𝐍𝐎𝐒𝐒𝐎𝐒 𝐒𝐈𝐍𝐀𝐈𝐒
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"𝑫𝒐 𝒐𝒖𝒕𝒓𝒐 𝒍𝒂𝒅𝒐 𝒅𝒐 𝒂𝒃𝒊𝒔𝒎𝒐, 𝒆𝒏𝒄𝒐𝒏𝒕𝒓𝒆𝒊-𝒐, 𝒃𝒂𝒏𝒉𝒂𝒅𝒐 𝒆𝒎 𝒖𝒎𝒂 𝒍𝒖𝒛 𝒒𝒖𝒆 𝒑𝒂𝒓𝒆𝒄𝒊𝒂 𝒕𝒂̃𝒐 𝒑𝒓𝒐́𝒙𝒊𝒎𝒂 𝒅𝒐 𝒊𝒏𝒇𝒆𝒓𝒏𝒐 𝒒𝒖𝒂𝒏𝒕𝒐 𝒅𝒐 𝒑𝒂𝒓𝒂𝒊́𝒔𝒐."
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"O mundo desabou sobre mim, não em ruído ensurdecedor, mas em um silêncio dilacerante, tão profundo quanto a dor que me consumia.
Acordei num mar de brasas, cada batida do meu coração um prego a mais no meu caixão de carne.
A fragilidade era meu novo corpo, e a dor, minha única companheira na escuridão.
A primeira coisa que vi foram seus olhos, dois sóis ardentes que me puxaram de volta para a vida, mesmo que essa vida estivesse marcada pela dor."
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Quando abri os olhos, a fragilidade me invadiu como uma onda gélida, ameaçando estilhaçar meu corpo em mil pedaços. Era como se cada osso fosse um cristal prestes a se fraturar sob o peso de um mar de brasas que me consumia por dentro; cada batida do meu coração ecoava como um golpe de martelo em ossos fraturados. A dor, antes um torpor distante, agora era uma presença física, corpórea, sufocante. O mundo real me recebia com a fúria de um pesadelo que se recusava a terminar. As cenas do julgamento, vívidas e cruéis, queimavam atrás de minhas pálpebras, tão reais que eu podia sentir o gosto metálico do sangue em minha boca.
Enquanto tentava processar a realidade fragmentada que se impunha, algo em meu peito pulsava com uma força incontrolável, uma âncora em meio ao caos. Era ele. Jeon. Sua presença, logo à minha frente, era um alívio e uma nova fonte de angústia, uma centelha de clareza em meio à escuridão. Ele era minha dor e meu único porto seguro. Palavras se amontoavam na minha garganta, mas antes que pudesse articulá-las, meu corpo se moveu por instinto, impulsionado por uma necessidade visceral de contato. Sem pensar, tentei abraçá-lo, como se o simples toque pudesse me convencer de sua realidade, de que tudo havia terminado.
Mas a dor me atingiu com a violência de um golpe. Um gemido escapou dos meus lábios, um som rouco e doloroso que ecoou no silêncio do quarto. Num instante, ele estava ao meu lado, seus dedos delicados me ajudando a recostar-me.
━━ Jimin... ━ A voz dele, rouca e onusta de um sofrimento infinito, ecoou como um sussurro, um alívio e uma confirmação simultâneos. Ele sabia que eu estava de volta. Estava ali, nos braços dele, mas a dor ainda persistia, um peso incômodo em meu corpo.
━━ Devagar, meu amor. ━ Sua voz, suave como a brisa primaveril, apinhada de uma preocupação profunda e sincera, me envolveu como um casulo protetor. Ele segurou meu braço com uma delicadeza que me fez quase lagrimejar, não de dor, mas de uma emoção tão intensa que me deixava sem fôlego.
O cheiro familiar de seu perfume amadeirado invadiu minhas narinas, um bálsamo para minha alma dilacerada. Quando me ajudou a recostar-me, um choque me percorreu. Olhei para baixo e vi as marcas, intrincadas como arabescos de fogo, gravadas a ferro em minha pele, agora parte indissolúvel de mim. Elas eram um mapa de nossa jornada, uma constelação de sofrimento e amor. Grainne observava-nos de longe, mas foi Jungkook quem interrompeu o silêncio.
━━ Elas são... o que você carregará agora. ━ Ele hesitou, procurando as palavras certas, a voz quase um sussurro. ━ Um reflexo do julgamento, do que você enfrentou... e superou.
Superar. A palavra ecoou em minha mente, vazia e irreal. Como poderia superar algo que ainda queimava tão vívido dentro de mim? Foi então que finalmente consegui vê-lo com clareza, e meu coração vacilou.
As cicatrizes em sua pele, as runas que queimavam como brasas, brilhavam com um incandescente laranja-avermelhado, como se seu próprio corpo fosse um reflexo do que ele havia enfrentado para me trazer de volta. Seus olhos, antes dourados como o âmbar, agora reluziam entre o alaranjado e o vermelho intenso, como fogo vivo, consumindo-o por dentro.
A culpa me atingiu como uma lâmina afiada, cortando fundo.
