Capítulo 50 - Dia da Audiência
Capitulo dedicado as novatas Crisnani e EloiseElaine
Sejam bem vindas ao nosso mundo meninas!!!
♥♥♥♥
Eu estava em frangalhos.
Meu corpo estava meio mole e não havia nada que eu quisesse tanto como a minha cama. Entretanto, Lidia me disse que isso era normal, e que logo me sentiria mais forte.
E eu precisava ser forte.
Só hoje.
Pela Lia.
A vara de Família da comarca da capital já estava cheia e era estranho estar no lugar de cliente e não de advogado.
Fiquei observando as várias pessoas ao meu redor. Vários casos e relatos chocantes: mães que lutavam pela guarda de seus filhos, pois tinham maridos abusadores; pais que tentavam ver seus filhos, mas eram impedidos pelas mães que se achavam no direito de impedir o contato parental. Enfim, cada um se achava no seu direito e isso era algo muito louco para se assimilar.
Como eu cheguei com quase duas horas de antecedência, decidi anotar algumas coisas para verificar quando voltasse ao escritório, afinal, tinha muitas pendências para resolver.
Então nesse ínterim, uma senhora robusta e gentil sentou-se ao meu lado e, após uns minutos em silêncio, puxou conversa:
- Você não acha isso tudo aqui opressivo?
Olhei-a intrigada.
- Por que a senhora acha isso?
- Bem, no inicio tudo são flores na vida de um casal, porém, você nunca espera ter que chegar a um lugar como esse. Ver o fim do seu casamento... E ser obrigada a dividir seus filhos como se fossem comida ou um objeto...
- Mas não é melhor assim, do que ter uma vida cheia de dor?
- Talvez você tem razão, mas, e os votos que fazemos? E as promessas de nos amarmos mutuamente? De sermos tudo pela família?
Vi os olhos daquela mulher se encherem de lágrimas.
- Mas o para sempre, infelizmente, em muitos casos não existe.
- Sabe... Eu não sou aquinfelizment. Vim de Londres para casar com meu marido que conheci na internet. Ela sorriu sem ânimo. – Meus pais são diplomatas e não aceitavam o relacionamento, porém, segui em frente, contudo, o homem gentil e carinhoso tornou-se alguém agressivo e violento.
- E você não o denunciou?
Eu estava possessa de ódio.
- A dor a mim afligida não era física, mas sim psicológica.
Então a mulher começou a me relatar o que vinha vivendo.
Ela me disse que o mal a qual era cometida não deixava marcas "visíveis"; toda a dor era deixada no lado de "dentro", visto que a nível emocional e psicológico, tal violência poderia deixar nela "cicatrizes" que levaria pelo resto da vida.
As táticas usadas pelo marido eram a rejeição: era isolada por ele nas reuniões e nos círculos sociais, fazendo-a parecer louca. Freqüentemente era humilhada, pois não trabalhava e dependia exclusivamente do dinheiro do marido, caracterizando, assim, o domínio econômico sobre ela. Relatou-me também que o marido não tinha nenhum respeito por ela, falava mal e debochava da mesma na frente dos filhos.
Com o tempo estava isolada no relacionamento, não opinava mais nas decisões que o casal devia tomar e infligia abstinência sexual a ela. E no final a ameaçou de morte quando esta decidiu se separar.
Marisa...
Esse era o nome da mulher que acabei descobrindo.
Ela me contou que uma psicóloga, amiga da família, traçou o perfil de Paulo, o marido agressor.
A "estratégia" utilizada pelo agressor passava pela mobilização emocional e psicológica de Marisa, para assim, satisfazer todas as necessidades de atenção, de carinho e de importância, a qual Paulo tinha em deficiência.
Dissimuladamente Paulo tentava inferiorizar Marisa, fazendo-a dependente dele e com sentimento de culpa.
Marisa relatou que agora travava uma luta na área emocional muito forte. Mas que com um tratamento adequado, serviços de apoio, proteção e o incentivo da família, estava conseguindo vencer uma depressão.
O marido de Marisa estava sendo acionado criminalmente pelos danos causados a ela. Entretanto, ela precisava encerrar o ciclo com a separação e conseguir a guarda unilateral dos filhos, já que ela tinha documentos que corroboravam para sua defesa.
