𝐑𝐄𝐕𝐄𝐋𝐀𝐂̧𝐎̃𝐄𝐒 𝐃𝐀 𝐀𝐋𝐌𝐀
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"𝑬́ 𝒏𝒐 𝒆𝒏𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒐 𝒄𝒐𝒎 𝒏𝒐𝒔𝒔𝒐𝒔 𝒎𝒆𝒅𝒐𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒏𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒂𝒎𝒐𝒔 𝒂 𝒇𝒐𝒓𝒄̧𝒂 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒔𝒆𝒈𝒖𝒊𝒓 𝒆𝒎 𝒇𝒓𝒆𝒏𝒕𝒆."
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As palavras de Grainne reverberavam no silêncio pesado do quarto, um murmúrio que parecia ecoar nas próprias entranhas das paredes de pedra, carregando uma carga misteriosa que deixava meu espírito inquieto. Sua última frase ainda pairava sobre nós, um enigma que se recusava a ser desvendado, quando o ranger quase imperceptível da porta interrompeu o momento.
Era Jungkook.
Ele surgiu na soleira como uma visão moldada pela luz dourada que se infiltrava pelas janelas. Sua figura, apesar do desgaste evidente, parecia carregar uma força inabalável. A camisa preta, amarrotada e marcada pela poeira do caminho, colava-se ao corpo definido, enquanto o jeans desbotado, rasgado sobre as coxas e as botas de couro encharcadas de lama demonstravam uma longa e árdua jornada. Apesar disso, havia em seus olhos uma luz incansável, quase divina, que transcendia o cansaço físico.
Nossos olhares se cruzaram, e um sorriso suave se desenhou em seus lábios. Aquele simples gesto foi como uma lufada de ar fresco, dissipando o peso acumulado nos últimos dias.
━━ Como está se sentindo? ━ Ele perguntou, sua voz baixa e acolhedora, enquanto avançava com passos leves, mas seguros.
Havia tanta ternura em sua expressão que senti algo em meu peito apertar.
━━ Estou bem. ━ Respondi, surpreendido pela serenidade que sua presença me trazia. ━━ E você? Como foi em Kilmore?
Ele assentiu, um breve sorriso ampliando-se, como se as dificuldades tivessem se tornado mais leves no instante em que cruzou a porta.
━━ Foi exaustivo, mas conseguimos resolver a maior parte dos problemas. O pior já passou.
O brilho de alívio em seus olhos parecia dissolver qualquer resquício de angústia que eu ainda pudesse carregar. Grainne, sentada em uma poltrona próxima à janela, observava-nos com um olhar astuto e um sorriso carregado de significado. Então, ela limpou a garganta de forma teatral, chamando atenção para as marcas de lama que as botas de Jungkook haviam deixado no chão.
━━ Fallen, será que você poderia ser um pouco mais cuidadoso? Pen gwag! ━ ralhou, suas palavras em galês carregadas de um tom que deixava claro que não eram elogios.
Jungkook ergueu as mãos em rendição, um sorriso travesso brincando em seus lábios.
━━ Eu ia tirar as botas, Gwrach[bruxa]! Prometo limpar depois.
A interação descontraída entre os dois arrancou de mim uma risada que não conseguia mais conter. O som escapou como uma brisa leve, trazendo consigo uma sensação de normalidade que há tempos não experimentava.
━━ Idiot bach[ pequeno idiota]! ━ Grainne murmurou, sacudindo a cabeça, mas havia um brilho divertido em seu olhar.
Jungkook virou-se para mim, seus olhos ainda radiantes de alegria, e diminuiu a distância entre nós. Quando ele se aproximou o suficiente, senti o calor de seu corpo e o perfume amadeirado misturado à terra e ao suor.
━━ Jimin... ━ Ele sussurrou, e o som do meu nome em seus lábios fez algo profundo dentro de mim estremecer. ━━ Eu... estava preocupado com você.
Sem pensar, minha mão se ergueu, os dedos tocando levemente seu maxilar marcado. Ele fechou os olhos, rendendo-se ao toque como se aquele momento fosse tudo o que precisava.
━━ Eu também me preocupei. ━ Confessei, minha voz quase um murmúrio.
