Capítulo 8
Eu já não tinha muitas esperanças de encontrar alguma pista naquele livro desde que o Rafael disse que o livro o pertencia. Então, tive que pedi-lo que me mostrasse a entrada selada que antes me havia dito.
Fomos até o depósito por onde eu havia entrado no orfanato. Ele tirou algumas coisas da frente e me mostrou a passagem. Não sabia como não tinha reparado naquilo antes. Os selos estavam postos em uma sequência conhecida, mas o centro estava inteiro liso, não havia sinal nenhum, como se algo estivesse faltando, fiquei pensando nisso por um tempo e finalmente anotei tudo em um caderninho que eu tinha comigo para buscar por pistas sobre aquilo talvez nos arquivos da cidade ou na biblioteca local.
Eu não poderia ir naquela noite, pois o Bae havia planejado uma festa na mansão. Eu estava com um pouco de medo, mas me garantiram que não era nada demais. Eles não faziam nada publicamente. Todos conheciam as festas da mansão e as supostas vítimas não lembrariam de nada depois. De qualquer jeito todos da cidade gostavam das festas mensais deles, haviam adiado a última apenas pela minha chegada.
Todos pareciam muito animados com a possiblidade de uma festa no meio daquele caos que eu havia levado. Os convidados começaram a chegar por volta das 19:00, o que era bastante cedo comparando com o estilo de vida deles, a festa estava programada para ir até as 4 da manhã.
Naquele mesmo dia durante a tarde, Lucy me implorou para que fossemos comprar uma roupa adequada para a festa. Prometi para o Rafael que voltaria logo, que tomaria cuidado e voltaria com a Lucy. Me sentia pressionada por ter que dar satisfação da minha vida para alguém depois de tantos anos, mas isso o tranquilizava, e o mais importante, me permitia chegar até a cidade através da permissão dele.
Na cidade paramos em todas as lojas de roupas possíveis. Sabia que seria uma festa normal, não seria uma festa elegante, mas também não precisávamos ir de qualquer jeito.
A Lucy comprou um vestido azul rodadinho, que iam até os joelhos, como de costume tinha mangas longas para cobrir os selos da alquimia, afinal precaução nunca era demais no nosso caso. O vestido tinha os ombros caídos, o que dava um toque lindo quando ela soltava o cabelo ruivo com aqueles grandes cachos bem definidos e para combinar uma sapatilha também azul.
No meu caso, escolhi um vestido longo, já que precisava cobrir os selos da perna também, para a minha sorte, muitos dos selos estavam concentrados em apenas uma perna, então pude escolher um vestido com uma abertura na perna esquerda que ia da coxa até os pés, e os poucos selos que eu possuía nessa perna eu acabei escondendo com uma maquiagem que havíamos comprado na china a pouco tempo. As chinesas haviam salvado a minha vida, já que era a única maquiagem capaz de cobrir aquelas marcas. Do mesmo jeito que o vestido da Lucy, o meu tinha mangas longas que deixava uma parte do ombro a mostra além de ter as costas aberta. Tive muito cuidado para escolher um que realmente esconderia os selos mais importantes. Coloquei uma gargantilha preta para ocultar o selo triquetra tia Shao e coloquei uma sandália de salto alto.
Quando chegamos na mansão fui ao meu quarto tomar banho e depois encontrei com Lucy no quarto dela para acabar de me arrumar.
Ela estava deslumbrante como sempre e sabia bem para quem era tudo aquilo. Eu soltei os cabelos, que eram de um liso com pouca ondulação nas pontas, mas era bem cheio. Fiz uma maquiagem básica, mas que destacava meus olhos. Eu não sabia se estava fazendo tudo aquilo para impressionar ou não o Rafael, mas sabia também que o meu estilo não era o que o agradava no fim das contas. Ele estava mais para o estilo clássico e eu continuava supostamente vulgar para a vista de quem havia parado no tempo, mas eu estava aproveitando. No fim das contas meu estilo mudava com uma certa frequência.
Saímos do quarto juntas quase as 21:00. Encontramos o Aruna descendo e aproveitamos a companhia até o salão.
– Já vejo o porquê vocês demoraram – ele disse sorrindo – Desse jeito não vai ter quem não olhe para as duas.
– Muito obrigada – eu disse com aquele sorriso meigo que eu sabia fazer quando era necessário.
– Aruna, você sabe onde está o Elon? – pelo visto a Lucy estava bem ansiosa para encontrá-lo.
Vi que o Aruna ria um pouco e disse:
– Ele deve estar no salão já, e não se preocupe, sei o quanto você vai impressioná-lo vestida assim.
O rosto da Lucy se iluminou no mesmo momento e o sorriso dela foi bem largo.
– Acho que vou na frente então – ela disse apressando um pouco mais o passo – nos vemos na festa Hannah.
Eu sorri para ela e a deixei ir.
– E você, Hannah? Está querendo impressionar alguém?
– Eu? Não, não... sempre vou assim para festas – o que não deixava de ser verdade, mas ao mesmo tempo eu me perguntava a mesma coisa: será que eu estava tentando impressionar alguém?
– Ah, então você quer impressionar todo mundo – ele disse caindo em uma risada gostosa.
– Não, seu bobo! – eu disse ficando vermelha – A não ser que eu tenha que extrair informações, essas roupas só servem para ocultar os selos.
– De qualquer jeito impressiona – ele disse sorrindo – Vamos descer?
– Claro.
Fui com ele até o começo do salão e demos de cara com o Bae.
– Minha nossa, assim você não vai dar oportunidade para mais ninguém na festa ser notado, minha princesa. Era difícil imaginar que você conseguiria ficar ainda mais linda.
– É muito bom te ver também Bae – eu disse sem me preocupar com o elogio provocativo, afinal ele era sempre assim – Se vocês me dão licença, eu estou louca para um Whisky, parece que faz séculos que eu não bebo nada.
– Sinta-se à vontade. Comprei bastante pensando em você – Bae respondeu com um ar cheio de galanteio.
Fui em direção a cozinha e enquanto eu estava pegando um copo vi que Rafael conversava com uma mulher. Ele não me notou, mas vi que ela se jogava para cima dele de um jeito insuportável. Senti uma raiva imensa daquela intimidade, mas não queria assumir isso a mim mesma. Assumir isso seria o mesmo que assumir que eu estava realmente me apaixonando por ele e para mim já era muito para a cabeça ter amigos vampiros.
Com a raiva que eu senti, resolvi pegar uma garrafa inteira de whisky ao invés de pegar só um copo e saí o mais rápido possível da cozinha. Passei novamente pelo Aruna e pelo Bae, eles tentaram falar comigo, mas eu só fechei a cara e passei reto dando alguns goles no meu whisky. Eles viram que eu estava indo rumo ao jardim e me seguiram para saber o que tinha acontecido.
Apesar de eu ter notado essa "perseguição", eu não liguei. Assim que cheguei no jardim, senti a presença de alguém que eu conhecia muito bem. O que fez minha raiva sumir na mesma hora. Virei para onde eu a sentia mais forte e não pude ocultar meu sorriso.
– Matteo! – ao dizer isso os dois vampiros curiosos resolveram voltar para o salão.
Fui em direção ao Matteo e mal tive tempo de cumprimentá-lo.
– Ei Hannah, finalmente você me sentiu. Estava me perguntando quando isso iria acontecer, já que no Stormdance você não me notou.
– Ah, desculpa por aquele dia. Digamos que eu estava um pouco fora do normal, mas afinal, o que você está fazendo aqui?
– Fiquei sabendo da festa e vim ver o como você estava. Afinal a festa é pública, certo?
– Certo – eu respondi rindo de novo – E por que você não entra?
– Hannah, você não acha que está bebendo muito? Você normalmente bebe desse jeito quando está nervosa. Te ver com um copo é normal, mas uma garrafa dessa? O que está te incomodando?
– Não é nada – eu disse querendo parecer normal.
– Vamos lá Hannah, te conheço há muitos anos. Passamos quase um século andando juntos pelo mundo, eu, você, a Lucy, a Sophi, o Apollyon e a Ayla – Vi que ao pronunciar o último nome ele se esforçou para que a emoção não viesse à tona.
– Bom, talvez você não goste da resposta – eu disse tentando distraí-lo.
– Você não irá saber se não me contar, mas me deixa adivinhar uma parte. Tem a ver com um dos seus amigos sanguessugas.
– Por favor, não fale isso deles... Eles são realmente diferentes.
– Você mudou muito, Hannah. Não suportava os vampiros desde a morte da Ayla, assim como eu.
– Eu generalizei todos Matteo, e não posso fazer isso. Não faço isso com as outras raças, por que eu faria isso com eles?
– Tanto faz, desembucha logo.
Contei para ele sobre a ligação, o como o Rafael me salvou, falei o como estávamos ficando próximos, o como eu sentia aquilo que ele sentia. O como ele aguentava a fome dia após dia. Contei para ele a história do irmão dele, ocultando o fato de que o irmão dele era o Ivan, já que esse nome era bem conhecido entre todos nós. E por fim falei do acesso de ciúmes que eu tinha acabado de ter.
– Mas Matteo, eu não sei o porquê me senti assim, ele é só mais um dos vampiros do orfanato.
– Por que você está escondendo de você mesma o que você sente, Hannah?
– O que eu sinto? Não... não... eu não sinto nada... Nunca senti nada por ninguém. Não vai ser agora que vou me apaixonar por um vampiro. Que história mais clichê – eu falei tentando fazer graça.
– Você pode negar para você mesma, mas você nunca foi boa em esconder o que sente para aqueles que te conhecem e claramente você está apaixonada.
A palavra apaixonada me caiu como um banho de água fria. Eu não podia me apaixonar.
– Matteo, eu sou uma bomba relógio, não posso me apaixonar. Qualquer um que se aproxime de mim pode se machucar. Então, eu não posso estar apaixonada. Não posso machucar ele.
– E negar o que você sente muda alguma coisa? Está bem, você deixa se aproximar de você apenas aqueles que estão envolvidos diretamente no problema e ainda assim tenta proteger todos. Você sempre foi assim, mas está errada se acha que pode controlar esse tipo de sentimento.
– Eu... é... Você não quer entrar e dançar comigo? Vamos, estou louca para uma dança.
– Já vi que você não vai admitir... então está bem, por que não?
Saí do jardim aliviada por poder mudar de assunto. Vi a Lucy no meio das pessoas que estavam dançando e levei o Matteo pela mão até lá.
– Oi, Lucy – ele cumprimentou cordialmente, com cuidado para não invadir o espaço dela e do Elon.
– Matteo, que bom te ver de novo – ela respondeu sem parar a dança – Nos falamos depois, ok?
– Sem problemas, Lucy – ele acenou com a cabeça.
Eu dei mais um gole no meu whisky e deixei a garrafa em um canto, marcando bem o lugar para voltar e pegar a garrafa de novo. Começamos a dançar, mas não deu tempo de terminar a dança, pois vi o Rafael sozinho em um canto me observando com a cara bem fechada. Acredito que o Matteo percebeu meu olhar de desespero.
– Vamos lá Hannah, talvez seja melhor você me apresentar adequadamente para ele antes que ele pense que temos algo que não temos.
– Do que você está falando? – tentei esconder meu embaraço.
– Hannah, até quando você vai pensar que consegue me enganar? Aquele é o Rafael,não é? Não o vi na noite em que nos encontramos.
– Ele não estava lá, como eu te falei, ele segura a fome.
– Vamos falar com ele, Hannah.
Ele me levou em direção ao Rafael, que arrumou a pose enquanto chegávamos perto.
– Oi, Hannah – foi a saudação mais fria que eu tinha recebido desde faz dias.
– Rafael, tudo bem? Esse é meu amigo Matteo – eu estava tentando evitar o olhar furioso do Rafael.
– Prazer Matteo. Não queria atrapalhar a dança dos dois – ele continuava bravo. O que eu deveria fazer?
– Não atrapalhou em hipótese alguma. A Hannah estava justando falando de você!
"Pronto, agora que eu não vou conseguir olhar para a cara do Rafael de novo." Senti o rosto quente e abaixei a cabeça.
– De mim?
– Sim, espero que não se importe. Ela me chamou para dançar porque disse que não te encontrava e estava ficando angustiada.
– Eu estava aqui dentro o tempo todo – novamente a resposta mais fria.
– Tudo bem, Matteo – eu disse enfim – Obrigada pela dança.
– Sem problemas Hannah, vou dar um oi para a Lucy e para o parceiro dela – ele disse se afastando.
– Simpático o seu amigo – foi a única coisa que ele disse, e de uma maneira bem cínica.
– Rafael... você está bem?
– Claro que estou... Esse foi o amigo que você encontrou na cidade?
– Foi sim...
– Tenho um mal pressentimento sobre ele.
– Rafael, não precisa se preocupar com ele. Não fica assim... por que não vamos dançar?
– Você quer dançar comigo?
– Claro que quero, esperei por isso desde que cheguei na festa.
Talvez isso o tenha relaxado um pouco, já que ele segurou a minha mão e fomos dançar. Ficamos em silêncio por um espaço de tempo que foi quebrado por ele.
– Me desculpa por antes. Você está linda, ainda mais linda do que costuma estar.
Não esperava por esse elogio, sorri para ele e retribuí o elogio.
– Eu te vi na festa Rafael, mas você estava com uma mulher. E bom, vocês pareciam bem a vontade juntos – eu soltei finalmente.
– Ela queria que fossemos dançar. Normalmente ficávamos juntos nas festas. Mas eu recusei. Resolvi te esperar.
Novamente o silêncio reinou entre nós, mas logo eu senti duas presenças diferentes no salão. Uma eu conhecia bem, a outra eu sabia que já havia sentido. Parei de dançar repentinamente e olhei em volta. A primeira coisa que eu vi foi o Apollyon correndo na minha direção.
– Hannah... foge! – ele gritou, e logo depois vi uma flecha vindo na direção do Rafael. O máximo que eu pude fazer foi virá-lo com força para que a flecha pegasse em mim e não nele.
O Rafael ficou me olhando atônito enquanto eu apenas me segurava nele. Ouvimos alguns gritos das pessoas em volta que saíam de perto e logo vi que a Lucy vinha correndo com o Elon. O Bae e o Aruna vinham de outra direção e o Matteo já estava em posição de ataque do lado do Apollyon.
– Quem foi Apollyon? – o Matteo perguntou sem nem dar o trabalho de dar oi.
– A Agnes está aqui, tentei avisar antes, mas ela é muito rápida.
– Agnes... – eu repeti em voz baixa.
Ao ouvir esse nome novamente o Rafael ficou tenso enquanto ainda me segurava.
– Rafael, sei que você me ouviu dizer esse nome, mas não faz nada, por favor. Você não sabe como ela é...
– Foi ela não foi?
– Rafael, por favor... não faz nada.... Lucy, quebra a flecha para mim. Vou melhorar rápido. Matteo e Apollyon, achem-na o mais rápido que puderem. Elon, Aruna, Rafael e Bae, mantenham os seus convidados seguros e de preferência façam que esqueçam essa cena toda.
– Hannah, não vai ser preciso achá-la... – ouvi o Apollyon falando.
– Ora Hannah, ouvi dizer que você anda falhando na hora de localizar os outros, estou achando que é verdade – escutei a voz de Agnes próxima a mim – Então seu radar está realmente falhando?
Me soltei dos braços do Rafael e virei rápido.
– Agnes, o que você quer?
– Vejo que você decaiu bastante Hannah. Ceifeiro, Incubus e agora vampiros...Acho que você não aprendeu a lição básica de uma alquimista... Não podemos ter amigos.
– Eles não têm nada a ver com tudo isso. Se sou eu que você quer, vamos resolver isso longe das pessoas.
– Você está preocupada com eles? Não sei por que o Sr. Geber faz tanta questão de te achar. Pena que eu não posso te matar.
Fechei os punhos ao ouvir o nome dele.
– Então você realmente o segue Agnes. Pelo visto vai ser inútil falar com você – eu ia falando enquanto via a Lucy juntar energia. Eu sabia que ela nos transportaria para fora da casa.
Eu não podia fazer nada com todas aquelas pessoas ali dentro, mas ficar com a adaga era uma maneira de me defender caso ela chegasse muito perto.
– Rafael, quebra a flecha, por favor – eu pedi baixinho.
Ele fez o que eu pedi muito rápido e eu soltei um gemido de dor e tentei regular minha respiração.
– Nossa, que comovente. Você pedindo ajuda para um sanguessuga. E pelo jeito como você o protegeu, posso concluir que você o ama? – ela disse apontando uma flecha direto para ele.
– Agnes, por favor, não faz nada – pedi tentando manter a voz calma – "Caramba Lucy, acaba logo isso".
E então, de repente, fomos jogados por um portal de energia para fora da casa. Acho que a Agnes não estava preparada, mas para o meu desespero o Rafael veio junto. Ele estava muito próximo a mim e não tinha como a Lucy o excluir do teletransporte.
Eu sabia o quanto a sensação podia ser ruim e o segurei para que ele não caísse, perdi totalmente o foco da Agnes. Não cumpri a lição principal; nunca desvie a atenção de seu inimigo na luta. Senti outra flecha vindo na nossa direção. Senti o Rafael me jogando para o lado e se desviando da flecha, deixando apenas um corte fino no rosto dele e como consequência no meu também, algo que não passou desapercebido pela Agnes.
– Não acredito! – ela disse animada – Eu tenho certeza de que a flecha nem passou por você Hannah!
– Maldição!
Sem pensar duas vezes eu fiz o selo do fogo com a mão direita e a do vento com a outra e lancei as chamas nela. Ela se desviou por pouco, mas notei que uma parte da roupa dela havia queimado.
– Cretina, vou acabar com você! – ela disse lançando uma rajada de vento e me jogando longe.
– Vocês todos saiam daqui! – eu gritei – Essa briga é minha!
Vi que a única que se moveu foi a Lucy, ela sabia bem que não adiantava discutir comigo agora. Ela pegou o Rafael pelo braço e o levou para um canto. Não sei o que ela falou. Talvez tenha pedido para ele esperar e interferir na luta apenas se fosse necessário.
A Agnes que havia descoberto um ponto fraco meu, apontou o próximo ataque para eles, mas eu consegui usar o selo Vegvisir e subir a proteção a tempo.
– Sua briga é comigo! – eu gritei para ela. Deixando claro que eu não aceitaria esse tipo de golpe.
Subi as estacas de terra do chão assim que eu grite. Estava realmente irritada e sem perceber ainda tinha uma necessidade imensa de vingar o irmão do Rafael.
Eu muitas vezes me superestimei, por tudo o que eu tinha passado, mas dessa vez, eu não estava preparada para o que viria. A Agnes estava muito rápida, eu mal consegui acompanhar seus movimentos. Em questão de milésimos de segundos ela já estava do meu lado, detrás da barreira junto comigo.
Não preciso dizer o quanto isso foi assustador para mim, e com uma flecha na mão ela enfincou mais uma nas minhas costas fazendo com que minha barreira se desfizesse no mesmo momento.
– É uma pena que eu não possa matar uma traidora como você.
"Droga, não sei o que fazer, pensa logo". Eu sabia que não podia fazer nada, mas tinha alguém com poder suficiente aqui para ganhar, ele só precisava de algo em troca.
Caí de joelhos por conta da dor e em seguida senti um chute no estômago que fez com que eu perdesse o ar e caísse de vez.
Vi a imagem do Matteo voltando na minha cabeça e tudo que ele era capaz de fazer através de um pacto. Sim, eu sabia que ele era a resposta para isso. Tentei me levantar com dificuldade pela dor da nova flecha.
Fiz novamente o selo de fogo. Precisava distrair ela enquanto eu colocava meu plano em prática e isso precisava ser rápido. Apesar dos Incubus serem conhecidos popularmente pelo desejo sexual com humanos, eu melhor que ninguém sabia que isso era apenas uma teoria maluca dos próprios seres humanos e eu conhecia um ritual que valeria a pena fazer nessa hora. Eu só precisava de um pouco de sangue da Agnes, só um pouquinho.
– Ei Agnes – chamei a atenção dela – Sabe, não sabia que um cachorro ficava tão forte para defender seu dono. Estou impressionada – Vi a expressão de raiva no rosto dela. "Isso Agnes, chega perto o suficiente, por favor".
– Acho que não vai ter problema se você chegar sem a língua.
Vi ela se aproximando, dessa vez com uma pequena faca que ela tirou de algum lugar próximo a cintura. Preparei minha adaga e assim que ela chegou perto eu fingi que caí e cravei a adaga na perna dela e a tirei. "Pronto, consegui".
Claro que eu pensei nisso cedo demais. Ela gritou de dor e me levantou e me deu mais algumas facadas na barriga enquanto me xingava. Senti a presença do Rafael se aproximando e tentei olhar para trás.
"Não Rafael, por favor, fica aí...". Não conseguia pensar em mais nada, o sentimento de incapacidade estava tomando conta de mim novamente... "Não morra por minha causa, por favor..."
Ele desembainhou uma espada que eu não havia visto com ele naquela noite e conseguiu atingi-la no ombro apenas pela distração dela.
Ela me soltou na mesma hora, mas se virou e o atingiu no braço com a faca.
Claro que eu sabia do poder de qualquer vampiro e sabia que ele era extremamente rápido também, já havia constatado isso nos treinos, mas parecia que estava muito mais rápido agora. Em algum momento os outros três já haviam saído da mansão e avançavam para cima da Agnes também.
Aparentemente eles tinham uma velocidade semelhante à dela, o que a deixou em certa desvantagem. Nesse momento acho que todos conseguiram pelo menos um pouco de seu sangue, o que me dava um certo prazer para ser sincera. Na tentativa de se livrar deles ela conseguiu fazer um selo que lançou todos eles para longe, mas já era tarde demais para ela... eu já havia feito o pacto no chão com o sangue dela e o meu. Meu pagamento para o Matteo... a pedra Valknut, ou como era conhecido por eles, a pedra da morte, eu teria o prazo de dez anos... o que eu pedia em troca era a alma dela como escrava dele. 10 anos era tempo suficiente pra acabar com a minha guerra, ou isso eu esperava naquele momento. Claro que eu tendo tantas outras pedras, retirar essa não me mataria, mas me tiraria uma grande vantagem contra qualquer inimigo.
Vi que ela ia em direção ao Rafael que já estava de pé com a boca cheia de sangue dela. Ele manteve a postura o tempo todo, até mesmo depois daquela queda. Eu não podia deixar ela chegar perto dele.
Eu me sentia fraca, mas fiz um esforço imenso para poder gritar...
– Ey, Agnes... tenho um presente para você! Sabe qual a vantagem de ser amiga de um demônio? – falei sentando-me na frente do círculo do pacto.
– Hannah, não! – escutei o Matteo gritando e tentando me alcançar, mas eu já tinha feito a minha escolha... a minha perda era mínima e era daqui a dez anos só, a não ser que eu morresse durante o ritual, já que exigia uma quantidade grande do meu próprio sangue. Tinha pena dele, não havia pedido sua permissão, não havia pensado no que ele sentiria e agora ele seria obrigado a ter alguém como ela por perto...
Não, eu não podia desistir. Sabendo que os dois já estavam cientes do que eu havia feito. Eu fiz um corte extremamente profundo no meu pulso esquerdo. Que jorrou muito sangue no meio do círculo, logo fiz o corte no outro pulso.
Tanto o Matteo como a Agnes foram puxados para perto do círculo, ela gritava, talvez de dor ou de desespero. Eu não sei bem, já não via quase nada, a única coisa que eu conseguia ver era o Apollyon, que dessa vez parecia bem triste por estar tão perto. Não via no rosto dele aquele desejo que ele tinha de me levar.
E então, veio a calma. Deixei meu corpo pesado cair no chão. Tentei olhar para todos, especialmente para a Lucy que parecia apavorada apesar de manter a distância. Acho que tinha lágrimas nos olhos dela. Depois me virei para o Rafael, que parecia desnorteado. Tentei sorrir para ele, mas não sei dizer se eu realmente consegui. Eu realmente estava apaixonada por ele, pena que eu sentia que não iria sobreviver para poder dizer isso a ele. Eu não tinha calculado bem, essa era a verdade... Eu já havia perdido sangue durante a luta e eu não tinha pensado nessa parte. Não importava, me sentia tranquila e em paz.
– Hannah não, hoje que eu não quero que você se entregue você está fazendo isso – escutava a voz desesperada do Apollyon – Por favor, hoje não!
Mesmo esse apelo parecia distante de mim, eu não tinha muita vontade de lutar na verdade. Estava tão gostoso ali, a sensação era muito boa.
"Acho que o ritual acabou, todos estão chegando perto agora" – pensei.
– Hannah, não se atreva a morrer – eu escutei a Lucy soluçando as palavras perto de mim – Você está sempre perto de morrer, qual o seu problema?
– Olha, se você acha que eu vou perder meu laço você está enganada – escutei a voz firme do Rafael, que tirava a adaga da minha mão e fazia um corte no próprio braço e colocava o braço na minha boca – Bebe, é uma ordem! Não se atreva a me desobedecer.
"Não tenho forças pra isso Rafael" – continuei pensando, queria poder falar com ele de novo. Sentia o sangue dele descer pela minha boca, mas não conseguia fazer nada.
– Não se atreva a me desobedecer! – escutei ele falando de novo agora com a voz um pouco mais preocupada.
Tentei o máximo que pude engolir o sangue que vinha dele. Não sabia exatamente o que aquilo faria comigo, mas tentei obedecer. Consegui segurar o braço dele enquanto tentava beber o máximo que minhas forças me permitiam, mas a escuridão finalmente tomou conta e o último grito que eu escutei foi o da Lucy.
"Lucy, não fica triste..."
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