Feita de amor - Parte 2
A família Westwood, com exceção de Josie que ainda dormia, estava reunida à mesa para o café da manhã. A festa havia durado até o amanhecer, ou seja, aquele seria um dia de descanso. Eveline, que mal conseguira dormir de tanta felicidade pela declaração da noite anterior, já planejava o que faria.
— Um fiasco — grunhiu a Sra. Westwood referente ao seu próprio evento.
De fato havia certo murmurinho sobre a noite ter sido interrompida pelo escândalo dos Clark.
— Não foi nada demais, querida — o Sr. Westwood disse para consolar sua esposa frustrada.
— Por acaso compartilha de um segredo como o de Hanks Clark, Mathew? — rebateu furiosa.
Mathew Westwood apenas suspirou, afinal era necessário certo período de tempo até que a Sra. Westwood se acalmasse e então voltasse a planejar mais uma grande festa.
— Papai está certo — Eveline se pronunciou. — Mamãe, a senhora não pode deixar que um momento ruim defina toda uma noite maravilhosa.
O pai da jovem assentiu em concordância.
— Você é jovem, Eveline, não entende certas coisas. — A Sra.Westwood tomou um grande gole de seu chá matinal.
Eveline repousou as mãos no colo.
— Sabedoria muitas vezes está além da idade, mamãe — respondeu.
O Sr. Westwood assentiu novamente.
— A idade vem acompanhada da experiência, querida — a mãe deu sua palavra final. A senhora ergueu o queixo, um sútil sinal que demonstrava que ela estava decidida sobre sua palavra. — E como foi a sua noite, minha filha?
A jovem suspirou ao se recordar do beijo que Kilian lhe dera na bochecha. As faces se enrubesceram novamente, contra a sua vontade.
— Extremamente agradável. Conversei com Kilian Bahk'kwet por um longo tempo. — Eveline provou do pedaço de bolo que havia em seu prato.
A Sra. Westwood balançou a cabeça.
— Não é de bom tom que uma moça solteira passe tanto tempo assim com um rapaz que...
— Mesmo que ele peça a minha mão em casamento? — A jovem levou a xícara aos lábios para beber de seu chá e evitar responder qualquer pergunta.
O pai da jovem, que até então apenas assentia a tudo o que era dito, parou de mastigar e a olhou.
— Kilian Bahk'kwet não é um bom rapaz para você, sabe o que penso dele — disse em tom sério.
A moça já esperava aquela reação, foi isso que a manteve calma.
— Ele é de boa família como o senhor exige, papai.
— Mas não é o suficiente para a minha filha.
A Sra. Westwood apenas olhava de um para o outro sem saber se aquilo era mesmo real.
— Quando há amor, coisas materiais tornam-se insignificantes — respondeu Eveline. Sua pulsação aumentava a cada palavra.
— Sua mãe tem razão, você não sabe coisa alguma da vida. — O pai da moça levantou-se. — Não permitirei tal casamento. — Dito isso ele lhe deu as costas para sair da sala.
Os olhos da jovem marejaram. Seu próprio pai lhe negara uma chance de felicidade, a chance de se casar com seu amor. Eveline também se levantou, com o mesmo temperamento, porque o havia herdado do pai.
— O senhor disse que quando eu crescesse poderia tomar minhas próprias decisões, — ela abaixou o tom apenas um pouco — e acho que já estou bastante crescida.
O Sr. Westwood se virou e olhou a filha.
— Não. Não para essa decisão.
Eveline apertou as mãos ao lado do corpo.
— Certo, então terei de dar um jeito e me casar mesmo sem a sua benção. — Ao dizer tal coisa ela saiu da sala pisando forte, ouviu apenas a exclamação de seu pai ao segurar a esposa que acabara de desmaiar.
Podia estar errada em ter abordado o assunto com discussão, mas seu coração a levava sempre para Kilian e essa era uma escolha apenas dela. Então a jovem deduziu que estava certa.
Eveline passou o restante do dia trancada no quarto, não tinha ânimo e paciência para enfrentar conversas com qualquer pessoa. Tudo o que queria era permanecer na janela observando o mundo lá fora e se imaginando com Kilian.
Ao anoitecer a jovem ouviu batidas em sua porta, em seguida seus pais entraram em seus aposentos.
— Precisamos ter uma conversa civilizada. — O Sr. Westwood estava sério, o semblante que carregava quando tratava de política.
A Sra. Westwood estava pálida, mas com severidade no olhar.
Eveline se levantou e se pôs à frente dos dois.
— Não podem me impedir de amar alguém — disse ela com a voz falha por não usá-la.
— Estamos impedindo um erro — rebateu a mãe da menina.
A jovem empertigou-se.
— Não há erro quando se trata de amor, mamãe.
— Não é amor! — esbravejou a Sra. Westwood. — Aquele jovem conquistador quer apenas usá-la, ele não a ama!
As palavras não atingiram Eveline, pois seu coração estava blindado contra qualquer coisa que dissessem.
— Desculpe mamãe, mas a senhora não o conhece como eu conheço — a menina disse em baixo tom. Antes que os pais dissessem algo mais ela completou. — E se necessário for, fugirei para viver a minha própria vida.
