00. PRÓLOGO
Se perguntassem à Madelaine o que ela mais amava na cidade de Nova Iorque, onde vivia desde os dezoito anos, após sair da casa de seus pais e se emancipar, seria a diversidade de histórias que se revelavam todos os dias e as diferentes pessoas que cruzavam seu caminho. Ela não conversava com todas, é claro - isso seria impossível -, mas a mera observação já a fazia sentir-se parte de algo maior.
E isso era uma das coisas que ela mais amava em seu trabalho como assistente e secretária de Susan Storm: o conhecimento que absorvia diariamente. Trabalhar ao lado de alguém tão perspicaz e influente significava aprender continuamente, seja nas sutilezas de negociações de alto nível, seja nas dinâmicas interpessoais que ela testemunha de perto. Ou nas conversas sobre o espaço e universo. Cada reunião, cada decisão tomada por Susan, era uma lição valiosa, e Madelaine sabia que esse aprendizado era constante a a moldava de maneiras profundas e imprevisíveis.
A parte ruim de seu trabalho era o comportamento do irmão caçula de Susan, que desde o primeiro dia havia começado a flertar com a jovem assistente. A persistência dele se manifestava em tentativas incessantes de conversa, que esgotava a paciência de Madelaine em menos de quinze minutos. O loiro, sempre insistente, falava sem parar, enquanto ela se esforçava para ignorá-lo e manter o foco no seu trabalho, que era quase impossível com ele perto mas ela era uma crente de que um dia ia o fazer calar a boca. Ela tinha esperança.
- Mad, você sabe onde está Victor? - a Storm perguntou, observando a sua secretária e assistente, levantar a cabeça do computador e a encará-la.
- Ele está numa reunião com Reed Richards e Benn Grimm. - a avisou, às vezes Madelaine fazia um trabalho extra de secretária do namorado de sua chefe, que não a atrapalhava por que o secretário do Vom Doom era muito organizado e sempre deixava as coisas em ordem. - Reed não é seu ex namorado aliás? - questionou sua chefe curiosa, sabia que a mais velha não ia brigar por perguntar pois ela é uma pessoa muito gentil e ambas tinham intimidade para aquela conversa.
Susan suspirou, tocando em seu rosto. - Sim, ele é. Acabamos em péssimos termos, foi traumático. - respondeu. - Eu pensei que nunca mais fosse ver ele de novo.
- No ramo da ciências e de negócios tudo é possível. Inclusive encontros com ex-namorados. - deu de ombros voltando a ler alguns contratos.
- Vou lá ver o que está acontecendo. Licença, Mad. - a Storm avisou e logo saiu de perto da mesa da Locker indo em direção a uma das várias salas de reuniões da Von Doom Enterprise's.
Madelaine levantou o olhar, seguindo sua chefe até ela sumir de sua vista e suspirou. - Estou sentindo que isso vai dar uma grande confusão. - ela comentou em voz alta, ajeitando o seu par de óculos em seu rosto e logo voltando a trabalhar.
Mais tarde, Locker estava encostada no batente da porta da sala de sua chefe, ouvindo atentamente enquanto ela explicava os detalhes da missão.
- Então, só para confirmar. - disse Locker, ainda tentando processar tudo o que a Storm havia lhe contado.- Está me dizendo que você, seu ex-namorado, o seu atual namorado e o melhor amigo do seu ex vão passar alguns dias numa base espacial... sozinhos? Isso é sério?
Susan deu um pequeno sorriso. Ela entendia a situação inusitada, mas estava segura de que aquilo não ia dar problemas, afinal ela não tinha mais nenhum sentimento romântico por Reeds. Ou pelo menos ela se enganava muito bem sobre aquilo.
- Sei que não parece a formação de equipe mais comum - respondeu a chefe, ajeitando os papéis em sua mesa -, mas as circunstâncias exigem a experiência de todos nós. Cada um tem uma habilidade única que será essencial para o sucesso da missão.
- Habilidades à parte - retrucou Locker, cruzando os braços -, você sabe que isso vai ser complicado. Tem muita história envolvida.
A chefe balançou a cabeça, compreensiva, mas não vacilou em sua decisão.
- Eu sei que a dinâmica não será fácil, mas confio na capacidade de lidarmos com isso. Somos adultos e infelizmente ou felizmente temos história juntos. E além do mais, o que está em jogo é muito maior do que qualquer tensão pessoal.
Locker suspirou, jogando a cabeça para trás brevemente. Ela sabia que sua chefe não tinha escolha. A missão era importante demais. - Bem, como funcionária devo desejar que essa missão seja um sucesso.
- E como amiga? - Storm perguntou.
- Que essa missão seja um sucesso e que não vire uma novela ou um filme de romance com triângulo amoroso no espaço.
Susan riu. - Não entendo sua aversão por filmes de romance ou por romance. Realmente não entendo, mas tudo bem. - Madelaine deu de ombros. - Aliás eu preciso te pedir um favor.
- Não sendo ligar para seu irmão eu aceito qualquer coisa. - a mais velha ficou em silêncio, enquanto encarava a Locker, que a olhou incrédula. - Está de brincadeira né? Por que eu?
- Ele te atende no primeiro toque, já eu ele atende no sexto. - respondeu. - ou no décimo.
Mad bufou revirando os olhos e pegando seu telefone móvel. - Um dia destes ainda vou me demitir por causa disso e do seu irmão. - resmungou ela, discando o número do Storm mais novo.
- Meu irmão te adora Mad.
- Ele me odeia e faz um inferno em minha vida. - uma voz conhecida e odiada pela Locker a atendeu e a fez suspirar. - Oi.
- Ora, ora, a que devo o prazer de ter uma gatinha como você me ligando? - respondeu o loiro, claramente animado. - Está com saudades de mim?
Revirou os olhos. - Nunca, idiota. - Susan a observava sorrindo e com os braços cruzados. Era divertido ver a interação dos dois jovens que diziam se odiar e sempre se provocavam. - Sua irmã quer falar com você e me pediu para te ligar, satisfeito?
- Com você? Nunca. - o Storm riu. - O que minha querida irmã quer falar comigo?
- Vou passar para ela. - A de olhos castanhos ia passando o aparelho de comunicação quando uma frase de Johnny a fez parar.
- Não. Eu não quero ouvir a voz dela, eu quero ouvir apenas a sua.
Madelaine congelou no meio do movimento, a sobrancelha arqueada em ceticismo. - Tá chapado, idiota? - retrucou.
Johnny, do outro lado da linha, soltou uma risada. - Talvez um pouco... mas só porque sua voz tem esse efeito.
Ela balançou a cabeça, tentando disfarçar o calor que subia às bochechas e a vontade de mandá-lo ir a merda. - Você precisa de tratamento. Sério.
- Só se for o seu atendimento personalizado - respondeu ele, com uma pitada de humor na voz.
Madelaine bufou. - Você não vale nada.
- E ainda assim, aqui estamos... você não desligou e nem passou para Su. - A resposta dele veio carregada de um charme despretensioso.
Ela olhou de relance para sua chefe, que a observava, curiosa. Respirou fundo e voltou a falar com Johnny. - Sua irmã e você vão para uma missão junto a mais duas pessoas e Víctor, em duas semanas. E você será o capitão de voo.
- Só isso? - A voz dele ficou um pouco mais grave, quase desafiadora. - E quem será meu co-piloto?
- Ben Grimm. Você já o conhece.
- E a outra pessoa envolvida nesta missão, deixe-me adivinhar é o ex namorado de minha irmã. Reed Richards, estou certo?
- Finalmente está usando seu cérebro? Uau, estou impressionada.
- Você ainda não me viu na cama, gatinha. É lá que eu faço mágica e deixo as mulheres impressionadas.
Madelaine contou até o número cinco, respirando fundo. - Vou mandar os detalhes da missão para seu email, tchau. - e logo desligou a ligação, encarando Susan Storm. - Você pode fazer o favor de esquecer seu irmão lá em cima?
— Infelizmente não. — respondeu ela sorrindo, achando engraçado aquilo.
— Droga! Pelo menos podia me pagar um bônus por aguentar ele, né?
— Também não. — e dito isso a Storm saiu deixando a funcionária sozinha.
