Capítulo 16
Ficar concentrada por mais tempo estudando me parecia impossível e eu ainda não me sentia segura sobre extrair as pedras da Agnes. E se eu falhasse? O plano estaria perdido e o mais importante: a vida dela estaria perdida. Aquilo me desesperava. Passei a dormir cada vez menos, perdi peso e quase não conversava com ninguém. A tensão era muito grande.
Voltaram a fazer uma festa, mas eu preferi não ir. Fiquei na biblioteca estudando enquanto rolava a festa. Eu sabia que aquelas festas não eram para diversão, mas também sei que era bom para todos relaxarem.
"Queria tanto uma bebida" – pensei comigo mesma, a vontade de beber estava voltando. A necessidade de sentir algo diferente estava vindo com força.
A festa havia começado já fazia algum tempo, mas escutei passos vindo na direção da biblioteca. Sabia que era o Rafael e senti uma pontada de ciúmes, porque eu não estava sentindo aquele vazio no estômago, então sabia que ele havia se alimentado também.
Eu sabia que era ridículo da minha parte, eu não tinha o direito de me sentir assim. Ele precisava se alimentar e ele não queria fazer isso comigo. Ele sentia medo e eu sabia disso, mas mesmo assim o monstro verde do ciúme estava ali comigo. Queria que ele precisasse de mim.
Escutei quando ele bateu na porta, mas não respondi.
– Hannah, posso entrar?
– Claro.
– Espero que não esteja te atrapalhando.
– Não, tudo bem – falei colocando de lado as folhas que eu estava usando de anotações e o livro de alquimia – Precisa de alguma coisa?
– Vim ver se você está bem. Não te vi na festa e imaginei que estaria aqui.
– Resolvi não participar dessa festa. Tenho muita coisa para fazer ainda. – "Droga, eu não consigo falar com a voz um pouco menos rude?"
– Você está realmente bem? – ele perguntou me olhando fixamente.
– Estou bem, só cansada – sabia que não era só o cansaço, ainda estava me corroendo por dentro, nunca quis tanto sentir aquela dor e aquele vazio no estômago como agora.
– Eu trouxe uma coisa para você, espera um pouco – ele disse saindo pela porta e voltando a entrar rapidamente.
Ele tinha nas mãos uma bandeja com sanduíches e um copo de suco.
– Eu não sei se ficou bom, mas pedi pra Lucy me ajudar – ele disse parecendo um pouco tímido, algo que eu não estava acostumada.
– Você fez isso para mim? – perguntei um pouco mais tranquila e emocionada.
– Claro... você tem trabalhado duro esses dias. Alguém precisa cuidar da sua alimentação.
Alimentação, aquela palavra veio como uma facada. Eu estava muito cansada e isso me dificultou ao tentar manter os olhos secos. Por que eu estava agindo daquela maneira? Eu tinha ficado muito sentimental desde que cheguei aqui.
– Hannah, o que aconteceu? – ele realmente parecia preocupado agora.
– Desculpa, acho que o cansaço tem me feito ficar emotiva. Eu amei a surpresa – disse enxugando as poucas lágrimas que eu não consegui segurar.
Dei um sorriso carinhoso para ele e peguei um dos lanches que estavam na bandeja. Queria deixar de sentir aquilo com urgência.
– Está delicioso. Obrigada – falei dando uma segunda mordida no lanche, eu estava tão concentrada no que eu não estava sentindo, que mal notei minha própria fome.
– Fico feliz que você tenha gostado – ele respondeu sorrindo – Hannah, sei que tem algo a mais te incomodando. Como eu já falei, você é péssima escondendo o que sente.
– Segundo Matteo eu nunca fui muito boa nisso com quem eu conheço – disse com uma risada frouxa.
– Está preocupada?
– Estou. Qualquer coisa errada e ela morre. A responsabilidade é muito grande. Tenho medo de fazer isso.
– Ei, vamos estar todos com você. Você não deveria ficar tão preocupada, sabia?
– Eu sei, mas ainda assim é muita tensão.
Ele resolveu chegar perto para me abraçar e eu senti que ficava um pouco tensa. Ainda me incomodava o fato dele ter se alimentado e por mais que eu tentasse, a imagem dele abraçando outra mulher sempre me vinha a mente.
– Tem mais alguma coisa te incomodando? – ele perguntou sentindo que eu ficava um pouco mais rígida com o abraço dele. Ele se afastou um pouco ainda com as mãos na minha cintura – Olha para mim, Hannah – ele pediu mantendo o olhar nos meus olhos – Me fala a verdade, tem mais alguma coisa?
– Droga Rafael, eu não sei lidar com o que eu sinto – eu falei tentando afastá-lo, mas ele me segurou com um pouco mais de força.
– O que exatamente você sente?
– Tudo, preocupação, medo de não conseguir, medo de perder mais alguém que eu amo. Raiva, frustração... Acho que também tenho... ciúmes – disse desviando os olhos nessa última parte e indignada com a minha incapacidade de manter a boca fechada quando eu estava com ele.
– Ciúmes? Do que?
– Eu não quero falar disso. Eu não me entendo, nunca me senti assim antes.
– Está assim porque eu me alimentei na festa, não é? Talvez isso tenha juntado com todos os outros sentimentos e isso está te incomodando. É isso?
– Eu... sinto muito. Acho melhor eu voltar para o trabalho – disse tentando me livrar novamente do abraço dele, mas sem sucesso novamente.
– Você já se apaixonou alguma vez?
– Não.
– O que você sente por mim? O que nós temos, Hannah?
– Eu... eu não sei – disse com os olhos enchendo de água novamente.
– Você me ama?
– Quantas perguntas – eu disse tentando brincar.
– Não tenta fugir do assunto. Você me ama?
Eu abaixei a cabeça, olhei para os lados. Não conseguia encarar ele.
– Hannah, é só me responder sim ou não.
– Amo... – eu disse baixo.
– Você sabe que o que eu fiz na festa foi apenas para me alimentar, certo? Não é mais que isso – ele continuava olhando fixamente para mim.
– Eu sei..., mas não consigo evitar – respondi baixinho de novo e ele me abraçou.
– Está tudo bem, Hannah. Me perdoa. Eu deveria ter te falado sobre isso. Sinto muito – ficamos um momento juntos assim enquanto a minha decepção e ciúmes iam diminuindo pouco a pouco – Você sabe que nessas horas nem parece que você tem quase 900 anos, né? – ele disse rindo um pouco.
– Ah, por que você precisa falar quantos anos eu tenho? Que descortês – eu disse com uma risada autêntica dessa vez.
Ele apenas riu e me beijou. Por incrível que pareça, não havíamos feito mais isso desde a primeira vez no salão da lareira e igual daquela vez, sentia como se meu coração fosse sair pela boca.
– Antes que eu esqueça, tenho mais um presente para você – ele disse me afastando um pouco dele.
Ele pegou uma pequena caixa do bolso da roupa e me deu.
– Espero que você goste.
Abri e tinha um colar muito bonito na caixa com uma lua crescente e saindo da parte de cima da lua, havia uma gota transparente com um líquido vermelho.
– É lindo! Mas o que é isso dentro.
– Dizem que o sangue representa a vida – ele começou pegando o colar e me virando para colocá-lo em mim – Por isso dizem que os vampiros precisam de sangue. É como se roubássemos uma parte da vida da outra pessoa, mas nós também temos sangue e por isso achei que poderia dar uma parte da minha vida a você.
Ele me virou novamente depois de fechar o colar. Eu já não me sentia insegura, queria apenas aproveitar o momento com ele novamente.
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