Minha vida havia mudado radicalmente. Na verdade, eu fiz com que ela mudasse radicalmente.

Minha história de vida não é um conto de fadas. Não. Nem perto disso. Perder a mãe e anos depois perder o pai, não é fácil para ninguém. Eu me senti acabada, derrotada, sozinha, abandonada. Sem vontade alguma de me levantar da cama, de viver! Porém, agora percebi que eu ainda posso ser feliz, que eu posso conquistar o mundo, que ainda à tempo de fazer tudo o que eu sempre sonhei.

Era isso o que meus pais gostariam que fizesse. Seguisse em frente, com um sorriso estampado no rosto. Eles me colocaram no mundo, sem saber que eu andaria sozinha. Eles me colocaram no mundo para eu crescer, fazer o bem e ser feliz.

E é isso o que vou fazer. Ser feliz! Minha história ainda vai ter um final feliz.

Era sábado de manhã, quando eu começo a ouvir uma melodia conhecida vindo do piano da sala. Uma melodia que eu não ouvia à muito tempo. Assim que saio do quarto, ainda de pijama e toda descabelada, vejo o Peter na porta do quarto dele, também olhando para a escada.

"Se não é você que está tocando... quem é?" Ele questiona e então descemos as escadas rapidamente.

E é nesse instante que meu peito se enche de alegria. Aqueles cabelos ruivos, aquelas mãos repleta de anéis... Clara estava de volta entre nós!

"Mãe?" Peter sorri emocionado e corre para os braços da mãe.

"Meu filho!" Depois de um longo abraço, seu olhar se dirije a mim, que estava transbordando de felicidade. "Camila! Minha linda! Olha só para você!" Sou envolvida em um abraço apertado, acolhedor... um abraço de mãe.

"Você não faz ideia de como senti sua falta!" Afirmo, deixando uma lágrima solitária escorrer pelo meu rosto.

"Meu Deus! O que você está fazendo aqui?" O garoto pergunta, ainda incrédulo.

"Depois da morte do meu Marido... eu pensei ter perdido tudo. Fiquei mal, acabada, perdida... mas percebi que vocês dois... são tudo o que eu preciso. Então eu tive que voltar o mais rápido possível. Voltar para ficar com os dois seres humanos que eu mais amo nesse mundo!"

Quando vimos, estávamos os três chorando, nos envolvendo nos braços. Um abraço longo, demorado e emocionante. Um momento bom, que vai com certeza ficar marcado em minha memória pra sempre.

Quando nos afastamos, vemos Lily, nos encarando do outro lado da sala. Peter sorri e caminha até ela, a abraçando de lado.

"Lily, essa é Clara, minha mãe. Mãe, está é Lily, minha namorada!" A cara surpresa da Clara seguido por uma leve risada, me faz corar de vergonha. Ela olha para mim, como se estivesse esperando alguém falar: brincadeira!

Quem me dera que fosse uma brincadeira!

"É um prazer te conhecer, senhora Mallark."

"Clara, por favor." A ruiva corrige e respira fundo. "Bom, eu vou descansar um pouco. Essa viagem me cansou horrores. Meu quarto está disponível, né?"

"Claro que está!" Confirmo e sorrio.

"Ótimo!" Ela beija minha testa e sobe as escadas, quando ela some, Lily olha para o Peter chateada.

"Parece que ela me odiou!"

"Clara não odeia ninguém." A corrijo. "Ela só ficou surpresa com a notícia." Forço um sorriso e abaixo a cabeça subindo as escadas.

. . .

Os dias que se passaram, foram incríveis. Eu e Clara saímos fazer compras e ir no salão. Aproveitei pra mudar o visual. Cortei a franja, repiquei o cabelo, fiz a sobrancelha, as unhas... além de várias roupas novas que ela me deu.

Como todos dizem, nada melhor do que uma mudança na autoestima para recomeçar uma história. E sim, eu estava me sentindo linda. Linda e poderosa.

Quando chego em casa, vestindo um vestido azul escuro, um salto preto e com o cabelo todo ondulado e volumoso, me surpreendo por todos estarem jogando baralho na sala e me olharem. Cada um teve uma reação diferente sobre meu novo visual, mas a única que me importou, foi a do Peter, que me olhou de cima a baixo e passou a encarar meus olhos. Ele estava sério, imóvel, mas eu pude sentir o calor subindo pelas minhas veias.

"Uau! Quem é você?" Spencer brinca, abrindo um sorriso logo em seguida.

"Digamos que... dei umas arrumadas em mim." Ironizo e todos caem na risada, exceto Lily e Peter.

"Até que está bonitinha, Camilinha!" Lola fala para a minha surpresa, o que me obriga a sorrir. Naquele instante, todos a encaram confusos. "Qual é? Só ela tem a chance de mudar e recomeçar? Eu também quero!" Franzo a testa. "Sei que... não fui muito legal com vocês, mas... eu estou mudando. Eu juro."

"Fico feliz, Lola!" Abro um leve sorriso.

"Venha jogar com a gente!" Spencer chama, mas nego com a cabeça.

"Hoje eu passo, tenho que enviar currículos pra algumas faculdades. Mas se divirtam!" Subo rapidamente em passos rápidos até meu quarto e paro em frente ao espelho, abrindo um leve sorriso ao me ver.

Eu estava me amando novamente.

"Você está linda." A voz do Peter ecoa em meus ouvidos e me surpreendo ao o ver parado na porta. Meu coração acelera de um jeito, que parece que vai pular para fora do peito.

"Obrigada." Abro um sorriso. "O que faz aqui?" Minha pergunta sai trêmula, deixando totalmente perceptível o meu nervosismo.

"Eu... é... queria te lembrar de Julliard."

"Não, não. Infelizmente essa oportunidade eu já perdi! Elez não vão me aprovar de novo com bolsa, sem chance!" Suspiro e me sento na cama.

"Com esse talento que você tem? Eu duvido." O garoto se senta do meu lado.

"É Julliard, Peter! Pense a quantidade de pessoas talentosas que passam por lá?! Eu sou apenas mais uma. Uma burra que desperdiçou uma bolsa."

"Olha Mila, pode até ser... mas o não você já tem. O sim você pode conquistar. Não custa tentar. A vida é feita de riscos... ainda mais quando se trata de algo que amamos."

Então... eu poderia dizer ali, olhando nos olhos dele que eu ainda o amo e que gostaria de voltar. O não eu já tenho, mas o sim eu posso conquistar. É isso?

"Só uma pergunta." Início. "Por que veio me dizer isso?"

"Por que seria um desperdício você fazer qualquer outra faculdade com esse dom que você tem. E eu sei o quanto você ama cantar... quero te ver feliz sempre, sabe?"

"Obrigada, Peter." Sorrio encarando seus olhos, da forma que ficamos por longos segundos.

"Bom, eu queria te dizer outra coisa também." Dessa vez, quem deixa o nervosismo estampado na voz, é ele.

"Pode falar." Mordo meus lábios, com medo do que iria ouvir.

"Eu andei pensando e..." Antes que ele completasse, Lily entra no quarto.

"Amor? Está na nossa vez de jogar! Vamos!" Ela caminha até nós, perdendo nossas caras fechadas. "Atrapalhei alguma coisa?"

"Não." Afirmo. "Só estávamos conversando sobre a volta da Clara."

"Ah sim. Bom amor, vamos?"

"Sim, vamos lá!" O garoto lança o olhar sobre mim, parecendo desapontado. Engulo seco e assim que os dois saem, fecho a porta do quarto.

Depois disso, não consigo fazer mais nada além de pensar no que ele queria me dizer.

. . .

Uma semana se passou desde então e todas as vezes em que tentávamos conversar, a Lily ou alguém chegava interrompendo, chegando à um ponto que o fez desistir de falar. Admito que quando ele disse "Esquece, não é nada.", meu coração se partiu um pouco. No fundo, eu estava com a esperança de ele dizer algo em favor a nós.

Mas não existe mais "nós".

"Camila, Peter? Hoje temos um jantar importante com a família." Clara fala entrando na cozinha, enquanto todos da casa estão tomando café. "O restaurante é de luxo, por isso coloquem a melhor roupa de vocês, ok? Eu vou direto do meu novo trabalho, é bem perto. Estejam lá as 8 em ponto."

"Tudo bem." Sorrio, ainda confusa por esse jantar tão repentino.

"Um ótimo dia a todos!" A ruiva sorri simpática e saí da cozinha.

"Uau! Família burguesa!" John irôniza, na intenção de provocar.

"Fazer o que? Os esforços levam a isso!" Peter fala em tom de vitória.

"E que esforço você fez hein?" O moreno ri. "Nasceu em berço de ouro. Nunca sofreu na vida. Não sabe de nada!"

"Cala a boca, John!" Peter ri irônico, mas sua raiva estava estampada em sua cara.

"E por que eu calaria?" Os dois se encaram e percebo que estão prestes a começar a se bater ali mesmo, então resolvo intervir.

"Tá bom, tá bom! Deu, né pessoal? Ninguém aqui tem o direito de julgar ninguém. Não sabemos o que cada um realmente passou."

"Olha só pra ele, Camila! Ele é um..." John começa, mas eu o interrompo.

"Chega, ok? Chega! Sem brigas, por favor?" O moreno ri ironicamente e sai bravo da mesa.

"Esse cara vai ver!" Peter bufa e eu o repreendo com o olhar.

"O que o ciúmes não faz?" Spencer fala soltando uma risada, então eu franzo a testa, assim como o Peter.

"Ciúmes?" Questiono.

"Sério mesmo que não perceberam? O John ficou com ciúmes que vocês vão juntos nesse lugar chique, com pessoas chiques, com roupas chiques... é óbvio que ele é quem queria estar levando a Mila em um lugar desses." Engulo seco, quase tossindo.

"Mas é um jantar em família." Afirmo.

"Mesmo assim, é de dar inveja."

"Não tem... motivo para ele ter ciúmes." Peter opina e então a Lily se levanta da mesa, levando seu prato até a pia e saindo discretamente da cozinha.

"É melhor você ir atrás dela." Falo.

"Por que?"

"Pelo jeito o John não é o único com ciúmes."

O garoto se levanta no mesmo instante, se retirando também. Eu, depois do café, saio com minha moto, apenas para andar por ai, espairecer as ideias.

Mal eu sabia que aquele jantar... mudaria tudo.

Aeee galerinha! Um feliz 2020 a todos!! Depois de ter curtido minhas férias e tirado um tempo para mim, voltei com tudo! Além desse livro, logo logo virei com outras novidades, então quem ainda não me segue, segue aí para ficar por dentro!
Eu espero do fundo do meu coração que vocês tenham gostado do capítulo e dessa mudança boa que está acontecendo na vida da nossa Camila. Agora me contem, o que esperam desse jantar? Deixem seus comentários e o seu favorito, são muito importantes, ok? Um ótimo fim de semana a todos!!!❤