Três semanas haviam se passado, a Locker estava em seu apartamento de pijama, que consistia em vestir um blusão antigo de um antigo namorado, e estava comendo um balde de pipoca enquanto assistia TV.
Susan junto a seu namorado e maior patrocinador da missão, Victor, junto a Johnny, Reed e Benn haviam embarcado a uma semana na missão no espaço e naquela noite em si a jovem estava de folga, assistindo um filme quando a filmagem havia sido pausada e uma notícia urgente ia ser transmitida.
Ela estranhou, se preocupando pois geralmente notícias que interrompem a programação do horário nobre eram de grande importância.
— Que não seja sobre a missão, que não seja sobre a missão. — pediu. — Não quero perder minha chefinha e nem ficar desempregada..
‘‘Boa noite! Temos notícias exclusivas de que a nave em que estavam os irmãos, Johnny e Susan Storm, os cientistas Victor Von Doom e Reed Richards, junto a outro passageiro, voltou à Terra por conta de um incidente. Fontes dizem que o motivo da volta antecipada foi um acidente, que teria sido uma exposição à uma radiação, porém não se sabe ao certo se isto é real ou falso. Por enquanto a única informação que sabemos é que eles tem previsão de chegada a Terra por volta das 23:00 e que serão levados ao centro de cuidados especiais Von Doom.’’
Madelaine desligou a televisão, indo em direção ao quarto correndo para trocar de roupa e ir até onde eles três estavam. Enquanto vestia a primeira roupa que encontrava no armário, a Locker tentava controlar a ansiedade crescente. O coração batia acelerado, e sua mente se enchia de perguntas. O que teria acontecido lá em cima? Por que voltaram tão cedo? Será que alguém estava ferido?
Ela se esforçou para manter a calma, mas o pensamento de algo ter acontecido com Susan, sua chefe e amiga, ou com os outros da equipe, até mesmo Johnny Storm, fazia seu estômago revirar. Colocou uma calça jeans, uma camiseta simples e pegou seu casaco jogado sobre a cadeira. A cidade estava fria naquela noite, e ela sabia que o vento no centro da cidade seria cortante, especialmente perto do centro Von Doom, onde a segurança era sempre rigorosa e o movimento de veículos constantes.
Madelaine desceu as escadas de seu prédio com pressa, ignorando o elevador, e ao sair, chamou o primeiro táxi que avistou. Enquanto o carro serpenteava pelas ruas iluminadas pelas luzes da cidade, ela olhava constantemente para o relógio em seu celular. Faltava pouco para as 23:00. Será que conseguiria chegar a tempo?
Ela passou as mãos pelos cabelos, nervosa, enquanto o noticiário ainda ecoava em sua mente. Radiação? Isso não era bom. Victor era um homem brilhante, mas suas ambições sempre a preocupavam. E se ele tivesse levado a equipe longe demais dessa vez?
O táxi finalmente parou diante do centro de cuidados especiais Von Doom. Havia uma agitação incomum na entrada. Carros oficiais, ambulâncias e seguranças por toda parte. Madelaine pagou o motorista e correu em direção à entrada, mas foi barrada por dois guardas imponentes.
— Desculpe, senhora. Entrada restrita.
— Eu sou assistente pessoal de Susan Storm, sou da equipe dela! Preciso entrar! — argumentou, a voz trêmula de preocupação.
Os guardas trocaram um olhar, mas antes que pudessem decidir o que fazer, uma figura conhecida apareceu ao longe. Era Leonard, assistente do Von Doom, seu olhar sombrio, frio e preocupado enquanto se aproximava.
— Ela está comigo — disse, acenando para os guardas. — Deixem-na passar.
Os guardas hesitaram por um momento, mas então deram passagem. Madelaine mal teve tempo de agradecer, correndo até Leonard assim que entrou.
— O que aconteceu? Como eles estão?
Ele respirou fundo, como se tentasse processar as últimas horas de tensão.
— Não sei exatamente o que aconteceu lá em cima — disse ele, a voz grave. — Mas eles estão vivos. Todos. Só que... algo está errado.
— O que quer dizer com "algo está errado"?
Leonard respiro fundo, tocando o ombro da Locker e a encarando profundamente. — Eles estão em coma.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro