Capítulo 13
Senti ele me carregando para a cama, queria poder abrir os olhos, mas o cansaço era muito grande. Senti que ele me observou por bastante tempo. O que ele estaria pensando? Queria poder saber, mas o sono me venceu novamente e caí em um mundo sem sonhos.
Quando acordei estava escurecendo de novo. O que significa que eu havia dormido muito tempo.
Precisava me levantar para voltar a descoberta da noite anterior. Pulei da cama animada, coisa que era bem rara em mim.
Andei pelo orfanato até achar a Lucy.
– Lucy! – gritei animada.
– Minha nossa... cadê a Hannah? O que você fez com ela? – ela disse fingindo espanto.
– Ahhhh Lucy.... vem, vem ver o que eu achei – disse puxando-a pela mão e esquecendo completamente que o Elon estava ali com ela.
– Hannah, calma! Elon, você vem?
– Elon, desculpa!! Vem também! – eu disse puxando-o pela mão também.
– Caramba, o que aconteceu essa noite para você estar desse jeito. Confesso que nunca te vi animada desse jeito e isso me assusta um pouco – ela continuou falando.
– Lucy, encontramos uma possível pista para abrir a porta!
– Encontramos? Quem encontrou além de você? E é por isso a felicidade?
– Ahhhmm.... é.... claro! – eu respondi tentando me controlar um pouco melhor. Eu nem tinha tantos motivos para estar daquele jeito, mas era uma euforia tão difícil de controlar.
Levei os dois até a biblioteca e quando entrei vi que o Rafael abaixava um livro e olhava em direção a porta.
– Eh, desculpa, eu deveria ter batido antes – me desculpei apesar de ele não ter falado nada. Ele estava tranquilo apesar da interrupção, o que não era normal dele, mas não expressou nenhuma reação quando me viu – Eu só vim mostrar o que eu achei pra Lucy e ...
– Tudo bem, a folha continua na mesa – ele respondeu sem me deixar terminar e voltou sua atenção para o livro. Era difícil saber o que estava passando na cabeça dele naquele momento.
Mostrei a folha e disse da semelhança com o desenho na porta, mostrei a assinatura do meu pai no canto do desenho e expliquei sobre a runa que Rafael me falou. Enquanto explicava olhava de canto para ele, talvez eu estivesse esquecendo de algo e ele poderia me ajudar, mas ele parecia não nos dar atenção.
– Hannah, isso é fantástico – Elon foi o primeiro a elogiar.
– Agora que temos essa pista basta descobrirmos o que significa o que está no meio. Que é sobre você está claro, mas o que você precisa saber? Será que o Sr. Geber sabia que você viria? – Lucy continuou a conversa.
– Acho que só vamos saber quando abrirmos a porta – falei começando a sentir um pouco de nervosismo. Não sei se eu estava preparada para descobrir. Estava me acostumando com aquela vida e tinha um desejo louca de continuar daquele jeito. Pacificamente.
– Acho que agora devemos comparar com a porta – Lucy continuou.
– Então vamos. Rafael, é... você vem com a gente? – perguntei um pouco nervosa por interrompê-lo de novo.
– Eu... mm ... uff – ele abaixou o livro, fez uma cara de quem estava lutando consigo mesmo entre ir ou não – Tudo bem, posso ir, mas acho que vai ser mais vantajoso chamar todos os outros, talvez eles tenham alguma ideia sobre isso tudo.
– Pode deixar que eu vou chamá-los – eu respondi, estava sentindo o clima um pouco pesado e talvez sair um pouco da situação embaraçosa me ajudasse. Como era possível sair de uma euforia para um clima daquele tão de repente?
Achei o Aruna e o Bae no salão. Apollyon já não estava ali, o que era normal para ele, seu trabalho não podia parar. Precisei me concentrar para ver de onde estava vindo a presença do Matteo, que já fazia dias que eu não via. Senti a presença da Agnes no quarto dela e a do Matteo um pouco longe do orfanato.
