Capítulo 19
Scott tremia, os olhos fechados. Por mais que se concentrasse, não conseguia sentir qualquer vestígio do odor de Stiles. Não era a primeira vez que o seu melhor amigo desaparecera mas nunca deixava de ficar gelado de medo ao pensar no que lhe poderia acontecer. Stiles era muito mais que um amigo para o McCall; era seu irmão de coração, o rapaz mais humano e mais corajoso que Scott tinha na sua vida. Não havia nada nem ninguém que o Alfa não enfrentasse para ter o seu amigo de volta.
Nem mesmo a famosa Rainha das Fadas.
O bando estava reunido na casa dos McCall. Malia estava junto do seu namorado com um braço protetor à sua volta, sabendo a aflição que o rapaz estava a sentir. Tinham passado o dia todo à procura do rasto de Stiles mas cedo perceberam que não havia nada. Tal como Ella expicara, a rainha tinha a Mãe Natureza do seu lado e por isso era capaz de usar o vento a seu favor, cobrindo o seu odor e o de quem a acompanhasse. Pela forma como a morena falava, a rainha era poderosa, talvez o ser sobrenatural mais poderoso que o bando iria enfrentar mas isso não importava. Tudo o que importava era recuperar Stiles e entender o que aquela mulher queria. Todos estavam de acordo, até Peter Hale, que detestava o humano hiperativo e que só estava ali pela filha, como sempre.
O Xerife era quem estava mais transtornado. Já perdera o filho em tempos, quando o rapaz fora possuído pelo maldito Nogitsune ou quando fora forçado a esquecer da sua existência pelos Cavaleiros. Não o iria perder de novo.
- Eu não entendo. O que aquela mulher quer com o Stiles?- disse Lydia, quebrando o silêncio.
- O seu sangue.- disse Noah, olhando diretamente para Ella, que se encontrava virada de costas para eles, pensativa.
A fada virou-se, encarando o humano. A história que Lilith lhe contara rodopiava na sua cabeça, prendendo-se na sua mente como um puzzle por desvendar.
- Nadika Abençoou Stiles. O senhor sabe porquê?
Aquele nome não lhe era estranho. O Xerife fechou os olhos, sentindo-se velho como nunca antes se sentira. Apesar da idade que tinha, era um homem que não se deixava abalar por isso. Era algo que tinha em comum com Chris Argent, que mesmo com a perna engessada se encontrava presente, os olhos baixos num semblante pensativo.
- Aquela mulher, Lilith, disse algo antes de desaparecer.- contou o Xerife, focando-se no caçador- Ela disse que Stiles é um humano com vestígios do povo mágico, por parte de Claudia, a minha mulher.
Ella girou sobre si próprio, perdendo o ar. A última peça do puzzle encaixou-se por fim, atingindo-a como uma seta no peito, fazendo-a cambalear. Como sempre, Isaac estava do seu lado para a amparar, encostando o corpo dela ao seu para suportar parte do seu peso.
- Lilith contou-me que houve uma fada que fugiu para este reino e se apaixonou por um humano, dando à luz uma humana com sangue mágico.- disse Ella, os olhos verdes muito abertos, as Sombras sussurrando-lhe ao ouvido.
A verdade bem sempre é o que parece, Mestre.
- Essa humana teve dois filhos: um menino e uma menina. A menina...- Ella parou, encarando o Xerife, que há muito que tinha entendido- Essa menina sou eu.- sussurrou a fada, sem acreditar- Lilith levou-me com ela para o reino das fadas quando eu nasci, alegando que eu não pertencia aqui. E o menino...
- O menino é o meu filho.- disse Noah, pondo-se de pé - Stiles. Meu filho e de Claudia. A minha mulher sempre soube que faltava alguma coisa, algo que nos foi roubado. Ela não sabia o que era, dizia que não se lembrava mas ela tinha a certeza.- Noah abanou a cabeça, tirando uma fotografia do bolso - Claudia tinha razão.
Estendeu-a a Ella, que a agarrou, as mãos a tremer. Na fotografia, um bebé sorria alegremente para um Xerife muito mais novo. No berço, havia uma pequena fada de peluche que Noah comprara ainda antes de a menina nascer. Mesmo de longe, podia ler-se o nome bordado no peito da fada de peluche a quem pertencia.
- Ella...- sussurrou a própria, com lágrimas nos olhos.
- Foi a única fotografia que encontrei, o único registo da tua existência. Aquela mulher fez questão de apagar até a tua certidão de nascimento. - o Xerife abanou a cabeça, o coração apertado ao ver a menina a chorar - Nadika disse-me que eu tinha os olhos parecidos aos de alguém que ela conhecia.
- O senhor conheceu Nadika.- compreendeu Ella, limpando as lágrimas nos olhos.
Noah assentiu. Pai e filha estavam tão concentrados um no outro que não repararam que todos na sala os observavam. Derek e Chris trocaram um olhar significativo e juntos retiraram-se, seguidos por Melissa, Peter e Malia. Eles não tinham nada a ver com aquela história. Scott e Lydia decidiram ficar, os dois ansiosos por saber como Stiles iria reagir quando soubesse a verdade sobre Ella e a sua mãe. Isaac também permaneceu ali por decisão de Ella, que sentiu-o afastar-se para os deixar sozinhos e que o puxara de imediato para junto de si, entrelaçando as mãos de ambos.
