48 - POLE POSITION
Ninguém é capaz de segurar uma mulher que descobriu o seu real valor, que sabe o que quer e luta por isso, essa mulher tem o poder de mudar o mundo.
Desconhecida
Em 68 anos de corrida, já foram contabilizadas 33 vítimas fatais na F1. Ao longo das décadas houveram mudanças nos equipamentos e nas pistas, para tornar a competição mais segura.
Todos os pilotos de Fórmula 1 são obrigados a usarem as mesmas roupas, que compõem:
• Macacão - feito sob medida, confeccionado com um tecido chamado Nomex, derivado da fibra aramida, muito leve, de espessura fina e seu atributo mais importante é que ele resiste ao fogo. Quer dizer, um pouco mais do que isso: aguenta um calor de até 427°C!
• Balaclava - nome dado à proteção que os pilotos usam por baixo do capacete, como uma espécie de touca que deixa apenas os olhos à mostra, esse capuz é feito de um tecido especial que não pega fogo e resiste a altíssimas temperaturas. A idéia de uma proteção anti chamas sob o capacete surgiu após o acidente do austríaco Niki Lauda, no GP da Alemanha, em 1976. Ele bateu sua Ferrari, ficou preso nas ferragens e tirou o capacete para respirar. Mas o carro explodiu e o fogo tomou conta do piloto. Lauda, falecido em 2019, ficou com grandes cicatrizes no rosto.
• Luvas e Sapatilhas - O material utiliza uma mistura de polímeros de Nomex e Kevlar, ambos desenvolvidos pela Dupont. O primeiro serve para suportar o fogo, enquanto o segundo atua como resistente a danos mecânicos.
• Capacete - ultra resistente, possui cerca de 20 camadas de materiais, entre fibra de carbono, Kevlar e polietileno. A fibra é um material leve e resistente. O Kevlar é o mesmo material de colete à prova de balas. E o polietileno evita a propagação das chamas. O visor é feito de policarbonato, também resistente ao fogo.
Um uniforme tão exclusivo assim custa em média 100 mil reais, o preço é totalmente justificável, afinal hoje, é mais frequente ver pilotos saindo ilesos de acidentes que pareciam verdadeiras tragédias.
Mas para quem pensa que todo esse aparato é o suficiente para proteger um piloto está enganado, o caríssimo uniforme resiste apenas 12 segundos no calor extremo, que supostamente seria o tempo do piloto pular do veículo em chamas e sair correndo...se não fosse um pequeno detalhe: Sebastian estava preso dentro do que restou do carro.
Foram minutos que pareciam horas, essa era a sensação geral tamanha a aflição que tomou conta de todos que esperavam em silêncio alguma notícia da equipe de resgate que já estava no local do acidente.
As chamas estavam se alastrando rápido, o que dificultava cada vez mais que os paramédicos conseguissem chegar perto do veículo e o risco de explosão se tornava cada vez mais iminente.
Um caminhão de bombeiro recém estacionado ao lado, jorra um potente jato da água colocando fim ao incêndio, dando chances enfim da equipe de resgate chegar no piloto, que sai do veículo desorientado andando meio cambaleante, logo Sebastian é levado para uma ambulância para fazer os primeiros exames no local, o qual constatam que aparentemente está bem, mesmo assim ele foi encaminhado ao hospital para fazer uma checagem mais detalhada.
"A Equipe da RAM acaba de confirmar que uma falha mecânica causou um defeito na direção travando o volante do carro do Sebastian. - a notícia chega no ponto de ouvido de todos no Autódromo.
Karl que ainda estava ao lado do carro da Jully, escuta a notícia reflexivo, o assunto entre eles se perdeu no meio do clima pesado e de comoção que ficou no autódromo, sem dizer mais nada, o rapaz dá as costas seguindo seu carro que estava sendo levado.
Já no box a notícia foi recebida de uma forma mais técnica.
— Resumindo: pilotos de Fórmula 1 são uma espécie de cobaias, ou seja, o jeito que eles supostamente morrerem na pista servirá de estudos para proteger melhor os demais atletas num futuro provável acidente igual. Precisamos instalar uma caixa de brita naquele local. - Andy que estava na sala acompanhando os monitores, fala como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Se Rick já estava se sentindo agoniado, depois dessa explicação vinda pelo chefe de segurança da pista, seu coração que estava apertado terminou de sumir, ele deve ter feito uma cara muito assustada para Liz intervir.
— Eu sei que impressiona eles falarem de vidas de um jeito tão técnico, mas a "célula de sobrevivência" da Escuderia da RAM é bem forte.
— Célula de sobrevivência? - o Personal não entendeu o termo.
— É o sistema composto por uma estruturas de proteção contra colisão deformáveis, feitas de fibra de carbono, que absorvem energia em caso de acidente, foi o que realmente salvou o Sebastian agora.
— E da Team Racing é tão forte quanto? - foi a primeira coisa que veio na mente dele.
— Até mais, depois do acidente da Jully fizeram grandes mudanças nesse sentido.
