10. Aquele Bolo Horroroso Que Você Fez Pra Mim
— Então o lance da Beyblade não era um convite para uma orgia?
Indignação era a palavra, e o pior era que tinha um número considerável de pessoas olhando. Aparentemente conversar sobre orgias em público era algo que chamava muita atenção, até mesmo de senhorinhas que eram para estar na missão uma hora daquelas. Jongin estava um pouco perdido, ele era apenas um pobre garoto catequizado que estava passando ao lado dos portões do Inferno sem nem perceber.
Jesus não gostava daquelas coisas.
— Pela última vez, Kyungsoo, não era! — Baekhyun não queria mais ter que explicar aquilo, mais uma menção a sexo grupal e iria embora — Nós havíamos concordado que compraríamos Beyblade e faríamos um campeonato para mostrar ao seu namoradinho o que é, já que agora você botou na cabeça que quer pegar um novinho.
— Jongin não é tão novinho.
— Eu sou de 2003.
— É maior de idade, e é isso que importa, então fique quieto e apenes acene a cabeça, querido. — Kyungsoo podia ser absurdamente menor que Jongin, porém, assim como fazia com os outros, ele facilmente dava ordens.
Jongin acenou com a cabeça, e foi bem aí que Baekhyun se deu conta de que aquele garoto estava perdido, e havia se tornado mais uma das pobres moscas enroladas na teia daquela aranha caranguejeira chamada Do Kyungsoo. Mesmo que sequer soubesse se aranhas caranguejeiras faziam teias ou não.
Esse era o lance com o Kyungsoo, todos voltavam para ele depois da primeira sentada, alguns até se humilhavam pedindo por mais.
E se Jongin estava ali com eles, andando entre seus amigos e de mãozinha dada, era porque não socava fofo. As coisas sempre foram muito nítidas se tratando da vida sexual de Kyungsoo. Se estava durando, era porque era bom.
— Ok, já que deixamos claro o lance do novinho. — Baekhyun precisou empurrar as mãos na cara de Kyungsoo para ele não contra-argumentar com um "2003 foi a 40 anos atrás" — E como eu bem disse antes, tem uma loja por aqui que vende Beyblade, comprei um pro meu primo, ele gostou bastante, brincou por meio minuto e depois jogou na pilha dos outros presentes de aniversário para gastar seu tempo com o que realmente importava, o tablet novo que ganhou do pai. — Aquela respirada funda já dizia muita coisa — Aquele moleque mimado de merda, eu gastei meu tempo e meu dinheiro com o presente daquele fedelho imundo e cheio de dentes tortos, aí ele foi lá e...
Chanyeol precisou contê-lo antes que aquilo virasse um desabafo público e sem fim, uma espécie de looping de reclamações, algo que acontecia com mais constância do que era necessário acontecer.
— Tá bom, amor. — Era muito difícil arrancar Baekhyun de seus momentos de exaltação — Volta para o lance da Beyblade e onde a loja fica. Você tem certeza de que estamos indo para o lugar certo, não tem?
— Claro que tenho, por acaso, eu já fiz a gente se perder antes?
— Já!
Lu Han cruzou os braços, desse assunto ele entendia, e se o Byun tinha o direito de ficar desabafando quando bem quisesse, ele também iria fazer uso desse mesmo direito.
— Mentira.
— Mentira nada, a gente vive se perdendo por sua culpa. — O chinês estava pronto para manter seu ponto, já estava cheio de argumentos e na primeira bobeada pegaria seu celular e mostraria prints — Lembra daquela vez que você disse que tinha certeza de que sabia chegar naquela maldita festa de casamento? Nós chegamos depois da noiva! E nem me faça falar do Chá de Bebê da sua prima, quando chegamos lá o bebê já tinha nascido!
— A culpa não é minha se a minha prima decidiu entrar em trabalho de parto no meio da festinha. — Baekhyun ainda tentou argumentar — E nós conseguimos chegar ao hospital.
A essa altura Jongin já conseguia entender o motivo daqueles serem os melhores amigos de Kyungsoo, só sendo tão desequilibrado quanto ele para conseguir conviver com alguém que era... era daquele jeito lá.
Mas se estava andando de mãos dadas com ele agora, isso significava que havia perdido sua sanidade também? O Kim se pegou olhando para baixo, observando os dedinhos de Kyungsoo ao redor dos seus, e se perguntando se estava mesmo ali porque queria, ou se estava deixando aquela onda de um metro e meio o arrastar.