- Bem, acho que falei muito, não é mesmo.
Marisa estava envergonhada.
- Tudo bem, não precisa ficar constrangida ou envergonhada. Nada na vida é perfeito, entretanto, você conseguiu sair desse relacionamento abusivo.
Sorri para aquela mulher. Meu peito estava doía por ela, por mim e por todos que tinham que passar por situações difíceis na vida.
- É verdade, eu sou muito grata a Deus por isso. E o melhor de tudo é que me aproximei dos meus pais novamente. - Ela olhou em direção a entrada e vi um casal de senhores com no máximo 50 anos e duas crianças a conversar. – Eles vieram, para me apoiar hoje.
- Isso é maravilhoso, Marisa! Espero que tudo corra bem. – Ela sorriu. - Quando tudo isso acabar você vai sair melhor dessa, muito melhor.
- Assim espero, Malu. – Ela se levantou. - E obrigada por me ouvir, mas agora vou ficar um pouco com eles.
- É claro, vá ficar com sua família, pois isso é o que conta. – Marisa se despediu.
E, enquanto os minutos se passavam, fiquei ali analisando tudo o que aquela mulher me relatou. Todo o sofrimento, angústia e dor pelo qual passara. Minha já cabeça estava uma bagunça emocional e ouvir aquilo tudo me deixou ainda mais angustiada e triste com a vida.
Como não estava podendo tomar os remédios contra a depressão, minha situação se encontrava agravada. Mas era só focar na audiência e depois essa sensação ruim iria passar.
Eu esperava que isso acontecesse.
Era a única coisa que eu poderia acreditar naquele momento.
*****
"Amor, estou atrasado, mas vou chegar o mais rápido possível".
Beijus
Edu ♥
*****
Não, Não... não, isso não estava acontecendo! Ele não ia chegar... Eu precisava só do abraço dele, por uns instantes, antes de entrar naquela sala que realmente se tornou opressiva, como a Marisa me falou anteriormente.
Mas fomos chamados pela secretária da Juíza, que como era de praxe em grandes comarcas, vinham até a porta e chamavam as partes.
"Autor: Bernardo Antunes Botelho e Réu, Malu Botelho, audiência das 14:00 hs".
Então agora não tinha mais volta.
Fui seguindo até a sala de audiência, com os advogados, pois minha tia e Lia iam se manter no corredor. Só entrariam se fosse extremamente necessário. Pois a criança deveria ser preservada de todo esse desgaste emocional e traumático que era um litígio.
Eu estava relutante em trazer a Lia, mas o senhor Bernardo solicitou á juíza que minha pequena estivesse lá e um encontro junto a uma assistente social ocorreria ainda hoje após a audiência.
Ao entrarmos, a juíza do caso já estava sentada em seu lugar, juntamente com sua secretária e um representante do Ministério Público. Durante toda a audiência todas as partes se manifestaram, o nervosismo estava aparente, pois minhas mãos suavam e eu bebia água freqüentemente.
Em certo momento a juíza se dirigiu a mim:
- Senhora Malu Botelho, pelo que foi bem demostrado nos autos e em algumas visitas feitas pela psicóloga a sua irmã, não resta dúvidas que você deu a melhor educação e proveu a menor uma vida financeira muito estável. Contudo, no tocante ao seu pai, a menina não tem informações sobre ele ou seu paradeiro. Por que tomou essa atitude?
- Bem, Meritíssima, a decisão foi tomada, pois sempre quis preservar minha irmã de uma ausência paternal. Ademais ela nunca foi devidamente esperada pelo seu progenitor – enquanto falava, olhei fixamente para meu pai.
- Poderia nos esclarecer esse ponto, dona Malu?
- É claro!
Então relatei tudo o que minha mãe viveu após o nascimento de Lia: das dúvidas da família do meu pai; do afastamento dele de casa e a inevitável separação que se precedeu.
Os advogados de Bernardo fizeram uma minuciosa explanação dos fatos dizendo que ele ficou doente e depressivo. Que as circunstâncias, tiraram a oportunidade de ele se redimir com sua ex-esposa, entretanto, não perdoava a filha mais velha pelo afastamento da menor.