— Se for acidente igual sim, mas...e se for pior? - o rapaz chegou no "quê" da questão.
A assistente entorta a boca. - — Bom, infelizmente precisa esperar acontecer para saber que providências terão que ser tomadas para aumentar a segurança na próxima vez.
Rick franze as sobrancelhas, ou seja, é exatamente o que o chefe de segurança havia mencionado...definitivamente essa explicação não o tranquilizou nem um pouco.
Ele tinha absoluta certeza que Jully é a melhor do mundo correndo, mas mesmo com toda a experiência da piloto, tem coisas que saem de seu controle como falhas na pista ou coisas mecânicas.
O carro da Jully está parado bem no Grid de Largada esperando as luzes dos faróis ficarem vermelhas.
A nuvem de fumaça espessa que pairava pela pista junto com o cheiro de borracha queimada começaram a sufocar a piloto dentro do veículo, que sentiu seu coração acelerar agoniado, ela abaixa a cabeça já não suportando mais olhar esse cenário.
O acidente de a pouco abalou com as estruturas da garota e o nervosismo começou a tomar conta, como se não bastasse toda a pressão que está enfrentando para conseguir voltar a correr, um acontecimento desse antes da sua volta, mexeu com sua confiança, ela tentava se concentrar em repassar mentalmente a pista decorada, mas ao invés disso, só conseguia ver a imagem do seu acidente.
Assim que a pista foi toda limpa dos destroços do carro do Sebastian, é dada autorização para a garota começar sua volta classificatória, ela era a última piloto que faltava para definir as posições de largada da corrida final de amanhã e a atenção do Autódromo inteiro se voltou apenas nela.
Todas as equipes dos boxes rivais pararam o que estavam fazendo para ficar perto da grade de olho na pista, o misto de tensão, com expectativa e curiosidade para saber como a piloto se comportaria depois do acidente era geral.
A garota ainda de cabeça baixa dá um profundo suspiro apertando levemente o volante sem conseguir encarar a pista logo a frente.
Rick que a escuta pelo headset e vendo pela tela do monitor, percebe que tem alguma coisa errada.
O Personal sabe muito bem como é normal esportistas terem crises de ansiedade momentos antes de uma grande partida que atrapalham bastante o desempenho, é nessa hora que o treinador entra com a parte psicológica falando palavras de incentivo.
Ele queria estar ao lado dela para dar essa força nesse momento, mas ninguém poderia se aproximar do veículo dela agora.
— Pode falar com a Julita por aqui se quiser. - Petter diz baixo apontando para o botão do microfone no fio dos fones do Personal.
Rick faz um leve um afirmativo, ele também estava nervoso, mas precisava transparecer serenidade a garota, ele leva a mão no ponto indicado.
— Jully respire... - a piloto reconheceu a voz do namorado e levanta a cabeça na mesma hora olhando para a câmera a sua frente, mesmo sem vê-lo, sabia que estava a assistindo e o Personal continua.
— ...coragem não significa que você não possa ter medo, coragem significa que não deixará o medo pará-la...lembre que você é imparável! - os olhos verde-claro brilhantes visíveis pelo visor erguido do capacete da garota começam a ficar sorridentes e Rick continua.
— Não deixe ninguém dizer até onde vai seu sonho, acredite no potencial que há dentro de você...vai e arrasa!
Jully solta um suspiro mais calma e a imagem de todo circuito se forma automaticamente na sua mente com todos seus detalhes que analisou minuciosamente, a garota abaixa a viseira do capacete e começa a acelerar o seu carro.
Rick sorri todo bobo. - "Ela é realmente incrível"
As luzes ficam vermelhas e a piloto pisa fundo e vai... curvas atrás de curvas, retas atrás de retas, aceleração, frenagem, redução e ganhando cada vez mais milésimos de segundos preciosos, tantos que surpreendeu todas as outras Escuderias presentes, muitos deles se penduram no gradil com cronômetros em mãos.
Na última reta da pista, Jully pisou fundo no pedal do acelerador até encostar no assoalho, a Downforce¹ aplicada no carro dela foi tanto, que ela passou feito um foguete soltando faíscas na frente dos boxes, alguns itens tremeram próximo pelo golpe de ar formado com o vácuo.
— Ohhhhh!!! - quase que em uníssono, a admiração ecoou por todo o ambiente.
Jully terminou sua volta fazendo um circuito perfeito e quando cruzou a linha de chegada contabilizava incríveis 5 segundos à frente do mais rápido a colocando agora na Pole Position derrubando Karl, que sairá em segundo lugar.
O burburinho dentro da Escuderia foi generalizado, não só na Team Racing, mas também nos boxes das concorrentes, a principal dúvida era: como alguém que ficou em coma induzido, um mês totalmente em off se recuperou tão rápido das lesões e volta como se nunca tivesse saído das pistas?
Rick não queria saber dessas intrigas, retirou seu headphone e foi quase correndo onde Jully recém estacionava seu carro desviando da equipe que cercavam o carro dela.
Quando chegou onde a garota estava a encontrou retirando a balaclava com um sorriso radiante no rosto e ele sentiu um alívio enorme.