– Ótimo, não vou poder ir atrás dele – senti depois de muito tempo a frustração por não poder ir aonde eu queria.
Eu sabia que ele ficava o máximo de tempo possível fora da casa e sempre evitava os demais moradores, mas me senti frustrada por ele não estar perto dessa vez.
Voltei para a biblioteca e disse para Lucy onde ela poderia encontrá-lo. O melhor era que ela fosse sozinha tendo em conta a relação do Matteo com os vampiros dali. Demorou uns 20 minutos para que eles voltassem e para a minha surpresa a Agnes estava junto. Me assustei ao ver o tanto de marca de mordidas que ela já tinha e me senti mal por isso. Não queria que ela fosse uma dispensa de comida. No fim das contas ela também era um experimento.
Ela me encarou, mas não falou nada, ela tinha uma raiva profunda nos olhos e sabia que se ela pudesse ela me mataria ali mesmo, mas pelo visto Matteo tomava muito cuidado com as proibições que ele fazia.
Fomos todos em direção a porta, aquela euforia que eu estava sentindo havia desaparecido por completo e a única coisa que havia ficado no lugar era uma ansiedade e um medo terrível de realmente saber o que tinha atrás da porta.
Comparamos e ficamos um bom tempo olhando tanto para o desenho como para a porta.
– Agnes, se você sabe de algo fala agora – vi que o Matteo ordenava para Agnes.
– Eu não sei de nada. Isso é novo para mim – ela respondia de uma maneira mal criada, mas sabíamos que ela estava falando a verdade, já que ela era obrigada a fazer tudo o que o Matteo mandava.
Resolvi passar a mão pela porta para ver se não estávamos perdendo nada e foi quando eu me toquei que bem no canto da porta, bem próximo ao chão do lado esquerdo, havia o brasão da minha família. Um brasão contendo o símbolo da alquimia no meio da cruz egípcia Ansada. Esse brasão realmente representava os loucos dos meus pais.
– Lucy, tem o brasão da família Geber aqui – falei.
– Então, você acha que...
– Sim... maldição, porque tudo o que tem a ver com a alquimia precisa de sangue? –falei puxando a minha adaga.
– Hannah, espera... – ela disse olhando para os vampiros que estavam ali parados tentando entender do que estávamos falando.
– Ah, desculpa. Tem razão – eu respondi já entendendo que eu teria que ser cuidadosa, já que não sabia o como estava a fome deles.
– Então, acreditamos que ela tenha que fazer o brasão da família dela no centro usando o sangue dela. Pelo que tudo indica somente o sangue dela vai funcionar. E... bom... é que... – ela tentava explicar sem parecer rude, mas aparentemente as palavras não saíam.
– Lucy, está bem, entendemos. Acho que todos aqui vão conseguir um bom controle – Elon respondeu.
– Diga por você Elon, já sentiu o cheiro do sangue dela, não? É imensamente tentador... – Bae disse na maior naturalidade e sinceridade, o que fez o Rafael se sentir incômodo.
– Melhor esperarmos no salão – Rafael disse demonstrando um pouco de raiva pelo comentário do amigo.
– Bom Elon, sei que você está preocupado com a Lucy, mas vai ser melhor você ficar com a gente – foi a vez do Aruna falar – Eu não usaria as palavras do Bae, mas ele tem razão. Com todo respeito Hannah. Sinto muito pela maneira rude que o Bae falou.
Todos eles subiram e fiquei eu, a Lucy, a Agnes e o Matteo. A Agnes se mantinha perto do Matteo.
Fiz um corte mais ou menos profundo na mão e comecei a desenhar, mas acho que o fato de eu ter dado meu sangue para o Rafael no dia anterior não ajudou. Eu comecei a me sentir fraca em um espaço curto de tempo. Sentia como se minha pressão estivesse caindo. Lucy me ajudou a terminar, ela me segurava e ao mesmo tempo me ajudava a desenhar o brasão no centro da porta e como o esperado, o selo se rompeu, mas eu estava realmente fraca e já não conseguia me manter de pé.