Ele abriu os olhos, e naquele instante percebi a profundidade de sua beleza, mesmo em meio ao cansaço que marcava suas feições.
━━ Vou tomar um banho rápido. Não demoro.
Antes que pudesse me conter, puxei-o para um abraço, sentindo a solidez de seu corpo contra o meu. Meus lábios encontraram os dele em um toque breve, hesitante, mas carregado de tudo o que não conseguia expressar em palavras. Quando nos afastamos, o silêncio parecia mais carregado de significados do que qualquer diálogo.
Jungkook ficou estático por um momento, os olhos ligeiramente arregalados, como se processasse o que havia acabado de acontecer. Então, gradualmente, seu corpo relaxou, e um sorriso sereno tomou conta de seu rosto. Não havia julgamento em seu olhar, apenas uma aceitação silenciosa que era quase desconcertante.
━━ Eu... ━ balbuciei, incapaz de concluir a frase, a vergonha queimando meu rosto.
Ele me observou por um instante que pareceu se estender no tempo, antes de erguer a mão e tocar meu rosto com uma delicadeza quase reverente. Seus dedos roçaram minha bochecha como se procurassem memorizar cada contorno.
━━ Obrigado. ━ A palavra escapou suavemente de seus lábios, simples, mas carregada de um significado que parecia ecoar entre nós.
Senti meu coração falhar uma batida, a intensidade de seu olhar me desarmando completamente. Desviei o olhar, tentando esconder a timidez que me consumia.
━━ Vá logo antes que Grainne venha com um rolo de massa. ━ Brinquei, tentando mascara-la.
Ele deu alguns passos para trás, ainda com aquele sorriso estampado no rosto, antes de sair do quarto. A porta se fechou com um clique quase imperceptível, mas o calor de sua presença parecia ter se impregnado nas paredes, junto com o leve aroma almiscarado que ele deixava no ar.
Assim que fiquei sozinho, a realidade me atingiu como uma onda avassaladora. O que eu tinha feito? Meu coração disparava, e minha mente girava com uma mistura de choque, medo e uma felicidade avassaladora que eu não ousava admitir.
━━ O que acabei de fazer? ━ murmurei para mim mesmo, sentindo o coração bater descompassado.
Grainne, que havia observado tudo com um sorriso divertido, soltou uma risada suave. Ainda imerso na vergonha, olhei-a em busca de alguma resposta que me libertasse da apreensão.
━━ Ah, Jimin fach[pequeno], você é adorável. Não se preocupe, ele gostou.
━━ Não me provoca, Grainne. ━ A voz saiu abafada, tentando manter o controle.
A oráculo ergueu as mãos, como se se rendesse, mas seus olhos estavam cheios de um prazer travesso.
━━ Pawb yn dda, tudo bem. ━ Ela fez uma pausa antes de sugerir, com brilho nos olhos: ━━ Que tal uma torta de maçã e canela para distraí-lo?
━━ Isso seria ótimo, mas só se eu puder ajudar. Não quero continuar deitado aqui.
Grainne olhou-me com uma expressão indulgente, como se soubesse que não conseguiria me convencer a ficar quieto.
━━ Só se você prometer não se esforçar demais.
Assenti, e juntos nos dirigimos vagarosamente para a cozinha, ela me apoiando com delicadeza pela escadaria. Mesmo sem feridas visíveis, a dor era real, mas sua presença ao meu lado fazia com que tudo fosse mais suportável.
O cômodo foi preenchido pelo aroma intenso das maçãs e da canela. O'Mulriain pegava os ingredientes enquanto me explicava, ━ com a calma de quem já havia feito aquilo mil vezes, ━ como fazer a famosa torta de maçã irlandesa.
Grainne me conduziu até a bancada de mármore, onde colocou os materiais. A farinha, branca e fina, macia ao toque, contrastava com o vermelho vibrante das maçãs, que estavam firmes e brilhantes.
━━ Começamos pela massa, ━ disse ela, sua voz calma e prática.
Com dedos experientes, misturou a farinha com a manteiga fria, produzindo um som levemente áspero, quase sibilante. O cheiro da canela, generosamente adicionada, invadiu minhas narinas, um aroma familiar e reconfortante.
━━ Essa receita é antiga, ━ comentou enquanto abria a massa com movimentos precisos. O rolo de madeira produzia um som ritmado e constante sobre a superfície lisa da bancada. ━━ Cada ingrediente tem sua história.
Enquanto ela trabalhava, fazia perguntas sobre a receita, e suas respostas precisas, intercaladas com pequenas anedotas, criavam uma atmosfera acolhedora e tranquila. O cheiro doce da maçã assada começava a dominar o ambiente, tornando-o ainda mais familiar e acolhedor.
━━ Então, por que você veio para Kilmore, Jimin? ━ indagou-me enquanto me ensinava a cortar as maçãs de forma perfeita.
Fiquei em silêncio por um momento, refletindo antes de responder.
━━ Estava buscando inspiração para o meu novo livro. Achei que um lugar como esse, com sua tranquilidade e sua história, poderia me ajudar.
O oráculo sorriu abertamente, seu olhar se suavizando com compreensão.
━━ Bem, parece que você encontrou mais do que inspiração aqui.
Sua observação me fez sorrir, porque ela estava certa. Kilmore me oferecera muito mais do que imaginava. Mais do que inspiração, algo profundo, de certa forma, ainda incompreensível, mas de fato marcante.
━━ Ainda não sei bem para onde a história vai. ━ Confessei, um pouco incerto.
Grainne me olhou com atenção, seus olhos penetrantes carregando sabedoria e tranquilidade.
━━ Escreva sobre conexões inesperadas, Aingeal. ━ sugeriu. ━━ Sobre encontros que mudam vidas. Sobre almas que se encontram, mesmo quando distantes. ━ Sua observação me surpreendeu. Era como se ela soubesse exatamente o que eu precisava ouvir.
E de fato, ela sabia.
Assenti, rendido à sua percepção que parecia sondar até as camadas mais ocultas do meu ser. Voltei minha atenção às maçãs, dedicando-me à tarefa com uma precisão que, para minha surpresa, era quase instintiva. Os movimentos das minhas mãos revelavam uma habilidade inesperada: cada fatia surgia fina e uniforme, deslizando pela lâmina com a exatidão de quem conhecia aquele ofício há anos.
O'Mulriain, que me observava com olhos cheios de curiosidade, riu suavemente, quebrando a gravidade silenciosa que até então pairava sobre nós.
━━ Uau, Fach! Quem diria que escondias um talento assim? ━ provocou ela, enquanto sua risada se dissolvia no ar como uma melodia breve.
O aroma da torta de maçã quase pronta começava a impregnar o ambiente. Era um perfume doce e quente, como um abraço invisível que preenchia cada canto da cozinha. O som rítmico do raspador contra a superfície da bancada parecia o único som no mundo até que a porta se abriu, silenciosa como um suspiro.
Quando ergui os olhos, lá estava Jungkook, uma visão que parecia pertencer a outra dimensão. Seu cabelo ainda úmido moldava-se à linha de sua nuca, e a pele, ruborizada pelo calor do banho, refletia um brilho que parecia absorver e refletir a luz dourada do entardecer. Vestia uma calça jeans despretensiosa e uma camisa de algodão cujo colarinho ligeiramente aberto revelava as runas, símbolos que dançavam entre o sagrado e o misterioso.
Ele não apenas entrou; ele trouxe consigo uma serenidade que parecia dissipar qualquer sombra remanescente de cansaço ou incerteza. Seu sorriso... Ah, aquele sorriso! Era ao mesmo tempo gentil e arrebatador, capaz de transformar o ambiente e inquietar os corações desavisados.
Eu, absorto em minha tarefa, não percebi sua aproximação. Estava perdido entre as fatias de maçã e meus próprios pensamentos, até sentir o calor de braços firmes ao meu redor, envolvendo-me em um abraço que era mais do que físico: era uma promessa de segurança e conforto.
A proximidade de Jungkook desestabilizou minha compostura de forma quase cômica. Um grito abafado escapou de meus lábios, e antes que pudesse reagir, vi a tigela em minhas mãos deslizar, traindo-me em um movimento desastrado.
