Atenção senhores passageiros, hoje daremos início a nossa viagem pelo mundo de Malu e Edu!

Queremos dedicar este capítulo, a uma galerinha que nos inspira e nos impulsiona a sonhar e acreditar no nosso projeto:
A vocês meninas do grupo Unidas pela Leitura, nosso primeiro capítulo!
Beijos e abraços,
Lu e Eliz
Boa Leitura!

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Capitulo 1 - Retorno

Eu não acredito, enfim solo carioca! Depois de um vôo de aproximadamente uma hora e meia, você pode achar um exagero tal reclamação, mas não vejo minha família há duas semanas e, como ainda é cedo, resolvi dar uma passadinha no escritório.

Dona Rejane, minha fiel escudeira e secretária, já passou tudo que eu precisaria me inteirar via e-mail, mas quero ver pessoalmente a reforma que foi feita no escritório.

Dizem as más línguas que uma empresa assessorada por nós da Mendes & Bastos, está bancando a reforma. Hum, até parece que acredito! Mas não me interessa, o importante é minha sala e minha equipe de advogados Junior's.
Você deve se perguntar o que é isso, eu explico: Uma equipe Júnior, são advogados recém formados contratados para me assessorar em diversos casos ao mesmo tempo, uma vez que fico 15 dias no Rio e os outros 15 em Curitiba, preciso me manter antenada em todos os processos subordinados a mim e é aí que eles entram, eles são subchefiados pelo Drº Marcos Toledo, um grande amigo e excelente advogado.

Saio dos meus pensamentos com o barulho do bendito telefone tocando:

- Alô

- Oi, Malu! To com saudades, quando você vem pra casa? O Toffi está com saudade também.

- Oi Lia, à noite estarei em casa, prometo.

- Promete?

- Sim, querida. E que vozinha é essa toda borocochô? Está acontecendo alguma coisa?

- Ma, eu queria a mamãe, pede ao papai do céu pra ela voltar? Porque meu coração tá doendo de saudades.

- Docinho não chora, já conversamos sobre isso, assim que eu chegar prometo que daremos uma volta e tomamos sorvete, tudo bem?

- Hum rum, com calda de chocolate e colorido por cima?

- Sim

- E o Toffi pode comer também?

- Claro.

- Oba!!!! então até a noite, mana.

- Até a noite, docinho.

Nessas horas eu queria que um buraco na terra se abrisse e eu pudesse me esconder, como ajudar uma criança de 8 anos, se eu mesma ainda não consigo digerir essa situação e essa saudade que teima em latejar?

Respira Malu, respira.

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Estou adentrando nas dependências da Mendes&Bastos e fico estática com o que vejo. A entrada era puro luxo, duas poltronas cinza escuro, muito bonitas e modernas, dois lindos quadros bem alinhados no lado esquerdo da entrada, um balcão de atendimento todo revestido na cor cinza médio e um painel na parede de traz todo trabalhado em madeira escura e clara, com o nome do escritório em letras que pareciam saltar da parede na cor prata.

Suzy, a recepcionista, não cabia em si com seu novo uniforme e ao me avistar veio alegremente me cumprimentar.

- Boa tarde, Malu! Não sabia que viria hoje ao escritório!

- É, Su, estou realmente cansada, mas tive que vir deixar uns documentos, mas daqui a pouco já estou indo.

- Mas mudando de assunto.... como ficou linda a recepção! Fizeram um serviço relâmpago aqui.

- Foi mesmo, Malu, não foi só aqui que aconteceram reformas e mudanças, você verá que está tudo novo, tudo mesmo. - Ela volta ao seu serviços e eu sigo para o elevador.

Não sei por que, mas fiquei meio desconfiada da forma como a Suzy falou das mudanças. Eu hein, vou deixar isso de lado, meu trabalho é o que importa. Ao chegar ao 12º andar, já avistei minha querida secretária Rejane. Nem acredito, saudades dessa pessoa, ela me mima demais. Sabe meus gostos, me lembra de compromissos particulares (já que sou péssima para isso). Vive fazendo de tudo para me ver feliz.

- Boa Tarde, ReJane!

- Ai, Drª Botelho, nem a vi chegar!!! - que susto... mas espera aí, o que faz a essa hora no escritório?

- Primeiro, já falei para não me chamar de doutora. Rejane, já trabalhamos há 2 anos, temos intimidade suficiente e detesto essa patente infeliz. Já tem tantos "doutores" por aí que não servem de nada, além de lamber o chão do chefe. (Nesse momento Rejane olha para sala ao lado e entende que eu estava falando da cascavel da Penélope. Ai meus sais, esse é um dos motivos que gosto tanto de viajar.... rsrsrsrsrs).

- E outra, Rejane, eu tinha que trazer vários relatórios de processos dessa última viagem e como amanhã eu só virei no período da tarde, achei melhor fazer isso hoje mesmo, já que estava perto.

- Está bem, Malu, mas vamos a sua sala, tenho novidades para você - o telefone da mesa de Rejane toca e Malu pede para que após o telefonema a mesma vá até sua sala, mal Rejane sabe que Malu comprou uns artesanatos na Feira de Antiguidades e Design, que fica na praça Espanha, um lindo local de Curitiba.