– Hannah, droga, você está muito pálida – ouvi Matteo falando enquanto me pegava no colo. Vamos, vou te levar para algum lugar para que possa se deitar um pouco.
– Não, temos que entrar – eu disse com a voz falha.
– Vamos entrar assim que você se sentir melhor. Vamos entrar todos nós juntos, ok?
– Está bem... – eu disse sentindo a vista escurecer um pouco.
– Lucy vai arrumar alguma coisa para ela comer, vou levar ela para o salão da lareira. Agnes você vai avisar os outros o que aconteceu e vai conseguir curativos para colocar na mão dela.
Vi um borrão do que parecia ser a Agnes sair sem responder nada e fui levada para o salão pequeno do orfanato.
Agnes chegou muito rápido com os curativos e ficou parada esperando novas ordens que não chegaram. Matteo pegou as faixas e com uma habilidade incrível fez um curativo na minha mão.
– Você anda perdendo muito sangue ultimamente – ele me falou com um tom preocupado – Não é da minha conta, mas acho que você precisa controlar o seu vampirinho.
– Ele não fez nada. Fui eu que ofereci – respondi sabendo que não adiantava esconder esse fato.
– Então controla o seu impulso. Isso me incomoda. Você não é um alimento, não tem o dever de alimentar ninguém.
– Vou lembrar de avisar os pernilongos da próxima vez – eu disse rindo baixo.
– Pelo visto você já está bem, né? Não podia deixar de fazer uma piada – ele disse dando um suspiro – Espero que você entenda que eu só estou preocupado com você, mas sei que você confia nele.
Todos chegaram junto com a Lucy e todos pareciam preocupados.
– Gracinha, tenho a impressão de que você está sempre caída – Bae foi o primeiro a quebrar o gelo ali.
– Hannah como você está? – Aruna me perguntou.
– Me sinto bem, foi só uma pequena fraqueza – respondi pegando o lanche que Lucy havia preparado para mim.
– Eu posso falar com a Hannah um minuto? – fiquei surpresa ao ouvir o Rafael pedir.
Matteo olhou para mim relutante em aceitar isso, mas eu apenas acenei afirmativamente com a cabeça e respondi:
– Tudo bem Matteo, eu estou bem.
– Ok, eu confio em você – ele respondeu destacando bem a palavra "você" – Vamos Agnes, e não quero ouvir a sua voz no caminho – disse isso e saiu.
Todos foram saindo aos poucos, a última a sair foi Lucy, que me deu um sorriso carinhoso e uma pequena piscada.
– Juízo – ela disse antes de sair.
Eu ri do comentário. Ah se ela soubesse da sensação que eu tinha de que a conversa não ia ser boa. Quando todos saíram ele ficou me olhando um tempo e eu fiz um esforço para me sentar.
– Não precisa se sentar – ele disse calmamente, mas mesmo assim o fiz, ficava mais fácil olhar para ele.
– Eu estou bem não se preocupe comigo – disse tentando sorrir.
– A culpa foi minha – ele começou – eu não deveria ter feito aquilo ontem.
– A culpa não foi sua, não esqueça que a iniciativa foi minha – eu disse e vi que ele havia ficado pensativo.
– Mas eu não deveria ter feito. É muito tentador ter você por perto. E se eu não tivesse conseguido parar? – ele continuava sério.
– Mas você parou – eu não queria ficar ouvindo-o se culpar.
– Você não entende, não é? O que o Bae falou é verdade. Seu sangue... como eu posso explicar, tem um aroma tão diferente e chamativo. Para ser sincero, tanto o seu como o da Lucy, inclusive o da Agnes é assim... mas o seu? Tem algo que atiça a vontade de sangue nele. Não sei se o motivo são as pedras de poder que tem dentro de você ou se você sempre foi assim, mas eu não confio em mim mesmo para parar sempre.
– Que pena que você não confia, porque eu confio – eu disse surpresa por ele ter falado tanto em um curto espaço de tempo.
