ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ ᴛʀês - ᴍᴀɴᴇɪʀᴀs ᴅᴇ ᴀᴍᴀʀ
"Desde quando o viu pela primeira vez até quando de fato começaram a desenvolver uma amizade, a jovem se encantou por Erick e seu jeito misterioso. Não eram todos que percebiam, mas ele carregava em seus olhos o brilho de quem guardava um oceano inteiro dentro de si.
E esse era o papel de Evangeline como aspirante a escritora, poetizar sobre o que a maioria não via e forjar aquelas emoções derretidas em palavras.
Mas tudo se reconfigurou quando seus próprios sentimentos começaram a entrar na fórmula".
Erick dirigia com o olhar fixo na estrada e um ar distante. Parecia perdido em pensamentos, deixando seu semblante sério e travado, como se fosse rudemente esculpido.
No início, eu tentei comentar sobre o quanto aquela nevasca havia sido inesperada e também como os lábios dele estavam roxos de frio, mesmo com o aquecedor do carro ligado, e se ele não queria ao menos meu cachecol emprestado, já que, de nós dois, Erick sempre fora o mais friorento. No entanto, minha tentativa de aliviar a situação não adiantou.
Suspirei quietamente e me recostei sobre o banco, olhando pela janela a neve que caía. Erick sempre se cobrava demais quando algo não saía conforme planejado, como se a culpa fosse dele e, na verdade, ele não tinha nem 1% do controle da situação.
Comecei a me remoer mais uma vez na tentativa de pensar em alguma coisa para tirar aquele peso dele quando sua voz cortou o silêncio, baixa:
— Chegamos, Eva. — ele me olhou, mas não diretamente — Você quer ajuda para descer? A neve deve estar escorregadia.
Erick não percebeu, mas havia me dado a ideia de que eu precisava. Assenti de leve e ele desceu do carro e, assim que fechou a porta e contornou o veículo, peguei o champanhe no banco de trás e tirei a chave da ignição. Desci com sua ajuda e, quando ele percebeu o que eu carregava, olhou-me confuso.
— O que acha de passar a noite? Tem uma roupa sua aí de quando ficou a última vez. — sugeri, fitando-o com carinho. E, talvez, uma pitadinha do semblante de cachorrinho pidão.
— Pequena estrela, eu não quero incomodar. — o ar quente de sua boca provocou um vapor ao sair em forma de suspiro. A neve caía e a cada segundo Erick tremia mais, então decidi convencê-lo de uma vez.
— Você nunca incomodaria, amor. E essa neve não vai parar de cair tão cedo, além de que a véspera de Natal ainda não acabou e o seu presente está lá dentro de casa.
— Está bem. — finalmente, Erick sorriu — Aceito o convite.
Sorri e fechei a porta do carro com o quadril, travando-o ao pressionar o botão na chave. Entreguei o champanhe a Erick e tirei o molho de chaves da bolsa, já separando a da porta da frente.
Meu namorado havia feito de tudo para me mimar aquela noite, mas o universo não colaborou. Agora, era minha vez de tentar alegrá-lo.
Ouvi a porta do banheiro se abrir com um rangido, anunciando que Erick havia acabado o banho. Eu havia deixado o aquecedor ligado quase no máximo e ainda estava preparando um chá para nos esquentar de vez, mas antes, eu não deixaria esse champanhe passar batido.
Servi duas taças e fui até o quarto, encontrando Erick secando o cabelo freneticamente com a toalha, até que suspirou e a jogou sobre o ombro, de um modo raivoso. Passei pela porta de forma mais barulhenta para ele não pensar que eu havia chegado antes e estava observando.
— Aqui, para um brinde. — sorri e lhe estendi a taça.
— Evangeline, Evangeline, você e álcool não combinam muito. — advertiu, levemente brincalhão.
— É meia taça, meu bem. Não se preocupe.
— Sei. — acabei por rir.
— Ao Natal. — sorri e fiz o brinde, bebendo um pouco do champanhe — Agora, me conta, por que essa cara fechada?
Erick me olhou com um ar de "você sabe muito bem do que se trata". Impaciente, revidei com a encarada "quero ouvir de você", o que o fez revirar os olhos, mas logo sorriu de canto depois de dar um longo gole na bebida.
— Eu fico frustrado, Eva. — despejou, colocando a taça no criado mudo — Queria ter te dado um bom Natal, é o nosso primeiro juntos e olha no que se tornou.
Derrotado, jogou-se na cama e me olhou culpado, como se pedisse desculpas. Repentinamente, senti raiva por ele pensar que aquela noite foi um fracasso.
— Erick Garcia, eu vou te bater!