Disseram, também, que Bernardo só retornou há pouco tempo, pois foi transferindo para o Rio de Janeiro a trabalho e por não ter logrado êxito em fazer um contato com Lia, não teve alternativa a não ser procurar o judiciário.
A cada palavra proferida por Bernardo e seus advogados eu ficava mais enojada com tudo aquilo e não via a hora de tudo aquilo acabar.
Eu precisava urgentemente sair dali.
Depois de certo tempo e da manifestação do representante do Ministério Público e de algumas testemunhas, que foram solicitadas por ambas as partes, a juíza pediu que todos prestassem atenção na decisão.
- Bem, estamos diante de uma situação difícil, mas o que se deve prevalecer sempre é o bem estar do menor. Diante disto, determino que o pai senhor Bernardo Antunes Botelho, a partir desta data está autorizado a fazer visitações semanais a menor, mediante acompanhamento de psicólogo e assistente social nos primeiros dois meses. Logo após será designada nova audiência para se verificar a evolução do relacionamento familiar entre o progenitor e menor; e analisar novos procedimentos a serem adotados.
Depois disso eu não ouvia mais nada, só conseguia enxergar o sorrisinho infame e triunfante dirigido a mim por meu pai. A sensação de estar se quebrando por dentro era latente, eu precisava fugir. E quando a juíza finalizou a reunião eu senti meus advogados me chamarem.
- Malu, vamos fazer de tudo para reverter essa situação – dizia a advogada e com a anuência do outro advogado.
– Exatamente! Vamos fazer uma junta de advogados e vamos analisar isso mais a fundo – concluiu o advogado.
- Está bem – foi a única coisa que consegui dizer.
- Minha filha amada. Agora teremos muitas oportunidades para nos ver – a fala maldosa e descarada era de Bernardo.
- Não pense que você ganhou a guerra, querido pai. Pois isso aqui foi só uma das batalhas que travaremos. – O sorriso dele morreu na hora.
- Então, que vença o melhor Botelho. – Ele saiu da sala junto dos seus advogados e assim pude respirar por alguns instantes até sair daquela sala maldita.
Mas quando saí, o caos estava instalado. De longe vi minha tia chorando, e Lia abraçada a ela. Fui andando e meu mundo desabando. Como eu iria submeter minha irmã a um homem que amava mais as mentiras do que a verdade. Mas eu tinha que fazer isso. Eu sabia que ir contra ao judiciário, seria uma opção errônea.
Sendo assim tomei a decisão certa.
Quando já estava junto delas expliquei que a Lia teria que conhecer uma pessoa, a qual ela nunca viu, porém, era alguém importante para seu nascimento. Ela estava relutante, não queria ir de forma alguma.
A assistente social veio pegá-la para ir ao encontro de Bernardo, mas eu fui taxativa que ela só iria se minha tia a acompanha-se. Era o primeiro contato real com o pai, então era de suma importância ter alguém familiar por perto da minha menina.
Depois que as duas adentraram em uma sala do fórum, fui verificar meu celular e vi mais uma mensagem do Edu. Ele dizia que sentia muito, mas estava preso no trânsito devido a vários ônibus queimados em diversas partes do Rio.
Então eu me encontrei sozinha.
Mais sozinha do que nunca.
Senti um toque em meu ombro e vi meu advogado perguntar se queria carona. Apresei-me a agradecer e dispensar a gentileza alegando já ter como voltar, mas era uma grande mentira. Eu ia sair daquele fórum e iria refrescar a mente.
Então sai caminhando e chorando.
Andei sem rumo e depois que notei que já estava andando há horas. Meus pés doíam e meu corpo estava encharcado de água. Porem, quando fui parar para pensar no que deveria fazer, já não sabia para onde ir.
Eu estava perdida.
Mas como era possível?
Eu não sabia quem eu era.
Quem era EU?
Onde eu estava?
E depois de certo tempo, estava demasiadamente cansada, meu corpo estava tendo um colapso. Parei próximo a um restaurante, quando pensei em seguir até lá senti uma dor forte na cabeça como se fosse uma pancada e tudo virou um borrão escuro e o silêncio se seguiu.
Esperamos que tenham gostado do capitulo e esperem o desenrolar dessa trama.
Beijus Lu e Eliz
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