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𝐃𝐄𝐒𝐂𝐎𝐁𝐑𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐄𝐌𝐎𝐂̧𝐎̃𝐄𝐒

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“𝑵𝒐 𝒔𝒊𝒍𝒆̂𝒏𝒄𝒊𝒐 𝒅𝒂 𝒎𝒊𝒏𝒉𝒂 𝒂𝒍𝒎𝒂, 𝒔𝒐́ 𝒓𝒆𝒔𝒕𝒂 𝒐 𝒆𝒄𝒐 𝒅𝒆 𝒖𝒎 𝒂𝒎𝒐𝒓 𝒒𝒖𝒆 𝒏𝒖𝒏𝒄𝒂 𝒅𝒆𝒗𝒆𝒓𝒊𝒂 𝒕𝒆𝒓 𝒆𝒙𝒊𝒔𝒕𝒊𝒅𝒐, 𝒎𝒂𝒔 𝒒𝒖𝒆 𝒂𝒊𝒏𝒅𝒂 𝒂𝒓𝒅𝒆 𝒄𝒐𝒎𝒐 𝒖𝒎𝒂 𝒄𝒉𝒂𝒎𝒂 𝒑𝒓𝒐𝒊𝒃𝒊𝒅𝒂.”
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Caminho até a cozinha, os pés mal fazendo barulho sobre o piso frio, enquanto busco algo para alimentar-me, mesmo que a fome não faça parte do meu estado atual. É uma necessidade quase ritualística; preciso de um respiro, de um momento em que possa me ancorar à realidade e dissipar a névoa de confusão que envolve meus pensamentos.

Quão irreal é a minha vida? A cada passo, uma pergunta ecoa na minha mente: quando e onde me perdi? As paredes ao meu redor parecem se fechar, como se a própria casa estivesse ciente do turbilhão emocional que me consome.

Com as mãos tremendo levemente, pego algumas frutas frescas — maçãs vermelhas e suculentas, peras douradas e morangos vibrantes. Juntas, elas formam uma salada leve e colorida, um pequeno consolo que contrasta com a tempestade de sentimentos que tumultua meu coração. Ao misturá-las, o doce aroma das frutas me envolve, trazendo um pouco de paz ao meu espírito inquieto.

Retorno ao quarto, o silêncio agora um companheiro constante, pronto para o segundo sonho... ou seria a segunda lembrança? Sento-me na beirada da cama, observando a luz suave que entra pela janela, como se estivesse prestes a iluminar o caminho para o que está por vir.

A lembrança se intitula O SENTIMENTO PROIBIDO, e a simples ideia disso provoca um frio na barriga. O que vem pela frente é uma reinterpretação de tudo o que uma vez considerei impossível. Fecho os olhos e me deixo levar, preparado para explorar os labirintos de um amor que desafiava não apenas os limites do que é aceitável, mas também as profundezas da minha própria alma.

No relato, caminho lentamente pelos jardins de rosas majestosas, o perfume doce e inebriante das pétalas me envolvendo a cada passo. As flores, em tons vibrantes de escarlate, se estendem até onde meus olhos podem ver, um verdadeiro tributo à beleza da criação divina.

É impossível não me perder nesse espetáculo; os pássaros cantam melodias suaves enquanto os animais, grandes e pequenos, coexistem em perfeita harmonia. O ar é puro, carregado de uma serenidade tátil. Sinto-me conectado a tudo, como se cada pétala e cada criatura fosse uma extensão do próprio Divino.

Por um momento, sou apenas um espectador, encantado pela imensidão do que nos foi concedido. No entanto, esse transe é interrompido por uma voz suave, mas familiar.

━━ Achei que não viesse hoje, Leuviah. ━ a voz de Mahasiah se ergue como uma brisa calma, vinda de trás de uma frondosa árvore, onde ele estava à espreita.

Viro-me e o vejo emergir da sombra, seu semblante sereno, os olhos escarlate brilhando com um misto de expectativa e algo mais profundo. Ele é uma visão sublime, como sempre, com seus cabelos negros ondulando como a noite sobre seus ombros.

━━ E perder a oportunidade de vê-lo abençoar mais um ventre? Não conte com isso, irmão. ━ respondi, um sorriso suave se formando em meus lábios enquanto me aproximo dele.

Mas a expressão dele muda ligeiramente, e eu percebo o leve incômodo em seus olhos. Ele me repreende de maneira carinhosa.

━━ Já disse que não gosto quando me chamas assim ━ ele responde, a voz carregando um tom de desaprovação sutil, mas significativa.

Sinto um aperto no peito. "Irmão" — uma palavra que nos une e, ao mesmo tempo, nos distancia de algo que nunca poderíamos explorar. Suspiro profundamente antes de murmurar seu nome em súplica.

━━ Maha... ━ minha voz sai baixa, hesitante. ━ Sabes que não podemos.

Seus olhos brilham com um conflito interno, uma luta entre o dever e o desejo, e por um breve momento, o silêncio nos cerca.

━━ É... eu sei... mas queria... ━ ele começa, a vulnerabilidade permeando sua fala.