O Personal corre para abraçá-la forte e ela retribui na mesma intensidade, ele estava muito feliz dela ter conseguido o Pole Position.
— Obrigada pelas palavras de apoio. - a pitloto diz sentindo os braços do rapaz apertar um pouco mais em volta dela e estava ficando demorado demais esse abraço. - — Fizeram alguma coisa com você lá dentro do boxe? - a garota estranha o jeito do namorado.
Ainda abraçando nela, Rick faz um não com a cabeça. - — Eu acho que vou precisar tomar um calmante toda vez que você for para a pista de corrida.
Jully dá uma risada soltando o abraço. - — Que bom que nossa relação sempre terá essa dose de adrenalina.
Enfim o Personal consegue abrir um sorriso enorme e antes dele responder, Karl se aproxima do casal bem bravo, afinal o primeiro lugar era dele até Jully entrar na jogada.
— Esse seu carro está rápido demais, você deve ter feito alguma coisa diferente nele. - sem rodeio Karl vai direto ao ponto.
— A única "coisa estranha" desse carro está atrás do volante... - com sua língua afiada a garota rebate na mesma hora apontando para ela mesmo. - — ...ele tem quem pilote de verdade.
— Isso é impossivel!!! Você vive mexendo nesse motor e sabe que é contra as regras modificá-lo. - ele continua afrontando.
— Mas ele não está modificado, o Zack pode comprovar isso...de novo. - a garota se refere ao mecânico da Escuderia que estava nesse momento debruçado de novo no motor do carro da piloto.
— Não tem nada de diferente aqui Karl, o carro de vocês dois são idênticos. - Zack confirma o que Jully já havia falado.
— Se nossos carros são iguais porque eu não consigo ser tão rápido como ela??? - furioso e falando num tom mais alto, Karl pergunta para o mecânico, mas quem responde é a Jully.
— Porque dirigir um carro como esse precisa muito mais além de um bom motor...exige técnicas, estudos, treino, preparação, concentração e um pouco de malícia e disciplina, isso nenhum mecânico, por mais que seja o melhor do mundo, pode fazer por um piloto. - a garota dá de ombros.
— Disciplina??? Ha-ha-ha!!! - Karl fala rindo de um jeito irônico balançando as mãos para os lados. - — Falou a pessoa que quase nunca obedece as ordens do chefe de equipe.
— E é assim que quer ser campeão? Comigo sendo obrigada a obedecer a ordem de deixar você passar na minha frente? - Jully cruza os braços.
— Eu nunca quis que isso acontecesse. - o piloto entra na defensiva.
— Mas nunca fez nada que impedisse mesmo sabendo que acontecia. - a garota rebate.
— Isso são exigências dos patrocinadores e não minha. - ele tenta desconversar.
— E é esse tipo campeão que você quer ser, o escolhido dos patrocinadores e não por seus próprios méritos? - Jully o coloca em xeque.
Karl fica sério encarando a garota por um tempo antes de responder. - — Não.
— Então trabalhe de um jeito justo que você fique tão na minha frente que eu não precise ouvir no meu ponto de ouvido o Paul mandando eu desacelerar para você me ultrapassar.
Karl ficou bem constrangido em silêncio, também não era assim que queria levar sua carreira, ele faz um leve afirmativo com a cabeça antes de dar as costas e sair de lá.
— As vezes sinto pena dele. - garota diz depois que voltam a ficar sozinhos.
— Pena? Você é uma pessoa muito boa em sentir isso, esse cara me irrita. - o Personal admira a paciência da garota, hoje ele sabe o que tanto os pilotos discutiam quando às vezes câmeras indiscretas filmavam os bastidores do box.
— A causa de tudo isso é porque Karl é sobrinho do Wagner.
— Ele é sobrinho do presidente da Team Racing??? - Rick leva um susto com essa informação.
— Sim, já deu para imaginar a pressão que ele sofre em provar o tempo todo que está aqui por seus méritos e não por ter sido colocado pelo tio.
— Mas ele só está aqui porque foi mesmo colocado pelo tio! - Rick afirma o óbvio.
— Eu sei. - Jully revira os olhos. - - Só que agora Karl percebeu que ter apenas parentesco não é o suficiente para se manter nesse ramo.
— Jully parabéns por mais essa Pole, mas precisa se apressar, a entrevista vai começar daqui a pouco. - Liz entra apressando o casal.
— Tinha me esquecido disso, vamos! - a piloto puxa o namorado pela mão.
Downforce¹
Quando os carros atingem uma altura de percurso específica, são empurrados para a pista pela aerodinâmica, criando força descendente (downforce). A aerodinâmica usa o ar que flui sobre o veículo para empurrá-lo para baixo, diminuindo a altura.
O downforce empurra o carro ainda mais para baixo na reta fazendo soltar faíscas.
As faíscas nos carros de F1 vêm dos blocos de titânio que tocam o asfalto, eles são estrategicamente embutidos na prancha de madeira embaixo dos carros, para evitar que a lataria seja danificada.
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