──────⊱◈◈◈⊰──────
"𝑨𝒍𝒈𝒖𝒎𝒂𝒔 𝒎𝒆𝒎𝒐́𝒓𝒊𝒂𝒔 𝒏𝒂̃𝒐 𝒗𝒊𝒗𝒆𝒎 𝒏𝒐 𝒑𝒂𝒔𝒔𝒂𝒅𝒐; 𝒆𝒍𝒂𝒔 𝒔𝒆 𝒆𝒔𝒄𝒐𝒏𝒅𝒆𝒎 𝒏𝒂𝒔 𝒃𝒂𝒕𝒊𝒅𝒂𝒔 𝒅𝒐 𝒄𝒐𝒓𝒂𝒄̧𝒂̃𝒐, 𝒆𝒔𝒑𝒆𝒓𝒂𝒏𝒅𝒐 𝒐 𝒎𝒐𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐 𝒄𝒆𝒓𝒕𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂 𝒏𝒐𝒔 𝒍𝒆𝒎𝒃𝒓𝒂𝒓 𝒅𝒆 𝒒𝒖𝒆𝒎 𝒓𝒆𝒂𝒍𝒎𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒔𝒐𝒎𝒐𝒔."
──────⊱◈◈◈⊰──────

Pela manhã, acordo em meu quarto, incomodado com a luz suave do sol que entra pelas frestas das cortinas. Finas lágrimas escorrem pelo meu rosto, quentes e salgadas, enquanto a dor da memória sufocada em meu peito me invade. Sinto a urgência da promessa que fiz: lembrar de Você. E agora, mais do que nunca, sei que não posso falhar.

Levanto-me, afastando o ócio como se fosse um manto pesado. Um banho gelado revigora meu corpo, despertando cada fibra de meu ser. Visto-me com roupas quentes, envolvendo-me em camadas de tecido macio que contrastam com a brisa fresca que entra pela janela. O clima está ameno, e posso sentir uma sutil mudança no ar, como se a natureza estivesse... respirando. Uma leve neblina envolve o deque, criando um manto excelso que me chama, a promessa de um mistério que não consigo ignorar.

Com as mãos trêmulas, levo a xícara de chocolate quente até os lábios. O calor reconfortante do recipiente se espalha pelos meus dedos, enquanto o líquido espesso e aveludado esquenta minhas entranhas, aquecendo não apenas meu corpo, mas também minha alma.

Faço o mesmo percurso da noite anterior, a expectativa crescendo a cada passo. Então, encontro o que buscava: um sinal corpóreo de que não estou enlouquecendo, que tudo que vivi foi real. À minha frente, repousa uma rosa vermelha, perfeita e vibrante, refletindo o tom hipnotizante dos olhos de Mahasiah e as cores do jardim de Jeon, um toque de beleza que parece ter atravessado o tempo.

Com delicadeza, apanho a rosa escarlate, suas pétalas suaves roçando contra meus dedos. Levo-a até as narinas, e o perfume inebriante de almíscar invade meus sentidos, denso e profundo, como uma lembrança antiga que eu não sabia que carregava.

O mesmo aroma que envolvia Jungkook quando ele me segurou, evitando minha queda na manhã anterior. É uma lembrança tão vívida que quase posso sentir a sua presença ao meu lado, como se ele estivesse ali, garantindo que não me perderia.

A rosa entre meus dedos parecia pulsar, como um pedaço do passado materializado em minhas mãos. Um reflexo escarlate do laço que nos une.

Entro novamente no chalé, cada passo ecoando no piso linóleo, rangendo sob meus pés, o lugar parece vivo, guardando confidências e vivências.

Procuro meus cadernos antigos, os portadores das memórias e fragmentos da minha vida. Se há algo que sei sobre minha história, é que deve estar inscrito nas páginas amareladas, onde palavras e sentimentos se conectam, esperando para serem redescobertos.

A lembrança surge vívida em minha mente: aquele caderno que preparei com tanto cuidado, dedicado exclusivamente aos meus sonhos. Páginas repletas de ideias, de enredos não contados, como estrelas perdidas no vasto céu da minha imaginação.

Nunca reli aqueles textos, e muitos permanecem inexplorados, apenas relatos de meus devaneios confusos, espectadores mudos de uma mente que buscava compreensão. Ele serviu como um diário, guardando fragmentos de um eu que desejava desesperadamente ser entendido.

Na página um intitulada por Firmamento há uma estória - ou seriam aos relatos da minha vida?

Enquanto folheio as páginas, a narrativa começa a se desdobrar com o nascimento dos anjos. Sinto como se estivesse lá, na hipótese de que minha própria alma lembrasse de cada detalhe.

A luz celestial, a expectativa... Mahasiah. Ele já estava ali, mesmo antes que eu soubesse. Em um instante, sou transportado para outra realidade, uma que parece tão distante e, ao mesmo tempo, tão próxima. Meus olhos percorrem as palavras que escrevi com tanto fervor, carregadas de uma luz que eu já não lembrava.

Feitos da centelha divina, eles emanavam um fulgor tão intenso que ofuscava o próprio sol. Ao ler sobre eles, sinto-me como um observador de um canto esquecido do firmamento.

Os anjos, dotados de beleza estonteante, foram criados para servir e adorar ao Senhor dos Céus. Não podiam escolher seu próprio caminho; suas vidas eram dedicadas aos humanos que mereciam a graça celestial.

Enquanto mergulho nessas memórias, sinto uma conexão estranha. Eu, Jimin, com meus anseios e dúvidas, pareço compreender as angústias desses seres etéreos.