Por um instante que pareceu se alongar no tempo, observei o recipiente, com seu precioso recheio de maçã e canela, despencar em direção ao chão. Meu coração apertou-se ante a inevitabilidade do desastre. Mas, como se o universo conspirasse em nosso favor, o impossível aconteceu: a tigela pairou no ar, suspensa por uma força invisível que desafiava a lógica.
Um silêncio carregado tomou conta do espaço, denso e repleto de incredulidade. A tigela flutuava, imóvel, enquanto o creme em seu interior permanecia intacto, sem um único respingo fora do lugar.
Foi Grainne quem primeiro rompeu o feitiço, sua risada leve e enigmática ecoando pela cozinha. Seus olhos, agora brilhando com um estranho tom alaranjado, observavam tudo com a tranquilidade de quem já conhecia o mistério.
━━ Como...? ━ minha voz saiu em um sussurro, carregada de um misto de espanto e admiração.
Antes que ela pudesse responder, Jungkook, que até então parecia mais divertido do que surpreendido, virou-se para Grainne, arqueando uma sobrancelha com expressão inquisitiva.
━━ O que mais você está escondendo, Gwrach? ━ ele perguntou, seu tom brincalhão, mas havia uma curiosidade genuína que ele não fazia questão de esconder.
O oráculo, com seu sorriso habitual, apenas meneou a cabeça.
━━ Existem muitas coisas sobre mim que você ainda ignora, Fallen ━ respondeu ela, suas palavras envoltas em mistério.
━━ E pretende continuar nos deixando no escuro? ━ arrisquei, minha empolgação transparecendo em minha voz.
━━ É uma história longa, Aingeal ━ ela disse, com um tom que parecia carregar eras de segredos e memórias.
Jungkook, no entanto, não se deu por vencido. Seus olhos brilhavam, agora com um interesse quase infantil, enquanto ele insistia:
━━ Temos tempo.
Grainne permitiu que um sorriso tênue brincasse em seus lábios enquanto os dedos amalgamavam a massa da torta, seus gestos tão intuitivos quanto o ritmo do próprio coração. O olhar dela vagava para além das paredes da cozinha, repousando em um horizonte invisível moldado por memórias que pareciam tão distantes quanto as estrelas. Quando enfim quebrou o silêncio, sua voz era uma melodia sutil, carregada de uma melancolia quase palpável, como o som do vento através de árvores ancestrais.
━━ Jimin, já se perguntou o que impele duas almas a se encontrarem em um mundo tão vasto? ━ A pergunta não exigia resposta; ela sabia que o silêncio seria a única réplica. ━━ Perguntei isso a mim mesma inúmeras vezes, especialmente depois de Richard Starling atravessar meu caminho.
Ela suspirou, e o som parecia carregar o peso de séculos de saudade, ecoando como o murmúrio do tempo. Seus olhos pousaram no forno, onde o vapor erguia-se como um véu, e, por um instante, o rosto dele pareceu surgir entre as espirais etéreas.
━━ Ele era singular, tão diferente de qualquer outro que já conheci. Na época, eu tinha vinte e seis anos e a ilusão de compreender o mundo. Mas Richard... ah, Richard era um enigma, uma força de quietude que contrastava com a tempestade de minha alma. Seus olhos, âmbar como o sol declinante, pareciam conter o infinito. E sua presença... estar ao lado dele era como sentir o universo se equilibrar ao meu redor.
Grainne fez uma pausa, a saudade moldando um sorriso leve e agridoce em seus lábios. O calor da lembrança parecia iluminar o espaço ao seu redor. Quando voltou a falar, a emoção em sua voz tornou-se quase tangível, um fio delicado entre o passado e o presente.
━━ Richard confiou-me sua história. Falou-me das rejeições que sofreu, da solidão que o acompanhou até encontrar um mestre. Esse homem não lhe ensinou apenas a dominar os elementos ━ o ar, a terra, o fogo, a água e o metal ━━, mas também a si mesmo. Ele acreditava que o maior poder estava em saber quando não utilizá-lo.
Ela riu suavemente, mas a tristeza subjacente traía a leveza do gesto. Seus dedos continuaram a trabalhar na massa, como se a tarefa fosse uma âncora que a mantivesse firme diante da torrente de memórias.
