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Revelações

"O abandono é quase sempre a sorte dos infelizes."

No meio do caminho, decido comprar algo para comer e acabo comprando também uma barra de chocolate, quem sabe assim Lucas mude de humor. Rio comigo mesma, sabendo que é bem provável que isso não aconteça. 

Alguns minutos depois, estou parada novamente na porta do garoto, com uma enorme sacola com comida chinesa e uma garrafa de suco. 

Toco algumas vezes, mas não recebo nenhuma resposta. 

Será que ele ainda está dormindo? 

Resolvo tocar uma última vez e inesperadamente, a porta se abre sozinha. 

Respiro fundo e a empurro apenas o suficiente para que possa colocar minha cabeça para dentro. 

— Lucas? - Sussurro para o escuro. O garoto tem uma cortina daquelas que deixa o quarto um breu. 

— Lucas, está tudo bem? - Insisto e estou quase indo embora, quando escuto um gemido. 

Sem pensar nas consequências, solto as sacolas no chão e acendo a luz, dando de cara com uma cena que me assusta e preocupa ao mesmo tempo. 
O garoto está todo suado e tremendo na cama, tampado até a cintura e gemendo baixinho, de olhos fechados. 

Me aproximo lentamente e coloco a mão na sua testa, constatando minhas suspeitas.

— Lucas, você está queimando de febre. Teremos que ir para o hospital. -Sussurro para que ele não se assuste. 

— Não,… eu… estou…bem… - Murmura e sinto vontade de lhe dar uns tapas por ser tão teimoso.

— Me diga onde está seu celular, ligarei para sua mãe. - Digo já procurando o aparelho. 

— Não. 

— Você não pode ficar assim aqui, tem que tomar algum remédio e…

— JÁ DISSE QUE NÃO! - Ele grita, apesar de estar rouco pela febre. Tento me controlar, mas já estou cansada do seu temperamento de merda. 

— Escuta aqui garoto, eu sei que fui eu que te causei tudo isso, mas estou tentando te ajudar porra! Então me passa a droga do celular para que possa ligar para sua mãe e assim te levar a um maldito hospital! - Grito e me arrependo no mesmo instante, ao ver sua expressão magoada. 

— E-eu não tenho mãe… - Solta de repente e minha vontade é de me jogar em um poço e viver lá pelo resto dos meus dias.

— Eu sinto muito, não sabia…droga. - Me sento ao seu lado e esfrego meu rosto, completamente envergonhada. 

Sinto um toque suave na bochecha, que acaba me arrancando um arrepio. Lucas limpa uma pequena lágrima e me olha fixamente. 

— Ligue para Paul, é o meu motorista, ele se encarregará do resto. - Solta suavemente e respiro fundo tentando não surtar. 

— O-ok. - Me levanto e paro de repente. — Onde está seu aparelho? - Pergunto sem me virar. 

— Na escrivaninha. A senha é zero, dois, cinco, nove. - Ressopra e digito os números depois de achar o bendito celular. 

Ligo para Paul e ele promete que chegará em minutos. 

Me sento na cadeira, ainda me sentindo terrível. Penso em como deve ser difícil para ele não ter mãe, e não posso negar que gostaria de saber o que aconteceu. 

— Ela não morreu nem nada, se é o que está pensando. - Diz de repente, como se fosse capaz de ler minha mente. 

— Eu não estava…

— Não precisa tentar disfarçar. Minha "mãe" me abandonou quando eu tinha apenas seis anos. Me deixou sozinho com meu pai e quando ele casou com a minha madrasta, fui enviado para cá, porque segundo ela, eu era um garoto mimado e malcriado. - Minha expressão nesse momento deve ser de escárnio. Apesar de viver quase a mesma situação, ainda não me entra na cabeça, como pais podem fazer isso com seus filhos. 

— Eu sinto muito, Lucas. - Gaguejo.

— Na verdade foi um alívio para mim. Aqui estou mais feliz do que se vivesse em casa. - Confessa, mas sei que no seu interior, ele deve sentir falta do carinho do pai. Eu conheço essa sensação, esse olhar que tenta transpassar confiança, porque sinto o mesmo. 

— Eu sei como é…- Começo, mas sou interrompida pelo toque na porta. 

— Lucas? - Reconheço a voz do motorista e imediatamente fico aliviada. 

— Pode entrar…- Solto e observo o garoto de canto de olho.

— Como ele está? - Paul pergunta preocupado. 

— Com febre, acho melhor levarmos ele para o hospital.

— É, tem razão. 

— Eu estou bem aqui sabiam? - Lucas resmunga e reviro os olhos atraindo sua atenção. 

— Vamos filho, te ajudarei a levantar. - Paul vai para o lado do garoto e passa seus braços por debaixo dele. 

A duras penas, Lucas se levanta e vamos até a saída. 

Enquanto eles vão até o carro, aviso o recepcionista de que vamos sair e nos olha torto, porém não nos impede.

Alcanço os dois e quando Lucas está dentro do carro, abro a porta do passageiro, me sentando do seu lado sem dizer nada. 

— Onde pensa que vai? - Ele pergunta curioso. 

— Para o hospital, oras. - Respondo tirando importância do assunto. 

— Sabe que não precisa, não é mesmo? 

— Mas eu quero. - Declaro e quase desmaio com o pequeno sorriso que se vai tão rápido, quanto chega. 

— Vamos Paul, senão essa maluca é capaz de me arrastar. - E de novo o mesmo sorrisinho. Me sinto como se estivesse flutuando, mas uma ligação me traz de volta para a realidade. 

Olho na tela e faço uma careta ao ler o nome. Deslizo o dedo pelo botão verde.

— Oi Caleb, como está? 

Como estão meus amores? Hoje o capítulo foi curtinho, mas o próximo promete ;)
Divirtam-se e tenham um ótimo fim de semana 🥰
Beijinhossss BF ❤️

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