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cena quatro

contexto: pós missão dos white suits

Fazia exatamente cinco meses que Missy tinha começado os trabalhos do seu pai e assumido sua identidade. Era uma vida corrida, ela tinha largado a faculdade, se afastado de alguns amigos e feito de tudo para conseguir aquela personalidade profissional que seu pai tinha. E ela estava quase conseguindo, mas já tinha abdicado de tudo, principalmente de boas festas e bebidas. Era por esse motivo que ela apoiou a ideia de Ian de sair e beber depois do sermão de Adam.

O trio caótico dos White Suits pularam de bar em bar, quando um fechava, eles iam em outro. Eles passaram o cartão da empresa em todos os locais, sem ligar para nada. Em algum momento, o trio se enfiou em uma balada abarrotada de gente. Ian foi o primeiro a desaparecer e apareceu meia hora depois na pista de dança com alguém nos braços.

─ Caralho, esse daí é rápido, ein  ─ Jay apontou com o queixo para Ian.

─ Queria ser rápida assim ─ Missy balançou a cabeça, fingindo insatisfação. ─ Se eu fosse assim já tinha conseguido fazer mil trabalhos rapidinho.

─ Se estão falando dos meus dotes, eu ajudo vocês rapidinho ─ Ian apareceu magicamente do lado da dupla. Jay fez uma careta e Missy revirou os olhos. ─ Tem que ter o molho brasileiro pra conseguir isso.

─ Verdade, o barman ‘tá quase te engolindo com os olhos ─ Missy apontou discretamente. ─ Ou é o Jay, não sei. Caramba, vou ficar para titia mesmo, ein.

─ Você pode comprar alguém pra fingir namorar com todo seu dinheiro ─ Jay deu tapinhas de consolação no ombro da amiga. ─ Ou pode passar no cartão da empresa, eles nem vão perceber.

─ Namorado de aluguel me parece uma boa ideia ein… ─ Ian bateu o dedo no queixo, fingindo pensar.

─ Aí, mas vai se foder, Ian. A ideia é minha e eu vou usar com as senhorinhas ─ Jay apontou para o brasileiro. ─ Se souber que ‘tá usando, você vai ser processado por direitos autorais.

─ Oh vou chamar o barman, acho que ele tomou coragem e dessa vez fala com vocês, se preparem. Três… moço! ─ Missy acenou na direção do homem um pouco mais velho que ela. ─ Meus amigos querem mais uma bebida ─ Jay apontou pro seu copo praticamente cheio, mas Missy pegou e o virou em dois goles. ─ Não está mais, tchau!

Antes que os dois falassem alguma coisa, ela correu para a pista de dança e sumiu de vista, deixando a dupla com o barman que perguntou até o tamanho do sapato que usavam. Ian estava quase pulando no balcão para procurar a maldita Missy quando ela voltou, com um sorriso no rosto e um copo nas mãos. Nesse mesmo tempo, um pop chiclete começou a tocar e a garota começou a dançar.

─ Você fez a gente passar por sufoco, sua calva ─ a palavra em português alto, mas graças a música alta, ninguém ouviu Ian. ─ Quando um velho caquético aparecer, vou falar que você ‘tá procurando um amor para viver.

Missy apontou para a orelha, gritando que não escutava nada e puxou a mão dos dois, que olharam feio para ela.

─ Eu só arrumei um amor para vocês! Se ele queria saber o tamanho do pé ou… sei lá, o problema é de vocês. Além do mais, com um de vocês, a gente consegue beber de graça a noite toda. É melhor vocês se escolherem antes que ele escolha. ─ Missy puxou a mão dos dois novamente e eles se enfiaram no meio da pista de dança.

Em algum momento da noite, quando a balada já estava quase vazia, os três fizeram uma performance de Bad Romance digna de prêmio e Missy tirou seu sapato, recolhendo as moedas e notas de dinheiro que os outros estendiam para eles. A garota até chegou a gritar que teria um show de striptease, mas antes que pudesse anunciar os garotos da noite, Ian e Jay a puxaram para fora dizendo que Adam ia matar eles pelo horário.

Com um sapato nos pés e o outro cheio de moedas na mão, Missy caminhou mancando pela rua. Ian estava a dois passos de realmente fazer um striptease, já que sua gravata estava solta ao redor do pescoço e a camisa meio aberta. Jay se despediu da dupla e Missy estava contando seu lucro noturno e nem perguntou para onde ele ia.

─ Vamos montar um grupo de dança! ─ ela gritou no meio da rua. ─ Nós temos dinheiro suficiente para uma cerveja.

─ Ou para drogas ─ Ian fez uma careta. ─ Se bem que a gente ia ter que se humilhar. Eu posso dançar mais!

Os dois andaram por mais alguns quarteirões pensando em parar e comprar bebida em algum posto de gasolina, mas mudavam de ideia na última hora. Missy e Ian saltitavam de mãos dadas cantando alguma música obscena quando ouviram uma buzina e uma série de xingamentos. A garota olhou na direção do som e viu um quase acidente do outro lado da rua entre um carro e uma moto. Atrás de tudo, na faixa de pedestres, um homem observava ela com os olhos atentos.

─ Ian, Ian, Ian caralho ─ Missy balançou o braço do de cabelos vermelhos muito entorpecido até ele se virar para ela. ─ Você não conhece aquele homem ali na faixa de pedestres. Ele não parece com…

Quando se virou de novo, Missy notou que o homem tinha sumido, mas o sinal para pedestres continuava fechado.

─ Quem? não tem ninguém ali sua doida.

Missy deu um soco no braço de Ian, mas voltou a andar. Ela tinha uma sensação estranha no peito e tentou ignorar, voltando a cantar alto. Em meio aos tropeços, empurrões e quase atropelamentos, a dupla chegou no hotel. Missy e Ian passaram por um sufoco para não fazerem barulho nenhum, mas sempre soltavam risadas altas e xingamentos de repreensão sem sentindo um na direção do outro. A garota largou Ian no quarto dele e se arrastou até seu próprio, tudo se tornando um apagão quando encostou a cabeça no travesseiro. E ela não pensou em mais nada até o dia seguinte.

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