━━ Richard carregava um peso imensurável, como se o destino do mundo repousasse sobre seus ombros. E eu... fui insensata o suficiente para pensar que poderia aliviar essa carga. Nós nos apaixonamos, Jimin, mas não foi um amor comum. Era um fogo urgente, como se ambos soubéssemos que o tempo nos era negado.
Grainne interrompeu-se, os olhos brilhando com lágrimas não derramadas. Uma lembrança específica parecia prendê-la, a força da memória quase física. Quando voltou a falar, sua voz era um sussurro reverente.
━━ Ele acreditava no equilíbrio, na harmonia entre força e delicadeza. Lembro-me de um dia especial, em minha casa, no coração da floresta. Richard me guiava em algo que chamou de Círculo da Mente. Naquele dia, o sol filtrava-se pelas folhas, pintando o chão com matizes de ouro.
Ela fechou os olhos, perdida na cena que pintava com palavras.
━━ Richard sabia que eu tinha um potencial que sequer compreendia. Meus poderes como bruxa eram indomados, selvagens, uma tempestade que eu não sabia como conter. Ele, sempre tão sereno, acreditava que o controle não vinha da força, mas do equilíbrio. E então, me pediu para sentar no chão da sala, diante de uma pena que ele encontrara na floresta.
Ela fechou os olhos brevemente, como se estivesse de volta àquele instante.
━━ "Respire, Grainne", ele disse. "Sinta o mundo ao seu redor, mas não tente dominá-lo. Permita que ele o aceite." Suas palavras soavam como um sussurro do vento, tão leves e ainda assim tão firmes. Ele me instruiu a fechar os olhos, a visualizar a pena como uma extensão de mim mesma. "Inspire profundamente", ele continuou, "e veja a energia fluir de você para a pena. Quando expirar, deixe sua intenção guiá-la."
Grainne abriu suspirou com um misto de saudade e ternura.
━━ Foi a coisa mais difícil que já fiz. Minha mente estava inquieta, sempre resistindo, sempre tentando forçar algo que precisava de suavidade. Mas Richard estava ali, ao meu lado, paciente como a própria terra. Toda vez que eu errava, ele apenas sorria e dizia: "De novo. O equilíbrio é construído em tentativas, Grainne, não em perfeição."
O oráculo riu baixinho, mas a emoção em sua voz era palpável.
━━ Quando, finalmente, a pena se moveu ━ um movimento tão sutil quanto o de uma folha ao vento ━━, ele sorriu para mim de uma maneira que nunca esquecerei. Havia orgulho em seus olhos âmbar, mas também algo mais. Algo que eu queria acreditar ser amor, mesmo sabendo que ele nunca diria isso em palavras.
Ao reabrir os olhos, Grainne parecia brilhar com um misto de orgulho e dor. Ela ergueu-nos o olhar, e a intensidade de sua expressão transformou a cozinha em um santuário.
━━ Foi naquele instante que compreendi: amar não é possuir, mas crescer lado a lado. Richard me ensinou que a verdadeira força está em aceitar quem somos, mesmo quando o mundo nos rejeita.
O silêncio que se seguiu foi preenchido pelo crepitar do forno e pelo aroma reconfortante da torta que assava. Quando Grainne finalmente voltou a falar, sua voz tinha um tom resoluto.
━━ Vejo em vocês o que nós jamais conseguimos alcançar. Em Jungkook o mesmo olhar que Richard tinha. Um olhar de alguém que encontrou algo mais precioso do que a própria vida. E em você, Jimin, o mesmo desespero que eu sentia. Não vou permitir que vocês cometam os mesmos erros que nós cometemos. Lutem, Jimin. Lutem um pelo outro, pois o amor verdadeiro é tão raro quanto uma estrela cadente, e quando o encontramos, devemos segurá-lo não com força, mas com coragem.
Ela voltou à torta, mas o brilho nos olhos dela revelava que o fantasma de Richard jamais a abandonaria. Com um sorriso leve, ela finalizou, a dor misturada com um humor reconfortante:
━━ Agora, vejamos se esta torta faz jus às de Richard. Ele nunca admitia, mas adorava uma fatia com creme quente por cima.
