Capítulo 4| Stupid boy
Os dias foram passando e as coisas não mudaram muito.
Eu e o Jackson criamos uma intimidade gigante. Viramos melhores amigos. Não nos desgrudávamos nenhum minuto, à não ser pelas aulas, que não tínhamos todas juntas. Ele vivia na minha casa de tarde para fazermos algum trabalho ou apenas ficarmos de bobeira mesmo e o Peter odiava isso.
Peter... com ele não mudou nada. Ele continuava me tratando mal, sendo arrogante e prepotente, o que me deixava extremamente irritada, mas eu não falava nada. Mas sentia que em qualquer momento eu iria explodir.
Eu não entendo. Não entendo o porquê dele me odiar tanto assim. De me tratar tão mal assim. Ele nem me conhece! Mas eu tento afastar esses pensamentos que não vão dar em nada da minha cabeça, para não me estressar ainda mais.
Depois da aula, Jackson como o de costume me acompanhou até em casa, mas dessa vez não pode ficar. Me despeço dele com um beijo no rosto e entro em casa. Ela aparentemente está vazia, então me lembro que meu pai e a Clara iriam resolver na agência de viagens, coisas sobre a lua de mel deles, então sim, eu realmente estava sozinha... ou não.
Peter dá uma tossida forte e então eu me viro. Ele estava sentado no sofá me encarando.
"Aquele idiota já te falou quantas merdas?" Ele pergunta de maneira seca.
"O Jackson?"
"Aquele mala que é o seu amigo. Cuidado viu? Ele mente." Ele fala isso e eu cruzo o braço e olho para ele levantando minha sobrancelha. "Dois malas, antissociais e nerdes... é, até que vocês combinam!"
"Aí Peter, me deixa em paz!" Falo me virando para sair e então ele me faz parar com a sua fala.
"Sua mãe te educou super mal, né? É falta de respeito virar as costas quando alguém está falando com você." Ele fala irônico e eu fecho os olhos de raiva. O assunto "minha mãe" me deixava sem chão todas as vezes. Mas dessa vez tento me controlar respirando fundo. "Vem cá, Camila, por que você não liga pra sua mãezinha querida vir te buscar? Daí você deixa a gente em paz por um tempo, sabe? Até seu pai não te aguenta mais."
Não consigo evitar meus olhos encherem de lagrimas e nem evitar que elas caiam. Ele ia começar a falar mais alguma merda e então eu me viro para ele e mando ele calar a boca. A expressão dele muda quando ele vê que eu estou chorando. Ele se cala preocupado e então eu subo as escadas correndo e vou para o meu quarto me jogando de bruços na cama.
Eu não sou de chorar sempre, mas quando se trata da minha mãe, eu não tenho controle. A morte dela foi um trauma gigantesco pra mim e a saudade ainda é constante e muito forte.
Vejo a porta do meu quarto abrir lentamente e então levanto a cabeça e vejo que é o Peter. Deixo a cabeça cair no travesseiro novamente e falo "Sai daqui! Por favor!" Ele não me escuta. Ele entra no meu quarto e pega a minha foto com minha mãe, o que me faz sentar. Tenho muito ciúmes daquele porta-retrato, pois é a única foto que ainda temos dela. O resto meu pai queimou tudo. Ele passa alguns segundos observando a foto e então me olha.
"O que aconteceu com ela?" Sua voz sai trêmula.
Eu engulo seco, quase chorando novamente e então o olho também e pela primeira vez, vejo o quão lindo os seus olhos azuis são. "Ela... faleceu quando eu tinha 12 anos... um acidente."
"De carro?"
"Não... na minha frente." Respondo encarando fixamente o chão me segurando para não chorar.
"Como?" Ele se senta do meu lado na cama e me olha.
"Não quero mais falar disso! Não me faz bem! Me machuca! Eu não posso lembrar disso, não posso!" Falo acelerada e mexendo as mãos, estava quase voltando a chorar pois a cena da morte dela passava claramente na minha cabeça. "Por que que eu fui lembrar? Por que?"
Ele me puxa para um abraço o que me deixa completamente surpresa. Nunca esperei essa reação dele. Mas naquele momento, qualquer abraço adiantava. Eu precisava.
"Me desculpa, Camila!" Ele fala entre o abraço e se afasta. "Não deveria ter tocado nesse assunto e nem ter julgado sua mãe sem saber da história. Eu fui... insensível."
"Tudo bem!" Ele se levanta e começa a ir pra porta. "Peter!" Ele me olha. "Não conta pro meu pai e nem pra sua mãe sobre essa foto, e nem sobre essa conversa, e nem sobre nada. Ok?" Não queria lembrar o meu pai sobre essas coisas também. Ele estava feliz demais para sentir o passado machucando novamente.
"Ok." Ele sai do quarto.
Desde o dia que a Camila chegou na nossa casa, tudo mudou. Ela e seu pai mudaram completamente a rotina da casa e de tudo. E eu odeio que as coisas mudem assim! Elas estavam boas do jeito que estavam... mas bom, mudaram.