Ele novamente pareceu pensativo e adicionou:
– Eu não sei o que faria se eu te machucasse, Hannah. Fazer isso é colocar a sua vida em perigo.
– Então estamos quites, eu coloquei a sua vida em risco e você colocou a minha. Um preço justo a se pagar. Não era essa sua ideia inicial? – sabia que eu tinha falado demais, mas ele não alterou a voz.
– Talvez..., mas não é mais assim. Não quero que você se machuque e não é a mesma coisa. Você não me colocou em risco consciente disso e inclusive tentou garantir a nossa segurança logo no primeiro dia e ainda me salvou no baile.
– Eu não tinha muita escolha, afinal tudo o que você sente eu sinto, lembra? – eu disse tentando disfarçar que o real motivo não tinha sido esse.
– Eu sei que não foi por isso. Talvez você seja boa para esconder seus sentimentos quando está tratando com desconhecidos, mas sei que aquilo foi sincero.
– Rafael, eu fiz aquilo ontem porque eu quis. Não suporto a ideia de você fazer isso com outras mulheres – eu soltei de repente e coloquei a mão na boca em seguida sabendo que eu tinha falado demais.
Ele levantou uma sobrancelha e esperou para que eu continuasse.
– Hm... quer dizer... droga, finge que você não ouviu isso – eu disse realmente sem graça.
Ele se aproximou e se agachou próximo ao sofá para que pudesse ver o meu rosto.
– Realmente quer que eu esqueça que você disse isso?
Eu abaixei mais a cabeça e não respondi.
"Droga, eu não consigo me controlar quando estou com ele"
– Hannah, vai me responder? Estar comigo é saber o que eu sou de verdade.
– Eu não me importo – falei ainda de cabeça baixa – Mas não quero mais sentir esse vazio.
Meu coração voltou a ficar acelerado e voltei a sentir aquela sensação estranha na barriga. A sensação de estar em uma montanha russa só aumentava e eu tinha uma vontade louca de que aquilo se resolvesse, mas dessa vez eu queria me arriscar.
Ele se sentou ao meu lado e ficou pensando um tempo. Eu arrisquei olhar para ele, os olhos dele estavam brilhando e ele as vezes sorria sozinho mostrando a ponta das suas presas, pequenas presas. Finas e pequenas. Lembrei das imagens de vampiros onde representam suas presas grandes e notei o quão diferente era. Tinha a sensação de que as presas aumentavam e diminuíam de acordo com a fome que eles sentiam, mas essa era apenas uma teoria minha. Naquela hora pareciam dentes normais a não ser pelo fato de que as presas eram pouca coisa maiores que os outros dentes e tinham as pontas bem finas. A vontade de que ele me tivera voltou a aparecer, mas eu não estava em condições para isso e sabia.
– Você realmente não se importaria? Por quê? – ele perguntou finalmente, quebrando o silêncio que se havia feito entre nós.
– Eu... bom... você é importante para mim.
Ele voltou a sorrir, passou uma das mãos pelo meu cabelo e de leve conduziu a minha boca até a sua.
Eu senti aquele beijo quente e suave, me sentia nas nuvens. Sentia meu corpo tremer um pouco, mas era uma sensação deliciosa. Quando ele parou, ficamos próximos o suficiente para que eu pudesse ver os detalhes dos seus olhos castanho claro, olhos envolventes. Me perguntei se ficariam mais claros no sol, mas sei que era algo que eu jamais saberia. Fechei os olhos novamente e dessa vez fui eu que o beijei. Não queria que aquilo acabasse . Me joguei um pouco para cima dele, queria sentir mais daquilo, queria sentir mais dele. Ele se levantou um pouco, somente para me fazer deitar. Passei as mãos por suas costas e o apertei para que eu pudesse senti-lo por inteiro.
Isso não durou muito mais que isso. Escutamos um grito de desespero e meu coração acelerou, mas não de um jeito bom dessa vez. Era a voz da Lucy.
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