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Pausa para o lanche

Muitos não sabem que voar é uma atividade muito cansativa e que gasta muitas calorias. Na verdade, não era raro no Mundo dos Contos-de-Fadas, existir locais chamados de Academias, onde o cliente pagava para voar e perder peso. Ninguém sabe ao certo por qual razão os seres mágicos pagariam para voar numa academia. Seria tão ridículo quanto um humano pagar para correr em um recinto fechado e sem sair do lugar, quando ele poderia fazer isso de graça lá fora e apreciar a vista. Mas voltemos ao que nos interessa.

Fada estava cansada depois de voar por uma hora ininterrupta e resolveu fazer uma pausa em uma pequena lanchonete localizada no pé de uma grande árvore, que ficava entre a Ponte dos Mil Gritos e a Montanha da Perdição.

A fadinha empurrou a porta, fazendo um sino tilintar e dirigiu-se ao balcão. O lugar estava quase completamente vazio, mas algumas traças ainda aproveitavam suas refeições em algumas das mesas.

− Bem vinda à lanchonete do Lobo Mau. O que vai ser? – a traça em cima do balcão perguntou.

− Você é o Lobo Mau? – a fada indagou surpresa.

− Eu costumava ser – respondeu o inseto. – Agora sou só uma Traça Má. O que vai ser?

− Um sanduíche de frutas silvestres e um suco de atum. – Não, ela não se confundira.

− Não servimos mais isso. Temos livros e roupas velhas. – A pequena traça apontou para o antigo armário de vassouras que agora alojava as refeições.

Fada observou aquilo curiosa. Havia ali uma roupa de dormir de vovozinha e logo ao lado uma capa vermelha com capuz.

− De quem é aquele chapeuzinho-vermelho? – perguntou.

− Da Chapeuzinho-Vermelho.

− Imaginei. E onde ela está?

− Ela não está entre nós – o ex-lobo respondeu com um sorriso e uma voz tétrica.

− Você a comeu?!

− Não. Ela está na cozinha. CHAPÉU! – chamou.

Uma pequena traça surgiu na divisa com a cozinha.

− Que foi?

− Você já acabou de lavar os pratos? – perguntou a traça-lobo.

− É claro que não! Você já viu o tamanho deles?

− Então volte a trabalhar, sua traça preguiçosa!

− Mas...

− Agora!

A tracinha voltou para a cozinha e a Traça Má se dirigiu à fada:

− Ai, ai... Eu estava prestes a devorar ela. Estava vestido de vovozinha e tudo mais. E bem na hora... Puff! Viramos traças. Eu bem que tentei devorá-la mesmo assim, mas por algum motivo eu tinha fome de papel ou roupas velhas. Depois passamos a trabalhar nessa lanchonete. É a vida né...

− Sei... – disse a fadinha sem saber.

− Se ainda quiser comida de verdade, pode se servir na geladeira. É por conta da casa. Não precisamos mais disso.

− Obrigada!

Fada se levantou e seguiu para cozinha, onde preparou um "delicioso" sanduíche de frutas silvestres e um mais "delicioso" ainda suco de atum. Voltou para o balcão e pôs-se a comer.

Enquanto se empanturrava, resolveu jogar um pouco de conversa fora. Perguntou:

− E como vai o restante dos habitantes do Mundo dos Contos-de-Fada? Alguma novidade?

− Bem... Todos são traças.

− E além disso?

− Hmm... – O ex-lobo coçou o queixo de traça. – Sei de alguns boatos que os clientes contam. Gostaria de ouvir?

− Claro – a fada respondeu de boca cheia.

A traça encarnou o espírito do velho e clichê bartender e começou a limpar uma caneca com um pedacinho de pano enquanto contava a história.

− Pelo que ouvi, a Traça-de-Neve ainda está adormecida dentro do esquife de vidro onde os anões a colocaram. O príncipe-traça não consegue abrir a tampa para lhe dar um beijo e os anões menos ainda, são quase tão pequenos quanto formigas.

− Hmm... – Fada resmungou bebericando seu suco.

− Pra Rapunzel a vida continua a mesma, exceto que agora ela usa suas longas antenas para receber visitas do seu príncipe-traça. Já a Traça Adormecida, continua dormindo. Nenhuma novidade ali. Acho que o pior mesmo aconteceu pra Cinderela.

− Por quê?

− Ela se transformou em traça justamente quando ia experimentar o sapatinho de cristal trazido pelo príncipe. Antes ela era a única que podia usá-lo, agora todos cabem dentro dele.

− Vida difícil, hein?

− Só sei desses casos mesmo. – A traça finalizou a história, tendo limpado menos da metade da caneca e comido o pedaço de pano nesse meio tempo.

Depois da conversa, um longo silencio se interpôs entre os dois. A Traça-Má olhava freneticamente para Fada, pois alguma coisa não parecia certa.

− Por Grimm! – ele exclamou. – Você não é uma traça!

− Só percebeu isso agora? – a fada levou a mão ao peito pasma.

− Como pode?

− Simples. Eu fui a responsável por transformar todos em traças – Fada disse calmamente e logo emendou, quando viu o ex-lobo ficando vermelho de raiva: – Mas eu estou a caminho de consertar tudo, portanto não se preocupe.

− Você consegue fazer a gente voltar ao normal? – a traça indagou esperançosa.

− Sim.

Imediatamente a ex-chapeuzinho apareceu na divisa, perguntando:

− Ouvi alguém falando que podemos voltar ao normal?

− O que você está fazendo aqui, Chapéu? – o ex-lobo brigou. – Terminou de lavar os pratos?

− Já estou na metade do primeiro.

− Então volte ao trabalho!

− Mas...

− Agora! – E a Traça Má logo acrescentou: – Ah! E mais uma coisa, se você perceber uma mudança de tamanho repentina e ver uma sombra sombria assustadoramente assustadora na forma de um lobo vinda detrás de você, não se preocupe. É só sua imaginação. Continue trabalhando e não olhe para trás.

− Tá bem! – a tracinha respondeu obedientemente.

O ex-lobo logo se virou para Fada.

− Vamos, mocinha. Resolva isso logo, pois estou com fome.

− Certo... – Fada até pensou em avisar Chapeuzinho, mas já sabia que todos os contos-de-fadas terminavam do mesmo jeito e por isso era muito provável que houvesse uma traça-caçador logo ali perto que salvasse a menina. Por isso apenas deixou a lanchonete e retornou para sua aventura: voar por mais uma hora.



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