Eu nunca tive nada contra ela especificamente, mas ela era um alvo fácil para as minhas "brincadeiras" e grosserias. Eu e meus amigos zoamos com todos que não fazem parte do grupo. Sei que é babaquice, mas essa é a forma de ninguém chato se aproximar da gente. Muitos querem, mas ninguém consegue. Somos os melhores e os mais populares da escola.
No primeiro dia de aula, não fui eu quem falou para a Lola jogar aquele café na Camila, eu não faria. Mas ela ficou com ciúmes quando soube que ela morava na mesma casa que eu. Ainda mais com o fato dela ser bonita. E ela é de fato muito bonita. E eu não posso negar que ... adoro vê-la irritada.
Os dias passaram e eu e ela não trocamos nenhuma palavra que não fosse eu a zoando e ela reclamando. Mas diversas vezes eu tive vontade de me aproximar dela, tinha curiosidade de saber de sua vida. Por mais que ela seja uma chata e antissocial, talvez tenha uma história interessante por trás. Mas não, eu não podia me rebaixar dessa forma. Não queria virar amigo dela. Ela era muito diferente de mim e dos meus amigos e parecia ser muito santinha. Realmente não fazia o meu tipo... pra nada! Ou quase nada...
Mas sinto que naquela tarde, quando falei da mãe dela sem ao menos saber de sua história, passei dos limites. Eu gostava de a ver irritada, não chorando. Ver aquelas lágrimas escorrendo compulsivamente fez eu me sentir culpado. Eu não devia ter falado daquela forma com ela.
Pela primeira vez em toda a minha vida eu peço desculpa por algo que fiz, sou orgulhoso, mas sinto que dessa vez eu precisava. Depois que ela me conta resumidamente a história de sua mãe, sinto que fiz a coisa certa. Deve ter sido realmente difícil perder a mãe tão pequena... e deve ter sido mais difícil ainda presenciar a morte. Acho que eu não teria cabeça para isso.
Saio do quarto dela após ela ter me desculpado e algo me diz que fiz a coisa certa. E algo também me diz que a Camila é diferente do que eu pensava... Aqueles seus olhos lindos não saiam da minha cabeça.
Merda!
・✻・✻・✻・
O dia amanhece, mas eu só percebo por que o despertador não parava de tocar. Aquele barulho me deixava tão irritado que já me fazia acordar de mau humor.
Saio da cama, coloco um roupão e desço para a sala de jantar tomar o café da manhã. Camila, minha mãe e seu pai já estavam sentados lá comendo. À medida que desço a escada, a garota me observa, mas logo desvia o olhar. Eu gostava disso. Me sento e me sirvo de café.
"Bom, já que vocês dois estão aqui, vamos dar a notícia!" Ela olha o seu noivo sorrindo e ele faz um sim com a cabeça "Hoje mesmo estamos indo para a nossa lua de mel. Ficaremos 3 semanas foras."
A primeira coisa que vem na minha cabeça quando escuto isso é... FESTA.
O sorriso no meu rosto é evidente. Minha mãe continua falando, mas eu ignoro total quando começo a mexer no telefone.
Mando uma mensagem no grupo dos meus amigos avisando que hoje mesmo, haveria festa aqui em casa e que era para eles irem comprando as coisas, que assim que minha mãe e o pai da Camila saíssem, eles já podiam trazer. Todos concordam e fazem exatamente o que eu falei.
Em menos de duas horas eles saíram de casa. Mando mensagem para os caras avisando que eles podiam vir.
Estava no meu quarto dando uma geral nele para caso fosse necessário eu usar minha cama hoje, mas logo desço para a sala. A Camila está lá deitada no sofá com uma calça de moletom cinza e uma regata branca se matando de rir com o programa que está passando na TV. Acho que era aquela série friends. Fico a observando por alguns segundos, mas logo ela me vê e contém a risada. Fica vermelha de vergonha. Já eu, tento disfarçar, finjo que não estava olhando para ela.
"Ei Camila, vou dar uma festa aqui essa noite. Nem sonhe em contar pro teu pai e muito menos para minha mãe, entendeu?"
Falo de forma seca e grossa, não sei por que, mas não consigo agir de outro jeito. Não com ela.
"Eu falar que não é uma boa ideia vai mudar alguma coisa?" Ela pergunta me olhando e eu balanço a cabeça sinalizando um não. "Foi o que pensei... e eu não vou contar nada, relaxa!" Ela volta a deitar. "Mas quem vai limpar toda a bagunça? Por que eu não vou."
Rio irônico. "Eu tenho meus contatos para isso. Sou Peter Mallark, esqueceu?"
"Ok, então." Ela responde de forma indiferente, o que faz eu ficar incomodado. Engulo seco e vou em direção a porta e antes de sair olho pra ela. "Você e o seu amiguinho estão convidados. Apareçam. É bom pra vocês se enturmarem." Falo isso e logo em seguida saio. Eu sabia que eles não viriam. Provavelmente ela iria ficar trancada no quarto. Antissocial do jeito que é!
Entro no meu carro e vou em direção a distribuidora pra comprar as bebidas.
Hoje à noite vai ser A FESTA!
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