A Sra.Westwood arfou, surpresa e desesperada ao mesmo tempo. O que as pessoas diriam dela ao saberem que sua filha mais velha fugira com um rapaz sem nem mesmo terem se casado antes? Como a olhariam? Como ela enfrentaria os rumores a cerca de sua família? Como ficaria sua reputação que, até então, era intacta?
Eveline deixou de encarar sua mãe, ela sabia o que se passava na cabeça da senhora, e passou a olhar o pai. Ela encontrou nos olhos dele decepção e mágoa, porém também viu amor e preocupação paterna. Ao contrário do que havia no semblante da mãe.
— Não permitirei que faça isso. — A voz do Sr.Westwood soou séria e baixa. — Terei que morrer para que esse casamento aconteça, porque não permitirei.
A jovem permitiu que as lágrimas corressem violentamente por suas faces.
— Não tem que ser assim, papai.
O pai de Eveline foi até a porta do quarto da filha e retirou a pesada chave da fechadura.
A Sra.Westwood olhou a filha de cima a baixo, a fúria lhe contorcendo o rosto, balançou a cabeça e ergueu o queixo, depois saiu sem nem dizer nada.
Eveline sentiu um aperto no fundo de seu peito.
— Meu maior desejo é que você seja feliz, por esse motivo estou fazendo isso. Não posso permitir que faça algo de que se arrependerá futuramente, eu a amo demais para isso — dito isso, o Sr.Westwood passou pela porta, mas parou no limiar. — Você não me deixa outra escolha, filha.
A menina o olhou por entre as lágrimas, o nó que havia em sua garganta doendo.
Então ele fechou a porta e a trancou no quarto.
Eveline chorou por horas, houve um momento em que ela pensou que seus pulmões não aguentariam. Ela não sabia que horas eram quando uma criada destrancou a porta do quarto e entrou com uma bandeja contendo seu café da manhã.
— Bom dia senhorita, isto chegou para você logo cedo — disse a criada, que logo se retirou e trancou a porta novamente.
A jovem apenas continuou deitada debaixo das cobertas, os olhos pesados e inchados pelas lágrimas derramadas. Não comeria nada que lhe fosse trazido, fizera esse voto como protesto até que os pais mudassem de pensamento.
Também não abriria qualquer correspondência que lhe fosse enviada, faria de tudo para isolar-se até que...
E se fosse Killian?
Eveline deu um salto da cama e voou em direção à bandeja posta na mesa ao lado da janela. Lá estava, uma carta sem nome esperando por ela.
A menina rasgou o envelope, ávida pelas palavras de seu amado.
"Minha querida Eveline,
Há horas e horas que não paro de pensar na nossa noite no jardim. Mal sabe quanto tempo eu esperei por aquele momento.
Sei de suas condições, entrei em contato com o seu pai, ele fez questão de deixar claro o quanto me repudia. Eu queria apenas mostrar a ele o quanto amo sua filha, e que a farei imensamente feliz.
É por isso que escrevo esta carta, para lhe fazer uma proposta.
Fuja comigo, minha querida. Permita que nosso amor viva, ou eu morrerei junto a ele. Hoje ao crepúsculo, estarei te esperando na árvore roxa do penhasco próximo a sua casa, lá nos casaremos assim que você chegar.
Se assim concordar, faça como eu e leve o que você tem de valor para construirmos nossa vida longe daqui.
Com amor, Killian"
Não havia mais lágrimas, apenas o sentimento de certeza de que era a decisão certa, sua decisão final.
Eveline pegou seu material de escrita e deixou uma carta para sua família.
"Queridos papai, mamãe e Josie,
Eu queria que tudo fosse diferente de como está sendo agora, queria poder ser feliz sem que vocês ficassem aborrecidos.
Pensei que aceitariam minha escolha, que acolheriam meu destino, mas não foi assim. E por conta disso fiz o que fiz. Fugi, entretanto parte do meu coração ficou aqui ainda que sangrando.
Espero que um dia possam entender e aceitar que eu volte, caso contrário esse é o nosso adeus.
Eu os amo infinitamente, nunca duvidem disso.
Com muito amo, de sua filha e irmã, Eveline"
Haviam criadas recém-contratadas na casa dos Westwood e havia dinheiro nas mãos de Eveline, isso a ajudou a executar seu plano.
A jovem pedira apenas que entrassem no quarto da Sra. Westwood e pegassem o vestido de noiva dela e uma caixa de madeira antiga. Além de pedir descrição a moça que o fez.
Eveline separou em um pequeno baú as joias de sua família que garantiriam seu futuro com Killian. Depois escondeu tudo e esperou ansiosamente.
Ela pensou que seus pais, ou pelo menos o pai, viessem vê-la. Porém ninguém veio. Isso deixou um vazio dentro dela, e alimentou a voz em sua cabeça que lhe motivava a fugir.
Dado o anoitecer, momento em que todos estariam na sala de jantar, Eveline pegou o baú e vestida de noiva saiu pela janela de seu quarto. A laranjeira que crescera junto a casa lhe serviu para a descida. Ao colocar os pés na grama, a jovem arfou. Estava livre.
Então ela correu como nunca antes.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro