Capítulo 2| Rules are rules!
Abro meus olhos lentamente e por alguns segundos não reconheço o lugar. Aquele lustre no teto, aquele arcondicionado... ah sim! Minha nova casa. Tinha até me esquecido dessa mudança.
Quando termino de abrir os olhos e acabo de me sentar na cama me deparo com Peter, o filho arrogante da senhora Clara me encarando, o que faz eu levar um baita de um susto. "O que... o que você está fazendo aqui? Por que está aqui?" Falo brava e então ele ri de forma sarcástica.
"Dorme que nem um anjo não é mesmo, Camila?" O jeito que ele falava me irritava profundamente. Minha vontade era de meter um soco nele.
"Nunca te ensinaram que entrar no quarto dos outros sem pedir permissão é feio?" Cruzo meus braços e me levanto olhando para ele.
Ele dá uma risadinha de lado, o que me obriga a olhar para seu lindo sorriso. Ele pode ser a pior pessoa do mundo, mas não posso negar que sua beleza é algo totalmente admirável. "Minha mãe quer que eu seja legal com você, senão ela corta minha mesada. Então vim aqui para esclarecemos algumas regras." Dou uma gargalhada. Ele estava mesmo falando sério? Ele vai impor regras?
A expressão dele muda completamente quando me ouve rindo. Ele fica sério, parece até que está bravo. "Regras, Peter? Tá falando sério?"
"Tá vendo alguém brincando aqui por acaso? Agora só me escute! Primeira regra: não converse comigo na escola. Segunda, não converse com nenhum dos meus amigos. Terceira, nunca entre no meu quarto. Quarta e última regra, em momentos em família fingimos que nos gostamos, depois disso quero distância, ok?" Ele estende a mão esperando que eu concordasse com suas regrinhas estúpidas.
"Do jeito que você falou até pareceu que eu estou com muita vontade de ser tua amiga e de andar com você. Fica tranquilo Peter, nem precisa dessas regras idiotas. Eu nunca faria isso mesmo." Percebi que de alguma forma essas palavras o deixaram abalado e isso me soou muito bem.
"Nunca faria o que? Não entendi." Ele fala e percebo seu rosto ficando vermelho rapidamente.
"Nunca seria amiga de alguém como você. Que se acha o centro do universo, que acha que manda em tudo... que se acha o melhor do mundo! Como você disse Peter, distância." Ele engole seco e eu engulo também. Por mais que ele seja insuportável ter uma boa relação com ele seria ótimo. Iria me ajudar a fazer amigos. Mas não posso fazer nada se ele me odeia sem ao menos me conhecer.
"Só siga as regras." Ele fala sério, dava para ver claramente em seu rosto que estava muito irritado. Ele então, se vira para sair, mas antes que ele consiga, eu o faço parar chamando seu nome.
"Eu também tenho minhas regras. Primeiro: não entre no meu quarto sem minha permissão. E segundo: Respeite para ser respeitado." Assim que termino de falar essa frase ele me olha sem nenhuma expressão no rosto e depois abre um pequeno sorriso e sai do quarto.
Acho que ele não gostou da minha resposta. Deve ter achado que eu iria aceitar suas regrinhas de cabeça baixa. Quem que esse cara pensa que é? Eu já estou ficando irritada com toda essa arrogância.
・✻・✻・✻・
Tomo um banho rápido, coloco uma regata preta e uma calça de moletom cinza e desço escovando meus cabelos molhados. Chegando lá, vejo a mesa do jantar lindamente arrumada e muito chique. Me sinto até mal de estar vestida daquela forma. Clara sai da cozinha com uma bandeja na mão trazendo a última coisa que faltava para o jantar estar servido, o macarrão. "Camila, minha querida! Olha só, fiz macarrão para você, teu pai disse que é a sua comida preferida! Espero que você goste!"
É nessas horas que eu fico pensando. Como que um menino daquele pode ter nascido de uma mulher dessa? Ela é tão legal! Diferente dele, faz de tudo para tentar me agradar. Ela realmente quer q eu me sinta parte da família. Já o Peter...
Percebo que voei com os meus pensamentos e deixei a Clara no vácuo. "Ah sim! Tenho certeza que vou adorar! O cheiro está uma delícia!"
Começamos a conversar e minutos depois meu pai chega e então nos sentamos na mesa esperando o Peter. Não deu nenhum minuto e ele desceu. Se sentou na mesa sem falar nada e começou a se servir. Percebi os olhares de repreensão que sua mãe mandava. Mas ele simplesmente ignorava.
Depois que Clara começou a se servir, um pouco envergonhada pelo comportamento do filho, eu e meu pai nos sentimos a vontade de comer também. Pego um pouco do macarrão e um pedaço da carne. A cara e o cheiro estavam maravilhosos! Depois de colocar a primeira garfada na boca, percebi que o gosto também.
"Então Camila, me conte como era na sua antiga cidade!" Clara pergunta me deixando meia sem jeito, ainda mais quando percebo o olhar do Peter pra cima de mim.
"Ah... como a gente sempre estava se mudando de cidade, eu nunca tive tempo de fazer amigos... eu ficava a maior parte do tempo em casa lendo e estudando! Nada demais!" Peter solta uma risada baixinha, o que me constrange ainda mais. Dou uma garfada no macarrão tentando disfarçar meu nervoso.
"E a escola? Como era?"
"Eu estudava em casa, senhorita Clara! Faz um tempo já que não piso em uma escola!" Assim que Clara iria me responder, Peter a interrompe de forma extremamente grosseira.
"Pera aí... então quer dizer que você quase nunca saia de casa, não tinha amigos e estudava online?" Ele fala de forma cínica e olha sua mãe. "Por que você não tinha me falado que ela era tão estranha, mãe? Eu já havia conhecido pessoas antissociais, mas ela..." Ele termina de falar isso e se vira para mim com cara de deboche. Não sei por que, mas aquilo tinha me atingido de um jeito que percebi meus olhos encherem de lágrimas.
"Chega Peter!" A mãe dele fala em voz alta. "Não fale assim com a garota!" Ele ri na cara da própria mãe e se levanta com raiva batendo a mão na mesa, a expressão dele muda completamente.
"Não grite comigo, Senhora Clara! Eu só estou falando a verdade! Essa menina é uma antissocial e a sua energia ruim está pesando demais a casa!"
Sem ter controle sobre as minhas ações, me levanto também ficando cara a cara com ele. "Eu só sou assim, por que eu não tive escolha! Fatos que aconteceram que fizeram minha vida tomar esse rumo! E você não sabe nada sobre mim, então não se mete! Não fala o que você não sabe." Ele engole seco e depois olha todos da mesa e fala algo baixo no meu ouvido.
"Você cometeu um grande erro por entrar no meu caminho, Camila!" Ele sai bravo e então eu olho meu pai e a Clara que estão de mãos dadas. Ela está quase chorando.
"Camila, me desculpe! Me desculpe! Ele não podia ter te tratado assim! Fique tranquila que vou conversar com ele!"
Respiro fundo tentando me controlar, mas a raiva estava tomando conta de mim. Mas ao perceber que minha madrasta estava completamente arrasada, tento fingir que está tudo bem.
Terminamos de comer em silêncio. Subo para o meu quarto, deito em minha cama e começo a imaginar como vai ser o meu primeiro dia de aula em uma escola de verdade. Crio cenas em minha cabeça mesmo sabendo que nenhuma delas vão acontecer. Faço isso até cair no sono.
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