▪Capítulo 04 - A Garota que rouba Livros
No dia seguinte, a imagem do garoto não saía da minha mente, tudo aquilo me deixava com medo. Me aproximei do espelho e olhei meu reflexo, a cicatriz que estava em minha testa, da pedrada que recebi daqueles garotos.
Logo minha mãe entrou e viu a cicatriz em minha testa, me virei e olhei para ela com os olhos arregalados, a mesma me olhou brilhando de tristeza, se aproximou de mim e me abraçou...
- Você deve ficar longe deles, eles não querem seu bem. - Minha mãe falava com a voz trêmula, quase chorando, aquilo apertava meu coração. O que eu poderia saber? Eu só tinha doze anos, meu medo era maior que qualquer coisa.
Até que minha mãe parou de me abraçar e olhou em meus olhos, em seguida segurou minhas mãos, suas mãos estavam cortadas e seu rosto machucado, dava para ver que ela sofria muito mais que eu, apanhava e era maltratada todos os dias, aquilo me fazia refletir ainda mais.
Algumas horas depois, eu saí do gueto e fui para a árvore, onde eu adorava ficar, eu tinha roubado livros da biblioteca, mas sempre ia devolver depois, então eu abria um livro e ficava lendo, quando ouvi uma voz ao meu lado.
- A garota que rouba livros! - Me assustei, mas dei um suspiro aliviado ao ver que era John, sorri fraco e o olhei.
- Você não cansa de dar sustos nas pessoas? - Ele riu balançando a cabeça negativamente e respondeu.
- Não, não canso mesmo. - Comecei a rir, mas logo parei ao lembrar que eu precisava fazer minhas obrigações, então levantei rapidamente e olhei para ele.
- Preciso ir, John! - Sem esperar sua resposta, corri em direção a minha mãe que estava me esperando. É, realmente eu tinha muito trabalho a fazer. Guardei meu livro em meu bolso no vestido branco que eu vestia e fui em direção as mansões dos chefões.
Eu e mais dez mulheres entramos em uma mansão branca e imensa, com luzes lindíssimas, era a coisa mais linda que eu havia visto em toda minha vida. Estávamos acompanhadas de militares, para garantir que não íamos roubar nada.
Fui levada ate cozinha, onde comecei a guardar todos os pratos e talheres de porcelana, tudo era bem delicado e bonito, começava a tremer só de imaginar quebrando algo dali, quando sem querer, deixo cair um talher no chão, rezei e suspirei, sem olhar para baixo, estava torcendo para não ter quebrado, no entanto, olhei e suspirei aliviada porque não havia quebrado, ouvi passos vindo atrás de mim, era um homem muito alto, ele ficou parado me olhando, desci da cadeira e me inclinei para pegar o talher, num piscar de olhos, senti algo cair do meu bolso, infelizmente era o livro que eu roubara da biblioteca, engoli seco e levantei rapidamente, o homem se inclinou e pegou o livro delicadamente, comecei a tremer de medo e estava paralisada.
- Começou a roubar livros também? Sua ladra... É exatamente por isso que pessoas como você não tem nenhum valor. - Aquela voz grossa e fria me deixou arrepiada, sem demorar muito, senti lágrimas caírem dos meus olhos, eu estava muito paralisada sem saber o que falar.
- Eu... - Eu ia tentar falar, quando ouvi a voz de John atrás de mim.
- Deixei cair... ela apenas queria entregar de volta.
Ouvir a voz dele me acalmou, o Homem, ouvindo aquilo e olhou para mim e depois para o livro, logo após o jogou em meu rosto, me afastei um pouco, assustada, de cabeça baixa.
- Você é tão desprezível que acabou deixando este livro tão desprezível quanto você, tocado por uma exilada, sem valor e pobre como você, ninguém irá querer lê-lo.
Disse o Homem, me olhando com desprezo e nojo, suas palavras penetravam em meu coração, sempre me senti um lixo, mas aquilo fez-me sentir uma verdadeira zero à esquerda. Assim que o homem saiu, John se aproximou de mim, pegou um lenço e passou em meu rosto, limpando as lágrimas.
- Ora... Acostume-se, você vai ouvir coisas me piores, mas você precisa saber que não é nada disso. - Ele se agachou e pegou o livro, logo o entregando em minhas mãos.
- Obrigada... - Falei ainda assustada, e suspirei, John sorriu e me levou para fora. Voltamos para a árvore, e nos sentamos embaixo. John tentava de todas as formas me alegrar, aquilo fazia ele ser diferente. Que motivos, John teria para me enganar? Apenas se ele fosse um garoto muito mau que gostasse de ver o sofrimento dos outros. Naquele momento tive a certeza de que podíamos ser grandes amigos. [...]
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro