Capítulo 10: C.A.B.A.M.A.N.E.
— O que é "Cabamane"? – Leon arqueou a sobrancelha de forma interrogativa.
Ambrose cutucou Leon e mostrou-lhe o que escrevera:
"A julgar pela disposição das letras, que são todas maiúsculas e estão ao final da mensagem, pode se tratar de uma assinatura do remetente, só que por iniciais."
— Nominho comprido esse, então...
— Talvez descubramos o remetente misterioso quando formos à tal taverna. – Maximilien disse enquanto guardava o pergaminho sob a capa.
— Vai mesmo à tal taverna, Max? Essa mensagem não tinha destinatário.
— Vou, Leon. Ela pode não ter destinatário, mas pareceu que foi para mim. E outra, eu realmente preciso de uma espada. Se essa mensagem não for para mim, há outras formas de se conseguir uma espada. E, sem contar que fiquei bem curioso para ver quem é "Cabamane".
Os três homens, liderados por Maximilien, seguiram até seu destino. Procurariam pelo tal "Cabamane", mesmo sem ter a certeza de que aquele pergaminho era de fato destinado ao jovem príncipe desterrado ou não.
Ainda assim, não custava nada andar até lá.
Enquanto caminhavam, Maximilien novamente pousava seus olhos sobre o anel em seu dedo, última lembrança de seu pai... E também de sua vida como príncipe-herdeiro. Tivera tudo do bom e do melhor e desejava seguir os passos de seu pai, Edward. Havia nascido para tal e estava preparado para suceder seu pai no trono de Ekhbart.
Mas isso nunca viera a acontecer. Aquele tal Edwin, que alegava ser o verdadeiro herdeiro ao trono, o depusera e, com seus aliados e uma série de artimanhas por debaixo dos panos, o jogara em uma cela nas masmorras. Fora condenado ao exílio e, quando o navio no qual estava ia rumo a Christel, foi atingido por uma violenta tempestade e suas ondas gigantes. A embarcação fora a pique, matando dezenas de seus passageiros e da tripulação e poucos sobreviveram milagrosamente, como ele.
Mas, ao reencontrar Ambrose e Leon e ler aquele estranho pergaminho, percebia que havia uma razão para ele ter sobrevivido. Aquele anel que estava em seu dedo o fazia se lembrar de sua origem. Fazia com que ele se lembrasse de onde viera e dos primeiros dezoito anos de sua vida, nos quais cresceu com o amor dos pais e uma excelente educação, além do desejo de seguir os passos de seu pai.
Dez anos se passaram, e Maximilien, durante essa década, vivera o lado mais amargo da vida. Após sua chegada a Christel, trabalhara nas minas de ferro, calejando suas mãos para se manter vivo enquanto permanecia uns oito anos acorrentado. Após isso, ficara perambulando por vilarejos e vielas, tentando sobreviver com algum trabalho. Trabalhara em várias tavernas, apenas por sua própria sobrevivência.
Mas agora buscaria voltar ao seu lugar e retomar tudo o que lhe fora arrancado. Agora tinha uma razão bem forte para isso. Ekhbart, pelas notícias que chegavam, estava em uma guerra estúpida que poderia incorrer em uma derrocada do reino.
Sua volta a Ekhbart tinha, sim, motivações pessoais... Mas, também, tinha como motivo algo que nunca se perdera em dez anos.
O desejo de fazer aquilo para que nasceu. Suceder seu pai, Edward Turner, no trono.
E tentar tirar o reino de Ekhbart da ruína.
*
As ruas de Elibar não mudaram em nada após dez anos. Reconhecia cada pedacinho, cada casa, armazém ou taverna. Realmente nada mudara desde que deixara Ekhbart. Não sabia se gostava disso ou se lamentava não haver qualquer mudança... Até porque, apesar de ser a capital do reino, Elibar estava com uma aparência bastante decadente.
Parecia nunca ter se recuperado da batalha sangrenta que ali ocorrera doze anos atrás, ainda sob o reinado do rei Edward. Quando tivera que deixar Ekhbart e se isolar, partira de um reino em reconstrução. Infelizmente, tivera que sair daquela cidade depois do confronto contra o líder da Ordem dos Dragões das Sombras e permanecer desaparecido enquanto buscava se aprimorar em seus dons de magia e compreender suas visões e sonhos que antecipavam acontecimentos futuros.
E dez anos se passaram, mas a reconstrução não havia continuado. Havia simplesmente estagnado, o reino sujeito a definhar até se acabar.