━━ Não... ━ o interrompo antes que ele possa continuar. O peso de minhas palavras parece afundar ainda mais nossos corações. ━ Você não deseja... e, mesmo que deseje, jamais pronuncie em voz alta.

Ele baixa o olhar, resignado, o brilho em seus olhos se apagando com a conformidade de uma verdade amarga.

“A impossibilidade de sentir o que nossos corações clamavam era uma prisão de emoções.”

Assente em silêncio, aceitando aquilo que nunca poderíamos ser. O peso do não-dito paira sobre nós, denso como as nuvens antes da tempestade. Caminhamos juntos, em direção à fonte das bênçãos, nossos corações imersos em um sentimento proibido que jamais poderemos permitir florescer.

Ao chegarmos à fonte, Mahasiah toca suavemente as águas cristalinas, e nelas se reflete a figura de uma linda mulher, com olhos cheios de expectativa, esperando ansiosa por sua criança. O nome dele será Jin. Mahasiah o abençoa com beleza e sabedoria, e é simplesmente fascinante observar a luz que emana de suas mãos. Essa luz divina envolve o ventre da mulher, que, alheia à sua graça celestial, sorri enquanto brinca com uma minúscula roupinha, preparada para o bebê que logo chegará.

Me perco momentaneamente, admirando a humanidade e refletindo sobre como o Senhor é generoso — até mesmo com aqueles que, muitas vezes, não são merecedores. Há algo de puro e inegavelmente belo nas vidas que florescem de maneira tão singela, sem terem plena consciência dos milagres que as cercam.

De repente, sinto o toque de Mahasiah. Ele envolve minha mão com a sua, e entrelaça nossos dedos com gentileza. Um arrepio percorre meu corpo, e, por um momento, reteso-me, tentando controlar a torrente de emoções que me invadem. O calor que compartilhamos, no entanto, faz meus olhos se voltarem instintivamente para nossas mãos unidas. O contraste é belo; suas mãos são maiores que as minhas, firmes e calorosas, transmitindo uma sensação de proteção que quase me faz ceder.

Suspiro profundamente, lutando contra o sentimento que cresce descontroladamente dentro de mim. Tento me ancorar na razão, mas tudo o que sinto é uma dor dilacerante em meu peito.

“O toque dele, mesmo breve, carregava o peso de tudo que nos foi negado.”

Com um movimento brusco, puxo minha mão de volta, rompendo o momento. Afasto-me rapidamente, deixando-o sozinho junto à fonte, com o peso de meus próprios conflitos.

Enquanto caminho, lágrimas ameaçam descer dos meus olhos. Mas eu as seguro. Não devo... não posso colocá-lo em risco. Sufocarei esse sentimento, ainda que ele consuma tudo em mim, até que não reste mais nada além do silêncio.

Após ler o segundo relato, lágrimas escorrem livremente pelo meu rosto, sem que eu possa contê-las. Meus dedos tremem enquanto seguro o caderno, incapaz de compreender como suportei tanta dor.

Como pude amar Mahasiah com tamanha intensidade, ao ponto de cada memória ser como uma faca afiada cravada no meu peito? A sensação é sufocante, a angústia insuportável.

Aos poucos, flashes das cenas lidas invadem minha mente com força total, como ondas quebrando em uma praia desolada. Cada imagem é nítida demais, real demais. Vejo seus olhos escarlates novamente, ouço sua voz suave me chamando pelo nome...

Sinto o calor de sua mão segurando a minha, e com isso, a mesma dor volta a me consumir. O mesmo medo de perder o controle, o mesmo desespero por saber que o nosso amor é impossível. Mas, acima de tudo, o mesmo amor. Um amor que nunca deixou de existir, que vive em algum lugar profundo e sombrio dentro de mim, onde o tempo não é capaz de apagar suas marcas.

Eu tremo com a força dos sentimentos, incapaz de evitar as lágrimas que agora parecem infinitas. Como pude suportar isso antes? Como posso suportar agora? Tudo é tão vivo, tão avassalador, e o amor que um dia tentei sufocar retorna como uma tempestade.

Desabo sobre a cama, sem forças, afogado em emoções que nunca deixaram de fazer parte de mim. O amor que senti por ele ainda arde, intenso e proibido, como se o tempo não tivesse poder sobre nós. Não posso mais fugir disso. Não posso mais ignorar quem ele foi – quem ele ainda é – para mim.

𝐏𝐔𝐁𝐋𝐈𝐂𝐀𝐃𝐎 𝐄𝐌: 𝟎𝟔/𝟏𝟎/𝟐𝟎𝟐𝟒
𝐑𝐄𝐕𝐈𝐒𝐀𝐃𝐎 𝐏𝐎𝐑: 𝐌𝐀𝐈𝐑𝐀 𝐋𝐈𝐌𝐀 & 𝐕𝐀𝐋𝐐𝐔𝐈́𝐑𝐈𝐀 𝐒𝐀́𝐕𝐈𝐎
𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐎𝐒 𝐃𝐈𝐑𝐄𝐈𝐓𝐎𝐒 𝐑𝐄𝐒𝐄𝐑𝐕𝐀𝐃𝐎𝐒 ©𝐋𝐘𝐃𝐈𝐀 𝐓𝐀𝐕𝐀𝐑𝐄𝐒

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