Flutuando entre as nuvens, seus rostos são radiantes, mas por trás desse brilho, ha uma sombra - a ausência do amor. Eles não podiam se envolver emocionalmente.

Isso me faz pensar: como poderiam existir sem experimentar a essência da vida?

Volto a ler sobre um momento vívido que anotei: uma reunião celestial onde os anjos discutiam a chegada de um novo ser, um que poderia mudar tudo. Eu os via tão apaixonados por essa ideia que sentia suas emoções ecoando dentro de mim.

Uma imagem se forma em minha mente: Jungkook ━━ ou Mahasiah não sei mais discernir. Seu olhar profundo me envolvia em um misto de confusão e desejo, e, ao lembrar disso, meu coração acelera.

O que isso significaria para um anjo? Eles, que não podiam amar, me fazem questionar minha própria realidade. O que significa amar alguém que também não pode retribuir?

Continuando a leitura observo o nascimento desse novo ser ━━ um anjo. Em meio a uma resplandecente aurora celestial, eles aguardavam ansiosamente, cientes de que este anjo seria especial.

Ele dominava a filosofia, a teologia, as altas ciências, as artes e as profissões liberais, sendo uma encarnação do saber e da beleza.

Sua presença estimularia o gosto pelo esoterismo e pelo ocultismo, guiando as almas curiosas através dos mistérios do universo. Proporcionava o dom de aprender com facilidade tudo o que estudava, como se cada conhecimento fosse uma melodia que dançava em sua mente.

Este novo ser seria agraciado com um caráter e uma fisionomia agradáveis, emanando um magnetismo irresistível que atraía todos ao seu redor.

Ele traria consigo a capacidade de apreciar os prazeres honestos da vida, promovendo harmonia nos relacionamentos e auxiliando no aprendizado, especialmente de idiomas, conferindo inteligência e rapidez de raciocínio àqueles que o invocassem.

Seria um farol de paz e harmonia, um espírito generoso que levaria equilíbrio interior e um profundo senso de humanidade a todos que o cercassem. Mais uma vez, a divindade criava um ser perfeito, uma obra-prima da criação.

Enquanto os anjos sussurravam entre si, suas vozes soavam como música suave, carregando a expectativa no ar, mas todos escondiam sua empolgação do Senhor. Não lhes era permitido demonstrar afeto, e assim, as expressões se mantinham serenas, como máscaras cuidadosamente moldadas.

Observei a luz, tão intensa que parecia pulsar, transformando-se em formas que começavam a ganhar vida. Um corpo deífico se expôs diante de nós, e eu não pude evitar um suspiro involuntário. Ele era lindo! Tinha olhos vermelhos escarlate, brilhando como rubis sob a luz celestial, e cabelos longos e negros como o firmamento, caindo em ondas que pareciam dançar na brisa divina. Sua pele era alva como as nuvens mais puras, resplandecendo com uma luminosidade própria.

Meu coração angelical errou as batidas diante daquela visão sublime. Seus olhos cruzaram os meus, e naquele instante, o universo pareceu conspirar para nos unir, como se o destino já tivesse escrito nosso encontro.

Naquele momento, percebi que não conseguiria fugir do sentimento proibido que crescia em meu peito, uma chama ardente que desafiava as regras sagradas dos anjos. Era um amor que desabrochava nas sombras da criação, um laço que transcenderia a eternidade.

"Será que estou ficando louco? Cada memória, cada toque... Tudo parece real, mas como isso pode ser? Como posso amá-lo, sem nem mesmo conhecê-lo?"

Minhas palavras ecoaram no quarto, reverberando como um sussurro de um passado longínquo, senti minhas pernas fraquejarem sob o peso da revelação. Se eu não estivesse sentado, com certeza teria caído, tamanha era a intensidade da emoção que me invadia.

Era ele... eu descrevi Mahasiah. A visão do seu ser não era apenas um reflexo do meu sonho, mas uma presença concreta que sempre fez parte da minha vida, como uma melodia familiar que toca em momentos de saudade.

Cada detalhe que eu havia tecido em minhas lembranças se desenrolava diante de mim com uma clareza angustiante. Seus olhos escarlate, cheios de mistério e profundidade, pareciam penetrar minha alma, despertando sentimentos que há muito estavam adormecidos.

Os cabelos longos e negros, como as asas da noite, fluíam suavemente ao redor de seu rosto, emoldurando sua beleza deifica que desafiava o tempo. A conexão entre nós era instantânea, o destino havia se entrelaçado em um único momento.

A presença dele me envolveu. Meu coração se aqueceu, mas o tempo pareceu congelar. O universo inteiro parou para testemunhar aquele encontro. Amor, saudade... e uma melancolia silenciosa tomaram conta de mim.

Ele sempre esteve lá. Nas sombras dos meus sonhos, no silêncio entre as palavras. Mahasiah. Meu coração sempre soube. Sempre soube... mas só agora posso admitir.

𝐏𝐔𝐁𝐋𝐈𝐂𝐀𝐃𝐎 𝐄𝐌: 𝟎𝟑/𝟏𝟎/𝟐𝟎𝟐𝟒
𝐑𝐄𝐕𝐈𝐒𝐀𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑: 𝐌𝐀𝐈𝐑𝐀 𝐋𝐈𝐌𝐀 & 𝐕𝐀𝐋𝐐𝐔𝐈́𝐑𝐈𝐀 𝐒𝐀́𝐕𝐈𝐎
𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒 ©𝐋𝐘𝐃𝐈𝐀 𝐓𝐀𝐕𝐀𝐑𝐄𝐒