— Mas o que eu fiz agora? — riu, protegendo-se com as mãos quando eu coloquei minha taça ao lado da sua e pulei em cima dele — Se quiser me bater, me explica primeiro, Evangeline. Não começa esmagando meu estômago.
— Para de chiar e me escuta. — revidei, concertando minha posição de modo que eu ficasse em cima dele, mas não perdesse o equilíbrio — Você acha que eu não estou feliz, Erick? Como você mesmo disse, é nosso primeiro Natal juntos, e isso é tudo que importa para mim.
Sua boca abriu e fechou duas vezes, e tudo que se escutava dele eram mais suspiros. Palavras sempre foram difíceis para Erick, então eu esperava pacientemente que ele formulasse o que queria dizer.
— É tudo que importa para mim também, pequena estrela, mas eu queria criar algo memorável, entende? Uma noite que você visitasse por fotos ou memória e pensasse "esse sim foi um grande Natal", ainda mais depois do que eu ouvi e... — Erick cortou sua fala ao meio, olhando-me assustado, como se houvesse dito algo que não queria.
— Ouviu o quê?
— Nada demais, minha linda.
— Por que eu sinto que tem o dedo das meninas no meio disso? — Erick arregalou os olhos. Bingo.
— Você é vidente agora?
— O que aconteceu?
— Eva, não sei se... — foi minha vez de interrompê-lo, prensando seu nariz com os dedos — Ai! Eu falo, Evangeline!
— Ótimo. — soltei seu nariz e Erick respirou fundo. Segurei o riso para manter a postura de durona.
— Naquele dia que elas me viram trabalhando de Papai Noel foi porque elas estavam comentando que eu não havia dado um passo importante no nosso relacionamento.
— Passo importante? — franzi o cenho — Mas a gente já...
— Não, não é isso! É outra coisa, algo mais importante ainda que isso, de acordo com a Jéssica.
Matutei por alguns segundos eternos, até que me lembrei de um dia na faculdade em que Jess insistiu em fazer uma apuração sobre meu namoro com Erick, perguntando inúmeras coisas. E uma delas foi: ele já falou que te ama?
E minha resposta foi que não, não falou, com palavras. No entanto, todos os dias eu tinha uma confirmação de que nosso amor crescia, porque Erick se expressava por olhares e ações que derivam de carregar um simples elástico de cabelo na mochila a quebrar cabeça para tentar fazer uma noite como aquela de véspera de Natal.
O único problema é que minha amiga é cabeça dura demais e insistiu que palavras são importantes demais e devem ser usadas. Mas ela não conhecia Erick como eu, então ela falar isso era esperado.
— Mas que droga, Jéssica! — resmunguei — Ela vai se ver comigo. — ameacei, já saindo da cama para ir atrás do meu celular, mas Erick foi mais ligeiro e me enlaçou pela cintura, puxando-me contra ele.
— Calma, Eva!
— Ela encheu sua cabeça de minhocas, Erick! Não precisava de nada disso, desse papo.
— Mas... Isso não te incomoda? — ele sussurrou e toda minha raiva se evaporou. Vê-lo inseguro por causa daquilo, de uma coisa que não deveria ser um empecilho, doeu em mim.
— Do que você está falando, amor? — distanciei-me dele, sentando na cama e o puxando comigo — Por que eu estaria insatisfeita?
— Porque eu nunca disse as três palavras. — ele tomou fôlego e eu soube que ele estava prestes a dizer o que o estava sufocando — Sabe, desde a Larissa, eu não sou muito bom com palavras. Me agarrei a uma esperança vaga de que elas nos salvariam, enquanto com unhas e dentes eu me negava a perceber as ações, os sinais que ela dava de desinteresse.
Esperei alguns segundos para que ele voltasse a falar. Respirou fundo e prosseguiu.
— Só fiquei com medo de não ser suficiente para você, entende? De que estivesse incomodada, de que você precisasse de mais para ter certeza.
— Erick, ei, olha pra mim. — segurei seu queixo com suavidade e sorri — Palavras são superficiais demais quando não estão alinhadas com as ações. Você se expressa todo dia, com olhares, beijos, atos simples que eu sei que têm fundamento no mais profundo amor. E nada poderia ser mais suficiente para mim.
— Evangeline... — seu sussurro fez um pequeno arrepio percorrer minha espinha, o qual se intensificou no instante em que seu toque se fez presente em minha cintura, puxando-me para seu colo.
Seus lábios tocaram os meus com ternura e profundidade, como se externalizassem o alívio que Erick estava sentindo. Enrosquei meus braços ao redor de seu pescoço e retribui o carinho com toda a certeza de que ele precisava de que, sim, eu o amava na mesma medida que ele me amava.
