PRÓLOGO
Os pés apressados, calçados num sapato social branco e meias vermelhas, replicam as pisadas velozes no piso de mármore. Também branco.
A cada curva feita pelo homem de camisa vermelha, nos extensos corredores da igreja evangélica O Cordeiro, sua mente trabalha a mil por horas.
Ele não é portador de boas notícias.
Pressa. Urgência. Calor. Libertação. Oração. Dízimos. Vitória. Morte. Inferno e salvação. Todas essas palavras estão espalhadas pelos corredores da sede da igreja, em quadros pintados, que seguem até o gabinete pastoral.
O mensageiro Carlos, percebe ao passar pela palavra "Salvação", pintada acima da imagem de uma criança que veste camisa azul e calção branco, abraçada a um cordeirinho de lã creme, o quanto transmite a paz que já acabou e o pastor não sabe.
Paz... essa palavra não está explícita nos quadros dos corredores. Isso também é percebido por Carlos.
Antes de dobrar à direita no penúltimo corredor que leva até o gabinete pastoral, Carlos sente falta das palavras nas paredes:
FÉ.
ESPERANÇA.
AMOR.
"DESGRAÇA". Na verdade ele não sentiu falta desta última palavra nas paredes dos corredores da Sede.
Na verdade, Carlos sabe o peso que essa palavra tem quando atinge a vida de uma pessoa. Ele, por exemplo, já passou por muitas desgraças. Não igual a essa que está trazendo, mas passou por várias outras.
E infelizmente, "desgraça" é o que será anunciada dentro do gabinete pastoral.
O coração de Carlos acelera com o baque sentido ao avistar a porta de madeira envernizada e brilhosa. O nome:
Pr. Luciano Delgado
Brilha mais que a porta. No primeiro momento pode parecer até um camarim, mas é uma sala pastoral.
O importante pastor da cidade do Recife, está sozinho no gabinete pastoral, revendo sua agenda semanal para saber os dias e os locais onde vai pregar.
O homem de sapatos brancos e meias vermelhas iguais a camisa, para ofegante não frente da porta do pastor.
Carlos vai bater na porta e não consegue. Quem passa pelo corredor transversal e olha-o de costas com o punho cerrado para cima, vai se lembrar das cenas de guerras onde o tenente pede para que seu pelotão pare ao perceber um sinal de perigo.
Retomada a coragem, não por ter medo do pastor, mas por causa da reação dele quando escutar a mensagem que traz, o mensageiro bate três vezes na porta.
Nada.
Bate nova sequência de três vezes.
Carlos escuta o couro da cadeira se moldando ao movimento do corpo.
Repete as batidas.
Sem esperar mais, Carlos entra no Gabinete Pastoral e está vazio. Antes que possa fechar a porta e ir embora, escuta a descarga sanitária e a torneira abrindo com o som de mãos e rosto sendo lavados.
Quando a porta do banheiro abre e o Pr. Luciano sai do banheiro enxugando o rosto, se assusta com a cara de terror do seu mensageiro.
— O que aconteceu?
— Meu pastor, o senhor precisa ir comigo...
— Ir com você? Como assim?
— Seu irmão... por favor me acompanhe. Eu vou dirigindo para o senhor.
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