━━ O que fizeram com você? ━ sussurrei, minha voz quase inaudível, um fio de seda prestes a se romper.
Ele tentou sorrir, um gesto pequeno, mas carregado de uma tristeza profunda e silenciosa.
━━ Isso não importa agora. Você está aqui. Isso é tudo o que importa.
Mas não era verdade. Eu podia ver isso nos seus olhos, no peso que ele carregava, na tensão de seus ombros. Minhas mãos tremeram ao alcançá-lo, mas ele as segurou antes que eu pudesse tocar seu rosto. Suas mãos estavam quentes, firmes, transmitindo uma força que eu desesperadamente precisava.
━━ Jeon... ━ minha voz falhou, quebrada pela emoção. ━ Por que você sempre paga o preço por nós?
Ele não respondeu imediatamente. Em vez disso, me puxou para perto, ignorando minha fragilidade, o peso da dor que me consumia. Seu abraço foi um abraço quente, macio, que me envolveu como um casulo protetor, silenciando a azáfama de pensamentos e a dor que me dilacerava. Era tudo o que eu precisava, e ao mesmo tempo, tudo que me destruía.
━━ Porque eu sempre escolheria você. ━ ele sussurrou, sua voz rouca, mas cheia de uma inércia inabalável que me desarmou. ━ Mesmo que eu tivesse que carregar o peso de mil vidas.
Senti uma dor profunda no peito, a metanoia me consumindo como um veneno lento. Eu sabia que os traços em sua pele eram marcas de um sacrifício feito para me salvar. No fundo, entendia que cada uma delas era consequência de escolhas que ele fez por mim. Ele havia entregado mais de si, mais uma vez, em nome de um amor que eu temia, mas que agora parecia ser a única coisa que nos mantinha conectados.
As lágrimas escorreram pelo meu rosto, incontroláveis, um rio de sofrimento e gratidão. Era demais. A culpa, a dor, o amor. Tudo era demais. Temia que, se o soltasse, ele se dissipasse como o ar, então, de forma instintiva, envolvi meus braços ao redor de seu corpo, buscando refúgio no calor de sua presença. O toque dele me fez sentir mais real, mas ao mesmo tempo me fez perceber o quanto eu estava quebrado. Ele já sabia. Ele sempre soubera.
Sabia que precisávamos conversar, que havia tanto a ser dito e explicado. Mas, naquele momento, o calor de seus braços era a única coisa que importava, a única verdade que importava. As palavras pareciam pequenas diante de tudo o que ele havia feito por mim, diante de todo o sofrimento que ele havia enfrentado. O olhei, ainda com o abraço apertado, e então percebi o quanto ele havia mudado também. As marcas em sua pele não eram apenas físicas; elas eram o reflexo de uma batalha que ele travara para me trazer de volta, de um amor que ele sempre carregou, mas que custou mais do que qualquer um de nós imaginava.
━━ Você... você fez isso por mim? ━ sussurrei, sem saber ao certo se ele conseguiria entender o peso da minha pergunta.
━━ Eu faria qualquer coisa por você, Anjo. ━ sua resposta veio firme, mas havia um tremor em sua voz, uma fragilidade que me partia o coração. ━━ Eu... não sabia mais o que fazer. O desespero... A dor de não poder te trazer de volta. Mas eu nunca vou desistir de você.
Ele se culpava por aquilo que aconteceu conosco, mas não havia necessidade. Sabia que ele faria qualquer coisa por mim, e eu... eu faria o mesmo por ele, mesmo que os sacrifícios fizessem o meu coração se partir cada vez mais. Eu só não sabia se seria capaz de suportar o peso do amor que ele me dava.
━━ Mas as marcas... o que elas significam? ━ perguntei, tentando entender, tentando encontrar uma explicação, uma forma de fazer sentido do que meu corpo e o de Jungkook agora carregavam. Ele, sem hesitar, se afastou ligeiramente, mas continuou segurando minha mão.
━━ São os vestígios do que enfrentamos juntos, Jimin. O julgamento... o sacrifício... são marcas que permanecem. Elas... não podem ser apagadas.
As palavras dele se arrastaram pela minha mente, e a realidade do que acontecera foi se tornando cada vez mais clara. Estava de volta, mas havia um preço a pagar, e esse preço não era só para mim. Jungkook também havia sido consumido por esse preço. E mais uma vez eu me senti culpado por cada marca em seu corpo.
Encarei seus lumes, incendiados por um fogo interno, e meu coração vacilou. Eu o amava e sabia que as cicatrizes que ele carregava eram consequências de nosso amor. Consequências de algo que não escolhemos, mas que nos foi imposto.
━━ Não sei o que fazer, Jungkook. ━ disse, minha voz quebrando. ━ Você fez tanto por mim, e agora... vejo o que você carrega. Não sei se posso aguentar tudo isso.
Jeon me olhou com uma intensidade que queimava, e em seus olhos havia um denodo inabalável. ━━ Nós vamos aguentar, Jimin. Juntos, vamos passar por tudo isso. Eu não sou nada sem você. E você... você sempre será a razão pela qual eu respiro.
