia ao recordar as vozes que a inundaram sem aviso. Fazia algum tempo desde que os seus "sentidos de Banshee" tinham estado tão ativos. Continuava a sentir a Morte uma vez ou outra mas era como a presença de uma velha amiga fazendo o seu trabalho. Não soltava o grito de Banshee há tanto tempo que se sentia mais assustada do que nunca.

- Onde está o Stiles?- perguntou a Scott, a voz saindo tremida.

    Precisava do humano. Precisava dele para a ajudar a descobrir de onde vinham as vozes, precisava dele para encontrar aquela presença negra que tinha chegado a Beacon Hills e que ninguém sabia o que era. Precisava dele por razões que não conhecia mas também precisava dele pela única razão que interessava: Stiles era importante.

- Não sei Lydia mas...

- Ele precisa de saber.- disse ela, convicta- Scott, ele precisa de saber que podemos estar em perigo de novo.

    Scott suspirou, passando a mão no rosto.

- Não acho que seja necessário, ainda nada aconteceu de grave...

- Para além de uma moça com sombras na mão que deu uma tareia ao Isaac?- questionou Malia, encolhendo os ombros- O pobre rapaz ficou bastante abalado com isso.

- Pode não ser perigosa, pode ser simplesmente mais uma criatura sobrenatural que só quer ir à sua vida normal...

- Precisamos do Stiles.

    Desta vez a sua voz saiu firme e convicta. Na sua cabeça, as vozes sussurravam coisas desconexas, coisas que outra pessoa também ouvia. Ao fechar os olhos, Lydia via uma pequena linha a ligá-la a alguém, alguém rodeada de sombras, alguém cujo rosto era impossível ver.

    "Quem és tu?" perguntou na sua mente.

    O ser não a ouviu. O casulo de sombras que a rodeava obscurecia tudo à sua volta, impedindo Lydia de entrar. Suspirou e abriu os olhos, fitando Scott com intensidade.

- Ela é perigosa. E quando vier até nós, a Escuridão virá com ela. Tenho a certeza.

    Scott não disse nada. Simplesmente pegou no telemóvel, discou um número rapidamente e esperou. Do outro lado, a voz de Stiles Stillinsky saiu abatida e cansada:

- Oi Scott. Tudo bem?

    O Alfa hesitou. Lydia tirou-lhe o telemóvel da mão, ansiosa para falar com o ex-namorado.

- Stiles? É a Lydia. Podes vir até minha casa? Eu... Nós precisamos de ti.

- Estou a ir.- foi tudo o que o moreno disse, desligando o telemóvel em seguida.