- Já foi há muitos anos, dez anos mais precisamente. Esse nome não me era estranho mas a minha mente está de alguma forma confusa ainda, impedindo-me de pensar com clareza.- confessou o mais velho, sentindo-se no sofá ao lado de Scott, que limitava-se a observar - Nadika surgiu quando Stiles fez 11 anos. Claudia já estava a dar sinais de fraqueza por causa da sua doença mas isso não a impedia de ser a mulher simpática e sociável que sempre fora. Quando se cruzou com uma mulher morena e extremamente alta com um ar perdido no rosto, Claudia aproximou-se de imediato dela e perguntou-lhe se precisava de ajuda. A rapariga era com certeza mais jovem mas houve ali qualquer coisa que as fez darem-se bem quase de forma instantânea. Tornaram-se muito amigas até a mulher ter de voltar para casa e Claudia piorou de tal maneira que teve de ficar no hospital... Até falecer. O Stiles adorava-a e Nadika adorava-o a ele, ficava sempre muito surpreendida pela sua inteligência.
Ella abanou a cabeça, perdida. Não era possível. Tanto quanto sabia, Nadika nunca tinha posto os pés no mundo humano.
- Stiles não reconheceu o nome de Nadika quando Ella o mencionou.- disse Lydia, intrometendo-se na conversa.
- Stiles chamava-a de Nádia. Com toda a sua hiperatividade, o nome Nadika era muito difícil para ele dizer então era apenas a tia Nádia para ele.
- Eu lembro-me dele falar numa tia Nádia quando nos conhecemos.- disse Scott, recordando-se - Dizia que não entendia porque ela tinha que ter ido embora logo quando a mãe tinha morrido.
- Não.- Ella abanou a cabeça, revoltada - Nadika ter-me-ia dito se tivesse estado aqui. Nós contávamos tudo uma à outra, éramos muito próximas...
- Eu acho que ela sabia, Ella.- disse Noah, pensativo- Nadika tinha vindo para Beacon Hills à procura de algo. Ela nunca disse o quê ou se tinha encontrado. Mas eu acho que... Eu acho que ela sabia que eras minha filha.
Aquilo era demais. A dor que sentia no peito espalhou-se, invadindo-lhe o corpo todo, demasiado para Ella suportar. Toda a sua vida era uma mentira. A mulher que amara mais do que qualquer pessoa escondera-lhe a verdade. Por quanto tempo Nadika soube que Ella não era sua irmã? E como é que ela sabia?
A visão de Ella escureceu, mergulhando-a na Escuridão. As Sombras gritavam na sua cabeça, vítimas da confusão da sua Mestre, que estava prestes a explodir. Ao longe, conseguia sentir o chão vibrar, a voz assustada de Isaac perto de si, o som de estilhaçar ecoando pela sua mente. Ella não conseguia pensar. Tudo o que ela sentia era medo. Medo de não saber os planos de Lilith, medo de ser apenas um peão da rainha, medo da verdade. Sabia que estava perto de saber o que acontecera a Nadika mas no seu íntimo, Ella já não queria saber. A verdade dói, a fada estava a aprender isso. A Escuridão tomou conta do seu peito e sentiu os seus joelhos embaterem no chão, as mãos agarradas no cabelo e um grito sair da sua boca.
À sua volta, o mundo explodiu em Sombras, que devastaram tudo por onde passaram, numa demonstração de sofrimento e dor de alguém que passara a vida toda a pagar por um crime que não cometera, de alguém que descobria a verdade dia após dia e não estava preparada para ela.
De alguém cujo medo e a dor a quebrara.
Agora, Ella Stilinsky quebrava Beacon Hills sem dó nem piedade.
Quando o chão tremeu sobre os seus pés, Lilith soube que estava na hora. A sua última jogada finalmente dava frutos. Ella iria destruir o mundo humano enquanto Lilith abriria a porta do Inferno e trazia o seu exército à vida. A Magia Negra iria consumir a sua filha adotada, até o Caos estar instalado e os humanos estiverem inundados de medo e desespero, prontos para receber os Relicta nos seus corpos. Lilith teria finalmente a sua vingança pois Ella estaria morta antes de poder sequer tentar impedi-la. Uma única lágrima escorreu pelo rosto da rainha das fadas ao recordar a menina que levara consigo tantos anos antes, a menina que a sua filha Nadika amara como se realmente fosse sua irmã. Lilith pressionou o peito com a sua mão, obrigando-se a parar de sentir e a concentrar-se no que estava prestes a concretizar.
Estava na hora.
- Traz o rapaz.- ordenou a rainha.
Lorenzo assentiu. O Darach arrastou o humano até ao Nemetom, prendendo com cordas ao tronco de árvore há muito cortado. Velas vermelhas cor de sangue preenchiam o espaço, iluminando o entardecer, as suas chamas tremeluzindo por causa do tremor de terra causado por Ella. No céu, a Lua de Sangue começava a despontar, inundando o espaço com sua cor intensa. Tudo estava pronto.
A única coisa que faltava era o sangue de um ser raro.
O sangue de Stiles Stilinsky.
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