O silêncio que se seguiu à história de Grainne era denso, quase tangível. Eu sentia o calor das mãos de Jungkook percorrendo meus cabelos, um gesto calmo que parecia me ancorar à realidade enquanto minha mente vagava por entre as palavras dela. Sua história, tão cheia de saudade e amor não realizado, ainda pairava no ar, como se tivesse impregnado o ambiente.
O'Mulriain havia voltado à sua torta, o avental já manchado de farinha, mas sua postura era mais ereta, mais firme. Ela parecia ter encontrado alguma forma de paz ao compartilhar aquilo conosco, como se libertar das memórias também fosse um ato de coragem. Mas, para mim, a história era mais do que uma confissão; era um espelho.
Eu sentia o peso daquelas palavras. A intensidade do amor dela por Richard Starling ecoava nos cantos mais profundos da minha própria alma, onde meu amor por Jungkook residia. "O amor não é sobre possuir", ela dissera. Mas, ao ouvir isso, uma parte de mim se rebelava. E se for sobre lutar? E se, mesmo sabendo que o mundo pode nos engolir, o que importa é resistir juntos?
Jungkook apertou-me um pouco mais contra si, e sua mão parou por um instante em minha nuca, apenas repousando ali, como se me dissesse sem palavras: Estou aqui. Sempre estarei. Eu inclinei a cabeça de leve, aceitando seu toque, e senti o coração se aquecer, como se ele pudesse enxugar a melancolia que ainda pairava em meu espírito.
Grainne tinha razão em uma coisa. Amar alguém como Jungkook ━ tão intenso, tão pleno ━ era como se aproximar do sol: perigoso, avassalador, mas irresistível. E, ainda assim, enquanto ela falava de renúncia, de aceitação, eu só conseguia pensar no que nós havíamos superado até agora. Não éramos Grainne e Richard. Nós não éramos obrigados a carregar o mundo inteiro. Nosso amor, mesmo desafiado pelo divino, não pertencia a ele. Pertencia a nós.
Ergui os olhos para Jeon. Ele olhava-me com aquele brilho calmo e resoluto que tanto admirava. Era um olhar que prometia mundos, mesmo sem palavras. Eu sabia o que ele diria se quebrasse o silêncio: Você não está sozinho nisso, Jimin. E ele estaria certo.
Minha mente retornou à pergunta de Grainne. "Você já se perguntou o que faz algumas almas se encontrarem em um mundo tão vasto?" Talvez eu não tivesse uma resposta clara. Talvez ninguém tivesse. Mas o que eu sabia era que, se o universo conspirou para me trazer até Jungkook, então eu lutaria contra qualquer coisa para mantê-lo ao meu lado. Não seria uma história de sacrifício e arrependimento. Seria nossa história.
O aroma doce da torta encheu a cozinha, um contraste acolhedor com os pensamentos tumultuados em minha mente. Apoiei minha cabeça no peito de Jeon, sentindo o ritmo constante do seu coração. Ali, envolto em seus braços, tomei minha decisão.
Não seríamos uma memória melancólica como Grainne e Richard. Não deixaríamos o mundo nos levar. Porque, se há algo que a história dela me ensinou, é que o amor não é apenas sobre renunciar; é sobre ter a coragem de lutar ━━ juntos.
Eu lutaria. Por nós dois.
𝐏𝐔𝐁𝐋𝐈𝐂𝐀𝐃𝐎 𝐄𝐌: 𝟎𝟐/𝟏𝟐/𝟐𝟎𝟐𝟒
𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒
©𝐋𝐘𝐃𝐈𝐀 𝐓𝐀𝐕𝐀𝐑𝐄𝐒
O capítulo 15 de Fallen tem participação especial de:
Richard Starling.
Personagem de Agente Oculto, livro do meu querido Alex
JonFerratt
Me vi encantada com os ensinamentos de Richard e com o trecho em que ele ensinou a Grainne em Fallen.
Imediatamente vi a história deles se entrelaçar e perguntei ao Alex se ele me emprestaria o Richard. Não houve recusas. Além de me permitir usá-lo, ajudou-me com todas as informações sobre ele.
Obrigada amigo, por ceder o Richard a Fallen e construir comigo parte dessa história.
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