E não haveriam palavras para descrever o quanto.
Quando nos separamos, aos poucos, depois de alguns selinhos, encarei seus olhos verdes e finalmente me lembrei. O presente.
— Eu já estava esquecendo! — exclamei e saí da cama com certa dificuldade, correndo até a sala e voltando com um embrulho vermelho — Feliz Natal, meu bem. — entreguei-lhe com uma expectativa enorme.
Quando abriu o envelope e percebeu que era um livro, Erick sorriu, já pronto para ler o resumo na contracapa, quando seus olhos se detiveram no nome do autor. Ele me encarou espantado e feliz ao mesmo tempo.
— Seu primeiro livro? Evangeline, isso é demais!
— Lê a dedicatória! — quase gritei, empolgada. Parecendo não ter processado a informação, Erick folheou as primeiras páginas até cair na que eu falei e pareceu congelar.
— É dedicado a mim? — assenti — Eva, eu nem sei o que dizer... — sorri mais ainda e o beijei na bochecha.
— São todas as crônicas e poemas que eu escrevi desde que te conheci. — Erick me encarava, suas orbes verdes reluzentes de emoção — Acontece que, assim que preguei os olhos em você, fui completamente atingida por uma inspiração que nunca tinha sentido antes. Você mexeu comigo de uma forma sem igual, Erick. E com esse livro eu espero que você perca um pouco do trauma que tem com palavras e perceba que, se colocadas da forma correta, podem transformar as coisas também.
Sem saber o que dizer, meu namorado apenas ficou me encarando até também se lembrar de uma coisa, então, após vasculhar o bolso da sua calça de moletom, tirou de lá uma palheta preta com uma estrela prateada no centro. Fitei-o curiosa, para que explicasse melhor.
— Seu presente, pequena estrela. Feliz Natal. — ele sorriu, e vendo que permaneci com o semblante confuso, continuou — Claro, uma parte dele. Lembra quando você disse que queria começar a fazer aulas de violão mas estava sem dinheiro?
— Sim, na verdade, foi porque eu tinha contratado alguém para revisar o livro e... — parei de falar assim que percebi onde ele queria chegar — Espera, você não...
— Você já tem os quatro primeiros meses de aula prontos para viagem. Você começa em Janeiro, logo depois do Ano Novo.
— Então, todos esses dias trabalhando de Papai Noel... – ele assentiu, um pouco envergonhado por eu ter descoberto todo seu plano — Erick! Você não existe! — rapidamente o prendi em um abraço de urso.
— Eu que o diga, Evangeline. — ele riu, beijando o topo da minha cabeça.
— Você gosta bastante dessa expressão, né, meu bem?
— Tem outra que estou começando a gostar mais ainda.
— Qual?
— Eu te amo, Evangeline.
Ele soltou, assim, pegando-me desprevenida. Corei até a ponta das orelhas e achei melhor puxá-lo para um beijo, mas antes de nossas bocas se encontrarem, sussurrei com um sorriso:
— Eu que o diga, Erick.
Ele riu contra meus lábios, fazendo cócegas. Levei uma mão ao seu cabelo e o puxei de leve, ao mesmo tempo que minha outra mão se apoiava em sua bochecha. O beijo se intensificava aos poucos, e não sabíamos onde iria parar, porém, um barulho alto interrompeu nosso momento.
— Que chiado é esse? — Erick franziu o cenho, olhando ao redor. Algo em minha mente dizia que eu estava esquecendo de alguma coisa — Parece uma chaleira.
A lembrança me atingiu como um soco.
— O chá!!
Desesperada, corri até a cozinha, e tudo que ouvi em meio ao meu desespero foi a gargalhada de Erick. A primeira de muitas, deveria dizer.
Foi um dos melhores Natais da minha vida. Bom, a partir daquele ano até o último 25 de Dezembro que estaria viva para presenciar, eu diria aquilo, pois todos seriam ao lado de Erick.
E o seu "eu te amo" natalino era sempre uma das melhores partes.
E fim!
Esse foi meu conto de Natal, sendo uma forma de externalizar tudo que aprendi ao longo desse ano, pois confesso que o fundo de amor em que essa história foi baseada é meu; as inseguranças, frustrações e maravilhas que podem acompanhar esse sentimento.
Então, eu já deixo aqui registrado que desejo a todos vocês um excelente Natal, cheio de amor e bons momentos, assim como um feliz Ano Novo (antecedência nunca mata ninguém, hehe) e que 2020 seja um ótimo ano, cheio de realizações de sonhos e muito crescimento.
Obrigada de todo meu coração por acompanherem o conto de Erick e Evangeline! Nos vemos por aí em outras histórias~ ♡
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