— O que foi, Jongin?
— Nada, eu só... — Só preciso de uma desculpa rápida, era isso que ele quis dizer — Deixei um bolo no forno, preciso ir lá ver.
Quando Jongin soltou sua mão, Kyungsoo se sentiu o próprio Jack sendo deixado de fora do pedaço de madeira que evidentemente cabiam os dois em cima. Sua Rose estava indo embora, sendo levada pelas correntezas daquelas águas geladas, por mais quente que aquele asfalto estivesse.
Ficou olhando para a própria mão que nem bobo.
— O que aconteceu? — Lu Han foi o primeiro a se aproximar, ele não estava prestando tanta atenção assim na conversa sem sentido de Baekhyun — Por que ele foi embora?
Seus amigos se reuniram ao seu redor como um bando de gatos famintos ao redor de alguém tratando um peixe.
— Ele não gosta de mim. — Foi muito difícil admitir aquilo, especialmente depois de todas as coisas que aconteceram e fizeram com que acreditasse que o Kim havia finalmente se acostumado com ele — Fiz papel de idiota, estava só me enganando.
Chanyeol sentiu pena dele, e provavelmente era a primeira vez que sentia isso. Geralmente sentia pena das pessoas que se apaixonavam por ele, e era até estranho perceber que o derrotado daquela história se chamava Do Kyungsoo.
Era quase como se pudesse ouvir as Trombetas do Apocalipse.
Colocou a mão em seu ombro para demonstrar apoio.
— Talvez ele só não goste de Beyblade. — O mais alto comentou, e tentou colocar um pequeno sorriso no rosto para o deixar um pouquinho mais confiante ou coisa parecida — Ou não queira ir até a loja.
— Não, Chanyeol, acho que o Jongin se deu conta de que passamos do limite, e que isso aqui nunca foi nada do que ele quis.
[...]
— Como assim, tinha mesmo um bolo no seu forno?
Kyungsoo não resistiu, ele havia ido atrás de Jongin, pois precisava entender o que estava acontecendo. Tudo bem se ele quisesse o deixar, iria encarar isso numa boa — depois do escândalo básico super necessário, claro — e o deixaria em paz se fosse isso que realmente quisesse. Mas quando bateu na porta dele e o ouviu mandando entrar, sentiu aquele cheiro pelo dormitório todo, e não poderia ser outra coisa, seu faro era ótimo quando o assunto era chocolate.
— O que você achou que era?
Confessar que ficou inseguro não era o tipo de coisa que Do Kyungsoo fazia, ele sempre foi mais do tipo que escarnecia de quem exibia suas fraquezas com tanta facilidade. Um garotinho malvado como ele jamais iria abrir sua boca apenas para deixar que outro alguém ficasse à par de seus pontos fracos.
Jamais.
Nunquinha.
— Achei que tinha fugido de mim. — Kyungsoo colocou a mão na boca assim que se deu conta de que havia mesmo deixado escapar — Quer dizer, eu só fiquei pensando que... não, nada, eu não pensei nada.
— Kyungsoo.
— Tá, confesso, achei que não queria mais me ver. — Confessar aquilo foi uma das coisas mais difíceis de sua vida, e por mais que ele quisesse muito dizer a si mesmo o quanto era reconfortante e que se sentia bem por ter tido coragem de confessar, isso seria mentira, se pudesse, voltaria no tempo e teria ficado calado e no mesmo pedestal em que sempre esteve — Eu fiquei com medo de que tivesse se arrependido de ter me dado uma chance e que achasse que eu sou um tipo de doido ou algo assim.
Jongin deixou o bolo sobre o pequeno balcão de menos de um metro, ele estava usando aquelas luvas grossas que lembravam muito sua avó nas tardes de domingo, e chegava a ser adorável, as luvas eram de florezinhas.
O mais alto o olhou e sorriu, passando a luva de florezinhas pelo rosto de Kyungsoo.
— Não seja tão ingênuo, é claro que eu acho que você é doido. — Jongin segurava as laterais de seu rosto com aquelas luvas e era como estar com travesseiros na cabeça — Mas é um doido adorável, e eu gosto de estar com você.
Kyungsoo estava o olhando como se aquela tivesse sido a melhor declaração que já recebeu em sua vida. E bom, pelo menos, era a primeira declaração onde não falavam de sua bunda ou das coisas que ele fazia com a boca, o que já era um grande avanço.
— Acha mesmo que sou um doido adorável?
— Acho.
Ele parecia tão feliz, e seus olhinhos estavam brilhando como costumavam brilhar sempre que existia a menor possibilidade de a noite acabar em sexo. Do Kyungsoo podia até ser um pequeno maníaco sexual, mas continuava sendo o maníaco sexual mais fofo do mundo.
E tinha mãozinhas pequenas também, que ficavam adoráveis ao redor de seus pulsos.
— Eu não quero que você me deixe. — Dessa vez, ele não falou sem pensar, realmente queria dizer isso e ficou feliz em ter conseguido se expressar sem tanto pavor — Por favor, Jongin, será que você pode me prometer que não vai cobrar muito de mim? Não sei ser um bom namorado ou coisa assim, e por falar nisso, eu queria ser seu namorado, mas eu nunca pedi ninguém em namoro, então não sei fazer isso.
Jongin também estava feliz, se lembrava da maioria das coisas que as pessoas falavam a respeito de Do Kyungsoo, e uma delas era que ele não se dava ao trabalho de se importar tanto assim ou de dar atenção. Se Kyungsoo ainda estava ali, era porque se importava muito.
Então era especial.
— Que tal, só perguntar? Não iria arrancar pedaço de ninguém.
— Não iria? — Kyungsoo estava se debruçando sobre ele, na verdade, quase dava pulinhos, e seus pulinhos eram como pulinhos de coelho, um coelho bem pequeno — Poxa, que pena, eu queria arrancar um pedaço.
Ambos riram, de repente, aqueles momentos faziam parte de tudo, e não era como se Do Kyungsoo fosse o bicho papão, o garotinho perigoso que estava sempre o seguindo, ele era o garoto por quem havia se apaixonado, e gostava de estar perto dele.
Apaixonado.
Não era mais tão assustador quanto parecia.
— Então, você quer ser meu namorado? — Kyungsoo finalmente conseguiu perguntar — Do tipo namorado de verdade, não desses que vão embora na manhã seguinte, eu não quero bloquear seu número, e nem quero que você bloqueie o meu.
— Eu não vou bloquear seu número.
— Então você aceita?
Jongin fingiu pensar por alguns segundos, ele olhou para o bolo que esfriava no balcão estreito e teve algumas ideias.
— Só se você comer uma fatia inteira do bolo que fiz especialmente para você.
— Não tem nada mais fácil para me propor?
Jongin cortou uma fatia bem gorda, e Kyungsoo esperava ansioso por ela, bem sentadinho em uma das almofadas mais confortáveis que aquele dormitório poderia servir. Estava quase batendo palminhas enquanto observava seu pedaço de bolo se aproximar.
Estava em um pratinho bem fofo, diga-se de passagem. Kyungsoo o recebeu e se serviu de uma garfada bem cheia, a levando até a boca como se estivesse prestes a comer a melhor coisa que o mundo tinha a oferecer.
Mas se arrependeu imediatamente.
— Eu preciso mesmo comer o pedaço todo? — Perguntou com a boca ainda cheia de bolo, não havia se arriscado a engolir um único farelo que fosse — Não pode ser só um pouquinho não?
— Tem que comer todo.
Kyungsoo mastigou por mais algum tempo, na verdade, ele mastigou por tempo o suficiente para estraçalhar uma pedra. Até que o outro ficasse com pena de sua tortura via bolo.
— Tá bom, pode cuspir, sei que está uma porcaria.
Não demorou nem dois segundos para que o mais velho fosse até a lixeira e cuspisse até o último farelinho que ainda estava em sua boca. Nunca tinha experimentado algo tão ruim em toda a sua vida, mesmo quando o dinheiro estava apertado e precisava comer nos lugares mais duvidosos do bairro.
— Foi a pior coisa que eu já comi na vida, mas eu ainda quero ser o seu namorado. — Kyungsoo precisou de um copo com água para conseguir se livrar do gosto horroroso — Espero não ter estragado tudo por ter cuspido o seu bolo na lixeira.
— Não estragou, eu sou péssimo com bolos, só queria saber o quanto você gostava de mim. — Não parecia estar com vergonha de sua pequena maldade, na verdade, ele estava bastante satisfeito com os resultados — E tô feliz por saber que gosta o suficiente para tentar comer esse bolo horrível.
— Você é meu namorado agora?
— Sou sim.
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