Caminhou sem pressa pela rua principal da capital ekhbartiana, contemplando cada pedaço do local. Nada mudara de fato e isso o deixava entristecido. O tempo parecia não ter passado em Elibar... Tudo por culpa daquele que estava no trono, assessorado por pessoas de caráter mais do que questionável.
Ao longe, avistou o imponente palácio real contrastando com tudo ao seu redor. A luz dourada do entardecer realçava ainda mais a sua grandeza e o seu esplendor, que aumentaram em dez anos. Isso parecia soar irônico demais para o seu gosto. Entretanto, era para lá que deveria ir, pois tinha uma missão a cumprir após o anoitecer.
Avistou um corvo voando na mesma direção tomada por ele, que desejava não ser notado, e para isso usava uma capa marrom surrada, cujo capuz encobria seu rosto. Sua missão tinha a ver com corvos também.
— Oh, corvos... – murmurou. – Até quando continuareis a devorar as cinzas do último rei? Não subsistirão à fúria da Fênix, da verdadeira Fênix Imortal, que renascerá ardendo em fúria e em breve estará entre nós!
*
Maximilien caminhava dois passos à frente dos outros dois homens. Seus cabelos castanhos foram raspados e, depois de dez anos, haviam crescido e ele mantinha suas madeixas longas, parcialmente ocultas pela capa que usava. Apesar de ser quase verão, a capa servia mais para a proteção do sol e das chuvas que começavam a ser frequentes naquela época.
Ambrose e Leon vinham logo atrás e percebiam que o homem à frente ainda possuía parte de sua postura nobre, correspondente à sua origem. Percebiam também que ele estava determinado a descobrir sobre o autor do tal pergaminho e saber se ele poderia ser de alguma ajuda para seu retorno a Ekhbart.
Não haviam ido imediatamente ao local combinado, pois planejaram ficar algum tempo mais afastados enquanto obtinham algum alimento durante o dia. Ao entardecer, seguiam à taverna indicada pelo misterioso pergaminho. O vilarejo pequeno e simples de vários existentes em Christel estava dourado pelo sol que pouco a pouco começava a se pôr.
O trio entrou na pequena taverna bastante acanhada ao final do vilarejo. Mesmo com as velas acesas no teto ao centro do local, o ambiente era tomado pela penumbra. Leon foi até o balcão e pediu ao taverneiro uma garrafa de vinho e três copos, levando-os para a mesa na qual se juntou a Ambrose e Maximilien. Repartiu o conteúdo e tomou o primeiro gole, para depois fazer uma careta.
— Não sei como o pessoal daqui aguenta tomar um vinho tão ruim! – comentou.
— Acha ruim assim? – Maximilien perguntou. – Não acho que seja de todo mal, dá para se beber.
— Já bebeu algum vinho de Ekhbart, Max?
— Não – o príncipe exilado arqueou a sobrancelha. – Por quê?
— Quando você provar um vinho de nosso reino, seu paladar nunca mais será o mesmo! Vai ver como tem muito vinho por aí que é simplesmente vagabundo, parecendo uma água roxa!
— Este aqui até que é razoável. – Maximilien disse enquanto percorria o ambiente com seus olhos verdes. – Dá pra beber.
Ambrose cutucou-o e ele olhou para o ex-conselheiro, parecendo entender o gestual do ruivo.
— Ah, por que eu estou olhando para os lados?
Ambrose confirmou com um aceno de cabeça.
— Estou procurando por alguém que possa ter escrito o pergaminho... Mas até agora não encontrei alguém que pareça letrado por aqui.
— Pelo jeito o tal "Cabamane" ainda não apareceu. – Leon observou enquanto bebia mais um gole de vinho e fazia outra careta. – Será que ele aparece ou aquele recado foi só um acaso?
— Nada é por acaso, Leon Berenger. – uma voz se ouviu atrás do ex-capitão da Guarda Real.
Surpreso, Leon olhou para trás e viu um homem encoberto por uma capa preta. Os olhares de Maximilien e de Ambrose também recaíram sobre o enigmático recém-chegado, reconhecendo a principal característica daquele homem, que tirou o capuz e revelou seu rosto. Reconheceram os olhos cinzentos e os cabelos agora mais grisalhos, além da costumeira indumentária negra.
— Você é o... – Leon tentou dizer.
— "C.A.B.A.M.A.N.E." – o homem completou com um sorriso divertido. – Calvin Barnes, o "Mago Negro".
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