Quando o abraço se rompeu, me afastei um pouco, sem conseguir tirar os olhos dele. Cada marca em sua pele, cada cicatriz que antes era invisível para mim, se tornava parte da nossa história compartilhada. Ele parecia tão diferente. As runas gravadas em seu corpo não eram apenas símbolos de sofrimento, mas também de resistência. E, ao olhá-lo, percebi que ele sofreu tanto quanto eu, se não mais. Eu causei dor a ele, o fiz passar por coisas inimagináveis, e isso arrancava uma parte de mim.
━━ Anjo, ━ Jungkook chamou, sua voz suave, um refrigério para minha alma ferida. ━━ Está doendo... sei disso.
Só consegui assentir, o peso das palavras dele calando qualquer coisa que eu tentasse verbalizar. Ele sabia. Sempre soubera. Como ele podia ser tão forte, tão tranquilo, depois de tudo o que aconteceu?
Então, Jeon fez algo inesperado. Aproximou-se novamente, tocando suavemente minha pele, onde as marcas do julgamento ainda ardiam. Ele não pressionou, apenas tocou levemente, como se quisesse me transmitir um pouco de sua força, um pouco de sua paz. Minhas cicatrizes, um peso tão grande, pareciam um elo, um ponto de conexão entre nós, um testemunho silencioso de nossa jornada compartilhada.
━━ Essas marcas ━ ele sussurrou, seu olhar fixo nas minhas costas, ━ não são só sofrimento, Jimin. Elas são o que nos fez fortes, o que nos uniu.
Tentei dizer algo, mas as palavras falharam. Achei que minhas cicatrizes seriam apenas lembranças de uma dor profunda, algo que carregaria sozinho. Mas Jungkook me mostrava, silenciosamente, que essas marcas não precisavam ser um fardo. Elas eram um reflexo de tudo o que passamos, de tudo o que superamos juntos. Mesmo separados, mesmo nas sombras, sempre estivemos conectados.
Senti um calor se espalhar por todo o meu corpo quando ele continuou tocando as marcas, cada toque como um eflúvio curativo. Não era só a dor física que começava a se dissipar, mas uma dor mais profunda, emocional. Como se, a cada movimento, ele estivesse curando as feridas que o julgamento deixou, não apenas nas marcas visíveis, mas nas cicatrizes invisíveis, aquelas que guardava no coração.
━━ Eu te fiz sofrer, ━ minha voz saiu entrecortada, carregada de culpa e arrependimento. ━━ Eu... Eu nunca quis te fazer passar por isso.
Jungkook não respondeu de imediato, mas pude ver em suas orbes que entendia. Ele não precisava de palavras; me abraçou novamente, desta vez com mais força, como se soubesse exatamente que precisava disso. Então, com um suspiro profundo, falou, mais baixo:
━━ Não é sobre quem causou a dor, Anjo. É sobre como nós a enfrentamos. Juntos.
Aquelas palavras, ditas de forma tão simples, finalmente me fizeram entender. Não importava o que passamos, não importava o quanto nos machucamos ou nos sacrificamos. O importante era que estávamos unidos e, juntos, poderíamos enfrentar qualquer intempérie.
━━ Eu... Eu não sei se sou digno de você, ━ murmurei, meus pensamentos turvos pela culpa e pelo medo que ainda me consumiam. ━━ Não sei como merecer alguém como você.
Jungkook me encarou com uma intensidade que me deixou mudo. Me segurou pelos ombros, seu olhar penetrante, e falou com uma serenidade que me acalmava, apesar de tudo:
━━ Você não precisa merecer nada, Jimin. Você nunca esteve sozinho. Eu sempre estarei ao seu lado. Não importa o que tenha acontecido, ou o que ainda venha. Você não carregará essas cicatrizes sozinho.
Olhei no fundo de suas íris, e pela primeira vez desde que acordei, senti um alívio profundo e verdadeiro. Ele não estava tentando me salvar, não estava tentando consertar o que aconteceu; estava simplesmente ali. Ao meu lado, aceitava minhas marcas e as dele como partes de uma história que compartilharíamos.
E, naquele momento, algo mudou. O peso das cicatrizes já não era tão grande. O medo de enfrentar o futuro com ele já não era paralisante. Com Jungkook, eu não precisaria carregar mais nada sozinho. Ele estaria comigo, e isso era tudo o que importava.
Encarei suas runas, a cor vibrante de seus olhos, e senti algo se fortalecer dentro de mim, uma chama de esperança em meio às cinzas.
━━ Eu vou estar com você, ━ sussurrei minhas palavras preenchidas com um novo propósito, um novo compromisso. ━━ Agora e sempre!
𝐏𝐔𝐁𝐋𝐈𝐂𝐀𝐃𝐎 𝐄𝐌: 𝟐𝟎/𝟏𝟏/𝟐𝟎𝟐𝟒
𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒 ©𝐋𝐘𝐃𝐈𝐀 𝐓𝐀𝐕𝐀𝐑𝐄𝐒
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