Ao entrar em meu escritório vejo as mudanças e não tenho palavras, estava tudo tão lindo... de cara, a vista que tanto amo do Aterro do Flamengo e ao fundo o Pão de açúcar, me sinto privilegiada. Uma estante de cerejeira com prateleiras de vidro, uma mesa no mesmo tom da estante com um tampo também de vidro, minha cadeira dos sonhos. No canto direito, um sofá para receber clientes e em sua frente, uma mesinha. Começo a fazer uma dançinha muito doida e canto - É minha sala, toda minha, toda minha, hahahahaha .

Nesse instante ao ver tudo isso começo a lembrar de minha trajetória até aqui.

Flash Back on:

- Vamos, Malu, você vai chegar atrasada. Você devia ter me ouvido e feito só duas coisas ao mesmo tempo. Aonde já se viu fazer o bacharelado em direito à noite, trabalhar e no horário do almoço você ainda resolveu ter aulas de inglês? Que loucura, menina!

- Tia, não posso dar bobeira, na minha faculdade eu sempre sou vista como a coitada do Prouni, você sabe muito bem o que passei no IBMEC, lá nós éramos tratados pelo tipo de ingresso na faculdade, os que passavam no Prouni de um lado, os bolsistas de outro e os ricos de outro. Eu nunca abaixei a cabeça, mas eu vejo que todas as vezes que tento um curso complementar lá dentro, sempre me dão a desculpa que não tenho inglês, mas eu bem sei que tem várias pessoas que nem o português sabem direito, mas estão fazendo o curso e eu não, e você sabe o porquê - sou negra e de tabela fora dos padrões estéticos impostos.

- Querida, você optou por essa faculdade mesmo sabendo que lá esse tipo de coisas poderiam ocorrer, então, bola pra frente. E não pense que quero te desanimar, é que vejo você se alimentando mal, cheia de olheiras, dorme depois de meia noite e acorda as cinco da manhã para estudar.

- Mas eu preciso, eu prometi a ela que seria seu orgulho, eu não posso e não vou falhar!

- Eu sei disso, mas peça forças a Deus assim o fardo ficará leve. Esse era uns dos pedidos que ela sempre te fez.

- Tia não venha com esse papo para o meu lado, eu te amo, mas não me venha falar disso novamente. - Diante de tudo que falei minha tia sai e começo a chorar, não vou abrir meu coração de novo pois Deus tirou o que eu mais amava.

Flash Back Off.

Sou tirada dos meus pensamentos com o barulho do telefone interno.

- Alô.

- Doutora Malu?

- Sim.

- Aqui é Margareth, secretária da presidência, sua secretária me informou que estava nas dependências do escritório, sendo assim, está sendo convocada para uma reunião em caráter de urgência, por favor queira dirigir-se a sala de reuniões.

- Estou indo, Lauro e Beth já voltaram da reunião na Camargo Stolllers?

- Sim, doutora, eles acabaram de chegar.

- Obrigada, Margareth.

Nossa, e eu que pensava que só iria trazer alguns relatórios e depois iria para casa aproveitar o mais justo descanso... estou vendo que fazer planos não dá muito certo. Essa reunião definitivamente estava fora dos meus planos, ainda tem o fato de Beth e Lauro estarem se estranhado muito, sei disso porque converso com minha chefe - podemos dizer que somos próximas - Beth é uma pessoa muito carismática, que exala alegria, além de ser uma negra linda, que conseguiu superar todos os preconceitos e hoje é uma pessoa realizada.

Flash Back On:

Quando entrei na empresa, alguns advogados que eram indicados para minha equipe através do Lauro, tentavam passar por cima de mim de todas as formas, ouvi várias vezes frases como:

"Uma negra querendo mandar, já não basta a dona, ainda temos que ter uma Sênior negra, aff...; mesmo vestida como uma rainha será sempre negra!" e a que mais doeu foi "pessoas como ela nem para lavar meu chão prestam, pois dizem que negros fedem" .

Nesse dia chorei tanto no banheiro escondido, porque jamais choraria na frente dessas pessoas, isso seria combustível para as humilhações. Quando eu estava saindo, Beth me puxou pelo braço e me disse bem assim:
- "Primeiro, você é linda, tem o corpo que muitas dessas invejosas queriam ter. Segundo, seu currículo fala por você. Terceiro sua carteira de clientes causa inveja e despeito. E, finalizando, o mérito de ter chegado aqui é seu.

Nessa época eu tinha acabado de chegar na empresa indicada por outro escritório bem conceituado no mercado. Após essas palavras, respirei fundo, tentei conter as lágrimas que teimavam em cair, corri no lavatório, lavei o rosto e voltei ao trabalho, já que o show tem que continuar.

Flash Back Off.

Vou ao meu banheiro, retoco a maquiagem (que nesse horário já não existe mais) e me encaminho a sala de reuniões. Nossa, tenho que parar de me assustar com as modificações, está o mais puro luxo! Meus pensamentos são interrompidos, pois verifico que fui a última a entrar na sala, sendo assim desejo boa tarde a todos e já me acomodo. Alívio se instaura em mim, pois estranhamente Lauro ainda não está na sala, mas os principais advogados e Beth estão.

O pessoal estava empolgado com as mudanças, mas a todo tempo Beth se mantinha calada, só observando. Nesse ínterim, Lauro chega acompanhando de um homem, nunca o vi e não fui muito com a cara dele, mas como minha mãe me ensinou a não julgar o livro pela capa, guardo essa informação só para mim.

O talzinho me olha e senta-se numa cadeira disposta um pouco mais ao fundo da sala, e logo em sequência Lauro solta a bomba.

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Sintam se a vontade para comentar e votar.
Ate o próximo capítulo.

23/04/2016